MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

domingo, 29 de dezembro de 2013

ROMÃ: DA ANTIGUIDADE ATÉ OS DIAS ATUAIS

                                             
            Nunca tive muita intimidade com romãzeiras e nunca experimentei seus frutos. No sítio do mano José Paulo, no Araçagi, há um pé, plantado por minha cunhada Concita, cujos frutos eram reservados para seu filho Paulo Neto, o qual quando criança tinha frequentes afecções na  garganta, tratadas com gargarejos de decocto da casca do romã, devido a restrições a vários medicamentos, principalmente antibióticos. Frequentemente eu ia ao sítio, mas nunca me apeteceram, ao contrário dos figos, com a polpa macia e saborosa. Nunca os associei como os frutos mais antigos de toda a civilização, crescendo lado a lado.
Há cerca de três anos ganhei de um confrade da APLAC um belo romã, o qual conservei na geladeira e que foi usado, com muito sucesso, para curar uma faringite do meu marido. Após mascar uns três pedaços da casca ele começou a falar normalmente.
Nas festas da virada do ano, a minha cunhada Maria Augusta, já falecida, costumava distribuir entre os convidados para a ceia, sementes de romã, orientando a guardá-las no porta-cédula durante todo o ano. Período propício para  simpatias e crendices, envolvendo essa cerimônia de transição, para começar o ano novo  com esperanças renovadas, boas energias e mudanças favoráveis. Vejamos algumas delas:
1 – Usar roupas íntimas cujas cores variadas, carregam uma simbologia diferente.
2 – Beber vinhos e espumantes, feitos com uvas e servidos em taças de cristal para purificar as energias. O vinho é considerado portador de sabedoria e vida por serem feitos com uvas. Acredita-se que traz sorte e prosperidade.
3 – Pular sete ondas. Segundo os gregos o mar tem o poder espiritual para renovar as energias; esse costume foi trazido pelos africanos para o Brasil, invocando Iemanjá que dá forças para passar por cima das dificuldades.
4 – Saudar os demais convivas pulando com a perna direita, à meia-noite, e mantendo na mão direita moedas para atrair fortuna.
5 – Comer lentilhas para ter um ano de fartura, principalmente em relação à comida; uvas e avelãs produzem o mesmo efeito.
6 – Já consumir aves como frangos e galinhas que ciscam pra trás, não é recomendável. Deve substituir-se por porco ou peixes que nadam pra frente.
7 – Comer os arilos que envolvem 7 sementes de romã e guarde-as no seu porta-cédulas, durante todo o ano, se o objetivo é ter sempre a carteira cheia de dinheiro, que não lhe faltará. O número 7 é muito importante, pois  simboliza os 7 dias da semana e o número de chacras
                      
    ROMÃS E ROMÃZEIRAS ou ROMANZEIRAS
                        
                      

O romã (Punica granatum) é um dos frutos que se conhece com os testemunhos mais antigos da humanidade. No Antigo Testamento há onze referências a esse fruto. Presente nos jardins do Rei Salomão que usava para mandar preparar um vinho usado para contentar as suas 700 esposas e 300 concubinas. Foram encontrados desenhos da árvore e de seus frutos nas paredes dos jardins, referidos no Cântico dos Cânticos. No primeiro Templo de Jerusalém, foi encontrado um fruto de marfim do século VI a.C. No túmulo de Ramsés IV que viveu no século XII a.C. foram encontrados ramos e flores, assim como nos sarcófagos de outros reis e sumos sacerdotes. Também há referências no Talmude da Babilônia.
No Antigo Egito o suco da fruta (schedech-it) já era apreciado e usado por Hipócrates (460-377 a.C.) para os males do estômago e nos doentes febris.
Os judeus que saíram do Egito levaram mudas de romãzeira, videira e figueira, sendo o romã considerado símbolo religioso, por apresentar no seu interior 613 sementes, o mesmo número dos mandamentos da Torá. A romãzeira foi a primeira planta a florescer e frutificar na Terra Prometida. Israel foi abençoada com mais 7 frutos: trigo, azeitona, cevada, uva, figo, tâmara além do romã, este  usado no ritual da virada do ano, pois espera-se que o ano que chega será sempre melhor do que o que vai embora. Associada a votos de ano afortunado, em certas famílias tradicionais há, ainda o costume de partilhar romãs no Dia de Reis, para que não falte dinheiro, geralmente relacionada à abundância das suas sementes. Também usam sementes debaixo do travesseiro, como símbolo de prosperidade no Ano Novo Judaico.
Na arte cristã, judaica e islâmica, simboliza a unidade eterna. Dizia Maomé aos seus seguidores; “comam romã, pois protege o organismo da inveja e do ódio”.
Segundo alguns autores a romãzeira é nativa e domesticada na Pérsia (atualmente Irã) sendo cultivada também pelos fenícios, gregos e egípcios. Fora levada para os países do Mediterrâneo pelos fenícios. Outros autores declaram que o romã originou-se no Irã, passando para o Himalaia, no noroeste da Índia. Alguns outros se referem às guerras púnicas após o que os romanos levaram de Cartago, mudas para Roma  denominando-o malum granatum.
Lineu para denominá-lo baseou-se nas duas nomenclaturas, homenageando os romanos e os fenícios que a introduziram no Ocidente, trazendo da Ásia Menor. No século I, Plínio denominou-a malum punica, derivado de poeni, nome que os romanos davam aos habitantes de uma cidade fundada pelos fenícios no século IX aC. no norte da África, provavelmente Cartago; pode significar vermelho, famosa tinta de Tiro retirada de uma glândula de um gastrópoda marinho e comercializada pelos fenícios.
Quanto à Mitologia, na Grécia o romã era consagrado à deusa Afrodite, pois se acreditava nos seus poderes afrodisíacos. Conta-se que Deméter, divindade da terra cultivada, ensinou aos homens a semear, colher o trigo e fabricar o pão. É a deusa-mãe ou a Grande Mãe. Possuída por Zeus teve uma filha, Perséfone, que foi levada para o inferno por Hades ou Plutão, deus das profundezas. Triste, Deméter resolveu não voltar mais para o céu, provocando muita fome, pois deixara de semear. Perséfone proibida de comer no cativeiro, rompera o jejum quando Plutão obrigou-a a comer seis sementes de romã, ligando-a definitivamente ao mundo das sombras, Zeus ordenou a Hades que devolvesse Perséfone para Demeter voltar a cultivar a terra. Após uma conciliação, Deméter só retornou ao seu lugar no Olimpo com a promessa de que em cada primavera Perséfone voltaria à luz, regressando às regiões inferiores na época da semeadura. Deméter-Perséfone é uma conjunção mãe-filha: a jovem é a semente que, plantada no seio da terra (Deméter), dá vida a novos frutos num ciclo contínuo, associado à morte e a ideia de fertilidade e imortalidade. Deméter é indiscutivelmente o arquétipo materno, delineia o caminho de uma mulher através da vida, realizando-se de maneira concreta na maternidade que pode ou não ser biológica.
Para os gregos o romã simboliza a vida, o renascimento e a indissolubilidade.
Na Mitologia Iraniana o fruto do amor sagrado é o romã.
A China também conhece o romã há milhares de anos.
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                                          ASPECTOS BOTÂNICOS

Punica granatum, a romãzeira ou romeira de Granada, atualmente pertence à família das Punicáceas, desdobrada da família das Myrtáceas. Há duas variedades de romãzeiras: a vermelha, cultivada em pomar e a amarela usada em projetos de paisagismo e em jardins. Esta tem flores dobradas, com várias pétalas de cores vistosas; às vezes cor de rosa ou branco ou mesmo vermelho. Seus frutos são bem pequenos.
A romãzeira é uma árvore com tendência arbustiva, esgalhada, medindo 4 a 6m de altura, tronco acinzentado e ramos avermelhados, quando novos.  As folhas são opostas, alternadas e fasciculadas. Na extremidade dos galhos delgados abrem-se as flores, solitárias ou agrupadas. Os frutos são pseudo-bagas ou infrutescência do tamanho de uma laranja, com 12 cm de diâmetro, grosseiramente hexagonal, com casca grossa ou coriácea, nas cores marron escuro, amarelo ou vermelho. No interior estão divididos em várias células, separadas por finas películas onde se formam centenas de sementes envolvidas por um arilo, ou película de tegumento gelatinoso que reveste as sementes, arrumadas em formação compacta.

               DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA e IMPORTÂNCIA ECONÔMICA.
Originária da região Transcaucasiana e do Afeganistão espalhou-se pela Síria, Iraque, Irã, assim como na China, Índia e África. Cresce espontaneamente na Ásia, apresentando grande variedade. Também na Palestina. Outros autores dizem ser originária das zonas montanhas do Pasquistão e do Irã e do Egito, há mais de 3000 anos.
No Irã além de preferido é considerado fruto sagrado.
.               Os povos árabes valorizavam os seus poderes medicinais e como alimento. Seus galhos com flores eram usados, também para decorar festas e  casamentos.
Na Idade Média era considerado fruto cortês, aparecendo, também, em contos e fábulas de vários países.
Cultivada em quase todos os países do mundo são famosas as romãs da Provença, de Malta, na Espanha. Dos países do Mediterrâneo onde começou a ser cultivada em 711 pelos árabes, chegou ao Brasil, através dos portugueses.
Atualmente os maiores exportadores são a Espanha e a Tunísia que exportam para o Reino Unido, França, Itália, Espanha e Países Árabes.
           
         VALOR ALIMENTÍCIO


O romã é um fruto refrescante, oxidante e mineralizante. O arilo que envolve as sementes é rico em tanino, vit. B1, B2 e traços de B3 e vit. E. Também sais minerais como fósforo, potássio, manganês, magnésio, sódio, cálcio, ferro, carboidratos, proteínas, em teores mais baixos. 100g da polpa fornecem 62kcal. Pode ser comido in natura.
As sementes têm  água, açúcares, vit. C, ácidos cítricos, málico, tartárico.
As flores possuem tanino, pigmentos como a antocianina.
A casca grossa é rica em tanino, derivados do ácido gálico, flavonoides glicolisados, ácidos fenólicos, resinas, granadina, pernicina, antocianinas e açúcares.
Faz parte da culinária da Turquia, misturada ou não com abacate. Em outros países do Oriente Médio é usado para preparar almôndegas, recheio de peixes, saladas com berinjela. Na Grécia fazem-se gelados e licores com a granadina, retirada da polpa de romã. Muito apreciado no Egito onde é chamado anhmen.
Fazem-se champanhe e vinho com a granadina.

                                   PRINCÍPIOS ATIVOS
Conhecida desde a mais remota antiguidade, referida no Papiros de Ebers. Discórides e outros naturalistas conheciam as suas propriedades vermífugas e tenífugas. Os principais elementos encontrados no romã e no romãzeira são: ácidos ascórbico, bórico, clorogênico, málico, palmítico, oleico, linoleico, além de fibras, tanino, polifenois e granadina.

                                               INDICAÇÕES
As últimas pesquisas demonstram que o óleo extraído das sementes ou promeganate combate os cânceres de pele, cólon intestinal e de mama. Obesidade, diabetes, eczemas, psoríase. Segundo pesquisas recentes diminui as altas taxas de colesterol e reduz a pressão arterial.


                                 USOS EM MEDICINA POPULAR
- Infusão das cascas do fruto para gargarejo ou bochechos, em aftas e dores na garganta, fortalecimento das gengivas, gengivites, úlceras da boca.
- Infusão das folhas para lavar os olhos em inflamação.
- Cataplasmas de folhas amassadas para carbúnculo.
- As flores secas e pulverizadas em decoctos, usados para combater a metrorragia, leucorreia, em irrigação vaginal, blenorragia, diarreia, prolapso retal. Em gargarejos para afecções da garganta.
- Decocção de caule e raiz, como laxante, vermífugo e tenífugo.
- Chá das cascas da raiz misturado com tintura de ópio nas disenterias.
- Suco do fruto em difteria, afecções genito-urinárias e inflamações gastro-intestinais, hemorroidas, cólicas, febres, dispepsia. Liofilizado usado sob a forma de creme para despigmentação da pele.
- Xarope do suco (granadina ou granadine) em angina, afecções da garganta, difteria, inflamação gastro-intestinal, afecções genito-urinárias.
- Infusão da polpa, combate diarreias.
- Fruto, mascar pedaços da casca para afecções na boca e garganta.
- Decocção da casca do fruto, feridas na boca, faringite, gases, leucorreia, menorragia, metrorragia, vermes intestinais. Inibe o crescimento de tumores
- Possue alcaloides como a peleterine e a pseudo-peleterine com propriedades sobre Staphylococcus aurens, Clostridium perfringens e vírus do Herpes simplex.
Em altas doses, por causa de toxinas pode provocar a paralização dos nervos motores, levando à morte por parada cardíaca.

                                      O ROMÃ  E A MAÇONARIA
Segundo dados compilados da Wikipedia a Maçonaria, como a conhecemos hoje (Especulativa) foi fundada em 1717 na Inglaterra. Sociedade fraterna que tem como lema liberdade, democracia, igualdade e fraternidade, foi aperfeiçoada de outras sociedades como a Primitiva e a Operativa. Em 1738, Clemente XII condenou a Maçonaria. Seus princípios éticos são baseados no Judaismo, melhor no Antigo Testamento, adotando vários símbolos como a estrela de Davi, os nomes dos diferentes graus e o selo de Davi a reconstrução das colunas jônicas, de origem grega. Vários emblemas são adotados como os romãs que coroam as colunas J e B dos templos e cujas sementes trazem prosperidade, solidariedade e união familia.  O romã é o fruto símbolo dessa Fraternidade. A flor rubra representa o entusiasmo dos seus membros. Os frutos são as pedras polidas; as lojas dos frutos simbolizam as lojas maçônicas, enquanto as sementes representam as nações espalhadas no mundo. A forma compacta como estão unidas lembram a harmonia e a fraternidade que devem existir entre os maçons e todos os homens, por um ideal comum para servir a humanidade. As cinco células no interior do fruto correspondem às cinco raças humanas da câmara alta às quais o amor deve lutar para que estejam perfeitamente reunidas.
Na entrada dos templos encontram-se esculturas representando romãs, nos capitéis das colunas.

                                          AGRADECIMENTOS
A Ana Sofia Nascimento de Morais que me enviou de Miami informações atualizadas sobre as pesquisas realizadas com o romã, como o isolamento do óleo promeganate, não só para as afecções da pele, mas no tratamento de vários cânceres, combate ao colesterol e às altas pressão, em pesquisas desenvolvidas no Lipid Research Laboratory.
A Murilo Mário Durans que postou uma bela romãzeira cultivada em seu quintal, em Salvador.
A Fernando Cunha pela foto de um romã maduro cultivado em Brasília, em casa de um amigo seu.
À dra, Helena Barros Heluy (HB desde os tempos do Santa Teresa) pelo belo romã cultivado em sua casa na Praia do Panaquatira.

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