Pastos Bons foi a sua terra natal. Sob a proteção e cuidados de seus pais, Cleonizard e Joana, e no convívio com os irmãos, parentes e amigos, crescia em graça e se desenvolvia.
Era uma menina viva, inteligente. Aos 5 anos já lia e escrevia. Estudou o primário, na Escola Municipal Dr. José Neiva, onde se destacava pelos seus conhecimentos de aritmética e português. Afinal, naquela época, não era comum encontrar uma menina que gostasse dos números.
Ao concluí-lo, disse aos pais que queria prosseguir nos seus estudos, pois pretendia fazer medicina e voltar para cuidar das crianças de sua terra. Então, aos 10 anos, o pai a levou para estudar no curso ginasial do Colégio Santa Teresinha, em Floriano-Piaui. Aplicada e dedicada aos estudos, lá, também, demonstrou seus conhecimentos em português, matemática e em latim. Ainda pequena, tinha de subir em um banquinho para resolver os problemas, no quadro negro.
Laureada como a primeira aluna do colégio, ela viajou para São Luís, no início de 1958, aos 16 anos, para fazer o científico e se preparar para o vestibular da Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão.
Nessa mesma época, eu havia deixado o Seminário de Santo Antônio e estava procurando, também, uma instituição de ensino para cursar o científico e me habilitar ao vestibular de medicina. Foi, assim, que nos encontramos, no Colégio de São Luís.
Morena linda, graciosa e meiga, porém, muito séria, logo chamou a minha atenção e de outros marmanjos do colégio. Mas fiquei na minha, maquinando um jeito de me aproximar sem espantar.
Com muita tática e cuidado, nos tornamos amigos. Passamos a estudar juntos, à tarde, na Biblioteca Pública Benedito Leite. Disse-lhe que não sabia Física e ela se prontificou a ensinar-me. Num belo fim de tarde, no final de dezembro de 1960, ao descermos as escadarias da Biblioteca, me enchi de coragem e seja o que Deus quiser. Virei o rosto para outro lado e agarrei-lhe a mão. O coração disparou. Aguardei a reação que não veio. Então, pensei, será que ela aceitou? Caminhamos, assim, até onde ela morava. Não disse nada, nem ela também. Ao chegarmos, nos despedimos. Ela sorriu e eu também. Parti para casa feliz da vida, mas ansioso para chegar dia seguinte e verificar se era mesmo verdade ou apenas uma consideração ao amigo.
Era verdade. Iniciamos, então, uma relação de afeto com a qual atravessamos os seis anos do curso e mais dois de pós-graduação. Em fevereiro de 1970 nos casamos, em Pastos Bons. Três filhos: Aymoré Filho, Augusto José e Bruno enriqueceram a nossa casa, enchendo-a de muita alegria e aumentando a nossa felicidade.
Nesse mesmo ano, por concurso público, ingressamos na docência do curso de Medicina da Fundação Universidade do Maranhão. Eu já trabalhava como médico do Estado e ela do INAMPS, no setor de pediatria.
No Departamento de Patologia, ela reorganizou a disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias e introduziu, como uma das atividades do programa, a pesquisa de campo que propiciou a muitos alunos seus primeiros trabalhos científicos apresentados, em eventos locais e nacionais. Em 1972, foi a inspiradora da fundação da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão e, seis anos depois, organizou a primeira Jornada de Parasitologia e Medicina Tropical do Maranhão. No Hospital Materno-Infantil, reorganizou e atualizou o Serviço de prontuário médico que passou a servir de modelo a outras instituições locais e para algumas de outros Estados que enviavam visitantes em busca de informações. Reestruturou, ainda, a Comissão de Infecção Hospitalar da qual foi presidente.
Em 1986, devido aos trabalhos sobre esquistossomose mansônica que apresentamos, no Congresso Brasileiro de Parasitologia, no Rio de Janeiro, estivemos, em Berlim Ocidental , a convite do Governo Alemão, onde passamos 45 dias participando de um curso-estágio, em diagnóstico imunológico de doenças parasitárias.
Dedicada ao exercício da pediatria, tinha um desvelo todo especial aos seus pequenos pacientes. Lembro-me das muitas vezes que chegava para mim e dizia: “Meu bem, vai comprar esses remédios para um paciente, pois não tem no Hospital. Traz, também, um carrinho ou uma boneca.” Dependia do sexo da criança. Eu, então, lhe respondia: “Meu bem, falta de remédio é problema do hospital e esse negócio de brinquedo é coisa pra papai Noel”. “Se não puderes ir me diz porque eu mesma vou”. “Não, senhora! Eu já estou indo”.
Assim, era Maria Augusta. Amiga, amante, confidente e companheira. Mãe devotada e carinhosa. Profissional responsável, humana, dedicada e ética. Morena linda, graciosa e meiga que vi pela primeira vez, no Colégio de São Luís. Sempre foi uma guerreira. Mas o Senhor entendeu que ela já havia cumprido a sua missão e que eu estava pronto para voltar a ser só. E levou a minha Augusta.
Foi numa madrugada, igual a muitas outras, mas para mim foi diferente. Ficou fria, nebulosa e triste. Nesse dia, não houve aurora. O meu sol se apagou. A minha estrela já não brilhava mais.
Era primeiro de dezembro de 2006.
* Aymoré de Castro Alvim.
IHGM, AMM e APLAC.
Somente pela fé na promessa de um DEUS maravilhoso, podemos nos conformar com a perda de pessoas tão especiais; Realmente uma lutadora!!!
ResponderExcluirAbraços D. Moema.
Bonito, bem escrito e emocionante. Gostei muito
ResponderExcluirDona Moema, nasci em Pastos Bons mas não conheci a Dra. Maria Augusta, só alguns parentes dela que ainda residem por lá. Com esse perfil me admiro porque ela não faz parte da Academia de Pastos Bons.
ResponderExcluirRealmente Maria Augusta Brauna Alvim, deveria com certeza ser indicada pela ACLAP para ser patrona ou patroness de uma cadeira na Academia Literaria de Pastos Bons.
ResponderExcluirTenho um orgulho imenso de ser da família Braúna/Brahuna. Que Deus a tenha, Maria Augusta.
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