MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

terça-feira, 12 de novembro de 2013

DESCASCANDO O ABACAXI



O abacaxi é uma das minhas frutas preferidas desde que esteja descascado. Sou capaz de comê-lo inteirinho, bem gelado, em dia de muito calor.
Pesquisando sobre essa fruta encontrei que no Oiapoque há uma variedade que chega a pesar 10kg e que a EMBRAPA está desenvolvendo, por cruzamento, uma espécie com frutos pesando 15kg.
Sobre esses abacaxis gigantes nunca esqueço um espécime enorme (infelizmente não o pesamos) trazido de Belém, pelo amigo Abrão do Carmo Cardoso, falecido precocemente, então acadêmico de Agronomia da Universidade Federal do Pará. Essa fruta foi um dado de presente para o mano Aymoré que havia comprado umas terras em Ubatuba – estrada para São José de Ribamar – e estava formando um sítio. Atualmente essa área foi doada para Pastoral da Sobriedade da Paróquia do São Francisco, e denominada Associação Maria Augusta, em homenagem à sua esposa falecida.
Pois bem, ainda apreciávamos o tamanho avantajado do fruto quando chegou à  nossa casa, na Rua da Saavedra, o Cônego Ribamar Carvalho, então vice-reitor da FUM, em 1969, mais tarde UFMA, que veio tratar de algum assunto com Aymoré. Sempre faladeira não me contive a respeito do abacaxi-gigante, despertando-lhe a curiosidade. Fui buscá-lo e tentei abrir em sua presença. O diâmetro era tão grande que foi preciso uma faca de cozinha grande e bem amolada e duas pessoas para cortá-lo transversalmente. O gosto, entretanto decepcionou-nos: cheio de fibras, mascarou não só o sabor, também o odor característicos da fruta. Não lembro se Aymoré levou a coroa para plantá-la em seu sítio.
Há uns três anos hospedou-se em minha casa uma moça alemã, amiga do meu filho. Como quase todo estrangeiro ela era vegetariana, alimentando-se de verduras, frutas, legumes, tubérculos, ovos e massas. Ao conhecer o abacaxi, encantou-se com o seu sabor e lhe comprávamos diariamente. Por essa época as brincadeiras de bumba-boi estavam formando os grupos para começar os ensaios. Atendendo a um pedido seu, meu filho inscreveu-a em um desses grupos. Nos ensaios levava um depósito cheio de pedaços de abacaxi para hidratar-se nos intervalos. Também teve aulas de capoeira, sempre levando um recipiente com pedaços da fruta.
Na nossa casa cultivamos em  jarros o abacaxi de Turiaçu: os frutos não se desenvolvem muito, mas são saborosíssimos.

                                     CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
O abacaxi ou ananás é o fruto-símbolo das regiões tropicais e sub-tropicais. É originário de uma planta monocotiledônea da família das Bromeliáceas. As espécies cultivadas pertencem à espécie Ananas carnosus que compreende muitas variedades. Há também, espécies selvagens do mesmo grupo pertencentes à espécie A. sativus. A origem do seu nome naná, vem do guaraní e significa fruta saborosa, tendo sido documentado em 1555 por André Thevet, em português e em espanhol a partir de 1578. Já o nome abacaxi deriva do tupi ibacati (iba=fruto) cati (recender ou cheirar fortemente) ou inaka ti ou fruta cheirosa. A difusão do nome abacaxi data da terceira década do século XIX.
Botanicamente são iguais, porém o ananás é menor com apenas 6 a 12 cm. de comprimento, geralmente utilizado como planta ornamental. No mundo inteiro a fruta é conhecida pelo nome de ananás, enquanto no Brasil denomina-se abacaxi. Na linguagem popular do Brasil e de Angola, ananás significa fruto não cultivado ou de qualidade inferior, sendo menos apreciado.
Originário da América Tropical, principalmente da América Central e México, cultivado em quase todos os países de clima tropical e sub-tropical, como a Malásia, Formosa, Filipinas, sul dos Estados Unidos e México. No Brasil, os maiores estados produtores são: Paraiba, sudeste de São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do sul e Minas Gerais, no triângulo mineiro, Pará, Bahia, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Goiás, Tocantins e Maranhão. Paises como Costa Rica, Bélgica, França, Costa do Marfim, Gana, Estados Unidos, Tailândia estão desenvolvendo técnicas para aumentar sua produtividade. As variedades mais conhecidas são o Pérola e o Hawai.
Alguns pesquisadores dizem que o abacaxi é nativo em Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre e em várias áreas dos Cerrados. Outros acham que ele se originou entre o nordeste da Argentina e o Paraguai, tendo sido distribuído pelos guaranis que o levaram para a América Central e Caribe. Pesquisas recentes, a partir da coleta de germoplasmas no Brasil, Venezuela e Guiana Francesa, indicam que o centro de origem localiza-se ao norte do Rio Amazonas entre as bacias dos rios Negro e Orinoco.
Planta herbácea de até 1m de altura, caule pouco desenvolvido, folhas lineares em forma de calha e dispostas em torno de um eixo central. As flores são roxo-púrpuras, reunidas em inflorescência terminal de eixo grosso, carnoso, cônico-oval. Quando as flores abrem, as pétalas se desprendem e as sépalas junto com outras partes das flores e da inflorescência, soldam-se formando o fruto. A inflorescência é do tipo soros que vem do grego e significa agrupamento. Fruto de frutescência, cada gominho é um fruto independente que se juntou aos demais durante o processo de crescimento.
O ananás é uma planta grande em formato de roseta com folhas longas, rijas e arqueadas, caneladas, de cor verde e bordas amarelo esbranquiçado. Suas flores, também são púrpuras, frutificando seis meses depois.

                                                HISTÓRICO


Pode afirmar-se, categoricamente que a descoberta do abacaxi deu-se no dia 4-11-1493, quando Cristóvão Colombo aportou em Guadalupe nas Pequenas Antilhas. Até então conhecido dos ameríndios que ofertaram frutas aos invasores, num gesto de hospitalidade, sendo denominado piña pela semelhança com o fruto europeu, conhecido na Inglaterra desde 1398 e pertencente ao grupo  das coníferas. Esse gesto  era comum entre os silvícolas que costumavam pendurar folhas ou mesmos frutos na entrada de suas casas, em sinal de boas-vindas.
O abacaxi com o nome de piña foi levado à Europa como testemunho da exuberância exótica das terras existentes a oeste do Atlântico. De fácil dispersão e cultivo o abacaxi cruzou os mares a bordo de galeões e caravelas chegando à África, China, Java, Filipinas e propagando-se com facilidade e rapidez nos últimos séculos.
Na Inglaterra começou a ser cultivada a partir do século XVII em estufas, considerada a rainha das frutas pela coroa espinhenta; era iguaria de reis e rainhas, oferecida como símbolo de hospitalidade a convidados especiais das cortes europeias.
Muitos anos depois foi descoberto que a fruta não passava de uma a duas centenas de pequenos frutos aglomerados em torno do mesmo eixo central: cada olho ou escama da casca do abacaxi é um fruto que cresceu a partir de uma flor, fundindo-se todos os frutos em um grande corpo, chamado infrutescência, no topo do qual se forma uma coroa. Resumindo, as flores e os frutos individuais se unem para criar o abacaxi. Os rebentos laterais são chamados de otários e são produzidos nas axilas das folhas da haste. Comercialmente os suckers que aparecem ao redor da base são usados para cultivo.
As sementes afetam negativamente a qualidade das frutas, daí manter-se os colibris responsáveis pela polinização afastados das plantações. No abacaxi selvagem a polinização é necessária, porém a abertura das flores, assim como a fotossíntese são realizadas à noite.
Aqui no Brasil foi registrada tanto pelo Frei Cristóvão de Lisboa, no começo do século XVII, que lhe atribuiu propriedades medicamentosas para as dores de passagem de cálculos, também como vermífugas, como Frei Francisco de N.Sra. Prazeres Maranhão, um século depois, que, além de descrevê-la, atribuiu-lhe a mesma utilização da babosa e outras agaváceas, na retirada de linho. Também mencionou o seu uso como antídoto do tucupi. São suas estas palavras: “Dizem que esta Província produz os melhores ananases do Brasil.”.


                                                VALOR  ALIMENTÍCIO

Do abacaxi aproveita-se toda a fruta: é fonte rica de Vit. C; também B6, folato, tiamina, sais minerais como ferro e magnésio, potássio, cálcio, fósforo. O teor de açúcar varia de 12 a 15% dos quais 66%  são frutose e 34% açucares redutores (glicose e sacarose). A sua polpa suculenta contém água, fibras, ácidos cítrico e málico e bromelina, lipídios, proteinas. Um copo de suco natural com 150 cm3 fornece 150 calorias e 100g de pedaços da fruta são responsáveis apenas por 52 cal. O bagaço é utilizado como ração animal. A bromelina, pode causar dermatite em pessoas sensíveis.
Energética, nutritiva, refrescante, de sabor doce ligeiramente ácido, a fruta pode ser  usada in natura, ou  na preparação de suco, sorvete, gelatina, mousse, iogurte, compota, geleia, doce cristalizado, torta, pudim, bolo, cocada, pavê. Também usado em amaciante de carnes, pela presença da enzima bromelina, costume esse observado entre os ameríndios em 1493, por Juán Ponce de Leon.
Muito usado em coquetéis sendo o mais famoso o pina colada, feito com rum, suco de abacaxi, servido na própria casca da fruta; com estas, também se prepara uma bebida fermentada em água, conhecida por gasosa ou aluá.

           USO NA INDÚSTRIA E NA MEDICINA POPULAR

Fornece para a indústria essência para aromatizar bebidas, remédios, alimentos processados.
Indicado na formação de ossos, na adolescência. Usado como diurético, baixar a pressão arterial, também em artrite, gota, litíase e como anti-edematoso.
A bromelina, por suas propriedades proteolíticas ajuda a digestão, transformando as albuminas em proteases e peptonas. Além de eupéptica, é, também germicida, oxidante forte, desobstruente do fígado, anti-ictérico, antiartrítico, anti-hidrópico e antidiftérico. Excelente para afecções da garganta e combate a arteriosclerose. Fluidifica as secreções das vias aéreas e indicado em gripes e bronquite.
Com dieta exclusiva de abacaxi mais chá de quebra-pedra, folha de abacate, cana-do-brejo e cavalinha ajuda a eliminação de cálculos.
A celulose das fibras é indispensável para o funcionamento do intestino, ajuda no emagrecimento.

                                              CURIOSIDADES
Desde 1826, em Poranduba Maranhense já havia menção ao abacaxi maranhense como o mais saboroso do Brasil. No município de Turiaçu, pela doçura e grande demanda dos seus frutos, foi instituído o Festival do Abacaxi pelo Projeto de Lei 499/2003, reconhecido por Lei Municipal n@ 481/2003.
Os técnicos da EMBRAPA atribuem à abundância de potássio no solo, o sabor especial desse abacaxi. Outros agrônomos acham que é uma variedade nativa.
O povo atribui a uma lenda, segundo a qual um andarilho, em retribuição a generosidade e acolhida que lhe foi dada por um morador da localidade Serra, teria dado a primeira coroa, plantada em 1884.
Todos os anos é atribuído em Minas Gerais, o Troféu Abacaxi Atômico aos piores na MPB e também aos internacionais. O apresentador Chacrinha costumava presentear os piores calouros do seu programa com o Troféu Abacaxi, com uma fruta de verdade.
Na gíria, abacaxi significa algo que não dá bom resultado, coisa embrulhada ou que não presta.
Descascar abacaxi é resolver um problema de difícil solução, pela dificuldade para descascá-lo devido à casca espinhosa e ressequida, com farpas presentes tanto na coroa como na própria casca.
Dica para saber se um abacaxi está maduro: puxa-se uma das folhas de sua coroa e se ela se soltar com facilidade significa que está no ponto da colheita.
Termino com uma quadrinha de Frei José de Santa Rita Durão em seu poema épico Caramuru (Canto VII, Estrofe XLIII):
“Das frutas do país a mais louvada/ É o régio ananás, fruta tão boa/ Que a mesma natureza namorada/ Quis, como rei, cingí-la de coroa”



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