AS ESTEARIAS
DO ENCANTADO
Acad. Aymoré Alvim, APLAC, AMM, IHGM.
O Encantado é uma povoação próxima à
cidade de Pinheiro. Fica situada, à margem esquerda do rio Pericumã, na parte
leste dos campos que contornam quase todo o município.
Segundo o acadêmico e pesquisador
Francisco José de Castro Gomes, tal denominação é devida à escavação de um poço
cuja profundidade chegou a tal ponto que os trabalhadores ouviram galo cantar
do outro lado do mundo. Apavorados, abandonaram o serviço e a lenda se espalhou
pela região.
Mas a importância do Encantado não se
prende apenas às estórias da sua origem.
Segundo revela Estevão Pinto, o
Encantado e outras localidades da Baixada Maranhense, situados, às margens de
seus rios e lagos, foram sedes de habitações lacustres ou palafitas, erguidas
sobre esteios (estearias), cujas ruínas são registros da existência de
primitivas comunidades que habitaram a região.
As primeiras referências a esses
vestígios habitacionais, situados no Lago Cajari, foram feitas pelo Cel.
Bernardino Pereira Lago, nas páginas do “Itinerário da Província do Maranhão”.
Posteriormente, em fins do século
dezenove, o escritor Celso Magalhães, em visita á região dos lagos de Viana,
observou muitas pontas de esteios, estrategicamente, distribuídos, nas
proximidades desses lagos, mas, sem maiores detalhes, os atribuiu a crendices
populares.
Foi somente, na década de 1920, que o
pesquisador e historiador Raimundo Lopes deu início aos pioneiros estudos de
pesquisa desses sítios arqueológicos da Baixada Maranhense.
Uma seca, ocorrida àquela época, lhe
propiciou a observação, no Lago Cajari, de uma vasta área de, aproximadamente,
dois quilômetros, em algumas direções, pontilhada de milhares de esteios que
lhe deram a idéia de uma floresta morta. As análises, no material lítico, na
qualidade da madeira dos esteios e na cerâmica ali encontrados, levaram-no à
conclusão da existência de um povo bastante numeroso que, em épocas
pré-históricas, vivia dentro de uma estrutura social bem organizada.
Outros sítios, embora não muito bem
estudados como o do Lago Cajari, foram encontrados por Raimundo Lopes. E,
dentre esses, estão as estearias do Encantado.
O grande problema dos pesquisadores,
não obstante todo o material até então recolhido, é a elucidação da origem dos
seus construtores e habitantes.
Nesse mister, muito trabalhou o médico
e arqueólogo Olavo Corrêa Lima. No trabalho que publicou, na Revista Nº 09, de
junho de 1985, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sobre o Homo sapiens stearensis, procurou traçar
um perfil dos primitivos habitantes da região que, atualmente, compreende a
Baixada do Maranhão.
Fixando a idade dessas estearias entre
7 e 3 mil anos a.C., desenvolveu a sua hipótese baseado na coincidência da
chegada dos ameríndios ao território maranhense que, segundo estudos de
Canall-Pompeu Toledo, ocorreu através de três correntes migratórias: Lácidas,
Nordéstidas e Brasílidas.
Analisando as características de cada
uma, sua distribuição e suas aptidões, o prof. Correia Lima destacou o grupo
Nu-uraques da corrente Brasílidas como o responsável pela construção das
palafitas. Esse grupo ocupou grande parte da região do Estado, principalmente,
da Baixada. Vivia à beira dos seus rios e lagos sendo os seus membros, talvez
por isso, exímios navegadores. Cultivavam o milho, a mandioca, o tabaco e
outros cultivares. Eram excelentes oleiros e costumavam fazer palafitas para
fugirem das periódicas enchentes da região.
Desta forma, quando comparados aos membros
dos outros grupos que também se distribuíram pelo Maranhão, o Prof. Correia
Lima encontrou fortes indícios para sustentar que os construtores dessas
estearias foram mesmo os Nu-uraques e, por conseguinte, os mais importantes habitantes
da Baixada Maranhense e os criadores das estearias do Encantado. Logo, foram eles
os primeiros moradores da região onde se
encontra o município Pinheiro.