O que, realmente, será comemorado a 8 de setembro de 2012? Pode ser a ocupação do Maranhão pelos franceses com o estabelecimento de uma colônia ou a fundação do forte São Luís. Pode ser, ainda, o início da evangelização do Maranhão ou, então, a fundação da cidade de São Luís.
A despeito desses conflitos, há uma intensa movimentação de instituições culturais e órgãos públicos elaborando suas programações com vista às comemorações dos 400 anos de fundação da cidade. Mas, como vemos, há controvérsias, como dizia o saudoso humorista Milini, entre os historiadores.
As conclusões emitidas por eles nos colocam numa situação de grande incerteza: o que realmente vai ser comemorado? Considerando, então, a fundação de São Luís, há de se perguntar: a quem competem os loiros? Aos franceses ou aos portugueses?
Logo, pelas interpretações assumidas, afirmar quem está certo ou errado, ou melhor, quem é mais coerente em suas conclusões, não é fácil.
Um antigo professor meu de História Universal costumava dizer que a História é um grande campo de reflexão e que as melhores interpretações e conclusões partem de quem dispõe de maior embasamento teórico, fundamentado em uma boa documentação.
Assim, vejamos como alguns historiadores se pronunciaram, ao longo do tempo, sobre a ocupação do Maranhão pelos franceses e a fundação de São Luís. Iniciemos pelos mais antigos ou, até mesmo, por aqueles que foram contemporâneos dos fatos.
Em “Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614” , Ives D’ Evreux faz referência à colônia mas nenhuma sobre a fundação da cidade de São Luís. Trata da construção do forte São Luís e de outras edificações.
Diogo de Campos Moreno em “Jornada do Maranhão por ordem de Sua Majestade, 1614” , não faz, também, nenhuma menção à ocorrência, nas cartas trocadas entre La Ravardiere e Jerônimo de Albuquerque. Em uma delas, o francês se refere apenas ao forte de São Luís. Do mesmo modo, não há, também, qualquer manifestação sobre a cidade, no Tratado de paz celebrado, em novembro desse mesmo ano, entre Daniel de la Touche , Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno. Em uma intimação de Alexandre de Moura, datada de 3 de novembro de 1615, (Arq.Púb.MA.), há referência apenas ao Forte de São Luís e, na resposta, em 4 do mesmo mês, o francês se reporta à posse da fortaleza de São Luís. Nada sobre cidade alguma.
Simão Estácio da Silveira que por aqui aportou em 1619, em “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, não se refere à fundação de São Luís por franceses.
No seu livro “História da Companhia de Jesus, na extinta Província do Maranhão”, o padre José Moraes escreveu que, em 12 de agosto de 1612, os religiosos capuchinhos celebraram a primeira missa, em terras maranhenses, com grande solenidade. Diz, ainda, que com o trabalho dos silvícolas, além de construírem algumas edificações, acabaram aquela pequena e ainda pobre cidade, à qual deram o nome de São Luís do Maranhão.
César Marques, em seu “Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão”, relata que Alexandre de Moura ao retornar a Pernambuco, em 1615, nomeou Jerônimo de Albuquerque como Capitão-mor da Conquista do Maranhão que, então, passou a se dedicar à fundação da cidade.
Na sua “História do Maranhão”, Barbosa de Godois trata da construção do forte de São Luís e de outros além de capelas, conventos e moradias. Depois atribui a Jerônimo de Albuquerque a fundação da cidade.
Em “História do Maranhão”, Mário Meireles relata que, no dia 8 de setembro de 1612, os franceses fundaram por fim a colônia. Houve missa solene, procissão e a inauguração do forte com o nome de São Luís. E que a complementação da ocupação foi marcada pelas solenidades cívico-religiosas ocorridas, em primeiro de novembro desse mesmo ano.
Carlos de Lima diz, em “História do Maranhão – Colônia”, que no dia 8 de setembro de 1612, dia da Natividade de Santana e da Imaculada Virgem Maria, houve uma missa solene seguida de procissão até o forte onde foi entoado o Te Deum e plantada uma cruz.
A historiadora e professora Maria de Lourdes Lacroix, ao se dedicar à elucidação do ocorrido, conta em seu livro “A Fundação Francesa de São Luís e seus mitos”, que a fundação da cidade não pode ser atribuída às solenidades ocorridas, em 8 de setembro de 1612. Nessa data, os atos religiosos simbolizaram a expansão do cristianismo, no Maranhão, e os atos cívicos se constituíram em manifestação de poder, na colônia recém-instalada. Por fim, escudada em Bettendorff, Berredo, Gaioso, João Lisboa e outros, reafirma que a fundação de São Luís é devida a Jerônimo de Albuquerque e que a sua atribuição aos franceses nada mais é que um mito.
Logo, eis aí a questão. Ou o dilema? O que devemos, então, comemorar, no dia 8 de setembro se 2012? A ocupação do Maranhão pelos franceses e o estabelecimento de uma colônia? O início da evangelização em terras maranhenses ou a fundação da cidade de São Luís? A palavra continua com os historiadores. Quanto a mim, eu só queria saber.