ORIGEM DA MAMONEIRA
O óleo de mamona, rícino, carrapato ou castor oil possui uma enorme versatilidade química no ramo industrial.
Mesmo antes de conhecer-se todos os
seus usos fora sempre um dos óleos mais procurados, obtido pela compressão das
bagas de plantas da família das Euforbiáceas, com algumas variedades
entre as quais – Ricinus communis, também conhecida por
mamoneira-comum ou branca; R. viridis ou mamoneira-verde; R. sanguineus
ou mamoneira-vermelha; R. communis minor ou mamoneira-anã. São conhecidas vulgarmente pelos nomes de
carrapateira, palma-cristi ou rícino.
De extraordinária adaptabilidade,
essa euforbiácea é encontrada em quase toda a região povoada do país, onde
cresce com um vigor e uma tenacidade só comparáveis às das plantas nativas mais
comuns e mais invasoras. Não se sabe a época em que foi introduzida no Brasil pelos
portugueses, pois é originária do Norte da África, provavelmente da Abissínia,
e da Índia Ocidental. Nas regiões tropicais, subtropicais é considerada planta
perene que vegeta por quatro a cinco anos;
nas regiões temperadas mais quentes, comporta-se como planta anual, pois
seu comportamento é limitado no inverno. O óleo extraído de suas sementes é
usado desde a Antiguidade, tanto em medicina popular como em candeias para
iluminação.
No Brasil foi descrita, em 1587, pelo
cronista português Gabriel Soares de Sousa, trazida pelos portugueses, para
lubrificar os eixos das carroças. O nome mamoneira assim como mamoeiro deriva,
provavelmente de mamão pela forma de teta do fruto e por segregar uma
substância leitosa. A denominação palma-cristi ou mão de Cristo por causa de
suas folhas em forma de palmas e seu incrível poder de cura. As suas sementes
se agrupam nos frutos com aparência de cabecinhas. Rícino deriva do latim itina que significa inseto, por suas
sementes serem parecidas com besouros ou ricin,
do inglês por para designar uma planta que possui uma substância tóxica chamada
ricina, nomenclatura essa usada a
partir de 1694. A denominação mais comum é Carrapateira devido à forma de carrapatos. Na África é denominada
abelmeluco.
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
A mamoneira é uma planta ruderal, anual, própria das zonas tropicais e subtropicais. No Brasil ocorre com grande frequência em terrenos baldios, ricos em matéria orgânica e nos quintais das casas. Prefere clima quente e úmido na fase de desenvolvimento e seco na colheita.
O gênero Ricinus é monotípico e compreende tão somente as espécies
referidas. A mamoneira é um arbusto lenhoso de 2 a 3m de altura, copado,
monóico, anual nos países extratropicais e plurianual nos tropicais. Suas folhas são longamente
pecioladas, palmatipartidas, com 5 a 12 lobos agudos de bordos serreados. As hastes são geralmente cobertas
por uma substância cerosa, branca que lhes dá uma cor azulada ou opaca. Algumas
variedades são desprovidas dessa substância, de modo que têm hastes brilhantes,
que mostram sua verdadeira coloração. As inflorescências são cachos que na
parte basal trazem as flores masculinas com estames multirramificados, enquanto
as femininas ficam na parte apical. Os frutos
são cápsulas triloculares, com espinhos embora apresentem variedades
inermes, deiscentes, isto é, abrem-se quando maduros, com uma semente em cada
carpelo, deixando cair as sementes que são projetadas à distância considerável.
As sementes apresentam, no albume, corpúsculos de reservas nutritivas,
denominados grãos de aleurona que tem no seu interior duas estruturas: uma
subapical ou globóide e outra sub-basal ou cristaloide, rajadas de branco,
cinzento, castanho, preto ou de vários matizes de vermelho. O tegumento
representa 20 a 25% do peso da semente; o resto é constituído pelo endosperma e
pelo embrião. Pode ser cultivado em jardins para fins ornamentais.
A mamoneira é planta que cresce e se
desenvolve bem em terras férteis e de boa drenagem, considerada esgotante, pois
retira do solo apreciável quantidade de elementos minerais, não somente das
camadas superficiais, como também das mais profundas, pois apesar de possuir
raiz pivotante, o seu sistema radicular se distribui por um amplo espaço.
Quando cultivada pode ser usada nos projetos de rotação, principalmente após
milho, algodão ou qualquer outra leguminosa.
COMPOSIÇÃO
QUÍMICA
O Rícino é um óleo extraído das bagas da mamoneira. Na região Nordeste do Brasil a planta é conhecida como carrapateira. Há muitas variedades, mas para as condições do nosso clima as mais recomendadas foram selecionadas pelo Instituto Agronômico de Campinas, que importou algumas variedades de Israel que frutificam em condições satisfatórias.
Das sementes extrai-se por pressão 30
a 50% de óleo o qual a 15ºC tem 0,960 a 0,964 de densidade; o índice de
saponificação é 181; o de congelação
-18º e 84 de iodo. É solúvel no álcool e no ácido acético cristalizável e
insolúvel no éter de petróleo. Referido óleo é composto por ésteres de
glicerina, misturados com triglicerídeos.
Citado em antigos textos sânscritos,
assim como pela Bíblia. Também nos Papiros de Ebers (1.500 anos a.C.) Na Grécia
Antiga, usavam-no com o nome de aporano
e tanto os egípcios como os cartagineses dele fizeram uso. O óleo foi
encontrado nas pirâmides do Egito, com cerca de 4.000 anos sendo, provavelmente um dos componentes
para a mumificação.
São múltiplas as suas finalidades,
tendo sido empregado na iluminação por muitos povos, desde a Antiguidade. Cerca
de 400 itens são resultantes do processamento do óleo de rícino. Na Medicina
tem aplicações remotíssimas e a ricina, uma
glucoproteina que contém uma albumina tóxica, torna-o purgativo, após ser
hidrolisada pela lipase do duodeno, liberando ácido ricinoleico de efeito
catártico. Além da ricina contém um
alcaloide ricicina, fitotóxicos
presentes no óleo e na torta. A ricina é
uma glicoproteína formada por duas correntes: uma que inibe a síntese de
proteína, levando à morte celular e a outra que serve para ligar a proteína à
superfície da célula. A ricicina,
alcaloide altamente tóxico é encontrado nas folhas e nas sementes. O óleo de
rícino contém também óleos oleicos, linoleico, esteárico,
linolênico, palmítico, ácido dihidroxisteárico, riglicerídeos, ácido
ricinoleico, lipase complexo alergênico. Tratadas a vapor, as toxinas ficam
desnaturadas.
Os resíduos do
beneficiamento contém, em média, 1,91% de ácido nítrico; 0,28% de óxido
fosfórico e 3,02% de potássio.
Constituem excelente adubo.
A extração do óleo pode
ser feita a frio e a quente, por compressão. O óleo com finalidades
industriais é extraído a quente,
enquanto o medicinal é a frio. As bagas têm cerca de 50% de óleo e seu
rendimento pode chegar a 60% em climas quentes e menos de 50% em climas
temperados. No processo da extração pelo
calor ou com calor combinado com exposição a alcaloides, obtém-se subprodutos
usados na fabricação de perfumes ou ácidos empregados na síntese de resinas e
plastificantes. O óleo possui 1,6% de
ácido fosfórico, 5,2% de óleo; 49,4% de fibras e carboidratos; 15% de cinzas e
9,1% de água. Após processamento químico especial para eliminar as toxialbuminas
que contém, torna-se uma forragem concentrada e de excelente qualidade, usada para engorda de porcos.
O óleo possui
características químicas que o tornam especial, pois é composto quase 90% de
ácido ricinoleico que contém uma hidroxila que o torna solúvel em álcool à
baixa temperatura. É muito viscoso e com propriedades físicas específicas.
OBTENÇÃO DO BIODIESEL
O ramo da Química que usa a mamona como matéria-prima denomina-se Ricinoquímica e é muito diversificado. A possibilidade de produção de biodiesel criou um novo mercado, absorvendo grande parte da produção mundial, além da importância social pois emprega muita mão-de-obra de trabalhadores rurais, principalmente no plantio, controle de ervas daninhas e na colheita.
O biodiesel é um combustível similar ao diesel derivado
do petróleo, com a vantagem de ser extraído de óleos vegetais, portanto
renovável, obtido de fonte limpa e segura, em grande quantidade e por preço
razoável. Produzido em pequenas usinas a partir da reação de transesterificação,
resultante da mistura de óleo com álcool em presença de um catalisador
alcalino. O álcool pode ser etanol ou metanol, dando-se preferência para o
etílico, obtido na natureza. Dessa reação além do biodiesel resulta a glicerina
usada na indústria farmacêutica e de cosmético. Para cada 100 l de biodiesel
são produzidos 10 a 15l de glicerina. Embora relativamente simples a sua
produção deve ser feita obedecendo rigorosamente padrões de qualidade para não
prejudicar o funcionamento dos motores.
É bem mais vantajoso
tanto pela sustentabilidade quanto pelo aspecto econômico. Gera baixos índices
de poluição e por ser energia renovável, depende só do plantio de oleaginosas
no campo, diminuindo o êxodo rural e gerando emprego e renda do campo. A desvantagem
é que necessita de grandes áreas agrícolas para cultivo, concorrendo para o
desmatamento e redução das reservas florestais.
Alguns químicos avaliam
que sob o ponto de vista tecnológico, a produção de biodiesel à base de mamona
criou um conceito científico em relação à vida útil dos equipamentos
utilizados. Argumentam que corroe os pistões, o que pode ser evitado se forem
cobertos com alumínio, aumentando o custo da produção e inviabilizando o
processo mecânico. Entretanto, ao contrário das demais oleaginosas a agregação
de valor na cadeia da mamona é reduzida. O óleo de rícino é o 2º óleo vegetal
mais cotado internacionalmente e o seu preço desconsidera os fatores de
produção bastante superior ao do diesel
mineral. Para suprir a demanda de biodiesel, a ricinocultura ocuparia uma área
de 530mil hectares.
Para obter melhores e
mais detalhadas informações, acesse o link: www.biodiesel,gov,br. do Programa Brasileiro de
Produção de Diesel.
Um hectare de mamoneira rende 750kg de óleo.
Os estados de maior produção no Brasil são: Bahia, Pernambuco, Ceará, Minas
Gerais e São Paulo.
IMPORTÂNCIA INDUSTRIAL
Na Indústria é usado para fazer sabão, assim como sabonetes. Tem larga utilização em perfumaria, principalmente na fabricação de unguentos e pomadas. Usa-se também, em curtumes para amolecer couros e peles, assim como na produção de tintas, vernizes, pergaminhos, máscaras contra gases. A demanda pelo óleo vem crescendo significativamente na indústria como lubrificante de grande eficácia em motores de elevada rotação e alta velocidade, por ser viscoso e ter grande aderência mesmo em temperaturas elevadas, ser pouco solúvel em gasolina, não deixar resíduos e congelar-se em baixíssima temperatura. Superior aos óleos minerais na lubrificação de motores de avião.
O consumo de óleo de mamona tem
aumentado consideravelmente com regularidade. China, Índia e o Brasil são os
maiores exportadores, seguidos dos EUA, da França e Reino Unido. Inicialmente o
Brasil exportava quase toda a sua produção de bagas. Nas últimas décadas passou
a industrializar parte da sua produção.
Compõe fios e tubos de carros,
aviões, linhas telefônicas, ceras, lubrificantes, tintas, materiais elétricos, filtros
industriais. Usado, também para recapear pneus usados, com a massa do polímero,
resultando um pneu novo. Substitui placas de gesso em casos de fratura, bem
mais conveniente durante os banhos. Óleos hidrogenados, detergentes, ceras, plastificantes,
protetores, óleos desidratados, lubrificantes de superfície, óleo de corte,
fluido hidráulico, usado na indústria
têxtil como Nylon 6-10 e a partir do metilricinoleato, como Nylon 11, usado na
indústria automobilística e aeronáutica. Após desidratação torna-se secativo.
Já foram publicados quase 500
trabalhos de pesquisa, incluindo teses de mestrado e doutorado, geralmente
apresentados em eventos patrocinados pela Petrobrás, Embrapa e governo de
Sergipe, em Congresso Brasileiro da Mamona.
Na indústria de Cosméticos é muito
solicitado por suas propriedades emolientes, penetrando na pele estimulando a
produção de colágeno e elastina, prevenindo a formação precoce de rugas,
fabricação de batons e vaselina. Usado, também para acne, dermatites, pele
seca, furúnculos.
A resina obtida da mamona surge como
uma boa promessa na área de estética, com a produção de fios finos para
amenizar rugas de expressão e combater a flacidez da pele. Substitui com
eficiência superior, os fios de polipropileno derivados do petróleo e
sintetizados na Rússia. O de mamona não apresenta rejeição.
A fábrica Sanbra da Bahia processava
mensalmente milhares de toneladas de óleo, advindos de campos de cultivo de
mamoneira de Irecê, Senhor do Bonfim e Jacobina, cuja produção era totalmente
enviada para a Europa.
Além do óleo a mamoneira devolve ao
solo 20 toneladas de biomassa. Suas folhas servem de alimento para o
bicho-da-seda. Do caule extraem-se celulose e papel.
VALOR
NUTRITIVO E MEDICINAL
Na China o Ricinus é usado na alimentação após purificação para retirar seus princípios acres e irritantes. Nas Molucas, Java e também na China, o empregam em mistura com o cal obtendo uma argamassa, semelhante ao betume para calafetar as embarcações.
Além desses empregos, utiliza-se na
indústria farmacêutica, em manipulação de certos purgativos, como desobstruente
intestinal. Por ser tóxico pode provocar aborto. Usado em iluminação, como lubrificantes
e os seus resíduos para adubo. Começou a ser utilizado como lubrificante há pouco mais de um século, principalmente nas
estradas de ferro inglesas da Índia. No Rio de Janeiro em fins do século XIX
foram instalados vários gasômetros para
fornecimento de iluminação, a partir do óleo de mamona. Também nas jazidas de
ouro de Minas Gerais, demostrando ser superior aos óleos minerais.
Na indústria alimentícia, devida à
alta toxicidade da ricina, é pouco utilizado, salvo como aditivo alimentar,
aromatizante, conservante de chocolates, doces e suas embalagens.
EMPREGO
EM MEDICINA POPULAR
O azeite de carrapato, extraído artesanalmente antes da purificação é usado sob a forma de unguentos para aliviar as dores de lesões articulares, musculares, dores nas costas; enfartamento ganglionar, verrugas, alergias. Dores de ouvido, entorses, dores de cabeça, doenças de pele. Após refinamento é usado, em gotas, para aliviar cólicas, queixas digestivas, hemorroidas (chá das folhas para banhos de assento); problemas de fígado e vesícula, distúrbios do sono, hiperatividade. Estimula o sistema imunológico, coadjuvante no tratamento da esclerose múltipla, paralisia cerebral, artrite reumatoide, mal de Parkinson.
Na antiga Grécia era usado como antiinflamatório,
antioxidante e, adstringente. Também
para queda de cabelos, constipação intestinal, como laxantes, micoses,
distúrbios menstruais, acne, enxaqueca, queimaduras solares.
Adesivos, bactericidas, fungicidas.
Também como vaso-dilatador periférico, retirando as células mortas das feridas
e estimulando o crescimento de novas. Aumenta a contração uterina de
parturientes, associado a outros medicamentos.
O RÍCINO, DO ANONIMATO PARA PRÓTESES EM MEDICINA
O RÍCINO, DO ANONIMATO PARA PRÓTESES EM MEDICINA
Da mamona se extrai um polímero que sintetizado transforma-se num biopolímero que tem capacidade de interação com as células do corpo humano e não provoca casos de rejeição. Essa pesquisa foi desenvolvida pelo prof. Gilberto Orivaldo Chierice, do Instituto de Química da Universidade de São Carlos – USP, recebendo a patente pela FDA (Food and Drugs Administration), responsável pela liberação de novos alimentos e medicamentos.
Desde 1991, esse biomaterial vem sendo testado no Brasil, sendo aprovado 8
anos após as pesquisas. Milhares de pessoas vítimas de acidentes automobilísticos,
por motocicletas, armas de fogo e tumores já foram beneficiadas com próteses
para substituição de ossos, como da mandíbula, da face ou mesmo do crâneo;
também como suporte na coluna cervical, testículos, pênis, globos oculares e
até gengivas. O sangue infiltra-se nos poros das peças implantadas,
substituindo no espaço de dez anos as células ósseas, pois as cadeias de ácidos graxos da mamona tem
estrutura semelhante a que existe na gordura.
Os testes químicos e biológicos
referentes à citotoxicidade foram custeados pela empresa Doctors Research
Groups de Plymounth em Connecticut, distribuidora exclusiva nos EUA e Canadá.
Nos EUA recebeu o nome de RG Kriptonita,
para lembrar o planeta-origem do Super-Homem.
O Poliquil é exportado em kit contendo 2 ampolas do poliol e
pré-polímero, extraído das sementes da mamona, mais carbonato de cálcio.
Funciona como regenerador de ossos.
No INCOR faz-se com o polímero coração
artificial extracorpóreo para ser usado por pacientes enquanto aguardam um
transplante cardíaco.
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Diogo Gualhardo Neves pela sugestão do tema.
Ao primo Murilo Mário Serra Durans,
pelas informações referentes à produtividade da mamona e processamento do óleo
na Bahia.
- Editor: Thiago Silva Prazeres
- Editor: Thiago Silva Prazeres
Professor Camilo, um químico goiano já falecido, falava tão bem da mamona e de seus subprodutos. Por causa e sua orientação sempre procuro informações relevantes, tais como este artigo.
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