No Período Colonial, quando as
exportações giravam em torno do açúcar produzido nos engenhos do Nordeste, reinava ainda nos povoados um ambiente tranquilo de
auto-suficiência. A produção do algodão,
arroz e milho era insignificante, dava somente para atender as necessidades dos
senhores e seus escravos. Não havia interesse na produção em escala maior, que
visasse à exportação. A mandioca,
produto imprescindível à alimentação dos escravos, índios e primeiros povoadores,
era cultivada em lavouras entremeada com plantas de ciclo mais curto como milho, amendoim e feijão.
A
primeira referência à mandioca, no Maranhão, foi feita pelo capuchinho
Claude d´Abbeville que, com alguns frades da Ordem integraram a expedição
comandada pelo francês Daniel de La Touche, em 1612. Por essa época a mandioca
já era cultivada pelos índios Tupinambá e Guarani que a chamavam “macachet, como qualidade de raiz procedente de um
arbusto de folhas iguais as da figueira de que se faz a farinha e o cauim. Raiz
muito boa. Também igual à anterior mandioca-eté e mandioca-caué, cujas raízes
são mais grossas que as anteriores e boa para papa e bebida chamada caracu.”
O Pe. Manuel da Nóbrega ouviu dos
índios que quem lhes indicou o uso
dessas duas plantas providenciais foram duas pessoas, uma das quais se chamava
Zomé. Outras tradições aceitam que o nome é corruptela da palavra Zemi, usada
no Haiti, indicada pelos deuses que os índios adoravam, alegando que lhes havia
ensinado o modo de usar o fogo e as raízes nutritivas.
Foi Pisa quem forneceu as primeiras
informações científicas sobre a mandioca, em 1646, descrevendo-a como planta
indígena do Brasil, podendo desenvolver-se até 30º de latitude Sul e na zona
tropical até a altura de 1.000m.
Mesmo sendo de produção bem
rudimentar, a Coroa solicitava continuamente a pouca farinha aqui fabricada, para
alimentar os lusitanos que não tinham terras para cultivar, deixando muitas vezes, à míngua, as populações
nativas.
Assim como ocorreu em toda a América
Latina, coube ao Brasil a produção de alimentos e de matérias-primas para os
grandes centros industriais europeus, uma vez que não havia mercado para a
industrialização de novos países.
Barata, resistente, nutritiva, sem a
presença de glúten, foi eleita pela ONU, o alimento
do século XXI.
MANDIOCA – ETIMOLOGIA – ORIGENS
O vocábulo mandioca deriva do tupi madi
og, mandi –ó ou mani-oca, ou tipi óka que significa coágulo e tem como
sinonímia a mandioca brava ou mandioca-amarga,
termo para designar a espécie Manihot
esculenta ou M.utilissima
de grande toxicidade, em decorrência do elevado teor de ácido cianídrico. Seu
consumo só pode ser feito após processo
especial. Dessa espécie são produzidas as farinhas e bebidas.
A mandioca-mansa, também chamada aipim ou macaxeira, pertence à espécie M.dulcis ou M.ahipi e designam tipos
de baixo teor de ácido, podendo ser consumidas in natura, cozidas,
assadas ou fritas, retirando facilmente a casca. Ambas as espécies constituem a
base da alimentação de certas regiões tropicais, principalmente as áreas
centrais da América do Sul e da África. As variedades são múltiplas,
principalmente com o uso de técnicas de seleção e melhoramento genético.
A origem da mandioca se perde nos tempos. Alguns historiadores asseguram que já
existia em nosso Continente há uns 7mil anos. Outros mais céticos afirmam que
teria se originado no sudoeste da Amazônia e daí disseminada inclusive na
Meso-América (Guatemala e México). Somente nos últimos séculos seu valor
nutricional se tornou conhecido.
Quando os portugueses chegaram ao
Brasil, os nossos silvícolas já a consumiam diariamente, tendo sido citada na
carta que Pero Vaz Caminha, escrivão-mor da frota de Pedro Álvares Cabral,
enviara a D. Manuel, monarca português.
Aceita-se, sem discussão, ser a
mandioca nativa no Brasil, no Nordeste e região central, sendo os povos tupi-guaranis responsáveis pelo domínio
comestível da mandioca, base da sua alimentação, espalhando-se para os demais povos
indígenas como os Cariri, no Ceará e os Jês, na Amazônia. No Brasil-Colônia, servia
de alimentação para índios, escravos e colonos. O Pe. Anchieta chamou-a de pão da terra. No século XX,
Câmara Cascudo referiu-se à mandioca, pelas suas qualidades nutritivas, como Rainha do Brasil.
Os historiadores dizem que os
bandeirantes em suas expedições iam plantando mandioca á medida em que
alongavam a marcha para o interior a fim de colhê-la na volta e assegurar o
abastecimento de farinha, chamada “de guerra”.
Os portugueses levaram a mandioca
para a África, onde se tornou importante
fonte de alimento, porém é aqui, neste lado do Atlântico, que há a maior
variedade de espécies dessa planta tão resistente e tão pouco exigente em
matéria de nutrientes do solo. Foi com
os índios que os portugueses aprenderam
a alimentar-se da mandioca e suas raízes, seguindo suas receitas como
beiju, angu, escaldado, paçoca e criando outras como bolos, broas, ampliando
assim, o imenso leque de opções culinárias e da nossa gastronomia. Processada
industrialmente para fabricação de farinhas, diversificando a nossa indústria
alimentícia.
CARACTERÍSTISTICAS BOTÂNICAS
Arbusto herbáceo, da família das
Euforbiáceas, cuja raiz, chamada tubérculo contém importante reserva de amido.
Planta com porte variável, dependendo do
tipo de ramificação com 1,50 a 3,00m de altura, caule delgado e ramificado, com
folhas caducas, de hastes ou pedúnculos longos com 30 a 40cm e podem apresentar
coloração que varia do verde ao roxo avermelhado. O limbo é do tipo digitiforme
e apresenta cinco a sete folíolos, de largura variável. As flores são
assexuadas, pequenas, amarelas, do tipo racimo, com as flores femininas
localizadas na base do órgão floral. A flor estaminada floresce seis a dez dias
antes das flores femininas, produzindo o néctar que atrai os insetos para a
polinização, notadamente a abelha produtora de mel e os insetos do gênero Melipona. Embora a protogenia impeça a
autofecundação no mesmo racimo, as inflorescências surgem, em épocas distintas,
nas axilas das ramificações ou nas extremidades dos ramos, o que permite o
cruzamento entre flores de uma mesma planta. Os frutos são cápsulas ovoides,
com três divisões que encerram cada uma, uma semente. Estas são de coloração
clara com manchas escuras, elípticas e têm na extremidade a carúncula. O
embrião é envolvido pelo endosperma rico em óleo. As raízes são tuberosas, com
forma, coloração e tamanho variáveis.
Geralmente são cilíndricas, cônicas ou fusiformes, polpudas, com casca pardacenta
e massa branca, podendo atingir até 1m de comprimento por 22cm de diâmetro. As
raízes adultas apresentam uma película de cor marrom, que se destaca facilmente
e pode ser prontamente substituída por outras camadas de células. Existe uma
associação entre a cor da película e a toxicidade, devida ao ácido cianídrico
derivado do glucosídeo linamarina que sofre a ação da enzima linasa.
A seiva da mandioca brava contém
ácido cianídrico e a raiz por ser altamente tóxica não pode ser comida em
condições naturais. A sua propagação é vegetativa, através de pequenos pedaços
do caule chamados ramas ou manivas.
CONDIÇÕES FAVORÁVEIS AO SEU
CULTIVO
A mandioca é uma planta tipicamente
tropical e pode ser cultivada numa faixa que vai de 30° de latitude N a 30° da
latitude S, geralmente em clima quente e
úmido, interrompendo-se o crescimento vegetativo em temperaturas inferiores a
10°C. As maiores produções têm sido
obtidas em altitudes abaixo de 1.500m, com temperatura média de 20°C. A
capacidade de resistir a períodos prolongados de seca, confere-lhe uma vantagem
especial sobre os cereais. Em climas com estações definidas, a mandioca
paralisa o desenvolvimento em condições de
temperatura e umidade baixas, entrando em período de dormência que pode
durar dois a três meses. Com o início das chuvas e elevação da temperatura,
volta a desenvolver-se. Os solos ideais são os silico-argilosos, de textura
arenosa, com bom nível de matéria orgânica. Em solos ácidos deve-se aplicar
calcário antes do plantio, para corrigir a acidez.
Por ser de ciclo evolutivo longo, sua
colheita é geralmente feita de 10 meses a três anos, após o plantio, devendo-se
cortar os colmos a 15 ou 20cm do solo para facilitar a extração ou arrancamento
das raízes.
VALOR NUTRITIVO
Apesar de rica em amido, a mandioca é
escassa em proteínas, gorduras e vitaminas. As raízes apresentem baixo teor proteico, porém as
folhas chegam a apresentar 185mg de proteínas; razoável teor de vitamina B¹, fósforo, ferro.
Na fração amido o principal componente é a amilopectina, que representa 80% de
carboidratos presentes na raiz, além de 70% de umidade, 22% de amido, 55% de
açúcar, 15% de proteína, 0,4% de lipídios, 15% de fibras e 0,5% de cinzas. Cem
gramas de mandioca fornecem 159 kcal., gorduras saturadas e monossaturadas
0,1g; 14 mg de sódio; 27mg de potássio;
21mg de magnésio; 0,3 mg de ferro; 16mg de cálcio; 38g de carboidratos;
1,8g de fibras; 1.7g de açúcar; 1,4g de proteínas. Os teores de vitaminas são
baixos como a vit. A com 13 IU; B6 com
0,1mg ou ausentes como as vitaminas C e B¹². Não apresentam albuminoides,
como o glúten e nem colesterol, podendo ser usada, sem causar problemas, em pacientes celíacos.
Os principais subprodutos obtidos
são: tapioca, polvilho, farinhas d´água e seca, de largo consumo pelas
populações mais pobres. Nos grandes centros a mandioca é industrializada,
extraindo-se produtos para o consumo quer como alimento ou como matéria-prima.
Na Culinária, aliou-se ao açúcar e ao
coco, fazendo parte da cozinha tradicional brasileira e na indústria de confeitaria, para fabricar bolos, tortas,
biscoitos, broas, sequilhos, roscas, pães. A farinha, o principal subproduto é
consumido in natura, na comida, farofa, purê, pirão, pandú, escaldado, angu, chibé, tiquara,
quibe, escondidinho, lasanha ou
misturado com café, leite, frutas como banana, manga, melancia, doces diversos
como o de leite. Pode ser consumida com carnes e peixes diversos, ovos fritos,
mariscos e aves como recheio de perus e
pernil de porco. O polvilho é usado para fazer bolos, biscoitos, sequilhos,
roscas, pão, mingau, cuscuz, beijus ou tapioquinha, pé-de-moleque e outras
guloseimas.
Costuma-se misturá-la com trigo na
fabricação de pão para reduzir a
importação do cereal.
A mandioca depois de ralada e
espremida, produz uma massa seca com a qual se produz a farinha e um líquido
que passa por processo de decantação, após várias lavagens, cujo resultado é a
goma ou tapioca molhada que depois de seca transforma-se em polvilho. Põe-se um
pano fino sobre a massa e sobre ele
cinza ou fubá para absorver a água contida na fécula. Os pequenos blocos
formados são postos sobre toalhas ou tabuleiros e dessecados ao sol. Pode ser
doce ou azedo, sendo que a primeiro resulta da goma fresca que passa por
secagem antes da fermentação, tornando-se insípida e inodora. O azedo é
produzida a partir da goma fresca, seca e posteriormente fermentada, gerando um paladar azedo e bem mais valorizado.
O polvilho, além de ser utilizado
para preparar mingaus pode ser usado como goma para engomar roupas.
A tapioca é obtida quando o polvilho
ainda está úmido, passando em peneiras grossas e secando em fogo brando. É
leve, nutritivo e usado para fazer bolos, pudins.
Como não existe unanimidade,
principalmente em relação ao valor nutritivo e curativo das plantas, há uma
corrente que defende o uso da tapioca em nosso cardápio, pois o alto teor de
amido, da massa resultante da extração da mandioca, consegue-se uma goma ou polvilho que ao ser espalhada sobre uma superfície aquecida, transforma
se em tapioca. Esta forma um carboidrato com razoável concentração de
aminoácidos, determinado tipo de fibra, ferro, cálcio e fósforo, além de
vitaminas do complexo B e uma boa quantidade de potássio. Embora a tapioca
tenha um alto índice glicêmico, a goma por ser composta predominantemente de
fibras insolúveis, atua como um escudo à absorção de açúcar. Justamente por ser
um tubérculo, modula uma secreção de moderada para baixa em termos de carga
insulínica, de liberação lenta. Por conseguinte, torna-se uma opção bem vinda
aos portadores de Diabetes I e II. e, por ter uma boa densidade de glicose
auxilia o aumento de serotonina no cérebro, neurotransmissor associado à
sensação de bem estar e prazer.
Outra corrente, no entanto, recomenda
que a tapioca seja enriquecida, pois embora sem glúten e com 0% de colesterol,
a sua massa não é absolutamente nutritiva por ser formada basicamente por
carboidratos, gerando em 50g 68kcal e apenas 1,6g de proteínas.
TIPOS DE FARINHA
A mandioca depois de ralada e
espremida produz uma massa seca e um líquido. A farinha se origina da massa,
após o processo de torrefação em forno.
Os tipos de farinhas mais comuns no Nordeste
são a farinha seca, branca com grãos finos e a farinha d´água, mais procurada,
além da uarini e surui. A farinha dágua é amarela-creme apresenta textura grossa com
grãos resistentes, utilizada pelas populações de baixa renda, para substituir o
arroz e o pão. Atualmente com os preços elevados, decorrentes da carência de
braços na lavoura da mandioca, e dificuldade para fazer um produto de melhor
qualidade, não é encontrada com facilidade. As mais solicitadas são a de
Carema, produzida no povoado de Areias, município de Santa Rita e a Biriba,
fabricada no interior de Pinheiro, nos povoados dos Pirrós, Bacabal e
Tatuzinho. Na Biriba de cor amarelo quase creme, os grãos tem o mesmo tamanho,
é mais torrada e também mais gostosa. Entretanto a mais conhecida, por ser mais
antiga e encontrada em vendas na BR 135 é a
de Carema, mais amarela, mais
leve e menos saborosa.
Outro tipo de farinha usado por povos
indígenas, a farinha de carimã é muito parecido com o processo usado para
obter-se a farinha d´água, deixando a massa vários dias em água corrente,
lavá-la para retirada da casca, usa-se uma peneira grossa até passar toda a
massa. O depósito do fundo da vasilha é decantado até perder o odor
desagradável. Depois fazem-se bolos
obtidos do sedimento que são postos ao sol para secar.
MÉTODOS UTILIZADOS
A técnica de obtenção dos dois tipos
de farinha diferem, sendo que para produzir
a farinha d´água a mandioca deve passar uns dias de molho em água. Após o
cozimento a farinha tem dez vezes mais vit. A do que a obtida da mandioca na
época do descobrimento.
Outros produtos a partir da mandioca são: tapioca de vários tipos e texturas. A do Pará parece
sagu, com grânulos maiores e usada para acompanhar o açaí. A nossa, do Maranhão,
se distingue em um tipo para bolos e outro para beijus. O polvilho, mais fino
também pode ser azedo, para fazer pão de queijo e bolo podre e o doce, usado na
confecção de biscoitos, sequilhos. Há ainda a farinha mimosa ou branca, de
excelente qualidade e usada na preparação de papas e mingaus para crianças,
idosos e convalescentes.
Há uma infinidade de pratos e bebidas
feitos com mandioca que são usados pelos povos indígenas de várias regiões:
angu, tiquara, chibé, pirão ou escaldado, pandu, caxiri, cauim com amendoim,
aaru (com tatu moqueado), giroba (tipo de cauim), arumbé (com pimenta, kanapé
(espécie de pão redondo), manipuera, pisaregue, paparuto. Chama-se, também
manipueira a água que sai das lavagens da mandioca e impróprias para alimentar
animais, representa 25 a 35% de mandioca. Usada, com restrição, como defensivo
agrícola, vinagre e adubo. É rica em cálcio, enxofre, fósforo, ferro, magnésio,
nitrogênio, potássio e zinco.. Com as folhas faziam o ki-pu e usadas, também
como forragem na alimentação do gado.
No Pará, um dos principais pratos,
além da maniçoba e tacacá é o pato no tucupi. Este é o líquido que escorre da
massa prensada da farinha puba que depois de fervida, transforma-se em
substância xaroposa e escura – tucupi preto. Depois de temperar com sal,
pimenta a alho e exposto ao sol transforma-se no tucupi amarelo, simples ou
pode ser fervido. Às vezes fico
imaginando quantas centenas de índios morreram para finalmente descobrir-se
como neutralizar o ácido cianídrico.
DISTINÇÃO ENTRE A MANDIOCA E A MACAXEIRA
DISTINÇÃO ENTRE A MANDIOCA E A MACAXEIRA
Sob o ponto de vista comercial, a
mandioca tem uso industrial podendo ser usada não só na indústria alimentícia,
como na produção de celulose, álcool,
tiquira, cola, corantes, enquanto o consumo da macaxeira é doméstico. Quanto à
toxicidade, a mandioca não pode ser consumida in natura devendo ser
processada, pelos elevados teores de ácido cianídrico, superiores a 50ppm. Esse
ácido possui um íon de ferro que combinado com o sangue bloqueia a recepção de
oxigênio, causando asfixia.
A casca da macaxeira é avermelhada na
frente, mais fina podendo ser descascada à mão. As folhas são mais alongadas e afuniladas
verdes assim como suas hastes, enquanto as da mandioca, as folhas e hastes são
vermelhas com veios verde-escuros e uma parte mais abaulada na extremidade. A
casca é mais grossa de cor marrom.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
De grande relevância econômica é a principal fonte de carboidratos para
milhões de pessoas, principalmente de países em desenvolvimento. O Brasil
possui 2 milhões de hectares plantados o
que o torna um dos maiores produtores do mundo, com 90 milhões de toneladas. No
Nordeste é associada a outros cultivos de ciclo curto como feijão, milho, gergelim, amendoim.
A demanda por sua fécula ou amido tem
crescido de forma substancial, principalmente para o setor de panificação para
misturar com o trigo, reduzindo as importações.
Para melhor aproveitamento da
mandioca estão sendo utilizadas técnicas junto a órgãos ligados ao
desenvolvimento agrícola, o que tem ampliado a produção em até 30 toneladas/ha
principalmente entre populações quilombolas.
Da mandioca prepara-se a tiquira,
bebida muito utilizada entre nós e até exportada.
MÉTODO ARTESANAL PARA O PREPARO DA FARINHA
O método aqui descrito é utilizado na
Fazenda Canaã, município de Bequimão, cujo proprietário Fransoufer, emprega ainda equipamentos muito
rudimentares, como o fazem nossos índios:
“No início das chuvas planta-se a
maniva, pequenos pedaços do caule da planta. Até a colheita fazem-se duas
capinas, a primeira no primeiro trimestre após o plantio e a segunda no 5º mês.
Nesse período podam-se os galhos adventícios para não tirar a força da plante e
que servem de ração animal ou cozidas, como verduras, para o lavrador. Essa
operação chama-se dicotar. Nove a dez meses depois está no ponto de arrancar
seus tubérculos, usando-se um boi-cavalo com cangalha para carregar os caçuás
com a mandioca colhida.
Todo esse trabalho é feito por
mutirão, envolvendo 10 a 12 pessoas; o trabalhador não é assalariado, recebendo
cotas da farinha produzida.
Quando se pretende fabricar a farinha
d´água, as raízes são acondicionadas em saco de aniagem ou nylon e postos num
riacho para apodrecer e se tornar puba.
Depois, então, retiram-se as cascas que
se soltam com facilidade, e a polpa é levada para a casa de forno para ser
amassada e posta num tipiti, pendurado num pau de sarilho. O líquido que
escorre numa gamela colocada embaixo é descartado, jogando-se em área não
frequentada por animais, por ser muito tóxico. A massa após compressão é transferida para uma gamela onde é
peneirada, separando-se a caroeira, que contém fiapos, grânulos, impurezas e é
utilizada na alimentação de animais. O material peneirado vai para um forno de
barro, pré-aquecido. Daí pra frente a operação fica sob a responsabilidade da
forneira encarregada de mexer a farinha, sem parar, até chegar ao ponto. Após resfriamento a
farinha é acondicionada em paneiros feitos com palha de babaçu e forrados com
folhas de guarimã, que a mantém seca e fresca por vários meses.
Já para fazer a farinha seca, o
processo é um pouco diferente: a mandioca colhida vai para a casa de forno com
as cascas que são raspadas por alugados que se agrupam ao redor do esteio,
munidos de uma faquinha. As raspas são aproveitadas para ração animal. Depois
de ralada é levada para um caititu, espécie de bolandeira com roda e manivela
movida à tração humana. Só aí a massa obtida é levada para o tipiti para espremer.
O líquido resultante é usado para extrair a tapioca, após muitas lavagens. O
líquido obtido inicialmente é usado para obter o tucupi. Após a prensagem,
a massa é peneirada e vai para o forno
onde é mexido continuamente, até obter o ponto, dando alguns estalos.
Acondiciona-se a farinha branca obtida em paneiros, seguindo o processo usado
para a farinha d´água. O sedimento das lavagens sucessivas é posto em esteiras
e expostas ao sol para secar. Depois de completamente dessecada, quebram-se os
torrões e passa-se em peneiras de diversas malhas, de acordo com a tapioca que
se deseja. Numa só fornada é possível produzir 20 k de farinha. A macaxeira,
também se presta para a produção de farinha, mas as pessoas preferem comê-la
cozida ou assada. Em menor escala, pode
ser feita em tachos sobre fogão á lenha.”
A digestibilidade da farinha d´água é
melhor, pois ao ser posta na água já sofre pre-digestão pelas bactérias
fermentativas.
DISTRIBUIÇÃO
GEOGRÁFICA
A mandioca em menor ou maior
quantidade é cultivada em quase todas as regiões do mundo, exceto a Europa e a
América do Norte. Na África os maiores produtores eram o Zaire e a Nigéria, equiparando-se à Indonésia. O
Brasil, até a década de 1980 foi o maior produtor e exportador. Atualmente a
Nigéria é o maior produtor mundial. Atualmente cerca de 100 paises cultivam a
mandioca. Muito utilizada pelas populações pobres da Colômbia e das Filipinas.
Os estados brasileiros onde a produção é maior
são: Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Ceará, Maranhão, Minas Gerais,
Pernambuco e São Paulo. Só na Amazônia existem atualmente 130 variedades de mandioca que são preservadas intactas, pela EMBRAPA, sem cruzamentos, como
repositório de estoques genéticos importantes de serem preservados para a própria
economia indígena.
A LENDA DA MANDIOCA
Há várias lendas sobre a Mandioca,
dependendo da tribo indígena. Escolhi esta por ser a mais conhecida:
“Maní, criança índia faleceu
repentinamente de doença misteriosa, sem dor nem sintomas. Foi sepultada dentro
da própria casa, sendo seu túmulo regado diariamente conforme o costume
indígena. Decorrido algum tempo, brotou da cova uma planta que era desconhecida
pela tribo e por essa razão deixaram-na desenvolver-se. Quando atingiu certa
altura, a terra em torno dela fendeu-se e ao cavarem junto às raízes, julgaram
reconhecer nos tubérculos, o corpo da pequena Mani. Comeram os tubérculos e
batizaram a planta de mandioca (casa de Mani). Daí deriva o nome maniva,
alimento básico das populações pobres.
Dentre os heróis civilizadores dos
povos primitivos, Mani é um dos raros
que se apresenta sob a forma infantil.
A
FARINHA NA MPB
Como alimento de populações
interioranas é natural que a farinha seja um dos temas mais escolhidos no nosso
cancioneiro popular: carimbó de Pinduca, baião Farinhada de Luiz Gonzaga,
Farinhando de Joana Bittencourt e muitos outros ritmos, exaltando esse produto
que alimenta nossa população.
TERMINOLOGIA USADA NESTE TEXTO
Cofo – tipiti – caititu – bolandeira
– peneira – pau de sarilho – puba – carimã – cangalha – caçuá.
Paneiro: balaio de tramas largas
feitas de talas de marantáceas.
Devida a extensão do texto não
descreveremos cada artefato usado na produção artesanal.
AGRADECIMENTOS
- Ao meu marido Fransoufer, pelas
informações detalhadas sobre os processos usados na sua fazenda, desde o
plantio até a fabricação da farinha.
- Á amiga Malu pelas informações
enviadas on-line.
- À confreira Joana Bittencourt,
presidente da APLAC, pela canção de sua autoria apresentada no Festival de
Música Popular em Pinheiro.
- Ao Dr. Marco Antônio Teixeira, juiz
de Direito com propriedades no sul do Maranhão, por repassar-me alguns termos
usados naquela região.
- Editor: Thiago Silva Prazeres
- Editor: Thiago Silva Prazeres
Infelizmente as pessoas não gostam de assuntos sérios!
ResponderExcluirGostei muito da matéria. Sou uma apreciadora de tudo feito com macaxeira e das farinhas de mandioca, tanto a d"água quanto a seca. Aprecio uma boa farinha especialmente a biriba, com a comida, como farofa, em um pirão e na velha tiquara com leite ou juçara para comer com carne de sol ou camarão seco. Gosto de farinha até com doce de leite ou manga madura. Quem nunca comeu uma farofa de ovo feita no azeite de côco, não sabe o que está perdendo.
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