Particularmente não gosto da manga rosa. Acho a árvore muito bonita com suas frutas rosadas, mas nunca foram as minhas preferidas. Como manga com muita frequência, mas de outras variedades como: catana, comprida de fiapo ou cinquenta; manga Tommy resultante de cruzamento; manga constantina e, principalmente manga-espada.
A manga é uma das frutas ligadas à infância de quase todos os maranhenses, principalmente oriundos do interior e da zona rural da Ilha. As mangueiras são encontradas em todos os quintais, sítios, chácaras, terrenos baldios, nas margens das estradas, em ruas e praças. Aqui em São Luis, são encontrados alguns espécimes, principalmente na Praia Grande e Avenida dos Africanos, usadas na arborização; sem maiores cuidados, sua seiva está sendo exaurida por epífitas, denominadas erva-de-passarinho ou tem-tem.
Na nossa casa em Pinheiro tínhamos apenas uma mangueira de frutos relativamente pequenos e especiais – manga paris. Deliciosas, quando maduras as mangas adquiriam uma cor avermelhada. A árvore era antiga e muito alta, tendo seus galhos inferiores sido podados o que dificultava a escalada. Na casa vizinha do Dr. Hélio Costa, odontólogo casado com d. Nice, amiga da minha mãe, havia duas mangueiras frondosas, cuja exuberante frutificação dispensava a subida. Elas caiam quando maduras: eram as mangas catanas, chupadas ou comidas em talhadas cortadas com faca. Em outro terreno pertencente ao casal havia duas variedades de mangas: manteiga, deliciosa, mas com um leite cáustico quando verde e a manga espada. Desta nunca ví uma só fruta madura. A mangueira ainda nova, era baixa e apanhávamos os frutos ainda de vez. Nunca gostei de manga verde com sal, nem com tempero seco.
Em uma das casas do meu pai havia um pé de manga rosa, mas esse imóvel vivia alugado. Catanas, manguitas eram encontradas em quase todos os quintais; já as “de qualidade” só na casa de d. Pupu, perto do Fomento Agrícola. Na casa do seu Manico Abreu, pai de Catí, havia uma manga chanfrada chamada manga-buceta. Não lembro o gosto, mas que era apreciada, isso era.
Aqui na Ilha, possuimos 3 sítios: um no Laranjal, perto de Ubatuba, na estrada que vai para Ribamar, com mangueiras altas de espécies comuns e outras fruteiras como abricozeiros, sapotizeiras, goiabeiras, pitombeiras, alguns pés de graviola, um pé de abiu. No fundo passava um pequeno córrego e havia um juçaral em suas margens. Dada a grande distância de nossa casa e com o movimento de carros, após a construção do Conjunto Maiobão, desfizemo-nos dele. No segundo, no bairro Altos do Calhau, havia cinco pés de manga espada, uma cajazeira, ateira, três cajueiros, limoeiro e goiabeira. A frutificação era tão abundante que presenteávamos amigos e parentes. Moramos naquela tranquilidade, que mais parecia ambiente rural por oito felizes e despreocupados anos. Depois adquirimos outro sítio a uns 2km desse, para onde íamos de bicicleta, aos sábados e domingos. A entrada para a casinhola era ladeada por crótons e musaendas. Enquanto o meu marido cuidava de dois tanques nos quais criava tilápias e tambaquis, eu ia em busca das frutas: goiaba, ata, graviola, coco, acerola, maracujá e mamão. Para ter-se uma visão da beleza do sítio, mandamos gramá-lo e tinha: sessenta pés de graviola e sessenta de ata, três de acerola, três de goiaba branca; dois de laranja, dois de jenipapo, uns vinte coqueiros ainda pequenos e quatro produzindo, diversos mamoeiros das espécies papaia, comum, comprido e família e incontáveis maracujazeiros e mangueiras espada, rosa e Tommy. Tínhamos, também, quiabo, maxixe, macaxeira, vinagreira e jongome. No fundo, no meio de juçareiras e buritizeiros, mandamos construir um gazebo, coberto com folhas de buriti trançadas, em torno do qual plantamos buganvílias de cores diferentes. Armávamos redes e ficávamos apreciando os nossos domínios. O antigo proprietário tinha um boxe na CEASA onde comercializava frutas e verduras.
Nessa época começaram as obras de urbanização da Lagoa da Jansen e os moradores do entorno, procuraram áreas nobres e não muito distantes do Centro para ocupá-las. Com essas invasões desordenadas começaram os arrombamentos seguidos de roubos e isso fez com que decidíssemos mudar-nos. A abertura da Av. Luís Eduardo Magalhães ligando as Avenidas Jerônimo de Albuquerque a Holandeses, contribuiu, também, para a nossa mudança, expondo o nosso bairro tão pacato, despertando a especulação imobiliária e acabando com a nossa privacidade e tranquilidade.
A manga é uma fruta tropical cuja planta – Mangifera indica – é originária da Ásia Meridional. Pertence à família das Anacardiaceas, sendo cultivada em todos os países de clima tropical e sub-tropical. Fruta delicada é considerada a rainha das frutas, na India, Filipinas e Paquistão, sendo citada nas escrituras budistas.
O seu nome deriva de malayalam, e segundo reza a tradição, Buda teria recebido de um dos seus seguidores um mangueiral para que pudesse fazer suas meditações e descansar à sombra dessas árvores. Desenhos de frutos, flores e folhas são ainda vistos em templos budistas e hindus através de toda a India. As cinco pétalas da flor, cujo odor lembra o lírio, representam as cinco flechas de Kama Deva, o cupido no hinduísmo e as flores são utilizadas na adoração a Sarasvati, a deusa da sabedoria e da retórica.
Contam os historiadores que Alexandre, o Grande, no século III a.C., quando invadiu o norte da India, provou essa fruta, assim como todo o seu exército, provocando disenteria entre os soldados que as comeram em excesso.
O primeiro estrangeiro a registrar o encontro da manga, citando-a com esse nome foi um chinês, Hsuan tsang, entre 629 e 645 d.C., quando andara pelo Hindustão. Canções e poemas do século IV, foram escritos, em sânscrito por poetas como Kadilasa e Amir Khusru, este, poeta turcomano, no século XIV.
No século XVI o imperador mogol (ou mongol) Akbar que governou Nova Delhi de 1556-1605, mandou plantar cem mil (alguns autores falam em dez mil) mudas de mangueira, quando era rara a cultura extensiva de árvores frutíferas, em Darbhanga Bihar, em um lugar conhecido por Lakhi Bagh.
Pouco a pouco, as sementes foram levadas para outros paises do Sudeste Asiático, toda a India e as ilhas circunvizinhas.
Apesar de cultivada há mais de 4 mil anos, sua introdução, em outras terras foi lenta, iniciando-se com a descoberta das rotas comerciais marítimas entre a Ásia e a Europa, no início do século XVI. Foram os portugueses que a levaram de Goa para a costa leste e oeste da África e depois para a América.
O mundo ocidental só conheceria melhor a manga quando os portugueses trouxeram as primeiras mudas para o Brasil, por volta de 1700, sendo a Bahia o primeira estado escolhido para o plantio. Quarenta anos depois a manga chegou à América Central, no México, atingindo a Flórida, em 1833.
No Brasil, os maiores produtores são Minas Gerais, São Paulo, que respondem por 50% da sua produção, seguida pelos vales irrigados de Pernambuco e nos sertões do semi-árido do Ceará e do Piauí.
A primeira referência sobre o encontro da fruta, no Maranhão, foi feita em 1826 pelo Frei Francisco de N. Sra. dos Prazeres Maranhão em seu livro Poranduba Maranhense. Atualmente são conhecidas entre 500 e mil variedades de manga.
CARACTERÍSTICAS DA MANGUEIRA
Árvore alta, atingindo 35 a 40 m de altura; em mangueiras antigas os troncos chegam a medir 2m de diâmetro e têm a casca sulcada. Copa densa e frondosa; as folhas são lanceoladas e coriáceas, alternas, inteiras com cores que variam do vermelho ao verde escuro conforme vai crescendo, e são ricas em resina. As flores pequenas, alvas, róseas ou esverdeadas, unissexuais, apresentam-se em cachos piramidais e são muito aromáticas. O eixo floral se alonga, depois da floração, de modo que os grandes frutos ficam balançando no ar. Em determinados pomares os produtores costumam fazer talhos nos tronco das mangueiras para provocar o extravasamento da seiva, diminuindo a grande produção de flores que não frutificam, aumentando, assim, as chances de produção mais exuberante. Essas fruteiras tem longuíssima duração.
A mangueira precisa de sol para desenvolver-se, tanto que as frutas mudam de cor com a posição em relação à luz. A florescência se dá em setembro e a frutificação entre 100 e 150 dias depois, colhendo-se os frutos maduros geralmente em dezembro.
Os frutos, considerados drupas, são polpas suculentas, às vezes fibrosas, com sabor diferente dependendo da variedade: doce, azedo ou mesmo de sabor desagradável. O tamanho varia entre 6,25cm e 25 cm. Algumas espécies, são pequenas como nêsperas, outras grandes chegando a pesar 2kg. Seu formato pode ser esférico, do feitio de coração, de rim, de foice, oblongo, alongado ou roliço. A cor da casca varia de amarelo pálido, ao vermelho vivo e a tonalidade da polpa vai do amarelo ao vermelho alaranjado. Na India há uma variedade brava que não se come. Em Bangkok, na Tailândia elas são pequenas, de cor verde-limão, sabor delicado, ligeiramente ácido.
As sementes são grandes, achatadas e chamadas caroços com uma amêndoa no interior, usada na alimentação de animais.
VALOR ALIMENTÍCIO
Geralmente as mangas são degustadas in natura, porém são mais utilizadas na indústria alimentícia, na fabricação de doces, tortas, compotas, geleias, mousses, sorvetes, trufas. Também usadas em saladas de frutas ou com verduras; pelo sabor agridoce usadas como molho, picles, flambadas, com calda quente de chocolate, grelhadas com shoyo ou como acompanhamento indispensável do curry.
Cem gramas da polpa da fruta possuem: glicose 15% e 1% de proteinas, fibras alimentares, gordura, betacarotenos, sais minerais como ferro, cálcio, magnésio, fósforo, potássio e zinco. Também Vit. A e Vit. C e as do complexo B (tiamina, riboflavina, niacina, ácido pantotênico e Vit. B6), além dos ácidos málico e tartárico.
Nos frutos ainda imaturos o teor de Vit.C., decresce, à medida em que as mangas amadurecem. Nesse estágio aumentam as taxas de betacarotenos (pro-Vit.A).
Apesar do considerável valor alimentício fornecem apenas 70% de calorias.
PROPRIEDADES MEDICINAIS
As folhas quando esmagadas exalam cheiro forte e tem fibra e crepitação. Em chás são usadas para fazer gargarejos. Também são vermífugas, melhoram as diarreias e infecções vaginais, principalmente candidíase. A resina do tronco é depurativa.
A amêndoa do caroço é também usada como vermífuga.
A fruta possui propriedades diuréticas, anti-escorbúticas, expectorante, purifica o sangue, diminui a acidez estomacal e regula o trânsito intestinal.
Recomendada nas gengivites, feridas dos cantos da boca, escaras (úlceras de decúbito) e outras ulcerações, afecções pulmonares como bronquite asmática, catarral e tosse.
Pelos altos teores de potássio e magnésio a ingestão de mangas beneficia pessoas que sofrem de câimbras, problemas cardíacos e estresse. Prescrita, também, em caso de anemia, principalmente em mulheres grávidas e para o desenvolvimento do cérebro.
Na diabetes é um grande auxiliar no seu controle, pois retarda a digestão de amido e outros polissacarídeos, evitando a elevação das taxas de glicose no sangue.
PRINCIPAIS ESPÉCIES E CURIOSIDADES
Cerca de 500 espécies são conhecidas no Brasil, muitas resultantes de cruzamento com as espécies mais aclimatadas. As mais comuns: manga catana (comum, de fiapo ou cinquenta); manga rosa, espada, manguita (bem pequena), carlotinha, foice, manga de massa, sabina, constantina, bacuri (muita azeda), família (a maior), bourbon ou coração de boi, coquinho, aden, tommy, piqui, coité, ubá, pau dárco, manga de mesa, moça morena, manga-cajá, buceta, oiti, palmer, manga de cheiro, branca, manga d’agua, manga-rainha, cada uma com tamanho, cor e sabor diferentes.
Por ser um fruto comum e de larga distribuição geográfica, a manga é cantada em verso e prosa No rock das frutas de Patati-patatá, em poemas diversos, músicas carnavalescas exaltando a Mangueira, Escola de Samba criada em 1929. Porém a música que virou coqueluche na década de 1980 foi Morena Tropicana, que alude a todas as frutas do Nordeste, gravada por Alceu Valença, um dos compositores. Há, também, uma outra música de sua autoria – Manga rosa – que não repetiu o sucesso da anterior.
No Nordeste além da chuva do caju há a chuva da manga, título de um poema de Simone Almeida: A chuva e as mangas.
As principais avenidas de Belém são arborizadas com mangueiras. Lá a terra do açaí, os paraenses usam uma bebida que leva as duas frutas, apesar de mitos criados em torno dessa mistura.
Um dos primeiros países a iniciarem a exportação da manga, foram as Filipinas, onde pesquisadores estão aperfeiçoando processos para incrementar a produtividade. Cientistas do Instituto de Agricultura de Los Baños, pulverizam uma solução de nitrato de sódio a 1% para provocar a florescência mais cedo e mais profusamente; também isolaram um hormônio vegetal que faz com que as mangas atinjam o dobro do seu tamanho, quando maduras. A mangueira foi introduzida em Formosa, pelos holandeses no século XIX e incrementada pelos norte-americanos a partir de 1960.
Em Sud Mennucci, São Paulo, a agrônoma Mirela Vinhas Voltorini, encontrou uma variedade de manga, chamada por ela manga-mamão, pelo tamanho: 26cm de comprimento; 36cm de diâmetro, pesando mais de dois quilos. Somente as sementes são diferentes, mas a polpa é macia e saborosa, parecendo a manga comum, exceto pela ausência de fiapos. Segundo o biólogo Carlos Jorge Rossetto, pesquisador aposentado do Instituto Agronômico de Campinas, trata-se de uma nova espécie resultante de variação genética ocasionada por uma mutação. Nesse caso a multiplicação pode ser obtida por enxertia. No Rio de Janeiro foi, também, encontrada essa variedade.
Nas Indias Ocidentais o povo canta um calipso em louvor à manga, considerada a rainha das frutas, por ser apreciada no mundo inteiro: “Manga, manga é tão deliciosa. Conforta o corpo e acalma o espírito.”. E aqui no Brasil? “Da manga rosa quero o gosto e o sumo.”
AGRADECIMENTOS
Várias pessoas colaboraram enviando-me de várias regiões do País, nomes de mangas, muitas desconhecidas por mim. A todas fico muito grata e espero não ter esquecido nenhuma: Malu Luz, Mercedes Guará, Miguel Veiga, Ana Cristina Gonçalves, Andrea Pires, Erasmo Leite, Fernando Braga, Rosana Santana, Ana Sofia, Glendel Azevedo, os manos Aymoré e José Paulo, Vanda Siebra, Henrique Diniz, Inez Neves, Reinaldo Bandeira, Wilton Mineiro, Pe. João Rezende, Sonali Sombra, Josie Pimenta.
Excelente texto... Despertou em mim também grande nostalgia
ResponderExcluir