Embora reincorporadas à Coroa
Portuguesa desde 1754, as terras da sub-Capitania de Cumã, assim como as das capitanias secundárias de Caeté e Cametá e todo o território maranhense que constituía o Estado do
Grão-Pará e Maranhão, com sede em Belém (1751-1772), começaram a ser
distribuidas para cultivo e povoamento
somente a partir de 1768. Com um atraso de quase quinze anos foram expedidas as
primeiras cartas de dactas e sesmarias. Em relação às outras regiões
da Capitania do Maranhão o atraso fora de quase 150 anos!
Revendo todo o material
bibliográfico levantado sobre as possíveis causas dessa demora conclui-se serem
decorrentes do terremoto que se abateu, em 1755, sobre Lisboa (correspondendo
atualmente a 9.0 na Escala Richter), seguido de maremoto e incêndios que
arrasaram grande número de bairros, causando a morte de milhares de pessoas,
além da destruição de documentos preciosos e prédios históricos. Abalados pela
perda de tantas vidas e bens irrecuperáveis, o Rei D. José I e o seu Ministro
dos Negócios Exteriores, Sebastião José de Carvalho Melo concentraram as suas
atenções no conforto dos sobreviventes, após sepultamento das vítimas da
catástrofe, impedindo, assim, epidemias resultantes da decomposição dos corpos
insepultos e na reconstrução de sua bela cidade. Para tanto não mediram
esforços nem fizeram economias, graças à comercialização dos gêneros produzidos
no Estado do Maranhão, principalmente
nas terras férteis e ainda virgens recém-adquiridas da sub-capitania de Cumã. Para tal intento fora instituida em 1756 a Companhia do Comércio do Grão-Pará e
Maranhão, reeditando a criada em 1649, denominada Companhia de Comércio do
Estado do Maranhão. Nunca é demais referir-se à Revolta de Beckman, o nosso
primeiro herói, enforcado em 1655 junto com Jorge Sampaio por reagir contra o
monopólio da citada Companhia, levantando os colonos contra os abusos,
falsificações de produtos, corrupção, além de provocar a primeira expulsão dos
jesuítas que impediam a escravidão dos silvícolas, mão-de-obra utilizada na
lavoura e coleta das drogas do sertão (cacau, baunilha, guaraná, cravo,
pimenta, castanhas e madeiras aromáticas, medicinais e dos cobiçados paus de
tinta).
PRIMEIRAS DOAÇÕES DE SESMARIAS
Em texto publicado anteriormente registrou-se
o sistema das sesmarias, quando
Portugal o adotou em seu território em 1375, no Reinado de D. Fernando. Regime
jurídico disciplinado por lei, a sua finalidade precípua era obrigar o favorecido
(sesmeiro) a cultivar e semear as terras ou cedê-las por arrendamento ou
aforamento para um agricultor fazê-lo. Usada com grande êxito por Portugal nas
ilhas portuguesas do Arquipélago da Madeira e no próprio território continental,
a sua origem remonta ao tempo dos visigodos, sarracenos sendo aperfeiçoada
pelos romanos que premiavam os seus soldados e heróis das guerras para expansão
do seu Império, com terras para o cultivo. O instituto da sesmaria está conceituado nas Ordenações do Reino, tanto nas
Afonsinas, quanto nas Manuelinas e nas Filipinas cuja vigência chegou até 1763,
data em que foi expedido um novo regimento aos vice-reis do Brasil.
O fracasso das donatarias usadas para explorar,
proteger e povoar as novas terras descobertas, levou a Coroa Portuguesa a
transplantar para o Brasil, desde o início da colonização, o regime de sesmaria ainda vigente em Portugal, sem
adequá-lo juridicamente ao vastíssimo território brasileiro, que despertava a
cobiça das nações estrangeiras, com frequentes invasões e atos de pirataria e
contrabando, como ocorrera no Rio de Janeiro e no Maranhão, pelos franceses e
na Bahia e em Pernambuco pelos holandeses. Durante os três séculos da colônia,
os povoadores e colonizadores, defenderam a terra contra a pirataria: primeiramente
os ingleses dentre os quais Robert Withrington e Christopher Lister, na Bahia;
mais tarde (1591) Thomas Cavendish em São Vicente e Santos; em 1595 James
Lancaster e Venner em Recife; Antonio Knivet passou mais tempo no Brasil. Os
franceses, no entanto, foram os que invadiram o território brasileiro mais
assiduamente. Desde 1504 corsários gauleses começaram a aparecer por aqui como
Paulmier de Genneville, em Cananéia e Honfleur. Após tentativas diplomáticas frustradas
de D. João III junto ao monarca francês Francisco I, foi designado, em 1530,
Martim Afonso de Sousa, fidalgo de alta linhagem portuguesa para escorraçar da
costa brasileira os corsários gauleses, que a invadiam para roubo do pau brasil
ou ibirapitanga. Em 1530 foi aprisionada
a nau francesa La Pélérine, montada pelo barão de Saint Blancard, carregada de
5.000 toras de pau brasil. Em 1555 invadiram o Rio de Janeiro, subsidiados por
comerciantes franceses sob o pretexto de fuga das perseguições religiosas, sob
o comando de Nicolas Durand de Villegagnon, estabelecendo-se na entrada da
Guanabara, no local chamado Sirigipe pelos tamoios e que André Thevet designou
de França Antártica. Após nova tentativa de instalação, os franceses foram
finalmente expulsos do Rio de Janeiro, em 1559. No século XVIII Duclerc e Dugay
Trouin, novamente invadiram, sem sucesso, o Rio de Janeiro. No Maranhão as
tentativas começaram em 1594, quando o navio do corsário francês Jacques Riffault
naufragou nos baixios da ilha, mais tarde denominada SantÀna. Fazendo parte da
tripulação, Charles Des Vaux ficara em
terra conquistando a confiança dos tupinambás,para aprender a sua língua. De
volta à França Riffault divulgou as grandes riquezas da terra e facilidades de
conquista. Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiere, nomeado para governar
Caiena, deixou-se seduzir pelas fábulas contadas pelo seu patrício. Associando-se
a outros comerciantes abastados, como Nicolas de Harlay e François de Razily, conseguiu
a autorização da Regente Maria de Médicis que reinava na minoridade do seu
filho Luis, futuro Rei Luís XIII. A concessão dada pela Rainha-mãe o fora pela
promessa de catequizarem o gentio, trazendo em, 1612, quatro frades capuchinhos
(Yves DÈvreux, Claude dÀbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens) e de
anexarem à França o território conquistado, com a ajuda dos tupinambás, sob a
denominação de França Equinocial. Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os
franceses comandados por De Pizieuz foram fragorosamente derrotados, apesar da
superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica, sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove. Após
a trégua foram enviados emissários às duas Cortes, a fim de tratarem da paz
definitiva. Foi no documento que determinou esse armistício que Jerônimo
assinou pela primeira vez - Jerônimo de Albuquerque Maranhão. Seguindo projeto
feito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita iniciou-se a construção de um
povoado, próximo ao forte deixado pelos franceses, sendo a primeira povoação no
Brasil a ter a sua planta previamente traçada em uma malha urbana octogonal,
posicionada no sentido dos quatro pontos cardeais. Com a construção da igreja
de N.Sra. da Vitória em pagamento à promessa feita por Diogo da Costa Machado
durante uma epidemia de varíola que matou parte da população, o então povoado
foi elevado à Vila em 1620 e finalmente à cidade em 1667, por força da Bula
Papal Super Universas Orbis Ecclesias de
Inocêncio XI que criou a Diocese de São Luís em 30 de Agosto daquele ano. O 1@
Bispo nomeado, D. Antônio de Santa Maria, morrera antes de assumir,sendo
substituído por D. Gregório dos Anjos que tomou posse em 1679. A Diocese criada
era Sufragânea do Patriarcado de Lisboa, abrangendo toda a Amazônia. Somente em
1787 foi erigido o pelourinho em São Luís, símbolo da autonomia municipal.
Além de Jerônimo de
Albuquerque Maranhão, capitão-mor da conquista do Maranhão, destacaram-se na
expulsão definitiva dos franceses, seu filho Antonio Albuquerque, Martim Soares
Moreno, Alexandre de Moura, Bento Maciel Parente, Francisco Caldeira Castelo
Branco, o piloto Sebastião Martins e outros anônimos que morreram nos campos de
batalha. Outras regiões invadidas pelos franceses foram: Sergipe Del Rey, por volta de 1590, a Paraiba
(1579-86), Rio Grande do Norte (1597-99), o Ceará (1603-07). Mais opulento o
Grão-Pará sofreu várias investidas, sendo invadido, intermitentemente, por
franceses, ingleses e holandeses. Estes ficaram no Brasil, ameaçando-o por
longos anos, invadindo em 1624 a Bahia sob o comando de Jacob Willekens. Muito
mais longa fora a 2@ invasão holandesa, em Pernambuco, perdurando de 1624 a 1654. Também os holandeses
invadiram o Maranhão, em 1641, com dois mil homens sob o comando de Jan
Corneiszoon Lichthardt, desembarcando em São Luís, arrasando o pequeno povoado,
profanando e incendiando seus templos. Expandiram-se para o interior da
Capitania, principalmente Alcântara e Itapecuru onde incendiaram engenhos de
açúcar, após obrigarem seus proprietários a trabalhar para eles. Mais temida
que a invasão francesa, os batavos numericamente em maior número e com expressivo aparato militar, eram mais
pragmáticos, pois visavam o comércio do açúcar. Inimiga declarada do Império
luso-castelhano a Holanda, tinha uma Marinha que superava a espanhola e a
inglêsa. Outrossim, em relação à religião, os holandeses eram evitados por
professarem o protestantismo, sendo, também considerados protetores dos judeus.
Foram expulsos do Maranhão em 1644, destacando-se nessa ação Antônio Teixeira
de Melo.
Deve-se a Jerônimo de Albuquerque a
capitulação e expulsão dos franceses do Maranhão onde já haviam construído, com
a ajuda dos tupinambás, quatro fortes em lugares estratégicos para se
defenderem dos portugueses, alojamentos para seus soldados, depósitos para a
madeira extraída e o início de uma casa para instalar os capuchinhos que
trouxeram para catequizar os índios, artifício usado por La Ravardiere e seus
sócios para obterem a autorização da Regente da França D. Maria de Médicis. Jerônimo
de Albuquerque veio para Pernambuco em companhia do cunhado Duarte Coelho
Pereira, donatário dessa capitania onde se conservara desde 1535, tendo-se
distinguido nas famosas lutas que se seguiram no início da colonização, além da
conquista do Maranhão aos franceses, aqui falecendo em 11 de Fevereiro de 1618,
com 70 anos. Mameluco, filho de Maria do Espírito Santo e neto do Cacique
Arcoverde, descendia dos Bulhões, nobres de uma das mais conceituadas casas espanholas
em cujo seio nascera Fernando de Bulhões, canonizado sob a denominação de Santo
Antônio de Pádua e de Lisboa.
Por sua bravura e coragem foi
nomeado o primeiro Capitão-Mor do Rio Grande do Norte. Comandante do Forte dos
Reis Magos, celebrou as pazes com os potiguares por ordem do Governador-Geral
d. Francisco de Sousa em 1599 na Paraiba e em 25 de Dezembro desse ano, fundou
nas vizinhanças do forte, uma povoação que veio a denominar-se Natal.
Essas lutas em defesa do território
brasileiro, a hostilidade do meio, os ataques dos índios, das feras, as doenças
algumas desconhecidas, as dificuldades sem conta que se lhes opunham a
geografia, o sistema hidrográfico e orográfico, a extensão do litoral e o
sertão quase inacessível, asseguraram aos primeiros povoadores o direito de
posse, modelaram-lhes a consciência como povo, reforçando os caracteres da
personalidade, preparando-os para a emancipação nacional.
É bom lembrar que à época das
Capitanias Hereditárias, regime adotado por D. João III, a Capitania cujos
limites correspondiam ao território do atual Estado do Maranhão não fora
explorada nem colonizada pelos donatários Fernão Álvares de Andrade e Aires da
Cunha que receberam em 1534 duas faixas de terras medindo a primeira, 70 léguas
de costa, a partir do Mundau (Camocim) aos Mangues Verdes (Golfão Maranhense) e
a segunda 50 léguas dos Mangues Verdes ao Gurupi a João de Barros. Associando-se,
Aires da Cunha e João de Barros, formaram em 1535, uma expedição composta por
10 navios com 900 homens, que naufragaram no litoral maranhense. Simão Estácio da
Silveira comenta em seu livro de 1624, Relação sumária das cousas do Maranhão
ter visitado as ruínas da povoação Nossa Senhora de Nazaré construída pelos
sobreviventes do naufrágio, na Ponta do Bonfim. Tanto Aires da Cunha como João
de Barros eram figuras de relevo na vida da Metrópole. Esses donatários também
foram aquinhoados com outra faixa de terra correspondente ao Rio Grande do
Norte.
Desde 1513 o Golfão Maranhense era
conhecido tendo sido explorado por Diogo Ribeiro que deu à nossa Ilha o nome de
Trindade. Em 1531 Diogo Leite chegou à foz do Gurupi, dando os nomes de Baia de
São Marcos e de São José às nossas baias que formam o Golfão.
SESMARIAS E DATAS
As sesmarias eram concedidas a homens ligados à pequena nobreza
portuguesa, a militares e a navegantes
com títulos de vitória, como recompensa pelos serviços prestados à Coroa.
Mediam geralmente 3 léguas de comprimento por
1 (uma) de largura, representando uma superfície entre 10 mil e 13 mil
hectares. As primeiras sesmarias doadas com a finalidade de povoamento e
defesa o foram no Rio de Janeiro em 1565, por Carta Régia assinada por D.
João III, para garantir à Coroa
Portuguesa a posse autêntica das terras do Brasil, usurpadas clandestinamente
por corsários franceses.
Já a data de terra, usual a partir do século XVIII, com as concessões dos
açorianos representava a pequena
propriedade. Distinguia-se da sesmaria
pelo tamanho que lhe era atribuído. Não se chocavam, embora o regime de sesmaria tenha prevalecido, sendo o
principal instrumento de ocupação da terra e do verdadeiro povoamento. A data era mais modesta em dimensões e
exigências: destinava-se à pequena exploração, com produção diversificada,
exigindo menos mão-de-obra e recursos. Ocupando uma área de ¼ de légua em
quadra ou 272 hectares, suas atividades eram geralmente de natureza familiar,
dando origem à pequena propriedade e sítios do período colonial.
O título de sesmaria não era de domínio pleno
iure, isto é, de propriedade plena, consolidando-se
somente após o cumprimento das exigências pelo beneficiário: demarcação da
terra, comprovação de sua exploração e confirmação pelo Rei. Após o que passava
a ipso iure - título legítimo e
pleno de propriedade, destacando-se a terra, legitimamente, do poder público.
A concessão de títulos de sesmaria e data funcionou aqui no Brasil a partir de 1504, ficando suspensa após a chegada da Família Real em 1808,
autorizada novamente em 1814, por Carta Régia de 17 de Janeiro, e finalmente
extinta em 1822, quando o Príncipe Regente D. Pedro pôs fim a esse regime. Pela
Resolução de 17 de julho de 1822, não podiam ser feitas novas doações, nem
confirmadas as mais antigas que perdiam, assim, o valor. Por força do ato da
Independência, o Brasil adquiriu o domínio desse vasto território, até então
pertencente à Coroa Portuguesa, por direito e conquista, face à sucessão
legítima verificada em 7 de Setembro de 1822 e daí em 15 de Novembro de 1889. A
partir da Independência o Brasil fora mergulhado num verdadeiro vácuo jurídico
de proteção de posse, uma verdadeira desproporção jurídica das terras
devolutas, verdadeiro império da posse, nada disciplinando nem impedindo que as
terras fossem ocupadas, invadidas ou posseadas desordenadamente.
Mesmo com os vícios inerentes à
distribuição, demarcação, tombamentos de terras e todas as confusões geradas
nesse processo, as sesmarias e datas em comparação às donatarias, representaram a vitória do colono sobre o
donatário; do explorador feliz sobre o explorador desastrado.
É de bom alvitre lembrar que as
terras brasileiras, antes mesmo do descobrimento já pertenciam a Portugal,
sendo o senhorio El-Rei, por força da Bula Papal Inter Coetera, expedida por Alexandre VI juntamente com a Bula Eximiae Devotionis de 1493, que retificava a anterior, sendo consolidada
pelo Tratado de Tordesilhas, firmado no ano seguinte. A certidão de nascimento
do Brasil é pois, a Bula Inter Coetera
que destinava todas as terras então existentes no globo terrestre, por ordenamento
jurídico daquela época, à Ordem de Cristo da qual era Grão-Mestre o Papa, tendo
os reis católicos por vassalos e fiéis adeptos. Quanto ao direito dos índios,
primeiros habitantes das terras brasileiras e pertencentes às várias nações, de
acordo com as Ordenações do Reino, não existia; o indígena não era senhor de
direito, por ser classificado como coisa
apropriável por qualquer um prevalecendo, assim, a concessão papal (Pinto
Ferreira, Direito Agrário, 1994).
Não restam dúvidas de que o enfeudamento
da terra fora o meio usado pela Coroa
Portuguesa para assegurar o domínio e a exploração do território brasileiro.
Ciente das dificuldades para
administrar o Brasil por sua enorme extensão, a Metrópole tentou várias vezes
organizar a administração das novas terras, dividindo-o inicialmente por Carta
Régia de 10 de Dezembro de 1572, pelo Rei D. Sebastião em dois governos gerais,
um ao Norte, compreendendo as Capitanias além de Pernambuco, tendo como capital
a Bahia e outro ao Sul, a partir de Ilhéus, tendo por sede o Rio de Janeiro.
Sem obter o resultado esperado, em 1577 organizou-se um só poder central com
sede na Bahia. Em 1608 ainda sob o domínio espanhol a Metrópole dividiu o
Brasil em dois governos, o do Norte e o do Sul, reunificando-os em 1613 sob a
administração de d. Gaspar de Souza. O primeiro governador do Maranhão sob o
domínio espanhol foi d. Diogo de Carcomo.
A intrusão de Castela que culminou
com a dominação espanhola que durou longos 60 anos, eclipsando a dinastia de
Aviz não acarretou, todavia, a perda da soberania e nacionalidade portuguesas,
tendo sido mais uma anexação, motivada pela crise criada desde a morte do Rei
D. João III, agravada pela morte do infante D. Sebastião nos campos de batalha
de Alcacerquebir e com a equivocada administração do Cardeal-rei d. Henrique, que
o sucedera. Apoiando suas pretensões pelas armas Filipe II, da Espanha e neto
pelo lado materno de D. Manuel tomou para si a Coroa Portuguesa. O povo
português espontaneamente representado pelas cortes de Thomar, aclamou-o como seu
Rei em 1581. Com Portugal caíram todas as suas possessões, inclusive o Brasil
que jurou obediência ao novo rei em 1582. Filipe II conservou todos os
atributos da nacionalidade, assim como a língua, a religião, as leis, instituições,
bandeiras e armas lusas. Sob o domínio
da casa dos Habsburgos, reinou nesse período os três Filipes II, III e IV. A
Espanha não oprimiu nem absorveu a nação portuguesa nem a tiranizou pela
autocracia durante esse interregno de dominação política. Quanto ao Brasil,
houve a dilatação do seu território, tendo contribuído para a formação e o
aparecimento do ideário nacionalista. A linha que demarcava as fronteiras entre
as colônias espanholas e possessões portuguesas perdeu a razão de existir,
passando seus habitantes a conviverem pacificamente. O governo brasileiro continuou
sendo exercido por autoridades portuguesas.
Em 1617, após a expulsão dos
franceses foi criado pelo Governo da Metrópole o Estado Independente do
Maranhão, desanexação essa motivada pela dificuldade de navegação do contorno
da costa de Norte a Leste, devido às correntes e ventos contrários. O novo
Estado consolidado em 1621 foi repartido
em várias capitanias hereditárias, que foram as de Tapuitapera ou Cumã e Cametá,
doadas a Antônio Coelho de Carvalho irmão do governador e a de Caeté ou Jurupi doada a Álvaro de Sousa, filho de Gaspar de Sousa. O
território compreendido entre o Parnaiba e o Pindaré e no Pará as terras de
Maracanã ao Tocantins pertenciam à Metrópole. O poder administrativo fora
deslocado várias vezes em função da exploração da terra. Essa divisão operada
em 1621 em vez de levar para o Sul a sede de um dos governos, fora para o Norte
que se dirigiu com a criação do Estado do Maranhão, que após a exaustão de suas
terras, única fonte de riqueza, desaparecera imediatamente absorvido no governo
único.
Em 1751 devido às questões de
limites com a Espanha transferiu-se para a bacia do Amazonas a capital do
Estado independente do Maranhão que dado o grande surto de progresso que teve o
Pará, se lhe achava então subordinado.
CUMÃ - PRÓDROMOS
HISTÓRICOS
As primeiras informações sobre a
Região de Cumã datam de 1613, feitas
pelos capuchinhos Ives dÈvreux e Claude dÀbbeville, referindo-se às expedições
de reconhecimento do território invadido pelos franceses em 1612 e à passagem
de La Ravardiere por essa região em busca das terras do Gurupí e do Pará, onde ele
e seus associados esperavam encontrar
metais preciosos e especiarias tão apreciadas na França, além do pau-brasil já
contrabandeado por eles há mais de trinta anos, com a ajuda de Charles deVaux.
Em 1621 a Capitania do Maranhão foi
subdividida em várias capitanias como Cumã
ou Tapuitapera doadas a Francisco
Albuquerque Coelho de Carvalho e Caeté
doada a Álvaro de Sousa.
Em 1678 fora encaminhada ao Príncipe
Regente D. Pedro uma proposta do donatário de Cumã Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, indicando três nomes
para capitão-mor da dita Capitania. Dois anos depois há um pedido do dito
donatário solicitando autorização a D. Pedro para levar casais de açorianos
para povoar Cumã e Cametá.
Em 1703 o capitão-mor de Cumã e Tapuitapera, Henrique Lopes da Gama, solicitou ao Rei Pedro II a
constituição de um grupo de Infantaria.
Em 1707 foi feita uma consulta do
Conselho Ultramarino (CU) ao Rei D.João V sobre a proposta do capitão donatário
Francisco A. Coelho de Carvalho para nomear Antônio Barroso de Lemos para
capitão-mor. No ano seguinte o Rei decreta ao CU que se examine a Comissão da
Junta das Missões sobre a representação do Superior dos religiosos da Companhia
de Jesus referente às terras que pediu ao capitão-donatário de Cumã.
Em 1711 há um documento do
ouvidor-geral e provedor-mor da Capitania de Cumã, dando conta sobre os rendimentos de Cumã. Em 1714 há uma consulta feita pelo Rei D. João V ao CU sobre
os rendimentos de Cumã e a réplica
de Antonio Coelho de Carvalho acerca do sucesso dessa capitania
Em 1727 Francisco Albuquerque Coelho
de Carvalho solicita ao rei que lhe passe Carta das Capitanias de Cumã e Cametá que pertenciam ao seu pai Antônio Albuquerque Coelho de
Carvalho.
Em 1730 Luiz Antônio de Mendonça
solicita a D. João V providências para seus procuradores cobraremos redízimos
dos dízimos de Cumã e Cametá das quais é donatário Francisco
Albuquerque. Coelho de Carvalho. Em 1733 foram confirmadas as doações de Cumã e Cametá.
Em 1740 – informação a D. João sobre
os candidatos ao cargo de capitão-mor de Cumã.
Em 1742 – Carta do Governador e
Capitão-General João de Abreu de Castelo Branco ao rei D.João V em resposta à
Provisão Régia sobre a arrematação de dízimos nas capitanias do Maranhão e Cumã pelo provedor da Fazenda Real
Inácio Gabriel Lopes Furtado.
Em 1744 consulta do CU ao Rei D.
João V sobre as propostas do capitão-donatário de Cumã, Francisco Albuquerque Coelho de Carvalho para preenchimento
do cargo de capitão-mor da referida capitania.
Em 1750 – requerimento do donatário
de Cumã e Cametá ao Rei solicitando a resolução de um problema relativo ao
provimento de oficiais.
Ainda em 1750 Luiz Manuel Pina
Coutinho escreve ao Rei sobre a interferência dos ouvidores durante suas
correições na jurisdição e competência do donatário da capitania de Cumã Francisco Albuquerque Coelho de
Carvalho. Nesse mesmo ano o donatário de Cumã
e Cametá envia um requerimento ao
Rei, solicitando um despacho em que se registrem as regalias e doações que lhe
competem nas ditas capitanias.
Em 1753 o donatário de Cumã e Cametá envia à Secretaria da Marinha e Ultramarino sobre a nomeação
de Felipe Santiago Mendonça para capitão-mor das ditas capitanias. Ainda nesse
ano o capitão-donatário solicita a D.João V que lhe mande expedir provisões
sobre os embaraços porque passou devido aos procedimentos do ouvidor do Estado
do Maranhão.
Em 1755 o Bispo do Pará d. Frei
Miguel de Bulhões e Souza envia ao rei D.José I uma carta em resposta a uma
provisão na qual lhe ordena que dê o seu parecer sobre a carta do ouvidor-geral
do Maranhão, Manuel Sarmento acerca da posse da capitania de Cumã e de todas as terras das quais era
donatário Francisco Albuquerque Coelho de Carvalho.
Em 1755, o capitão-donatário da
capitania de Cumã faz um
requerimento ao Rei D. José I solicitando que os Juizes de Órfãos possam obter
emolimentos dos traslados e de outros tal como os anteriores juízes das
assinaturas.
Em 1764 – Ofício do Governador
Joaquim de Melo e Póvoas para o Secretário do Estado da Marinha e Ultramar
Francisco Xavier Mendonça de Furtado sobre o aumento do valor dos contratos e
subsídios e dízimos da ilha de Tapuitapera
e Cumã que foram aumentados no ano
anterior.
1778 – Requerimento de José de Brito
Freire à Rainha D. Maria I sobre uma solicitação que fez para estabelecer um
engenho de açúcar nas terras de Cumã,
em Guimarães.
As Sesmarias de Cumã
As primeiras sesmarias doadas
nos campos do Pericumã, de acordo
com as informações retiradas do Catálogo dos manuscritos avulsos relativos ao
Maranhão existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, foram autorizadas no
reinado de D. José I e concedidas pelo Governador do Maranhão, Joaquim de Melo
e Póvoas, sobrinho do Capitão-General do Estado do Grão-Pará e Maranhão,
Francisco de Mendonça Furtado.
O Conselho Ultramarino antigo
Conselho das Indias, fora restabelecido no Reino pelo regimento de 14 de Julho
de 1642 por D. João IV, tão logo Portugal promovera a Restauração,
libertando-se do domínio espanhol que prevalecera de 1580-1640, ao constatar a
necessidade de reorganizar a administração da Colônia, única solução viável
para refazer a economia da Metrópole. Por seu intermédio os governadores do
Brasil davam contas ao Reino do exercício do seu mandato, sendo especialmente
voltado para a administração geral das colônias e subordinado ao secretário de
Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, centralizando e
manipulando as relações entre a Colônia e a Metrópole. Ao Conselho competia o
controle sobre os negócios da Fazenda, movimentação dos portos, também sobre os
assuntos referentes aos problemas judiciários, controlando e limitando os
poderes das câmaras municipais, enfim, decidindo e deliberando sobre tudo que
dizia respeito à política e à administração. Nada se fazia na Colônia sem a
prévia autorização do Conselho que limitava o poder da aristocracia
latifundiária, garantindo à Metrópole o total controle.
Ano de solicitação Sesmeiro/Favorecido Localização
1757 Domingos
Rocha Araujo Maracu
1768 Antonio Inocêncio Campos
1768
Antonio Martins
Vieira Pericumã
1768 Joaquim
Inácio Dias da Serra Rio Itapetininga
1769 Estêvão Almeida e Silva igarapé Indéua
1770 José
Álvares Serrão Rio Pericumã
1770 Cap. José
Roberto Sá Rio Pericumã
1771 Manoel
Antonio Gomes de Castro Rio
Pericumã
Em 1772 houve uma reorganização
administrativa com o desmembramento do Estado do Grão-Pará-Maranhão, separando
a Capitania do Maranhão e unindo-a à do Piauí, criando o Estado do Maranhão e
Piauí, com sede em São Luís, sendo nomeado para Capitão-General Joaquim de Melo
e Póvoas. Essa anexação perdurou até 1811 quando por Carta Régia de 10 de
Outubro a Capitania do Piaui tornou-se independente do Maranhão.
Todas essas mudanças administrativas
acarretavam mais atrasos na distribuição e cultivo das terras e
consequentemente no povoamento e
colonização da nossa Região.
Em 1777 com a morte de D. José I e a
subida ao trono de sua filha D. Maria I, em movimento conhecido por A
Viradeira, gerado no seio do Clero e na nobreza descontente que não perdoou o
modo impiedoso como o Primeiro Ministro,
elevado a Conde de Oeiras em 1759 e Marquês de Pombal em 1770, tratara a
família Távora, acusada de tramar um atentado contra o Rei, o velho Ministro fora alijado dos seus poderes e
exilado numa de suas quintas na vizinhança de Lisboa. Como conseqüência, a
poderosa Companhia do Comércio fora extinta, sem contudo afetar a lavoura do
Maranhão, graças aos investimentos feitos, principalmente em relação à
aquisição de escravos procedentes da África, ferramentas e implementos
agrícolas.
A exploração da terra feita por
escravos nas sesmarias e nos sítios e
pequenas propriedades por ilhéus, principalmente açorianos, deu excelentes
resultados, com a produção de arroz, tabaco, gengibre, cacau, gergelim,
cana-de-açucar e, principalmente do algodão, considerado o melhor da América
Portuguesa.
Em 1786 o então Governador do
Maranhão, José Teles da Silva visitou os distritos das vilas de Alcântara e
Guimarães, o lugar de índios de São João de Cortes e outros lugares da
capitania, informando a Martinho de Melo e Castro, Secretário de Estado dos
Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos sobre as plantações de algodão
dentre as maiores da Capitania, sobretudo às margens do rio Pericumã, onde
principiavam os lavradores o cultivo do arroz.
As solicitações de sesmarias
prosseguiram no reinado de D. Maria e depois do Príncipe-Regente D. João IV,
quando do impedimento da Rainha em 16 de Julho de 1799. Com as mortes do pai,
do marido e finalmente do seu primogênito, D. José I em 1788, com 21 anos, reconhecido
herdeiro presuntivo do trono, sob o título de Príncipe do Brasil, a Rainha
enlouquecera. Não obstante, tanto a Rainha quanto o Príncipe D. João IV foram
os principais beneficiários das medidas implantadas pelo Marquês. Não cabe
neste texto avaliar a obra de Pombal, cognominado o déspota esclarecido, mas
graças ao seu projeto desenvolvimentista operou-se significativo
desenvolvimento em nosso Estado e em
toda a Colônia. Com a expulsão dos Jesuitas as antigas Missões foram elevadas a
vilas, houve incentivo na emigração dos ilhéus, principalmente de Açores,
casamentos entre portugueses e índias para formação de uma população mais
afeita aos trópicos, criação de manufaturas e, principalmente a proibição do
idioma tupi falado, inclusive nos conventos, com a obrigatoriedade do uso do
idioma português em todo o território brasileiro.
No reinado de D. Maria foram
concedidas sesmarias para os seguintes requerentes:
Ano Sesmeiro/Favorecido Localização
1787 Eugênio Aroucha Pericumã
1788 José
Alberto da Silva Leitão Rio Pericumã
1788 Antônio Corrêa Furtado Pericumã
1788 Inácio José Pinheiro Periaçu
1788 Antônio de Barros Perizes de São Bento
1790 Teodoro C. Azevedo
Coutinho Rio Pericumã
Ano Sesmeiro/Favorecido Localização
1793 Antônio Cardoso de Sampaio José de Guimarães
1793 José Maria Tréner Rio Piriuaçu
1793 Antônio Soares de Araujo Rio
Pericumã
1795 Estêvão de Almeida e Silva Guimarães
1795 Luis Antônio Sarmento de Maia Pericumã
1795 Alexandre José de Viveiros Pericumã
1796 Afonso José da Costa Ferreira Rio Pericumã
1797 Antônio Franco de Sá Campos de
Pericumã
1799 Manuel Ferreira dos Santos Campos do
Pericumã
1799 Patrício José de Almeida e Silva Rio Pericumã
1799 Venceslau João Bernardo Entre Pericumã
e Turi
Solicitações de datas e sesmarias
no século XIX
1802 M@ Joaquina
Corrêa de Azevedo Coutinho Pericumã
1805 João Diogo da Costa
Guimarães
1805 João Florêncio
da Costa Leite Guimarães
1805 Tereza Maria de Sá
Alcântara
1806
Antônio
Rodrigues de Miranda Alcântara
Respaldado nos poderes
conferidos pelo Rei de Portugal aos Governadores das Capitanias de para
conceder terras aos índios amigos que as quisessem para cultivo, o Capitão Inácio José Pinheiro, capitão-mor das
ordenanças de Alcântara e terras circunvizinhas, foi autorizado em 1804 pelo
Capitão-General do Estado do Maranhão, Antônio de Saldanha e Gama, para
escolher um sítio entre as vilas de Guimarães e Alcântara, formar uma povoação
para nela juntar índios dispersos, outros indivíduos sem casa nem subsistência
própria e habitantes que voluntariamente quisessem habitar o dito sítio e assim
formar uma nova povoação. Em 23 de Novembro 1806 o Capitão-mor e Comandante de
Alcântara, Inácio José Pinheiro enviou um ofício a D. Diogo de Sousa, que
sucedera o Governador Antônio Saldanha da Gama, informando ter demarcado uma
sesmaria, medindo três léguas de terra
de comprido por uma de largura, para estabelecimento de índios dispersos, para
ali viverem e roçarem para a sua subsistência.
A partir de 1808 após a
chegada da Família Real no Brasil e a trasladação da Corte para o Rio de
Janeiro foram suspensas as solicitações, doações, demarcações e tombamentos de
datas e sesmarias, autorizadas novamente em 1814 e extintas totalmente em julho
de 1822.
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pinheirense. Org. José Jorge Leite Soares. Inst. Géia. 2007
Em cada artigo seu mais eu aprendo sebre a região da baixada, uma das mais pobres do nosso estado. Gostaria que outras pessoas o lessem para deixar de falar tolices. Parabéns, prof. Moema.
ResponderExcluirProfessora Moema, td bem?
ResponderExcluirObrigada por compartilhar seus conhecimentos sobre a historia do Maranhao.
Estou escrevendo um pequeno livro da genealogia da minha familia e gostaria de trocar algumas ideias sobre a historia por aquele periodo q chegaram na area de Pinheiro. Tenho algumas duvidas..
Por favor me mande um email pra entrarmos em contato julihartley@gmail.com
prometo nao tomar muito seu tempo
Juli