“ ... vivendo lá na Baixada, imersa
nos palmeirais que ostentam sempre incessantes
tua riqueza em babaçuais...”
Segundo Câmara Cascudo (1954), o
capuchinho Claude d´Abeville, quando veio ao Maranhão com os invasores franceses,
em 1612, encantou-se com a beleza e diversidade da nossa flora, comparando os
babaçuais ao próprio paraíso terrestre, ressaltando a importância do coco na
alimentação dos nativos.
Oficialmente as primeiras referências
sobre a palmeira babaçu datam de 1820, porém pouco se sabia
sobre a utilidade de suas amêndoas.
Até 1908, os relatórios sobre o
Brasil, suas riquezas naturais e atividades industriais, das séries Estatísticas Retrospectivas. Tomo
I – Indústria Extrativa, da Confederação Nacional das Indústrias e relançados pelo IBGE em 1986, não faziam
referência ao babaçu.
Apesar de conhecida desde os
primórdios pelos índios, seus descendentes e populações interioranas, para extração rudimentar do leite, palmito e
do óleo para atender a várias finalidades, somente no início do século XX começou a ter importância, sob o ponto de vista econômico, quando foram feitas as primeiras exportações
para a Alemanha.
Antes da I Guerra Mundial, o babaçu
era apenas uma das altas e belas palmeiras do nosso estado que realizava, como
a carnaúba o faz no Nordeste, uma função providencial. Das palmas da pindoba ou
palmeira nova, o nosso caboclo faz ainda nos dias atuais a cobertura de suas
choupanas, seus cofos, cestas, peneiras,
urupemas, abanos, gaiolas, armadilhas, esteiras e as meansabas para cerrar portas e janelas. Também cercas e abrigos para animais
domésticos. O palmito, nessa época
liberado, era usado como ração de animais, enquanto as amêndoas eram
aproveitadas na alimentação humana. Na Amazônia era usado para defumar a
borracha.
Mas a guerra europeia com as suas
prementes necessidades de matérias-primas determinou o advento industrial de
muitos produtos novos e, entre eles, o óleo de babaçu. Antes, anônimo e
ignorado, esse fruto tornou-se imprescindível adventício no meio econômico. Só
a partir da I Guerra Mundial, com a acentuada escassez de óleos vegetais nos mercados europeus e
norte-americanos, o babaçu firmou-se como opção para substituir os óleos até
então utilizados. Já iniciadas com a Alemanha, as exportações ampliaram-se para
a Holanda, Portugal e mais tarde para a Dinamarca. Isso acarretou uma subida de
preço das amêndoas, com expansão das áreas de extração e uma procura mais
urgente de regiões com maior potencial produtivo.
O Maranhão cognominou-o de “ouro
marrom” e como seu principal produto de extração, foi um dos estados mais
beneficiados com essas demanda resultante do conflito europeu, pelas vastas
áreas de babaçuais ainda não devastadas. Fundamental para mudança do eixo
econômico do Itapecuru para o Mearim e Pindaré que possibilitou a criação de
vários municípios como Bacabal. Essa grande demanda foi recebida festivamente,
como promessa de um novo reaquecimento econômico, pois à essa época, as terras
já haviam se tornado improdutivas, exauridas pelo cultivo do algodão, arroz e
cana-de-açúcar.
Entretanto, com a subida dos preços e
ofertas, a produção começou a enfrentar sérios entraves, tais como dificuldade
para obtenção das amêndoas ainda feita de modo primitivo, carência de vias de
escoamento sem estradas e com a precária situação da navegabilidade dos nossos
rios. Proporcionou alguns anos de prosperidade, enriquecendo atravessadores e
industriais, mas desviou o lavrador de suas culturas tradicionais,
principalmente do algodão, cujo trabalho é mais extenuante e intermitente.
Sofreu, também, a concorrência, por seu preço elevado, em relação a outros
óleos nacionais e estrangeiros. A falta de capitais empatados nas fábricas
têxteis em processo de decadência, somada
à ausência de financiamento por parte da União, impediram a formação de
um complexo industrial de óleos. Mesmo no Sudeste as usinas especializadas não
absorviam senão uma parte da produção dos nossos cocais, sempre na dependência
das oscilações do mercado internacional.
O sonho de riqueza para o Maranhão
novamente não foi concretizado com o extrativismo de forma intensa, embora a
amêndoa continue a ser até os dias presentes, requisitada pela indústria oleaginosa.
O caso do babaçu foi igual ao da
borracha na Amazônia, que apesar de grandes rendimentos auferidos, não conseguiu
deslanchar, pela desorganização econômica, gerando grandes decepções. Outras
atividades, como a monocultura passavam também, por crises, mas pelos hábitos e
métodos de trabalho que estimulavam, davam às populações certa segurança e a
possibilidade de sobreviver em circunstâncias desfavoráveis. Quando se compara a atividade extrativista com a rural,
constata-se que esta é menosprezada em detrimento
da obtenção de riqueza mais fácil obtida das matas. No entanto, é sempre a
lavoura que vem restaurar o organismo social combalido. Segundo Rego (2006),
“as práticas extrativistas e ecologicamente sustentáveis usadas para explorar
os recursos naturais dependem do nível tecnológico, das formas de organização
social, assim como as determinadas pelos
elementos sociais. A cultura das populações ou comunidades é o cimento que dá
unidade ao ambiente social extrativista.”
CONCEITUAÇÃO E CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
O termo babaçu designa tanto a palmeira como a amêndoa
retirada de várias palmáceas dos gêneros Orbignya,
Attalea, Maximiliana e Scheelea,
de valor comercial e industrial.
Babaçu é a denominação
comum a várias espécies de palmeiras autóctones do Brasil, também conhecidas por aguaçu,
coco-de-macaco, coco de palmeira, coco-naiá, coco-pindoba, coco-de-rosário. A
sua importância decorre das suas amêndoas
oleaginosas, sendo as palmáceas mais conhecidas, a Orbignya speciosa ou O. martiana,
O. olífera e O.phalerata.
Em 1850, Martius classificou-a como Attalea speciosa; posteriormente Barbosa Rodrigues, em 1898, verificou que
o babaçu pertence realmente ao gênero Orbignya.
Apesar de serem conhecidas várias espécies a O. speciosa que tem
frutos menores é a mais explorada no norte do Brasil, enquanto O. olifera,
de frutos maiores, ocorre nos estados do
Tocantins, Goiás e Bahia.
A espécie O.speciosa é mais comum
nos estados do Amazonas, Pará, Ceará, Maranhão e Piauí, sendo estes dois
últimos os maiores produtores. Nestes, os babaçuais se apresentam em extensas
formações naturais, cuja exploração constitui importante indústria extrativista,
sendo responsáveis por 96% da produção brasileira, enquanto a produção
maranhense gira em torno de 83% da produção nacional.
Pertencente à família das Arecáceas ou Palmáceas, é uma palmeira robusta, de estipe reto, aspecto colunar
elegante. Nos espécimes seculares chega a medir 20m de altura, por 45 cm de
diâmetro, coroado por um conjunto de folhas ou palmas planas, penipartidas ou pinadas, eretas,
divergentes, alternadas, invaginantes, longas com mais de 6m de comprimento com
pinas distribuídas em toda a extensão do raque; tem pecíolos persistentes e
fibrosos São bem ramificados, pedúnculos longos com cerca de 1m. As flores são
sésseis, providas de cálice com sépalas oblongas e corola com pétalas de bordas
irregulares, estaminadas creme-amareladas e aglomeradas em longos
cachos que aparecem nas inflorescências femininas, entre os meses de julho e
novembro. A frutificação se dá entre 7 e 8 anos e cada palmeira pode produzir,
numa só safra, quatro a seis cachos, cerca de 2000 frutos. Os frutos, em cachos
pendulares, são drupas oblongas, de cor ferrugínea, medindo 8 a 15cm por 5 a
7cm de diâmetro, contendo 4 a 6 sementes chamadas amêndoas, de cor sépia e
internamente branco-amareladas, medindo 2,5 a 3 cm de comprimento por 1,0 a
1,5cm de largura. A vida produtiva das palmeiras é de aproximadamente 60 anos e
a propagação e disseminação é feita através dos cocos que caem quando maduros e
são transportados pelas enxurradas ou por animais, como os roedores e
marsupiais.
O exocarpo do fruto é formado de fibras resistentes e corresponde a
15% do seu peso. O mesocarpo tem 3 a
6mm de espessura, é constituído de uma substância compacta, amarelada, rica em
amido e tanino e corresponde a 20%. O endocarpo
é muito rijo e de cor sépia de 3 a 7mm de espessura, corresponde a 59%. Essa dureza dificulta a quebra do coco. As amêndoas constituem a parte de maior
valor por encerrarem óleos, sais minerais, fibras, proteínas, carboidratos,
ácidos graxos. O óleo é de cor branca levemente amarelada.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA
Nativa no Brasil é encontrada também no
Panamá, Guianas, Suriname e Bolívia. No Brasil ocorre da Amazônia a São Paulo,
sendo encontrada em áreas isoladas do Ceará, Pernambuco e Alagoas.
No Maranhão e no Piauí ocorre espontaneamente,
nas terras arenosas e baixas, nos vales dos rios Itapecuru, Pindaré, Grajaú,
Mearim e Parnaíba. Em Minas Gerais ocorre ao longo dos rios São Francisco e
seus afluentes e, ao norte, em direção ao Urucuri. Em Goiás, na região norte,
em Tocantins e a oeste, na direção de Mato Grosso. Essa ocorrência depende da
tolerância a climas com temperaturas elevadas e precipitação pluviométrica
superior a 1.000mm anuais. Até a década de 1980, antes das grandes derrubadas
para implantação de projetos agrícolas, como o cultivo da soja, expansão da
pecuária e criação de novos núcleos populacionais, os babaçuais do Maranhão e
do Piauí cobriam uma área de 100.000km², com cerca de um bilhão de palmeiras, concentrando-se,
principalmente em Matões, Coelho Neto e Caxias.
Quando a mata é derrubada e queimada
surgem incontáveis mudas de babaçu, provavelmente resultantes de sementes que
se encontram disseminadas no solo. Geralmente a densidade das palmeiras é maior
às margens dos rios navegáveis, como o Mearim (86.554km²), o Pindaré, o
Itapecuru e o Parnaiba (3.000 km²), à beira dos lagos e campos. Em brejões
chegam a ocorrer até 3.000 palmeiras/há. Além dessas áreas o babaçu é
encontrado no golfão maranhense, nordeste do estado e vales altos,
representados pelas partes superiores dos vales do Itapecuru, Mearim e
Parnaiba. Muitas palmeiras são improdutivas, quando em grandes maciços,
considerando-se adequada a concentração de 100 a 120/ha, eliminando-se as
excedentes e mais velhas, para evitar o empobrecimento do solo em fósforo,
potássio e outros minerais.
UTILIZAÇÃO DO BABAÇU
As amêndoas constituem 6 a 8% do peso do fruto e representam a fonte
de óleo; aproximadamente encerram 65 a 68% de óleos, usados na fabricação de
sabões e detergentes e, após a refinação, para fins alimentícios e fabricação
de margarina. O óleo, em suas propriedades é semelhante ao do coco da Bahia, da
praia ou manso e ao óleo de dendê, com elevados teores de ácido láurico.
Calcula-se que cada palmeira chega a produzir 3,5k de óleo, por ano.
Também usado na indústria de
cosméticos para fabricar sabonetes,
cremes, xampus, hidratantes. O leite obtido é usado na preparação de vários
pratos da nossa culinária cabocla.
A torta resultante da moagem das
amêndoas é utilizada na alimentação de animais, principalmente de gado leiteiro
e como fertilizante nitrogenado e fosfatado.
O broto fornece palmito de boa
qualidade. Em determinada época foi baixada uma portaria para proteger os
babaçuais, ameaçando com encarceramento quem derrubasse palmeiras novas para
obtenção desse produto. O fruto, ainda verde é utilizado pelos seringueiros
para defumação da borracha; ao amolecer servem como alimento. A população das
regiões onde ocorre o babaçu usa o caule e as folhas para construção de suas casas
rústicas, sendo o caule usado como esteio e as folhas como cobertura. Também são aproveitadas para fazer tapumes, esteiras,
cestos, cofos, abanos, tapetes e outros trançados e meançabas para protegerem
portas e janelas. Do pedúnculo extrai-se um líquido que após fermentação
transforma-se em bebida apreciada pelos índios. O coco polido é usado para
fazer piões, brinquedo de crianças do interior.
Nas últimas décadas tem sido isolado
do mesocarpo do babaçu um pó, usado na alimentação de crianças, gestantes e
idosos. Também na preparação de bolos, tortas, vitaminas, sucos.
USOS EM MEDICINA POPULAR
Devido à grande quantidade de fibras,
o pó do babaçu, é indicado para debelar
prisão-de-ventre. Utilizado como anti-inflamatório, cicatrizante de tumores,
feridas crônicas, úlceras gástricas e duodenais, colite ulcerosa, anemia, varizes,
obesidade, reumatismos inflamações do útero e ovários. O óleo é eficiente
regenerador celular, com propriedades emolientes e hidratantes permitindo a
permeabilidade da pele, contra celulite, alergias.
O dr. José Benedito Câmara Ribeiro, economista
pinheirense, radicado em Marabá, em instigantes estudos que vem suscitando
polêmicas, aplica conhecimentos de Física Quântica, para explorar as potencialidade
medicinais do mesocarpo do babacu, testando em várias doenças, inclusive em
câncer, buscando dessa forma, agregar
valor ao produto, tão abundante em nosso estado.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
“Do babaçu tudo se aproveita” é voz
corrente na região dos babaçuais, localizada na faixa de transição para a
floresta amazônica, com uma área de 18,5 milhões de hectares, abrangendo os
estados do Pará, Tocantins, Maranhão e Piauí.
O babaçu tem múltiplas e importantes
aplicações econômicas, além das mencionadas no capítulo anterior, de utilização
doméstica, como o azeite e o carvão. Dizem os caboclos dessas regiões que são
49 as utilidades da palmeira.
Do epicarpo retiram-se fibras para
diversas aplicações. Do mesocarpo, representado pela fécula amarela, faz-se uma
bebida semelhante ao chocolate e uma farinha medicinal para alimentar convalescentes, idosos e
crianças. O endocarpo, que representa 59% do coco, pode ser usado como
substituto do marfim nas aplicações em que se usa o osso, como na fabricação de
botões, escovas e capachos. Também usado pelos artesãos, para fabricar
cinzeiros, porta-copos, cachimbos, prendedores de cabelos, alianças, pulseiras,
porta-canetas. Na Casa do Artesão vi há
alguns anos, um faqueiro completo; também uma bandeja com xícaras de chá, café,
bule, leiteira, manteigueira, açucareiro confeccionados com babaçu. Das folhas são confeccionados chapéus,
peneiras, urupemas, gaiolas, armadilhas, abanos, sandálias, bonés, embalagens.
A massa absorvente pode ser usada na
composição de dinamites. Com o mesocarpo também se fabricam isolantes para fios
elétricos. Da casca, extraem-se subprodutos, tais como: acetato de cal, álcool
metílico, ácido acético, vinagre, derivados do ácido pirolenhoso, óleos
lubrificantes leves e pesados; fenóis, ácido fênico, tintas para ferro, piche,
breu, derivados de alcatrão. Um kg de
cascas fornece 30% de carvão, 60% de ácido acético, 1,5% de ácido metílico e 8%
de alcatrão. O coquilho dá um coque excelente desprovido de enxofre. O carvão
fornece 8.010 calorias e 72,2% de carbono fixo, sendo excelente substituto da
hulha.
Na indústria de cosméticos é usado para
fabricar sabonetes, xampus, cremes, hidratantes.
VALOR NUTRITIVO
O mesocarpo ou pó do babaçu, além de
fibras, é rico em carboidratos, colina, enzimas e sais minerais, além de
vitaminas, principalmente as vitaminas B¹ e B² e E.
O
palmito é comestível e as amêndoas
que representam cerca de 9% do coquilho, são a grande riqueza do babaçu.
Possuem, em média, 7,25% de albuminoides; 66,0% de gorduras; 18,0% de
carboidratos favoráveis à digestibilidade, ácido láurico, capróico, caprílico,
palmítico, esteárico, mirístico, oleico e linoleico. Também possuem 0,5% de
ácido fosfórico; 7,8 de sais calcáreos e outros. O óleo é usado na culinária,
gordura pastosa e margarina.
UTILIZAÇÃO INDUSTRIAL
O mercado brasileiro formal estima
que a produção brasileira é de 5,5milhões de toneladas/ano. Desse total 35 mil toneladas
são destinadas à indústria de higiene, limpeza e cosméticos, absorvendo 85mil toneladas na produção de óleos, ácidos
e gorduras. As principais indústrias de cosméticos, higiene, limpeza e
margarina estão no Sudeste. O excedente é exportado.
Das folhas fabrica-se papel e
celulose.
PRINCIPAIS PRODUTOS E SUBPRODUTOS DO BABAÇU
COCO
1 –
mesocarpo: amido e
fibras que produzem etanol, fertilizantes e farelo.
2 – epicarpo: fibras e combustível
3
- endocarpo: carvão >ativado,
coque, gases combustíveis)
- Gases combustíveis: acetatos >ácido acético e acetona e metanol
- Gases condensáveis: acetato, metanol e alcatrão >piche, fenol, cresol
e benzol.
4 – amêndoa : torta >farelo.
Óleo bruto >óleo
refinado>margarina, sabão, glicerina.
O principal subproduto é a farinha,
rica em fibras de uso na indústria para alimentação de animais e como
fertilizantes.
Pesquisas estão sendo desenvolvidas
pelo Grupo de Combustível Alternativo (GCA), da UEMA para aproveitamento do
babaçu como fonte alternativa energética.
O óleo bruto é extraído por prensagem
e os subprodutos com o emprego de solventes.
OUTROS EMPREGOS
Além de ser usado em artesanato, o
babaçu é palmeira de porte elegante e ornamental escolhida para paisagismo de
praças, parques e jardins. Na nossa cidade há um ou mais espécimes na Praça
João Lisboa, o coração pulsante de São Luis. Quando Burle Marx projetou o paisagismo
do Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, o parque foi dividido em vários jardins,
cada um com árvores representativas dos estados brasileiros. No canteiro do Maranhão
foram plantadas diversas mudas de babaçu.
SITUAÇÃO
ATUAL DO BABAÇU
Com a devastação de extensas áreas de
cocais para a expansão da fronteira agrícola com o cultivo da soja, do avanço
da pecuária e outras atividades que
necessitavam de braços fortes, como abertura de
novas estradas, o trabalho nos garimpos de Serra Pelada e extração de
ferro e outros metais na Serra dos Carajás, a produção de amêndoas passou a ser
feita em regime de economia doméstica. Surgiu uma nova categoria trabalhadora:
as quebradeiras de coco – mulheres - que deram continuidade ao trabalho feito
anteriormente por homens, inserindo-se na cultura maranhense. Momento histórico
reconhecido até no exterior, pois as mulheres, calculadas em 300 mil, saíram do
acanhamento de suas casas e partiram
para a labuta, como meio de contribuir com o orçamento doméstico e, quando mães
solteiras ou viúvas, como únicas provedoras da família. Antes de 1960 não
encontravam nenhum empecilho para a coleta dos cocos, mas desde a década de
1980, essa região começou a ser assediada para a implantação de diversos projetos
industriais, de mineração e agronegócios, deixando essa atividade marginalizada
e até mesmo considerada atrasada e subdesenvolvida, embora não se desconheça que é sinônimo de
sobrevivência para milhares de pessoas. Os conflitos decorrentes da extração do
babaçu, levaram as quebradeiras de coco a criar as MIQCD (Movimento Interestadual
das Quebradeiras de Coco), cooperativas de organizações lideradas por
trabalhadoras rurais extrativistas do babaçu, no Maranhão, Piaui, Pará e
Tocantins. O movimento denominado Babaçu Livre,
foi um processo de lutas contra os pecuaristas que cercavam os
babaçuais, impedindo a coleta dos cocos transformando em áreas de pastos, numa
atitude criminosa contra o meio ambiente e a cultura das populações
tradicionais. Em 1997, em Lago do Junco foi criada a Lei do Babaçu Livre, estratégia
para regulamentação e proteção das quebradeiras de coco do Maranhão. Também
ficou acertada a proibição da derrubada
de babaçuais em seis estados. As articulações foram iniciadas nas regiões do
médio Mearim, povoado anteriormente ocupado por posseiros, descendentes de
escravos e índios. Atualmente se juntaram às coletoras de castanhas-do-pará do
Peru e Bolívia, tornando conhecida a sua luta e reivindicando melhorias das
condições de trabalho, reconhecimento da categoria, além do direito ao acesso
em babaçuais. Houve apoio e valorização do trabalho feminino, dando
continuidade à extração das amêndoas pelo processo primitivo, uma vez que as
várias máquinas inventadas não deram resultados satisfatórios. Para obtenção
dessas conquistas contaram com a ajuda da Igreja Católica, através das
Pastorais da Terra, Ministério do Desenvolvimento Agrário, do MST, do SEBRAE, com
apoio financeiro da Fundação Ford do Brasil e da Fundação Banco do Brasil. No Maranhão,
a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Naturais (CEMA) baixou, em
2012 uma portaria (nº 16 de 03/02) que dispõe sobre o Licenciamento Ambiental
Simplificado para o extrativismo, assegurando o desenvolvimento sustentável com
melhoria da qualidade de vida dos povos e comunidades tradicionais,
regulamentada em 09/12/2012.
- Editor: Thiago Silva Prazeres
Muito boa essa primeira parte. O uso em medicina popular é bem interessante. Daí dizer-se que dessa palmeira tudo é aproveitado.
ResponderExcluirNunca havia lido uma abordagem tão aprofundada acerca do babacu.
ResponderExcluirMeus cordiais parabéns, Dra Moema!
Estou pesquisando sobre como ocorre o extrativismo de coco babaçu em Pinheiro e fico muito feliz em obter informações tão detalhadas sobre, obrigada pelo rico e extenso conteúdo!
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