MOEMA

MOEMA
PAPIRUS DO EGITO

sábado, 30 de agosto de 2014

III PARTE – O ALGODÃO NO MARANHÃO


Até meados do século XX, o algodão foi o produto econômico mais importante  do Maranhão. Nos séculos anteriores foi utilizado na fabricação de roupas de colonos e de escravos. A partir da segunda metade do século XVIII, em decorrência da Revolução Industrial na Inglaterra, ocasionando  grande desenvolvimento na fabricação de tecidos para atender a grande demanda europeia, houve uma corrida para os centros produtores da malvácea. O algodão brasileiro, pelos preços razoavelmente baixos teve uma grande procura, sendo produzido nas lavouras nordestinas, principalmente do Maranhão, considerado um dos melhores. Como consequência houve uma importante  acumulação de  capital, representando um fator determinante das diferentes fases do desenvolvimento do estado.
O ciclo econômico do algodão, essencialmente em nosso estado, iniciou-se e desenvolveu-se no modelo mercantilista, com a utilização da mão-de-obra escrava, constituída por negros africanos, cuja aquisição foi financiada pela Companhia do Comércio do Maranhão, criada em 1682 para promover a Colônia, com base na monocultura.
No século seguinte (1755), no governo de D.José I, foi criada a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão que assentou as bases e definiu a nossa vocação agrícola para fornecimento de produtos para a Coroa e outros mercados europeus.
Em 1895 existiam 27 unidades fabris, sendo 17 pertencentes a Sociedades Anônimas e 10 a particulares. Desse total, 10 fabricavam e teciam; 1 só de fiação; 1 de cânhamo, 1 de tecidos de lã e sedas e 1 de meias. Além da indústria têxtil, havia 1 de fósforo, 1 de chumbo e pregos, 1 de calçados, 1 de produtos de cerâmicas, 4 de pilar arroz, 2 de pilar arroz e fabricar sabão, 1 só de sabão e 2 de açúcar e aguardente.
A 1ª a ser instalada fora a Companhia Industrial Caxiense, em 1887, com capital de 1000 contos de reis, incorporada pelo dr. Francisco dias Carneiro e era munida de 130 teares manipulados por 250 operários, produzindo tecidos crus e tintos.
Em 1889 foi instalada a União Caxiense, investimento de 850 contos de reis, 220 teares e 350 operários, fabricando tecidos crus. O dr. Dias Carneiro também participava deste empreendimento com mais dois empresários, Antônio Joaquim Ferreira Guimarães e Manuel Correia Bayma do Lago.
Mais tarde, Caxias contou com a Fábrica Sanharó, com investimento de 150 contos de reis, 26 teares, 60 operários, fabricando panos de algodão.
 Em São Luís a 1ª fábrica foi aberta em 1890. Era a Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses, na Camboa do Mato, às margens do Rio Anil. Investimento inicial de 1.200 contos de reis, 300 teares produzindo tecidos em geral, riscados grossos e finos e fios em novelos.
A Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, foi instalada em 1891 com capital de 900 contos de reis, 105 teares para fabricar tecidos de cânhamo ou juta.
A Companhia Progresso Maranhense, instalada em 1892, empregava 160 operários que trabalhavam em 150 teares, fabricando panos de algodão.
A Companhia Fabril Maranhense Santa Isabel, começou com um capital de 1.77 contos de reis, 450 teares manipulados por 600 operários que fabricavam riscados e domésticos de algodão.
Em 1893 foi inaugurada a Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil, com investimento de 1.600 contos de reis, 172 teares, 60 máquinas de fiação e 18 de branqueamento, 209 operários fabricavam morins e madapolões. Eram seis sócios nesse empreendimento: Antônio Cardoso Pereira, Francisco Xavier de Carvalho, Manuel José Francisco Jorge, José Francisco Viveiros, Jerônimo Tavares Sobrinho e o escocês Henry Arlie, cônsul da Grã-Bretanha.
Ainda nesse ano foi instalada em São Luis a Fábrica de Tecidos de Malha Ewerton, empregando 30 operários que fabricavam meias e tecidos para camisas.
Em Codó foi instalada a Companhia Manufatureira e Agrícola, com um investimento de 100 contos de reis, 150 teares, fazendas, fios e cordas e empregando 250 operários.
Em 1894 foi inaugurada, em São Luis, a Companhia Industrial Maranhense, com capital de 250 contos de reis, empregando 50 operários que fabricavam fios, punhos e linhas de pesca.
A Companhia de Lanifícios Maranhenses Santa Amélia, com investimento de 600 contos de reis, instalada em 1892, começou a funcionar em 1895. Fabricava tecidos de lãs, sedas e algodão, em 22 teares manuseados por 50 operários. Foi arrematada pelo empresário Cândido Ribeiro que morreu na década de 1930, antes da fábrica atingir o auge, entre as décadas de 50 e 60. Fabricava riscados e brins e funcionou até 1966.
Algumas fábricas não resistiram à crise resultante da I Guerra Mundial encerrando essas atividades, diversificando-as para o babaçu, a essa época, no auge do seu beneficiamento para exportar para os países em guerra. A extração da borracha, no Amazonas, atraia levas de nordestinos, principalmente maranhenses, em busca de uma atividade mais promissora.
Em 1921, após o fim do conflito, a indústria  têxtil maranhense contava com um capital investido na ordem de 8.028 contos de reis, 3.537 operários  2.336 teares e 71.608 fusos, com uma produção estimada em 11.776 metros de tecidos.
Desde o Período Colonial até o século XX, o Brasil centrou sua atividade econômica no cultivo de produtos primários, para exportação. O Maranhão não chegou a participar dos grandes ciclos econômicos, pelos percalços enfrentados, devidos, principalmente, às oscilações do mercado importador. Diferente dos ciclos da cana-de-açúcar, do ouro e do café, o algodão era  cultivado quase que exclusivamente para suprir o mercado interno.
Esse modelo agroexportador permaneceu até a ruptura do modelo econômico, vigente até a República Velha, em 1930 e mantido pelas classes dominantes, principalmente dos latifundiários e exportadores de matéria-prima para abastecer mercados estrangeiros. O mercado interno diversificou-se com a fabricação de cachaça, produtos farmacêuticos, chapéus, calçados, utensílios domésticos, e outros bens de consumo. Foi só a partir desse período que houve realmente uma estruturação econômica em todo o Brasil.
Entre 1921-45 essa produção alcançou 4 milhões e meio de metros de tecidos, ocupando 3.871 operários.
A tecnologia e os equipamentos de procedência inglesa, movidos a vapor ainda operavam na década de 1960, quando a última fábrica foi fechada. Os teares e fusos obsoletos fabricados no século anterior foram utilizados em nossas fábricas até os anos 50.
A fraca competição de outros estados nordestinos, devida a escassez da matéria-prima e a restrição da mão-de-obra  decorrente das novas leis trabalhistas, o não favorecimento de investimentos para renovação dos equipamentos, resultaram na estagnação da nossa indústria têxtil. A concorrência com as fábricas do Sudeste e do Sul com mercado mais promissor, foi uma das causas da decadência do nosso parque fabril, somados à falta de atualização técnica, escassez de mão-de-obra qualificada e impossibilidade material de renovação e modernização do maquinário. Acrescente-se a essa situação caótica para os empresários,  os elevados custos dos encargos sociais, que tiveram de arcar, depois da Revolução de 30 com a criação do Ministério do Trabalho, que ocasionou  grandes conquistas e tranquilidade para o trabalhador, com contrato assinado na carteira profissional, redução da jornada de trabalho, férias remuneradas, licença-maternidade.


O Maranhão experimentou um período de intensa redução da produção e dos investimentos que aos poucos foram direcionados para a fabricação de fibras nas novas fábricas do Sudeste.
  Foram pouco expressivos os resultados desses tímidos financiamentos até 1970, devidos os elevados índices de obsolescência do parque fabril no tocante à fiação e tecelagem de algodão. A partir dessa década, houve o deslocamento do eixo agrícola das regiões da Baixada, Itapecuru, Mearim para o sul, com a ocupação das chapadas, resultante da política de valorização das terras agrícolas. O BNDS implantado nos anos 80, deu um novo alento para o setor têxtil, nos grupos preferenciais de financiamento. Nesse período, o algodão teve um novo surto, declinando em 1985, quando foi substituída pelo cultivo da soja e atividades pecuárias.
Atualmente há poucas fábricas de fiação que apesar de demonstrar relativo dinamismo empresarial não traduzem a potencialidade estadual para o setor e, principalmente quando a produção de algodão voltou a assumir posição de relevo no setor primário maranhense. Em Paço do Lumiar funciona uma fábrica de malhas.
A cultura do algodão em nosso estado contribuiu para o desenvolvimento econômico, propiciando acúmulo de capitais gerando divisas, abertura de mercado para produtos não agrícolas, contribuindo na diversificação da economia, além de fornecer matéria-prima para a indústria. Esse aporte de recursos foi, durante a Monarquia, malbaratado pelas elites que não foram capazes de reformar seu maquinário, mantendo equipamentos obsoletos e até inadequados às nossas condições ecológicas e climáticas. Não conseguimos competir sequer com o mercado interno, do Sul e Sudeste.
Em 2013 a colheita de algodão na Maranhão, segundo dados do IBGE, atingiu 4,083 kg/ha, conseguindo ocupar o 1° lugar em produtividade no país, colocando-o acima da média nacional de 3.615kg/ha. Foi a 4ª maior safra, abaixo de Mato Grosso, Bahia  e Goiás. O prognóstico sobre a produção agrícola nacional para 2014, é de  um quadro praticamente inalterado no Maranhão. O rendimento deverá avançar 4.089kg/ha, resultado de uma produção de 76.009 t, numa área colhida de 18.588 ha.
Atualmente a  nossa produção algodoeira é de 75,1 mil toneladas, com previsão para os próximos anos, de um crescimento mais acentuado. Não estamos mais na relação dos maiores produtores como Mato Grosso, Bahia e Goiás, mas ainda estamos em vantagem em relação aos outros estados nordestinos.
Antes de concluir esta rápida pesquisa, quero fazer um tributo às tecelãs da Baixada, principalmente de São Bento, Bequimão, Perimirim, pelas bonitas, macias e confortáveis redes saídas dos seus teares, Também são conhecidas as redes de linha feitas em Pastos Bons, São João dos Patos e adjacências.
Além do algodão, o Maranhão continua a cultivar arroz, milho, mandioca, feijão, cana-de-açúcar e na região de Balsas, a soja. Há fábricas de óleo de babaçu; cerâmicas, pisos, móveis, calçados, malharias, refrigerantes, cachaça, sabão, farinha, doces, papel,  vestuário, uniformes, artesanato, estruturas metálicas, serralherias, fibra de vidro. Em relação ao extrativismo, além do babaçu, exploram-se tucum, fibra de buriti, madeira em toras, carvão vegetal, lenha, castanha de caju, pequi, açaí, cera de carnaúba, óleo de copaíba, de rícino, mutamba, água mineral, polpas de frutas. Princípios ativos extraídos do jaborandi, fava d´anta. Do solo extraem-se: calcários, gesso, bauxita, enxofre, sal marinho, gipsita, granito, mármore, urânio, ouro, cobre, diamante, opala.
Na década de 1960 foram instaladas fábricas para beneficiamento do babaçu, a COPISA, em Pinheiro e uma de celulose em Coelho Neto, com recursos da SUDENE e da SUDAM, que infelizmente não prosperaram.
Grandes fábricas foram instaladas na década de 80 como a ALUMAR, a Vale do Rio Doce. Na virada do milênio, a Suzano Papel e Celulose. Também de gás natural.
Não esqueçamos a Pecuária, a Pesca e a coleta de mariscos, nossa promissora indústria naval e muitas outras atividades, em fase de projeto como a Refinaria Premium para derivados de petróleo.

                                    GOSSIPOL

Enquanto pesquisava os elementos constituintes do algodão, encontrei referência a um aldeído polifenólico, o gossipol. Os subprodutos do algodão podem ser classificados como primários, secundários e terciários, até em pesticida.
As limitações do uso de subprodutos são decorrentes da presença de gossipol, pigmento tóxico, principalmente para suínos. Os sintomas variam de leves tremores até a morte, devido aos danos causados ao fígado e no coração. Além de comprometer as funções hepáticas a taxa de respiração e a capacidade de transporte de oxigênio pelos glóbulos vermelhos ou hemácias, possibilitam ataques cardíacos.
O gossipol pode ser encontrado no farelo, cascas, caroço e é composto polifenólico, de cor amarela com características e propriedades físico-químicas definidas.
O caroço do algodão pode conter 15 pigmentos diferentes do gossipol, em grânulos amarelados e rosados, sendo que no processamento das sementes, as glândulas se rompem liberando o gossipol. Os sais de ferro formam com o gossipol, complexos que não podem ser absorvidos pelo organismo. Pode ser utilizado como contraceptivo masculino, antioxidante de borracha, estabilizante de polímeros vinílicos, inseticidas potenciais. Altamente tóxico para animais monogástricos. O governo chinês está desenvolvendo pesquisas para produzir compostos defensivos a partir do gossipol.

- Editor: Thiago Silva Prazeres

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O DIA EM QUE NASCÍ



É óbvio que é o dia 22 de agosto, quando comemoro meu aniversário natalício é a data mais importante pra mim, pois o meu nascimento encheu meus pais de orgulho e felicidade. Depois do mano Aymoré, uma garotinha era tudo o que meu  pai almejava. Não era uma gracinha, mas saudável como uma novilha: pele parda, cabelos crespos, olhos vivos, bochechuda, nariz de batata, mas era a princesinha de José Alvim.
Nascí às 11:30h, em Pinheiro, com ajuda de parteira mas foi papai quem cortou meu cordão umbilical e me deu meus primeiros banhos. Também com todo desvelo, após as mamadas, me punha em seu ombro para arrotar. Sou grata a Deus ter sido concebida por essas duas criaturas, as melhores que qualquer filho poderia  ter.
Crescí cercada de cuidados e atenções, além do carinho das tias: Nega pra cá, Xanxan pra lá,  minha mãe me ensinando as primeiras orações e Cecé, minha tia,  me levando às Missas. Cheguei aos 5 anos quando comecei a ser alfabetizada em casa. Filha de um homem idoso, tão logo aprendi a ler, as bonecas foram substituídas por livros com belas figuras e histórias infantis e da bíblia adaptadas para crianças. Tive todas as doenças da infância: sarampo, catapora, caxumba, coqueluche, verminoses e, já na escola piolhos e uma micose no couro cabeludo. Para tristeza do meu pai um médico que havia chegado à cidade diagnosticou um tracoma e haja a esfregar uma escovinha nos meus olhos até sangrar. Também tomei muito calcigenol, óleo de fígado de bacalhau, emulsão de Scott, biotônico Fontoura e muitos vermífugos. Éramos saudáveis, mas papai não se descuidava com a nossa saúde. A alimentação era  boa e farta, leite mugido com uns pingos de iodo, mel de cana e muitas frutas.
Ainda no Primário meu pai morreu e deixou um vazio em todos nós, mas mamãe assumiu com garra e competência, as rédeas da família a essa época acrescida com a chegada de José Paulo, o caçula; também da farmácia que nosso pai deixou para o nosso sustento, além de uma casa para cada filho. Apesar da influência do meu pai nunca o jornal local me chamou de graciosa nem interessante  petiz, fino enlevo do lar, e outros elogios tão ao gosto dos colunistas sociais do interior para agradar seus assinantes. Era sempre a inteligente garota, meus pais ficavam satisfeitos e eu conformada e consciente da usura em atributos físicos da natureza para comigo.

Tive uma adolescência feliz e despreocupada; gostava de cantar, dançar mas, acima de tudo era grudada nos livros. Li vorazmente os livros que meu pai deixara; mais tarde da biblioteca do Convento das Irmãs do Sagrado Coração, com quem estudei no Ginásio, a da Casa Paroquial, da amiga Marita Gonçalves. Também lia estórias em quadrinhos. Ia ao cinema e assistia todas as estreias de filmes. Ia à missa das Crianças, fui Goretti e mais tarde Filha de Maria e da Legio Mariae.  Fiz nessa época amizades que perduram até hoje: Niedja, Edméa, Marília, Flory, Maria Alice, Delfina (já morreu), prima Maria Helena e outras amigas  não tão chegadas. Apaixonei-me, mas não de forma avassaladora, talvez só para não destoar do grupo. Fiz e publiquei sonetos, acrósticos e crônicas, no jornal “ Cidade de Pinheiro”. Desde essa época já havia traçado as  metas  para o futuro  nada me desviaria dos meus objetivos: queria estudar História Natural, nome mudado para Biologia. Adorava as aulas de Latim (o terror das colegas), Português, História, Ciências, Geografia. Detestava Trabalhos Manuais e Canto Orfeônico (Música) e me arranjava com Matemática e Desenho.
Concluído o curso ginasial vim para São Luis, com a  bola cheia, pois havia alcançado o 1° lugar (9,34), ganhando um prêmio em dinheiro, doação feita pelo empresário Eduardo Aboud, cuja família começara  seus negócios na antiga Vila, na primeira década do século 20. Nessa época passei de inteligente a simpática e aplicada. Penso que o prêmio deve ter ajudado no exagerado enxoval pedido pelas Irmãs Dorotéias, onde fui interna no 1° ano do Científico. Nos dois anos seguintes morei em casa da prof. Zaide Mattos, no sobradão à Rua João Victal de Mattos, onde meu pai aprendera a manipular remédios. No 3° ano morei no Cristo Rei, pensionato localizado na Praça Gonçalves Dias das Irmãs de Jesus Crucificado. Tive e mantenho laços afetivos com muitas colegas do Científico, mas estava ansiosa para esse período acabar e finalmente, desobrigada das aulas e provas, começar no Cursinho Preparatório do Prof. José Maria de Amaral, as estudar as disciplinas que realmente me interessavam: Biologia, Química, Física, Português. Não que tivesse perdido o ímpeto de estudar: fui 1ª aluna do início ao fim do Científico concluindo o curso com 9,58! Uma proeza, mas não ganhei a medalha.

Fiz o Vestibular para Farmácia e não era muito apreciada pelos colegas, à exceção de Antônio Gaspar, meu amigo e padrinho do meu filho. Os demais colegas tinham ficado reprovados para Medicina e estavam só ganhando tempo. E eu, sempre me esforçando, estudando e tirando as notas mais altas. Terminei o curso com 9,80! Isso me credenciou a ganhar uma bolsa pela CAPES e fazer a minha primeira Especialização em Análises Clínicas na antiga Universidade do Brasil. No ano seguinte fiz Saúde Pública na Fundação Nacional de Saúde Pública em Manguinhos e fui bolsista-estagiária no Instituto Osvaldo Cruz. Aproveitei o máximo que pude: entrei nos laboratórios onde trabalharam Osvaldo Cruz, Carlos Chagas, Gaspar Vianna e  Arthur Neiva, dentre outros; manuseei seus livros, sentei em suas poltronas, realizei meu sonho. Conhecí muitos pesquisadores nessa época, mas foi um ano difícil para as Ciências: todos tinham receio de comentar sequer suas pesquisas pois havia espiões do Governo Militar prontos para denunciar e provocar o exílio, exoneração ou antecipando a aposentadoria. Tristes trópicos! Sórdidos tempos! Não podia me dar ao luxo de ter saudades de casa: não tinha amigos influentes nem dotes físicos atraentes. Só dispunha do meu cérebro e sempre me sobressaindo pela dedicação e paixão a tudo que faço. Nessa época com 23-24 anos fui convidada pra ser professora de Parasitologia na FENSP, porém sequer cogitei da possibilidade de aceitar tal convite. Ciosa da minha competência, mas sempre modesta, segui os conselhos do namorado, colega de profissão, porém ciumento e inseguro: submeti-me a dois concursos pelo Governo da Guanabara, sendo aprovada nos dois, mas não me satisfizeram. No ano seguinte resolvi aventurar-me em outros campos da Farmácia. Fui trabalhar no Laboratório Moura Brasil-Orlando Rangel, como analista de matérias-primas, depois de produtos acabados. Por minhas mãos passaram: Kolantil gel, Vick Vaporub, Supra-sumo. Com o meu curriculum não tinha receio de mudar de emprego, de ares. Fui trabalhar em Galvanoplastia, onde fazia a análise das matérias-primas e dos produtos preparados. Essa empresa era a Orwec Química e Metalurgia do sr. João Havelange  nessa época presidente da CBD.
Nas férias, vim rever a família. Aqui chegando, depois de ter passado uns dias em nossa casa no interior, fui à Faculdade de Farmácia rever os funcionários e amigos. O dr. Salomão Fiquene, Diretor do Curso, meu ex-professor e Catedrático de Parasitologia e ex-colega do prof. Marcelo Silva Jr. e do dr. Edmar Terra Blois, Coordenador do Curso de Análises Clínicas e Catedrático de Higiene da UB e Presidente da FENSP, respectivamente. Baseado nesses elogios o dr. Fiquene me convidou para ajuda-lo nas aulas práticas, percebendo 15,00, por aula e eu só podia dar um total de 13 aulas. Muito pouco! No Rio, ainda com a Carteira Profissional em aberto ganhava 750 cruzeiros. Não aceitei de pronto, mas o mano me falou que no Centro de Saude Paulo Ramos havia uma vaga no Laboratório de Bacterioscopia, acéfalo com o pedido de licença do dr. Arnaldo Albarelli. O Diretor do Centro era dr. Hamilton Raposo Miranda. Levei o meu curriculum, mas  teria que ser aprovado pelo dr. Murad, Secretário de Saúde. Ao fim e ao cabo estava eu no Rio para dar baixa na CP, comprar livros e materiais para as aulas na Faculdade. Passei um mês estagiando na Faculdade de Farmácia com o prof. Ênio Goulart, revendo as técnicas e finalmente voltei para o Maranhão para desespero do namorado, a essa época pesquisador da SUCAM.
Alguns meses depois o dr. Fiquene me levou para ajuda-lo no Curso de Medicina. Corria o ano de 1968 e no ano seguinte já era Regente de Cadeira.
Em fins de 1969 fui ao Rio, São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte para fazer testes para Seleção em Mestrado de Parasitologia. O curso havia sido aberto no ano anterior. Passei nas Universidades Federais de Minas Gerais e do Paraná. Também na rural do Km 47 do Rio e na USP, sem carta de apresentação, sem referências, apenas com cópias datilografadas do Curriculum. A 1ª parte foi fácil, a aprovação na seleção                                                                                                                    faltando apenas a liberação por parte da FUM. Foi uma novela que não quero recordar neste dia, mas só fui liberada por que o Cônego Ribamar, então Reitor, convenceu os demais Diretores, Superintendentes, que essa oportunidade estava sendo dada à FUM e não à prof. Moema. Conseguí a liberação pelo curso de Medicina mas o de Farmácia se recusou. O dr. Bacelar Portela Diretor do Centro de Ciências Físicas e Naturais aprovou com a condição de arranjar quem me substituisse. Aí o amor fraternal e união familiar prevaleceram. Vizinha de Aymoré fui pedir-lhe que ficasse no meu lugar, argumentando que a Parasitologia é um ramo da Biologia do qual era professor no curso preparatório para o Vestibular do prof. José Maria. Diante disso os membros do Conselho Universitário concordaram e lá foi Moema de avião até Brasília e de lá de ônibus para Belo Horizonte. Fui ainda procurar um hotel e  estremunhada e sem dormir fui direto para o Instituto de Ciências Biológicas onde seria  realizado o Curso. Adorei tudo: as instalações, os equipamentos, aparelhos, colegas (12, cada um de um Estado) e, principalmente os professores, todos pesquisadores reconhecidos nacionalmente. Sem entrar em detalhes fiz o curso e com o ante-projeto da tese dei entrada na Secretaria de Saude, de onde era funcionária pedindo licença remunerada, o que foi negado. Com a bolsa da CAPES atrasada e o meu salário da FUM retido, quando o dinheiro acabou e o Banco do Brasil se recusou a descontar os cheques de viagem do Bancipe (o gerente me garantiu que havia agência em BH), enviei uma CTN para Aymoré dizendo que iria abandonar o Mestrado. E o frio chegando e eu sem roupas adequadas. Foi nessa época que perdi o luxo de jantar. Mas a grana chegou: da FUM, do Bancipe e da CAPES e eu fiz a festa: cachecóis, japona de camurça chiquérrima, casaquinhos, casacões, lenços, suéteres e tudo o mais que se usa no frio. E o curso apertando e Mó se virando, pois os textos eram em Espanhol, Inglês, Francês, Italiano e até Alemão. Ainda bem que tínhamos uma colega filha de alemães. Dividia um apartamento perto da Alfredo de Galena, Alagoas esquina com a Avenida Afonso Pena, com amigas, inclusive uma que entrou no FB agora, Inesir Heringer e que indiquei seu nome para amiga do Grupo. No curso tive grandes amigos como Paulo Zábulon de Figueiredo, veterinário cearense mais tarde chefe do Departamento de Parasitologia da Universidade Federal do Piauí e Bruno Schlemper Jr. médico, PhD e ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina.
Concluidas as disciplinas básicas e obrigatórias faltavam as complementares. Fui à Brasília falar com o Prof. Lobato Paraense, Diretor do Centro Internacional de Identificação de Caramujos e fiz, sob sua orientação, o anteprojeto da minha tese cujo tema seria a Esquistossomose no Maranhão. Orgulhosa, enviei uma cópia para a Secretaria de Saúde do Maranhão e quem disse que continuaram me pagando? “ O Estado não tem interesse em estudar tal doença e sim a SUCAM” indeferindo meu pleito. Não esmoreci: mudei-me para Brasília e passei quase dois anos fazendo Malacologia (não é palavrão e sim o estudo dos caramujos). Parte experimental feita e tese meio elaborada, vim a São Luis, pois o  Reitor havia mudado e nada constava sobre mim. Passei 6 meses aqui só destrinchando a burocracia e em busca dos relatórios enviados. Liberada fui diretamente para BH elaborar a tese e felizmente consegui para essa etapa que o dr. José Pellegrino me aceitasse em seu laboratório,  disponibilizando estatístico, geneticista e um professor para fazer as correções. Passava a noite datilografando e no dia seguinte tudo cortado. Até que descobri o que eles buscavam:  enxugar e dessecar (não dissecar) o texto, retirando  todos os adjetivos e deixando só o essencial. Texto conciso, autoexplicativo e com análise estatística. No dia da defesa, tendo perdido 12 kg em 2 meses para concluir minha tese depois de passar por perícia médica, fui ao salão fazer unhas e cabelo, comprei uma saia envelope com uma blusa enfeitada de fitilhos e a exibi como roupa estilizada de bumba-boi. Apenas 20 minutos cronometrados para apresentar uma pesquisa com  tabelas,  gráficos, slides nesse exíguo tempo. Mas fui  aplaudida de pé não por mérito pessoal ou alto nível da pesquisa e sim porque entre os convidados estava o dr. Raimundo Siebra de Brito, Superintendente da SUCAM e meu amigo. Nordestino foi  prestigiar a sua quase conterrânea.
De volta para a UFMA, após a Departamentalização, nova chateação: não poderia receber o salário do mês trabalhado porque a folha de pagamento fora feita no mês anterior quando ainda  estava defendendo a minha tese. Há muito mais, mas não quero cansá-los. Aqui não havia estrutura para pesquisa e voltei apenas a lecionar, fiscalizar provas de vestibular, participar de Comissões disto e daquilo. Mas sempre fazia as minhas pesquisas com os poucos recursos que dispunha. Aparelhos sucateados, comprei microscópio, lupa, slides, lâminas e tudo o que um professor comprometido com a Educação precisa.
Mais tarde coordenei os primeiros cursos de Especialização, e dava aulas para técnicos dos laboratórios da UFMA, do município e do estado e para técnicos de laboratórios particulares. Também coordenei o Programa de Iniciação Científica com 52 bolsistas do CNPq. Além de todas essas atividades coordenei a 1ª Jornada da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão. Orientei dezenas de monografias de Graduação e algumas de Especialização. Participei de excursões com alunos, para desespero dos meus chefes, sempre fazendo pesquisas sobre esquistossomose.
Em 1984, com direito a gozo do período sabático, consegui ser aceita para fazer um Curso de Especialização em Entomologia em BH, mas a burocracia novamente tentou me barrar. Descobriram que durante os últimos 7 anos tive uma falta num dia 28  de fevereiro, quando fui liberada mediante convênio com o CNPq, a SUCAM e a UFMA para fazer um estágio  no núcleo de Medicina Tropical na USP. (imunofluorescência indireta) visando a um Inquérito Imunobiológico, a nível nacional, sobre a Doença de Chagas. Contornado mais esse problema com a apresentação da liberação assinada pelo reitor da época, fiz  o Curso e ao voltar começou a fase mais produtiva da minha carreira como pesquisadora. Fiz projetos que foram aprovados pelo CNPq com liberação  de recursos e no Governo  Sarney, tendo um conterrâneo como Presidente, o dr. Renato Archer, de Codó como Ministro da Ciência e Tecnologia. Dr. Josélio Carvalho Branco como Superintendente da SUCAM e mais o apoio de alguns deputados federais dentre os quais o dr. Antônio Gaspar, participamos de um Programa Interinstitucional para Pesquisa das Doenças Endêmicas do Maranhão. Foram selecionadas: Malária, Esquistossomose e Leishmaniose. Nada ganhávamos, pois fora a contrapartida da UFMA e mais as instalações físicas; a SUCAM dava o apoio logístico, a FINEP os recursos para a compra de equipamentos e outros materiais e a Secretaria de Saúde entraria com 2 técnicos de nível superior. Mais entraves que para contorna-los tive que pedir a intercessão do Pro-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFMA. Havia necessidade de tanta complicação?
No meu caso tive vários bolsistas colaborando no Levantamento da fauna flebotomínica de São Luis. Muitas monografias foram elaboradas, a nível de graduação  e especialização. Dezenas de trabalhos foram apresentados em Congressos da Sociedade de Medicina Tropical e de Parasitologia, além é claro, nas nossas Jornadas de Parasitologia e Doenças Tropicais. Instalamos um laboratório de criação de flebotomíneos, um dos poucos do Brasil.  Os demais eram o do Renée Rachou, em BH; do Evandro Chagas, em Belém e de Manguinhos, no Rio. A nossa coleção chegou a 12 mil exemplares de 19 espécies diferentes. Um feito e tanto! Representei a UFMA num Congresso Médico da Amazônia, participei de debates em congressos realizados em Campinas e em Belém.
Aí o sr. Fernando Collor de Melo assumiu a Presidência da República e cortou nossos recursos, bolsas, enfim tudo que conseguimos no governo Sarney. Pra não ficar de braços cruzados, com o farto material coletado fiz, com a ajuda de bolsistas um levantamento da fauna de Ceratopogonídeos (maruins) da Ilha.
Ia tudo bem apesar da falta de recursos, pois os alunos eram dedicados e gostavam de pesquisar, mas aí começaram as greves. Sou avessa a esse tipo de coisas, afinal de contas, nós professores universitários tínhamos condições de dialogar sem movimentos paredistas. Solicitei meu tempo de serviço, dei um “ciao”, voltando à UFMA apenas para participar de bancas de defesas de monografias, de concursos para docente e algumas aulas esporádicas. Só, então abri o Papiros do Egito com livros meus, do mano Aymoré, da sua esposa já falecida dra. Maria Augusta e de algumas alunas mais próximas.
Realizei-me? Sim, só lamento ter relaxado a educação do meu filho, pois as coletas de insetos eram feitas à noite. Conhecí grandes pesquisadores, pisei solo sagrado pelos mais importantes cientistas, fiz amizade com vários medalhões, impulsionei a carreira de vários alunos e três deles superaram a mestra: dra. Cláudia Castro Gomes, PhD em Parasitologia pela USP, dra. Andrea Pires, doutora em Biologia Parasitária e atual chefe do Departamento de Patologia da UFMA e a dra. Orzinete Rodrigues, coordenadora do Programa de Controle da Esquistossomose do LACEN.
Continuo a mesma: gosto de brincar, mas não participo de festas carnavalescas, juninas, festas populares, desfiles cívicos; não vou a shows, não curto teatro, cinema nem circo, nem concertos nem óperas. Não vou a passeatas, carreatas, comícios, procissões, desfiles de modas, praia, piquenique. Não corro atrás de trio elétrico nem vou a estádios de futebol ou outro esporte. Não gosto de festas de formatura, batizados, casamentos. Também só viajo por necessidade, enfim, SOU UMA CHATA DE GALOCHAS!

  - Editor: Thiago Silva Prazeres

domingo, 17 de agosto de 2014

II PARTE: O ALGODÃO NO MARANHÃO



As primeiras referências sobre o algodão no Maranhão remontam ao Período Colonial, tendo sido feitas na época em que os franceses invadiram e se apossaram da ilha de Upaon-Açu, atualmente Ilha de São Luis, e plantavam a malvácea, segundo Diogo de Campos Moreno.
Além de cultivarem, faziam escambo com os chefes das várias aldeias da tribo Tupinambá, espalhadas pela ilha. Alguns historiadores dizem que esse número se aproximava de trinta. Além de usarem o algodão, enviavam para a França. Provavelmente era o algodão amarelo. Também Simão Estácio de Sá se refere a essa cultura em seu livro: Relação Sumária das Cousas do Maranhão, considerado o primeiro marqueteiro das nossas riquezas naturais, como forma de atrair seus patrícios para a América Portuguesa.
Também Francisco Dias Deiró, cúmplice de Bequimão na malograda Revolta, sugeriu à Câmara que não permitisse as exportações desse produto. Nessa época com 150 a 400 varas de algodão, comprava-se um escravo para a lavoura, multiplicando as colheitas e levando a Colônia a padecer com a falta do produto.
Em 1682 foi criada uma companhia de gestão privada, em substituição à Câmara Municipal, gerando conflitos de interesses, culminando com a Revolta de Beckman, e reprimida energicamente com  o enforcamento de Bequimão  e seu cúmplice. Somente em 1688, o governador Gomes de Freire de Andrade atribuiu um valor, em réis, ao novelo e vara do algodão, confirmado pelo rei.
Em 1693, Antônio Albuquerque de Carvalho taxou as exportações, impostos esses que destinados ao pagamento dos soldos dos soldados.
Em 1703, o Senado da Câmara  proibiu  a exportação em caroço e rama, deixando para consumo local. A primeira resolução, anulada em 1699 foi revogada, em 1757,  pelo gov. Gonçalo Pereira Lobato que proibiu sumariamente a exportação, atribuindo preços ao produto: o novelo passaria a valer entre 20 e 25 réis e um rolo por 10$000, usados como moeda-corrente. Permutava-se o nosso algodão por ouro em pó ou em barras com Goiás  e Minas Gerais. Em 1724 o algodão já era falsificado, isto é, os fardos continham além da pluma, pequenas pedras, folhas, pedaços de troncos e outras sujeiras, o que aumentava a pesagem, exigindo-se, a partir daí que os custos do  transporte fossem arcados pelo lavrador e a obrigatoriedade de uma marca por meio da qual se saberia a procedência de algodão e, consequentemente o nome do proprietário.
As primeiras áreas cultivadas ficavam no Itapecuru, Alto Mearim, Coroatá, Codó, Tutoia, Barreirinhas, Brejo e durante os primeiros anos do reinado de d. José, na região de Cumã, atual Regiões da Baixada e Litoral Norte, onde se situam Viana, Guimarães, Pinheiro, Cururupu, Alcântara.    As espécies mais cultivadas eram o “peruviano”  e outros, conhecidos por crioulo, governo e quebradinho. Só mais tarde foram introduzidas sementes de Sea-Island, Upland e outras dos Estados Unidos, empregando-se, ainda no plantio, o sistema rotineiro, sendo de preferência escolhidos os terrenos mais elevados, propícios às espécies arbóreas que duram oito anos ou mais e atingem entre 5 e 7 m de altura.
Inicialmente o algodão foi cultivado com o objetivo de suprir a necessidade de fabricar tecidos que pudessem ser utilizados para acondicionar produtos e usados como vestimenta dos escravos. Os integrantes da elite não utilizavam o produto da terra, preferindo importar os tecidos da Europa.
No contexto da economia colonial, o algodão surge como mais um produto agrícola que se estabeleceu na base do trabalho escravo, inicialmente usando a mão-de-obra indígena, substituída pelos negros trazidos da África, em grandes propriedades, caracterizadas pela monocultura voltada para o comércio exterior. 
Por essa época a moeda circulante era o algodão em novelos, fios e rolos de panos.
Em 1755, no reinado de D. José e por sugestão do seu primeiro-ministro, Sebastião de Carvalho, mais tarde Marquês de Pombal, foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, cuja produção foi incrementada através da disponibilidade de grandes recursos financeiros. Com a proibição da escravização dos silvícolas, houve necessidade de buscar braços mais vigorosos para aumentar a produção. Recorreu-se à mão-de-obra escrava, importando milhões de negros da África, auferindo grandes lucros para a Metrópole. Desse modo,  a região foi integrada ao grande sistema  comercial mantido por Portugal, mudando também, a fisionomia étnica da região. Cada negro colhia até duas arrobas diariamente. Os algodoais sofriam já as investidas do bicudo, também de aves, ratos, lagartos, percevejos ou pulgões e gafanhotos. A prensagem também era feita pelos escravos, comprimindo o algodão com os pés. Só mais tarde foram introduzidas as prensas de madeira ou bolandeiras puxadas por animais, substituídas pelas hidráulicas, melhorando a qualidade do produto. Até 1826 o descaroçamento era feito em maquinetas de madeira. Nesse ano  foi instalada a primeira grande descaroçadora,  na fazenda Barbados em Itapecuru, pelo proprietário o escocês Alfred Hall. Em 1831 já havia dezenas nas principais vilas da Província.
Em 1820 com a queda da cotação do algodão no mercado europeu, houve esperas e falências de muitos negociantes que se entregaram a luxos desmedidos, fazendo grandes compras à longo prazo. Também, nessa época foi criado o cargo de inspetor de algodão, visando a melhoria da qualidade do produto.
As exportações do algodão, em maior volume, tiveram relação direta com a crescente demanda industrial europeia. A primeira remessa deu-se em 1760, totalizando 651 arrobas  de plumas de algodão arbóreo, perene, de fibras mais longas. Em 1778, outras colônias como  Piauí e  Ceará, se tornaram importantes produtoras. Com a morte de d. José, o banimento da corte do Marquês de Pombal, d. Maria que substituiu o pai no trono lusitano, mandou publicar um alvará extinguindo todas as indústrias manufatureiras do Brasil que competiam, com  vantagem, com as de Portugal. Após a liberação o Maranhão voltou a ser um grande produtor-exportador, entre  1796 e 1806. Com a invasão francesa em território português, a arroba do algodão voltou a cair, subindo novamente em 1808 com a abertura dos portos brasileiros às nações estrangeiras.
O primeiro e mais importante mercado consumidor foi a Inglaterra, aumentando, consideravelmente, o comércio em decorrência da Guerra da Independência dos EUA, para atender a grande demanda consequente da Revolução Industrial Inglesa. Com isso o Maranhão teve o seu primeiro surto econômico, havendo necessidade de construir a Praça do Comércio na Praia Grande, centro de ebulição econômica e cultural de São Luis. Pelas casas comerciais exportavam-se os produtos maranhenses, principalmente o arroz e o algodão. Em contrapartida, entravam produtos europeus como tecidos, móveis, azeite português, cerveja da Inglaterra e outras novidades do Velho Continente. Esse fluxo comercial tornou São Luis a terceira cidade mais populosa do país, abaixo apenas do Rio de Janeiro e de Salvador.
O algodão maranhense cultivado no Vale do Itapecuru era considerado superior no mercado exportador, tendo sido classificado em 1° lugar na Exposição de 1867. Esse tipo de algodão  era mais alvo, mais resistente com fibras iguais, prestando muito bem para fabricar tecidos de meia durabilidade e finura média, quer para chitas.
Com uma área territorial de aproximadamente 333.000km², terras férteis, clima ideal  e condições favoráveis de escoamento, o Maranhão tornou-se, em pouco tempo,  um grande mercado exportador. As primeiras máquinas descaroçadoras eficientes, com  dois cilindros, só entraram no  fim do século XVIII.
Entretanto com a recuperação da produção norte-americana, a entrada no mercado de algodão mais barato do Egito e da Índia, aliadas à  abolição da escravidão, fizeram com que as nossas exportações despencassem  de 30% em 1825, para 2,3% em 1880. No fim do século XIX, esse setor começou a entrar em decadência. Com o preço reduzido, o algodão começou a apodrecer nas lavouras e abarrotar os galpões e depósitos, transformando antigos lavradores em industriais.  A produção agrícola foi aos poucos superada pela indústria têxtil que além de matéria-prima à mão, encontrou mercado consumidor, concorrendo para a expansão geográfica das cidades, pelo surgimento de novos bairros periféricos, geralmente ao redor das fábricas. Em 1880 estima-se que a exportação tenha sido de 2.630 toneladas, sendo cerca de 2.000t foram consumidas pelas fábricas de fiação e tecelagem.
A Balaiada, conflito que se espalhou entre caboclos e escravos foragidos das fazendas das regiões do Itapecuru e Mearim paralisou a produção, reduzindo- pela metade e causando grandes prejuízos não só aos lavradores como à economia da Província.
O estabelecimento de uma ativa indústria de tecidos de algodão, no fim do período monárquico e princípio do republicano,  com 10 fábricas de fiação  e tecidos de lã, e mais algumas, diversificando o nosso parque industrial  como as de produção de fósforo, sabão, de pilar arroz, chumbo, calçados, gerando a ilusão de uma nova e grande ascensão da lavoura . Em breve, no entanto, se dissiparam as esperanças. Os teares adquiridos por esses inexperientes industriais, não passavam de sucatas das fábricas têxteis inglesas. Convém registrar a falta de assistência técnica para orientar os plantadores que ainda o faziam de modo primitivo e rudimentar, a ausência de  infraestrutura para a construção das fábricas, carência de operários e técnicos especializados, ficando-se à mercê dos técnicos ingleses que permaneciam pouco tempo aqui, queixando-se do clima, da alimentação, da falta de diversões. Até a determinação do pH da água usada para lavagem do algodão, era feita na Inglaterra.
Com todos esses óbices, na virada do século, o número de fábricas instaladas subiu para dez, não só na capital, mas em municípios como Caxias e Codó. Na esteira desse processo houve necessidade de aumentar o número de equipamentos  descaroçadores, para separar as ramas ou plumas que eram enfardadas e remetidas para os mercados consumidores. Essa atividade era realizada em vilas e povoados, perto dos centros produtores, e não muito distante das fábricas, absorvendo grande contingente de mão-de-obra para esse mister.
Foram abertas  quatro fábricas de prensar os caroços de algodão, para extração do óleo e obtenção  da torta, para consumo de ruminantes. .         No primeiro quinquênio do século XX  as exportações atingiram  25 toneladas, decrescendo nos anos posteriores, em decorrência da dinâmica econômica mundial. Os principais fatores dessa falência começaram com a quebra da Bolsa de Nova York, elevação dos juros dos empréstimos, geralmente feito em libras esterlinas, a ausência de investimentos, o baixo  padrão de qualidade do algodão, ocorrendo a completa desativação na década de 1960.
                                                                                                                                                                                    
-     PRINCIPAIS FÁBRICAS TÊXTEIS INSTALADAS NO MARANHÃO
                            EM SÃO LUIS

O primeiro projeto para a criação de uma instituição onde se ensinasse as técnicas de cultivo, manejo, transporte e avaliação do produto, assim como seu uso na fabricação de tecidos e extração do óleo das sementes por máquinas movidas a vapor, data de 1873, com a fundação da Casa dos Educandos, por vários motivos,  não deslanchou.
1891 – Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, com capital de 900 contos, operando 105 teares, com o objetivo de fabricar tecidos de juta, também chamado estopa ou aniagem, para ensacar  produtos.
1892 – Companhia Progresso do Maranhão, com 160 operários manipulando 150 teares, para produção  de panos de algodão.
- Companhia  Fabril Maranhense – Santa Isabel. Capital inicial 1.700 contos, 600 operários para trabalhar  em 450 teares, produzindo riscados e domésticos de algodão.
1893 - Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil. Capital inicial de 1.600 contos, 172 teares, 60 máquinas de fiação e 18 de branqueamento, produzindo morins e madapolões,  com 209 operários.
- 1893 – Fábrica de Tecidos de  Malhas Ewerton, com 30 operários produzindo meias e tecidos para camisas.
-1894 – Companhia  Industrial Maranhense, com capital inicial de 250 contos, com 50 operários. Destinada à manufatura de fio, punho de rede e rede de pesca.
- 1895 - Companhia de Lanifícios Maranhenses com capital de 600 contos, 22 teares e outros equipamentos com 50 operários para fazer todos os produtos de lã e seda. Fundada desde 1892, mas suas atividades só começaram três anos depois, produzindo riscados e brins.  Mais tarde foi arrematada pelo industrial maranhense Cândido Ribeiro  que nomeou a rua onde foi construída a fábrica.

                              EM CODÓ

1892 - Companhia Manufatureira e Agrícola de Codó. Capital de 1000 contos, fazendas, com 250 operários, produzindo fios, punhos e redes de pesca.
                                  
                       EM CAXIAS

1883 – Companhia Industrial Caxiense foi a 1ª a ser instalada no Maranhão. Era uma indústria de fiação e tecelagem.
1889 – União Caxiense.
 1891 – Fábrica Sanharó.
  1892 – Companhia Manufatora de Caxias.
  
 RESUMINDO: respaldada em dados de Fran Paxeco in Geografia do Maranhão, 1923 e repassados pela Prof. Lílian Leda:
 A primeira fábrica no Maranhão foi a Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses de João Antônio Coqueiro. Mais tarde, em 1883 foi criada a Indústria Caxiense. Em São Luis, organizou-se a Camboa (companhia de Fiação e Tecidos Maranhense). Em 1890 inaugurou-se a Fabril que reuniu as Fábricas de São Joaquim e Santa Isabel. Em 1891, foi instalada a Cânhamo  que trabalhava com a juta. Em 1893, a Companhia de Fiação  e Tecidos Rio Anil, que fabricava morins.
Nesse mesmo ano estabeleceram-se, em Caxias, a Sanharó e a Companhia Manufatureira Caxiense.
As Fábricas  São Luis de Fiação Santa Amélia que fabricavam brins e riscados, pertenceram a Cândido Ribeiro & Cia e iniciaram suas atividades entre 1894 e 1895.
            Em  Codó  foi instalada a Manufatureira Agrícola, completando o Parque Têxtil.
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Estas informações foram tiradas da Wikipedia sobre as nossas fábricas:
- Companhia de Tecidos Maranhenses – 1888-89, localizava-se na Camboa. Faliu em 1894.
- Companhia de Fiação e Tecidos de São Luis – 1894. Localizava-se na rua São Pantaleão, ao lado da Cânhamo.
- Companhia Lanifícios Maranhenses – Rua as Crioulas. Mais tarde passou a chamar-se Santa Amélia, integrando  o Grupo Cotonífico Cândido Ribeiro. Faliu em 1969.
- Companhia Progresso Maranhense – 1892. Localizava-se no prédio onde até bem pouco tempo funcionava o SIOGE. Teve vida efêmera,
- Companhia Manufatureira e Agrícola de Codó – 1893.
- Companhia Fabril Maranhense – 1893 – Rua Senador José Pedro, no local onde funciona um depósito da  Lusitana, perto do edifício do Ministério da Fazenda.
- Companhia de Fiação Rio Anil – 1893. Localizava-se no Anil onde atualmente funciona o CINTRA.  Faliu em 1969.
- Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo - 1891. Rua São Pantaleão atual CEPRAMA. Faliu em 1969.
- Companhia Industrial Caxiense – 1880.
- Companhia de Fiação e Tecidos – 1889. Era instalada à Avenida Pedro II.
- Companhia de Fiação  e Tecidos. 1889 – Caxias, Faliu em 1950.
- Sanharó – Trizidela, Caxias.
- Companhia industrial Maranhense – 1894. Rua dos Prazeres.
- Fábrica de Tecidos e Malhas Ewerton – 1892. Rua de Santana.
- Fábrica São Thiago. Antigo prédio da CINORTE.
 -  Cotonière Brasil Ltda. Década de 1930.


             Este tema terá continuidade, numa III Parte para abranger as atividades fabris do século XX.

AGRADECIMENTOS

À amiga Rosa Martins pelas fotos antológicas das fábricas.
Às amigas Malu Luz e Lílian Leda, pelas informações sobre as nossas fábricas.
- Editor: Thiago Silva Prazeres