MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

domingo, 17 de março de 2013

A FESTA DE SANTO INÁCIO DE LOIOLA EM PINHEIRO



                                                         * Moema de Castro Alvim

“A verdade verdadeira é sempre inverossímil. Para tornar a verdade verossímil é preciso acrescentar-lhe um pouco de fantasia. É o que os homens sempre fizeram”. Fiodor Mikhailovitc Dostoievski

                                              PARTE I
                          A MISSA E A PROCISSÃO
31 de julho de 1958.  Aproveito para dar uma descansada depois do almoço onde foram servidos arroz de forno e farofa, acompanhando galinha ao molho pardo, pernil assado e torta de miúdos de galinha, rematando com a sobremesa constituída por queijo de São Bento e goiabada.  A manhã fora cheia de emoções, quando, com o vestido novo costurado por Camélia fui à missa das 9:00h com as amigas Niedja, Almerinda e Edméa. Missa cantada em latim e a pedido do maestro Giovanni Pelela, então seminarista, solei o Benedictus. A igreja regurgitava de gente e o meu nervosismo fora acentuado pelo cheiro acre do ambiente que rescendia a incenso, misturado ao cheiro da estearina das velas e das flores.
Maria Alice, Delfina, Terezinha Durans, Almerinda, Inácia e Terezinha Lima, Marlinda, Maria Teresa, Flory, Isabel Corrêa, Mª Helena Castro, Niedja, Edméa e eu, estreantes no coro, ao lado das tarimbadas cantoras Maria Costa, Marica e Ana Tereza, Dilu, Cici e Nenem Amorim, Regina Durans, Lisete Beckman, Juracy Correa, Odalva e as irmãs Bezerra; não fizemos feio, pois apesar da grande experiência das veteranas, sabíamos pronunciar melhor as palavras aprendidas nas aulas de latim com  Pe. Sandro e de música com Frei José.
Entre as Missas das 8:00h e a solene das 9:00h, eram ministrados os sacramentos do Batismo e da Crisma e eram feitas, também, as Consagrações, por causa da gritaria da gurizada na hora da imersão da cabeça na pia de água benta.
Após a Missa passamos pelo Cassino onde jogamos pingue-pongue, dama, dominó e os rapazes exibiram suas tacadas no bilhar.
Enquanto isso, na Rua Grande os cavaleiros davam um show de destreza: Artuzinho, Lauro Mineiro, Carimbo, ZéJoão e João de Deus, foram os que mais se destacaram.
À tarde com os pés doloridos e cheios de calos causados pelos sapatos novos confeccionados pelo sapateiro José Pedro Amengol, decidi não acompanhar a procissão com a imagem de Santo Inácio. Esperaria na porta de casa a passagem do cortejo.
Entretanto, às 16:00h, ao ouvir o pipocar dos foguetes não pude conter a ansiedade. Pus outro vestido, feito especialmente para a ocasião, calcei sapatos amaciados pelo uso e fui aguardar a passagem do santo no canto de D. Evarinta, mãe de Pe. Newton, falecido há poucos anos. Várias pessoas já estavam estrategicamente postadas, algumas sentadas na base do obelisco, outras na calçada de João Ubaldo, dentre as quais Zeca Guterres, General, Godi, Zelico, Zé Diniz, Francinê, Edésio Castro, Didi e Dedeco Soares, Nhô Baralho, Doutor de Memeco, Zé Maria de Camilo, Ubaldo Pimenta, Cloves e Enoque Moraes, seu Onofre, Ataliba, Malaquias, seu Atanásio, Parmenas Diniz e outros. De lá se ouvia o coro das vozes masculinas graves entremeadas com as agudas femininas entoando “Queremos Deus, homens ingratos”, passando já pela Cadeia Pública onde os presidiários esticavam o pescoço para tentar ver alguma coisa, pelas casas de Rubico, d. Dulce, Chico Silva d. Tatá, Dedeco Mendes, Orlico Soares, d. Faninha Veloso, Levino Reis, seu Isidoro, Benício Pessoa, Mundica Cerveira, na Rua Diogo dos Reis.
 Seu Juca, portava solenemente o crucifixo à frente das duas alas formadas por crianças, organizadas por Zé Pereira e Juracy Correa, seguidas pelos jovens e adultos, pelas moças e senhoras, geralmente com a cabeça coberta por véu, terço na mão, ora cantando acompanhando Frei José, ora rezando o terço puxado pelo vigário Pe. Fernando Meloselli. No meio, as crianças orientadas por Lenir Soares, envergavam orgulhosamente as vestes de anjo nas cores branco, azul e rosa, com suas asas enfeitadas com arminho, e grinaldas de flores delicadas e salpicadas de orvalho feitas por Raquel Lima.  Seguiam-nas as Irmandades das Goretti formada por adolescentes com as suas fitas amarelas, os Cruzados com suas faixas pretas, bordadas com a cruz, as moças Filhas de Maria, vestidas de branco com suas fitas azuis e as senhoras comandadas por Doninha Pereira e Mundiquinha Durans, todas de branco, com as fitas vermelhas Zeladoras do Sagrado Coração. Fechando esse contingente central os senhores pertencentes à Congregação Vicentina, tendo à frente Zé Mota e Zé Augusto Lopes, Antonio Mota,Ubaldino Luz, seu Malta, Zorobabel, Severino Silva, os irmãos Cardoso, Napoleão, Mário e Agostinho, Sabino, Orzete e outros.
Finalmente, o andor ricamente ornamentado com flores de papel confeccionadas primorosamente por Zunga. A imagem, em tamanho natural, com as vestes pretas características dos jesuítas, fora trazida de São Luiz, em 1949, talvez da Igreja de São Pantaleão, pelo Pe. Newton. Carregando o andor revezavam-se dezenas de senhores, contritos, ciosos da sua responsabilidade de acompanhar o santo Padroeiro pelas ruas da cidade. Em vida, Inácio de Loyola, fidalgo nascido na Espanha com o nome de Iñigo Lopez de Loyola, fora soldado que nunca fugira ao bom combate para divulgar a palavra de Deus, fundando para essa missão, a Companhia de Jesus cujos membros conhecidos por Jesuitas, espalharam-se catequizando e pregando o Evangelho em quase todos os continentes.






Todos os homens válidos da cidade, geralmente identificados com a trajetória de vida do santo guerreiro, vindos dos diversos bairros (Faveira, Matriz, Baixinha, Matadouro, Centro, Aeroporto,Campinho, Sete, Alcântara, Enseada) dos povoados próximos, principalmente de Pacas, Pimenta, Gama, Ponta de Santana, Bom Viver, Ponta Branca, São Luis, Engenho Queimado e até dos municípios vizinhos vieram prestar-lhes suas homenagens. Lembro-me de Antônio Durans, Henrique Schalcher, seu Gentil Frazão, Cravinato Nogueira, Cosme Duarte, Urbano, Mestre Jambo, Floriano Beckman, Sabino, os irmãos Corrêa Gregório, Alberto, Claudionor e Raimundo Socó, Chiquinho, Lourival e Ernildo Gomes, Manoel Jansen, Antônio Trindade, Gatinho, Maramaldo, Edmilson Cordeiro, Pacheco, João Campos, Pedro Almeida, Dr. Arruda, Dr. Guerreiro, os irmãos Gonçalves Zé Maria, Raimundo e Américo, os Paiva, Maneco, Afonso e Luiz, Antonio Carlos Guterres, Abílio Loureiro, Pedro e Inácio do Rosário, Inácio de seu Onofre, Domingos Tabuleiro, Joaquim Lima, Valdinar Sessenta, Bitola, Sergipano, Raimundo Pinheiro, Antônio Pessoa, Rui e Jaime Marques, Teixeira, Capitão, Florêncio, Almir Matos, Argemiro Martins, Baril e Esmeraldo, Fradiquinho, Zé João e João de Deus, Carimbo, Lauro Mineiro, Leopoldo Veloso, Zé Miranda, Pera, Mestre Gálio, Simeão Sá, Marinheiro e Zé Pedro, Alvino Soares,Camilo Soares, Real, Antenorzinho, Zé Verdura, Arimatéia, Boaventura Moraes, Pedrainho, Juquinha, Paulo Bebeu, Januário de Experidião, Paulo e Inácio Castro, Dico Aroucha, Franco Castro, Elisabeto e Zé Costa, Celso Peixoto, Seu Cunha, Barnabé Sousa, Odin Leite, Tinche e Raimundinho, Dico Araujo, os irmãos Abreu Gigi e Ozório, Virgílio Diniz, Carrinho Pereira, Nezinho Soares, os irmãos Ary e Edmar, Zé Veloso, Odilon Soares, Wilson Marinho, Dico de Maroca, seu Tibúrcio,Waldir França, Edgar Cordeiro, Honório Ribeiro, Durval Martins, Raimundo Figurino, Raimundo de Lulu, Ciloca Beckman, dr. Bento, Dico Aroucha, Celso Peixoto,Teixeira, Deusdeti, Júlio Cesar, Ribamar e Palmerinho, Aymoré, Jurandy, Erasmo, Danulo, Jerônimo e Wilson Peixoto, Caetano Gato, Severiano, Ribamar Ferreira e vários alunos do Ginásio Pinheirense e dos Colégios de São Luis. Do interior, vindos de suas fazendas: Zé Grande, Pantim, Santico Guterres, Coló Leite, Tarquinio Souza, Ludgero Dias, Sizidino, Lauro Sodré, Simplício Câmara, Pedro Padre e filhos,além dos que chegavam de todos os cantos como Aurélio Corrêa, do Rio; José João Pereira, Evilásio, João Sessenta, João Amorim, Dr. Orlando Leite, Dr. Costa Rodrigues, Dr. Antenor Abreu, Dr. Estrela, de São Luis: Pedro Seguins de Bacabal; Dr. Zequinha Gomes, de Uberaba, Dr. Zequinha Abreu, de Belém,  e outros mais de vários lugares, como o Cel. Paiva e Zé Sousa. De Queimadas vinham os Weba e os Lobato; Antonio de Jovino de Ponta Branca, Zé Grande, Alexandre Guimarães, da Chapada; Benedito Bittencourt, de São João de Côrtes; Raimundo Bittencourt, do Engenho Queimado; Abílio Fernandes, Zequinha Guterres e Antenor Viegas, do Gama; de Pacas, Zerivan, Epaminondas e Gabriel; Ademar Peixoto do Pericumã, Carlos Pessoa, do Oiteiro de São Carlos, José Barros, os Castro de Santa Estela.
Os mais idosos ou católicos pouco praticantes esperaram em suas portas, janelas, terraços, como seu Américo, Antônio e Fradique Gonçalves e familiares, Ulisses Durans, André Pimenta,Chico Leite, Almir Soares, Edésio Alves,Carrinho Pimenta, Juca Marques, Deocleciano Moraes, Waldenor Moraes. Também os que estavam com visitantes, hospedados em suas casas, como Jeco Gomes, os Gonçalves, os Paiva, João Moreira, Zé Santos, Dr. Elisabeto, Artur Sá, seu Josias Abreu.
A cidade praticamente dobrava a sua população, pois a festa de Santo Inácio coincidia com o fim das férias e muitos pais vinham dos povoados trazendo de volta os seus filhos e também para as compras para os seus pequenos comércios, prestação de contas junto aos seus aviadores, consultas médicas. Quem não tinha parentes com quem hospedar-se ia para as pensões existentes na cidade como a de d. Loló Guterres, d. Carmen Lobato, seu Nobre e d. Joana Coruja.
Atrás do andor, os músicos integrantes de vários conjuntos, irmanados nesse dia em louvor ao santo Padroeiro, formando uma só orquestra: Julio Araujo no baixo tuba, Ernane Leite no saxofone, Chiquinho de Gino, Filipinho Pessoa e seu filho João, os irmãos Soares, Parmenas, Lourenço e Arlindo; Gaudêncio Pequapá, Luis de Iria e Solon Bastos.
Fechando o cortejo, distanciadas iam as prostitutas comandadas por Isabel, recatadas, balbuciando as suas orações.
Desviando-se dos buracos, pois nesse tempo as ruas ainda não eram asfaltadas, a procissão subiu a Rua Grande, passando pelo sobrado dos Padres, Patronato São Tarcísio, pela então Praça General Dutra, hoje José Sarney, convento das freiras, Praça do Centenário, dobrando na esquina onde ficava a loja de Saninho. De longe ouvia-se: “Zombam da fé os insensatos, erguem-se em vão contra o Senhor. Da nossa fé, ó Virgem, o brado abençoai. Queremos Deus que é nosso Rei. Queremos Deus que é nosso Pai”. Por onde passava, a procissão ia engrossando com o número de pessoas que a ela se incorporavam.
Serpenteando para livrar-se dos buracos e fojos, escondidos pelo capim não aparado, o cortejo passou na Praça do Cemitério, onde o Pe. Fernando fez uma parada estratégica, orando pelos mortos, rente ao Estádio Costa Rodrigues, Praça de São Benedito, pegou a Rua Floriano Peixoto, passando pela casa de Mundico Melo, Abílio Costa Ferreira, Manico Abreu e Dr. Helio Costa, o Cinema dos Gonçalves, o Cassino Pinheirense, contornou a Baixinha, dividindo-a ao passar pelo centenário angelinzeiro, seguiu passando pela casa de Antenor Corrêa e desceu pela Benjamin Constant. Na altura da casa de Fausta Reis, seu Severino e ZéPereira deixaram a procissão, nessas alturas uma multidão informe, sem a formação original, pois todos queriam chegar à frente dos demais para assegurar um bom lugar nos bancos da Matriz. A chegada da procissão foi saudada pelo toque festivo do sino tocado por ZéPereira e por uma salva de foguetes disparados por Severino.
Na praça, já esperavam pela volta do santo, seu Beco, Galdino Pimenta, Carrinho Corrêa, seu Adão,Pituca Gato, Pedro Sapo, recordando festas antigas, ainda com a imagem pequena de Santo Inácio e falando da falta que faziam os pinheirenses que já estavam num plano superior como Padre Newton, Saladino, Alberico e Pedro Durans, Mestre André, Seu Candinho, Experidião, Januca,Alcides Reis, Luiz Santeiro e outros que haviam se mudado para São Luis, como Celsa Castro, Baião, João Sessenta, Mário Castro, Laurindo Pereira, Erotildes e Maria Costa, Benedito Durans, Zuila Corrêa, esta para o Rio de Janeiro. Também ficaram várias senhoras sem condições para longas caminhadas e muitos moleques rodeando e provocando o boizinho amarrado no flamboyant, em frente à casa de Experidião e que seria a última e mais preciosa prenda do leilão. Nesse ano, o doador foi Pantim Guterres em pagamento pelo aumento do plantel do seu gado, por graça obtida através de Santo Inácio.
Após a chegada à Matriz houve a Bênção do Santíssimo da qual participaram os mais idosos, pois os jovens já estavam na Praça Pe. Newton em frente à Matriz e onde se realizaria o melhor dos festejos: o Arraial ou Largo que será rememorado na segunda parte destas nossas reminiscências.

2 comentários:

  1. Para quem viveu muitos momentos destes descritos com luxo de detalhes pela amiga Moema, é impossível não ficar emocionada! Parabéns querida, por resgatar de forma tão minuciosa e elegante muito da nossa história!

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  2. Não sou dessa época, mais lendo aqui, parece que tô escutando minha vó contado como eram as coisas na época dela, parabéns pelo trabalho,e lindo��������

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