* Moema de Castro Alvim.
Patrono da cadeira n. 03 da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências, José Paulo de Carvalho Alvim nasceu em Codó, município que integra a Mesorregião Leste Maranhense, situado à margem esquerda do Rio Itapecuru.
Em 1891, ano em que José Alvim nasceu, Codó era considerado o ponto mais importante da ribeira do Itapecuru, sendo a segunda cidade mais progressista do interior, graças à produção de algodão e ao comércio. A população estimada nessa época era de 16 mil habitantes, enquanto o número de moradias não excedia 3.500 casas.b
Seus pais foram Leonor de Carvalho Alvim e João Nogueira Alvim. Ele era operário da Companhia Manufatureira e Agrícola de Codó e ela dona de casa.
Iniciou seus estudos no Convento do Carmo e depois no Instituto São José onde foi aluno do grande educador codoense, professor Teotônio Bayma.
Com a morte prematura do pai, d. Leonor o trouxe com Abelardo, irmão mais velho, para São Luís, onde as oportunidades de trabalho eram maiores e também para completar a educação dos filhos, principalmente, do caçula que com 10 anos já havia concluído o primário e demonstrava inteligência privilegiada.
Em São Luís, após instalar-se numa “porta-e-janela” na rua de Santaninha, mãe e filhos, com a ajuda do Sr. Ulisses Palhano (pai do Pe. Osmar Palhano de Jesus) procuraram emprego. D. Leonor, exímia quituteira, aceitava encomendas de banquetes e doces para pessoas recomendadas pelo Sr. Ulisses. Abelardo partiu depois para o Amazonas, para trabalhar na extração da borracha e José Paulo, estudando à noite, trabalhou, inicialmente, na Farmácia Humanitária, localizada no Largo do Carmo, de propriedade do Dr. Augusto César Marques, farmacêutico e irmão do consagrado dicionarista, historiador e médico Dr. César Augusto Marques. As suas funções consistiam em lavar os frascos e demais vidraria e utensílios usados na manipulação das fórmulas farmacêuticas. Entretanto, o grande sonho de José Paulo era trabalhar no Laboratório de João Victal de Mattos, situado no Beco da Pacotilha, atual Rua João Victal de Mattos
Dr. João Victal, farmacêutico, responsável pelo desenvolvimento de várias fórmulas, algumas premiadas até no exterior, constatou o grande potencial do jovem aprendiz, que além de dedicado, demonstrava grande talento. Com o Dr. João Victal, José Paulo aprendeu a arte da manipulação, conquistando em 1909, com apenas 18 anos, o seu certificado de prático de Farmácia, conferido pelo mais importante farmacêutico da época no Maranhão e legitimado na década de 1930 pelo Presidente Getúlio Vargas.
Conhecimentos alicerçados, certificado na mão, chegara a hora de José Paulo estabelecer-se. De posse de algumas economias e com a ajuda do Dr. João Victal, partiu, nesse mesmo ano, em sociedade com o também prático de Farmácia, Manuel Santos, para sondar a praça da Vila de Pinheiro que se encontrava em pleno desenvolvimento apesar da caótica situação econômica do Maranhão e ali se estabeleceram, à Rua Nova, atual Avenida Pres. Dutra.
Com o retorno, no ano seguinte, do Sr. Manoel Santos para São Luís, José Paulo adquiriu a outra parte da sociedade e fundou a Farmácia da Paz, em 10 de janeiro de 1911, após a concessão da Licença Nº 99 de 15 de dezembro de 1910 do órgão de Saúde do Estado.
Em 1912, suspende as atividades na Farmácia para viajar para Belém, onde se engajou, a convite, numa Comissão Científica chefiada pelo famoso pesquisador e médico Dr. Carlos Chagas que foi estudar “in loco” a malária, a leishmaniose tegumentar, hanseníase, as verminoses e outras doenças que infestavam a região Amazônica, dizimando os trabalhadores dos seringais. No ano seguinte, José Paulo esteve, também, no Peru e na Bolívia com botânicos, farmacêuticos e outros aprendizes como ele. Na volta, estagiou em Belém, nas Farmácias Maravilha e Vidigal, onde pôs em prática os ensinamentos obtidos nessas duas extraordinárias viagens.
Seu retorno a Pinheiro ocorreu em 1914 com algumas economias e grande conhecimento sobre as plantas medicinais da região. Reabre a sua Farmácia da Paz, conquistando crédito nas praças de Belém e São Luís, para aquisição dos sais, reagentes, vidraria, instrumentos, enfim, dos equipamentos necessários para manipular e desse modo atender uma população em crescimento. Pinheiro, até então, era uma vila em pleno desenvolvimento mas carente de um posto de saúde e de médico que não havia nem na vizinhança. Foi o trabalho de José Alvim, alicerçado nos seus conhecimentos obtidos junto a respeitados profissionais da área de saúde, que contribuiu para o afluxo de maior número de pessoas a Pinheiro, na certeza de que poderiam contar com alguma assistência, nas suas horas mais difíceis.
José Alvim incursionou, também, pela política, chegando, inclusive, a ser proprietário de um jornal “A Vanguarda” e chefe político local do partido do correligionário e amigo, Dr. Tarquínio Lopes.
Superando as suas deficiências pela falta de uma educação formal, José Alvim era um leitor voraz do Czernovitz à Farmacopeia e outros Formulários Farmacêuticos. Um bom dicionário da Lello tinha sempre na sua escrivaninha, como ainda, romances, livros espíritas, revistas das quais tinha assinatura como Seleções, O Cruzeiro, Noite Ilustrada. Seus autores prediletos eram Aluisio Azevedo e Humberto de Campos, dos quais deixou alguns volumes.
Na sua farmácia mantinha uma sala de operações onde realizava alguns procedimentos simples como curativos, aplicação de injeções e até pequenas cirurgias. Essa sala era franqueada aos médicos que visitavam Pinheiro: Dr. Netto Guterres, Dr. Clarindo Santiago, Dr. Fernando Viana, Dr. Antenor Abreu, Dr. Costa Rodrigues, Dr. Belfort, Dr. Damasceno Figueiredo e outros mais.
Participou, também, como sócio e diretor da Sociedade Beneficente Pinheirense, foi o fundador da Sociedade Mutuária Pinheirense e um dos fundadores do Clube do Rádio, em 1934.
Aos 50 anos, já considerado celibatário convicto, casou-se com a Srta. Inês dos Reis Castro, filha do Cap. Francisco Castro, delegado da polícia de Pinheiro entre as décadas de 1920-1930.
Morreu em dezembro de 1952, aos 61 anos, cercado pelo respeito e estima dos pinheirenses que, reconhecendo o seu trabalho humanitário, em prol de um povo sem recursos médicos, desde os primeiros momentos que ali chegou, manifestaram a sua gratidão e preservaram a sua memória, apondo o seu nome a uma das principais artérias da cidade que o recebeu de braços abertos e que ele amou como se fora a sua cidade natal.
Deixou viúva a Sra. Inez de Castro Alvim e três filhos, todos menores: Aymoré com 12 anos que se formaria em Medicina, é professor universitário e historiador; Moema com 10 anos, farmacêutica, professora universitária, pesquisadora e livreira e José Paulo com 3 anos, administrador, funcionário aposentado da Embratel e, atualmente, empresário aposentado do ramo de loterais.
Todos bem encaminhados, pessoas de bem e como o pai, úteis e prestadoras de bons serviços à sociedade onde vivem.