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PAPIRUS DO EGITO

terça-feira, 5 de junho de 2012


 AS ESTEARIAS DO ENCANTADO
Acad. Aymoré Alvim, APLAC, AMM, IHGM.

O Encantado é uma povoação próxima à cidade de Pinheiro. Fica situada, à margem esquerda do rio Pericumã, na parte leste dos campos que contornam quase todo o município.

Segundo o acadêmico e pesquisador Francisco José de Castro Gomes, tal denominação é devida à escavação de um poço cuja profundidade chegou a tal ponto que os trabalhadores ouviram galo cantar do outro lado do mundo. Apavorados, abandonaram o serviço e a lenda se espalhou pela região.

Mas a importância do Encantado não se prende apenas às estórias da sua origem.

Segundo revela Estevão Pinto, o Encantado e outras localidades da Baixada Maranhense, situados, às margens de seus rios e lagos, foram sedes de habitações lacustres ou palafitas, erguidas sobre esteios (estearias), cujas ruínas são registros da existência de primitivas comunidades que habitaram a região.

As primeiras referências a esses vestígios habitacionais, situados no Lago Cajari, foram feitas pelo Cel. Bernardino Pereira Lago, nas páginas do “Itinerário da Província do Maranhão”.

Posteriormente, em fins do século dezenove, o escritor Celso Magalhães, em visita á região dos lagos de Viana, observou muitas pontas de esteios, estrategicamente, distribuídos, nas proximidades desses lagos, mas, sem maiores detalhes, os atribuiu a crendices populares.

Foi somente, na década de 1920, que o pesquisador e historiador Raimundo Lopes deu início aos pioneiros estudos de pesquisa desses sítios arqueológicos da Baixada Maranhense.

Uma seca, ocorrida àquela época, lhe propiciou a observação, no Lago Cajari, de uma vasta área de, aproximadamente, dois quilômetros, em algumas direções, pontilhada de milhares de esteios que lhe deram a idéia de uma floresta morta. As análises, no material lítico, na qualidade da madeira dos esteios e na cerâmica ali encontrados, levaram-no à conclusão da existência de um povo bastante numeroso que, em épocas pré-históricas, vivia dentro de uma estrutura social bem organizada.

Outros sítios, embora não muito bem estudados como o do Lago Cajari, foram encontrados por Raimundo Lopes. E, dentre esses, estão as estearias do Encantado.

O grande problema dos pesquisadores, não obstante todo o material até então recolhido, é a elucidação da origem dos seus construtores e habitantes.

Nesse mister, muito trabalhou o médico e arqueólogo Olavo Corrêa Lima. No trabalho que publicou, na Revista Nº 09, de junho de 1985, do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sobre o Homo sapiens stearensis, procurou traçar um perfil dos primitivos habitantes da região que, atualmente, compreende a Baixada do Maranhão.

Fixando a idade dessas estearias entre 7 e 3 mil anos a.C., desenvolveu a sua hipótese baseado na coincidência da chegada dos ameríndios ao território maranhense que, segundo estudos de Canall-Pompeu Toledo, ocorreu através de três correntes migratórias: Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas.

Analisando as características de cada uma, sua distribuição e suas aptidões, o prof. Correia Lima destacou o grupo Nu-uraques da corrente Brasílidas como o responsável pela construção das palafitas. Esse grupo ocupou grande parte da região do Estado, principalmente, da Baixada. Vivia à beira dos seus rios e lagos sendo os seus membros, talvez por isso, exímios navegadores. Cultivavam o milho, a mandioca, o tabaco e outros cultivares. Eram excelentes oleiros e costumavam fazer palafitas para fugirem das periódicas enchentes da região.

Desta forma, quando comparados aos membros dos outros grupos que também se distribuíram pelo Maranhão, o Prof. Correia Lima encontrou fortes indícios para sustentar que os construtores dessas estearias foram mesmo os Nu-uraques e, por conseguinte, os mais importantes habitantes da Baixada Maranhense e os criadores das estearias do Encantado. Logo, foram eles os primeiros moradores da  região onde se encontra o município Pinheiro.




2 comentários:

  1. Os "esteios" seriam habitações suspensas, do tipo palafita? Háfotos desses locais?

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  2. Texto impecável e de grande relevância para a história do Maranhão. O sr. e sua irmã estão entre os historiadores mais conceituados da atualidade. Não perco nenhuma de suas postagens.

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