MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

terça-feira, 28 de junho de 2011

O MOVIMENTO CULTURAL DE 1920

Aymoré Alvim - APLAC, IHGM.
            Até o fim da segunda década do século XX, Pinheiro era um lugar pacato, a não ser pelas animosidades políticas, no período eleitoral, entre Conservadores e Liberais que de alguma forma, como relata Viveiros, J., intranqüilizavam o sossego dos pinheirenses, quebrando a monotonia que dominava o cotidiano da vila. Tais querelas chegavam a segregar algumas famílias em suas casas, enfraquecendo ou até mesmo rompendo laços de amizade e de parentesco.
            As oportunidades que muitas famílias tinham para alguns momentos de congraçamento eram poucos e periódicos como o carnaval, a festa do Divino, as festas juninas, do padroeiro Santo Inácio e de Natal com as pastorais.
            Mas, naquela época, no limiar da terceira década, Pinheiro experimenta uma grande mudança. Um conjunto de atividades e realizações começaram a ocorrer constituindo o início de um movimento que iria se estender até nossos dias, o “Movimento Cultural de 1920” ou “ Movimento Cultural Pinheirense” que foi a base do desenvolvimento cultural de Pinheiro que o tem distinguido, até hoje, como o centro cultural da Região onde está inserido
            Tudo teve início com a reativação da Comarca e o retorno do Juiz Elizabetho Barbosa de Carvalho como seu titular. Coincidência ou não, ocorreu a elevação da Vila à categoria de cidade pela Lei nº 911 de 30 de março de 1920.
            Vários nomes locais e procedentes de outros lugares, ao lado do Dr. Elizabeto, desencadearam o processo como Clodoaldo Cardoso, Carlos Humberto Reis, João Hermógenes de Matos, Othon Franco de Sá, Brasiliano Barróca, José Paulo Alvim, Antônio Pedro de Sousa, Alberto Serejo, Albino Paiva, Josias Abreu, Raimundo Silva, Domingos de Castro Perdigão Alcides Reis, George Gromwell, e as Senhoras Fausta Carvalho, Alice Soares, Dona Santa Cruz, Raimunda Nogueira que tiveram participação ativa na arrancada do Movimento.
            O marco inicial foi a fundação em julho de 1920 da Loja Maçônica Renascimento e Pinheiro, nome bastante sugestivo face aos objetivos a que propunha de reunir pinheirenses, em laços fraternais, de forma a reduzir ou mesmo acabar as querelas políticas alimentadas por alguns.
            Logo no ano seguinte, o Dr. Elizabetho, Clodoaldo Cardoso e Josias Abreu, com a ajuda financeira da família pinheirense, fundaram, em 25 de dezembro, o Jornal Cidade de Pinheiro, atualmente, o mais antigo em circulação, no Estado.
            Oferecendo espaço para a produção intelectual e movimentos culturais, o jornal tem sido um instrumento de grande valor para a promoção do município e dos municípios circunvizinhos. Nessa mesma linha, José Alvim, em 1925, fundou “A Vanguarda” o segundo semanário a se integrar ao Movimento deflagrado, ampliando, assim, maior espaço na imprensa local e regional. A direção foi confiada ao jornalista George Gromwell.
            Uma outra atividade constante da política de ação do Movimento foi a educacional. Em junho de 1921, o Dr. Elizabetho com outros companheiros fundou através do Sport Club Guarany uma Escola Noturna gratuita com 70 alunos de ambos os sexos. Logo no ano seguinte, em 1º de julho de 1922 era instalado o Instituto Pinheirense com os cursos de primeiras letras, primário e secundário também para ambos os sexos sob a direção do Dr. Elizabetho.
            Ainda nessa década, o grupo tendo à frente a Maçonaria fundou em maio de 1925 a Escola Antônio Souza para crianças pobres. A Escola Normal foi um sonho realizado em 1925 e em fevereiro de 1927 era fundado o primeiro Grupo Escolar Estadual, em Pinheiro, em homenagem a Odorico Mendes.
            O Movimento não se deteve aí. Tendo por sede provisória a residência do Capitão João Batista Soares, foi fundado em fevereiro de1925 a Sociedade Cívico-teatral recreativa Casino de Pinheiro. Era mais um ambiente de lazer e entretenimento posto à disposição dos pinheirenses com vista à sua promoção cultural.
           

domingo, 26 de junho de 2011

TRAJETÓRIAS ENTRELAÇADAS

              No período escolar de 1960 (àquela época de março a dezembro), morei no sobradão que pertencera a João Victal de Mattos. Nesse tempo, era propriedade e residência do Dr. Tancredo Mattos, seu sobrinho e herdeiro. A sua família estava constituída  por sua esposa, D. Esther (minha madrinha), e pela filha única do casal,   a Professora  Zaíde Mattos. Com eles residiam Marita, uma garota de 5 anos e sua mãe Conceição. Ambas gozavam do carinho e atenção da família.
Quando conclui o curso ginasial, em Pinheiro, a minha mãe escreveu à sua comadre Ester, solicitando-lhe verificar a  possibilidade  de  me hospedar na sua casa  a fim de cursar o científico, aqui em São Luís.
Naquele tempo, a escolha dos padrinhos dos filhos se constituía  em uma grande honraria, principalmente, no meu caso, filha única de José Paulo Alvim. Não era apenas simples cortesia e sim um reforço dos vínculos de amizade existentes desde a época de João Victal.
Acertados, por carta, os detalhes entre minha mãe (meu pai já havia falecido) e os Mattos sobre o pedido de hospedagem, chegara a hora de conhecer as madrinhas.  O meu Batismo foi realizado em Pinheiro por D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, então Bispo de São Luís, em Visita Pastoral. Na impossibilidade da ida de dona Ester, fui levada à pia batismal por minha avó materna Raimunda Reis Castro que a representou.  A professora Zaíde fora escolhida para madrinha de Crisma, o que só aconteceu, no decorrer daquele ano da minha chegada a São Luís, na Igreja da Sé, oficiada pelo Pe. Constantino Vieira.
Ao chegar à casa dos Mattos, fui alojada num dos quartos  cujas janelas se abriam para a rua  da Palma.  
Em 1960, era ainda um sobradão imponente, com móveis e  guarnições dos antigos moradores, situado à Rua João Victal de Mattos, antigo Beco da Pacotilha e, numa época mais remota, Rua do Quebra Costas,  esquina com a Rua da Palma ou Herculano Parga.

Nos altos,  havia a residência da Família Mattos.
Na parte frontal, o térreo tinha cinco portas, sendo a do centro, usada como entrada social, de madeira almofadada e protegida por um portão de ferro  caracterizado por um bonito trabalho de serralheria. As largas portas, à esquerda, davam acesso ao Laboratório, enquanto as duas à direita serviam de entrada para a Farmácia e Drogaria.
Na parte superior, os cômodos de frente, separados por um vestíbulo,  mantinham, ainda, o charme requintado dos irmãos Mattos. No salão da esquerda ficava a biblioteca, cujas paredes eram totalmente revestidas por  estantes repletas de livros com capas, primorosamente, encadernadas e  personalizadas, de autores franceses, principalmente, e portugueses, em primeiras edições. Nesse cômodo, era onde estudava e preparava as minhas tarefas escolares, geralmente à tarde, usando uma escrivaninha ao estilo francês. Sobre ela havia um porta-caneta de bronze, antigo e valioso e mata-borrões.
O salão à direita, geralmente fechado, era aberto só em ocasiões especiais. Dominava o ambiente um piano no qual Omar Naufel, vizinho e amigo da família, tocava belas melodias francesas e italianas, para deleite dos anfitriões e convidados, nos frequentes saraus que costumavam ocorrer aos sábados. Assíduos frequentadores dentre outros eram o padre Pedro Tiddei, colega da Profa. Zaide, no Curso de Letras; o Prof. Antonio Araujo Martins, então Diretor do Liceu, e a família do Dr. Geraldo Melo, médico da família e professor de Microbiologia das Faculdades de Farmácia e de Ciências Médicas. Marcava sempre presença Ilka Campelo, aluna do Colégio Santa Teresa, filha de conterrâneos do Dr. Tancredo.  Havia, também, na sala, um conjunto de palhinha, ainda  bem conservado  e mesinhas de jacarandá sobre as quais se distribuíam cinzeiros, candelabros  e estatuetas de bronze, jarros e biscuits primorosos de porcelana chinesa, iluminados por um belo lustre de cristal.
As alcovas ficavam nos cômodos após esses salões. A sala de estar e jantar ficavam num só salão, também chamado de varanda. No ambiente reservado às refeições, além de uma bonita mesa com  8 cadeiras, via-se uma cristaleira com as taças e  copos para todos os tipos de bebida. Na parte inferior,  a prataria: talheres, baixelas, bandejas, paliteiros e um bonito serviço de jantar (travessas, pratos e sopeiras de porcelana  com pinturas delicadas)  e um de chá. No lado oposto duas cadeiras de embalo (austríacas).
Na ala esquerda da varanda, a eletrola, a mesinha com o  telefone, raro na época (só quatro números), e cadeiras esparsas para as visitas se distribuíam. O Dr. Tancredo passava a maior parte dos sábados e domingos numa dessas cadeiras, usadas, também, para a sesta e, à noite, para esperar o sono. Dessa varanda saia uma escada ligada à Farmácia.
O corredor largo, aberto, dava acesso a três outros dormitórios  com janelas para a rua da Palma e à copa-cozinha, de onde saia outra escada que levava ao Laboratório.
Por essa época, trabalhava na firma, como escriturária, a Sra. Raimunda Coelho, pinheirense, falecida há uns seis anos e  a última remanescente da turma da Escola Normal  de Pinheiro, inaugurada e fechada, no ano de 1925. Em 1929, essa senhora foi eleita a primeira Miss Pinheiro, candidata patrocinada pela Farmácia  do meu pai.
Um pouco por discrição e mais por timidez, raramente eu descia ao laboratório. Porém, nas poucas vezes que o fiz, ficava fascinada com a profusão de equipamentos, a grande variedade da vidraria, o cheiro que emanava dos recipientes nos quais as ervas medicinais eram maceradas para  posterior decocção e extração dos princípios ativos. Alambiques, destiladores, retortas, balões de vários tamanhos, almofarizes, béqueres, erlenmeyers, provetas, funis, kitasatos, buretas  e balanças, .  Nunca esqueci os potes de porcelana para ervas desidratadas, as caixinhas para as pílulas, os frascos de vidro transparentes e de cor âmbar, estes para impedir a passagem da luz, evitando, assim, a oxidação das tisanas, dos elixires, dos vinhos. Em todo o laboratório, junto aos odores exalados dos remédios em processo de fabricação, sentia-se a presença de João Victal, o seu espírito criador, a sua  perspicácia,  liderança e  inteligência  que o tornaram o pioneiro na industrialização de fármacos no Maranhão.
E fora, naquela época, que aquilatei a influência que João Victal  exercera  sobre o meu pai. A aquisição desses materiais, a organização dos mesmos, a paixão pela manipulação.
E não fora somente no aspecto profissional: com os irmãos Mattos, papai passou a gostar e apreciar as coisas boas e bonitas que o dinheiro pode comprar. O bom-gosto na escolha dos seus móveis, o cuidado na decoração e manutenção da sua casa, embora, a essa época ainda solteirão, os cuidados com a higiene pessoal, o tom afável com que tratava ricos e pobres, a etiqueta seguida à risca, o modo como obsequiava seus hóspedes e convidados eram suas principais características.
E eu, sua filha, aos 18 anos, tive o privilégio de residir por vários meses, como hóspede, na mesma casa em que meu pai chegou como simples aprendiz. Inicialmente, lavando frascos, depois manipulando os remédios,  saindo  com apenas 18 anos  cheio de sonhos e planos com um certificado de Prático de Farmácia, conferido e autenticado por João Victal de Mattos  e mais tarde (1930) revalidado pelo Presidente Vargas. 
Anos mais tarde, já estabelecido em Pinheiro, como boticário, proprietário da Farmácia da Paz, a mais conceituada da região, papai passou a  freqüentar aquela casa, como cliente, amigo e, mais tarde, como compadre, sempre que vinha a São Luís.
                                                 São Luís, 22 de junho de 2011
                                                     Moema de Castro Alvim

sexta-feira, 24 de junho de 2011

ACADÊMICOS FUNDADORES, SUAS CADEIRAS E PATRONOS



CADEIRA
ACADÊMICOS
PATRONOS
01
José Sarney
Clodoaldo Cardoso
02
Jurandy de Castro Leite
Sarney Costa
03
Moema de Castro Alvim
José Paulo de Carvalho Alvim.
04
Aymoré de Castro Alvim
Odilon da Silva Soares
05
José Jorge Leite Soares
Francisco da Costa Leite
06
Antônio Carlos Beckman
João Corrêa Beckman
07
José Agnaldo Pereira Mota
José Floriano Mota
08
Sandra Leite Mendes
Almir Silva Soares
09
Joana Maria Bittencourt
Beto Bittencourt
10
Aderaldo dos Santos Alves
Domingos de Castro Perdigão
11
Paulo Oliveira
Afonso Maria Ungarelli
12
José Márcio Soares Leite
Orlando da Silveira Leite
13
José Ribamar Seguins
Antônio Euzébio da C. Rodrigues
14
Erivaldo Pereira Moreira
Honório Joaquim Ribeiro
15
Napoleão do Carmo Cardoso e Silva
Abraão do Carmo Cardoso e Silva
16
Abílio da Silva Loureiro
José Maria de Jesus Marques
17
Francisco José de Castro Gomes
Elizabetho Barbosa de Carvalho
18
Lourival de Castro Gomes
Newton Pereira
19
Antônio do E. Santo Trinta Trindade
Antenor Freitas de Abreu
20
Flory Moraes Costa
Isidoro Alves Pereira
21
Maria da Graça Moreira Leite
João dos Santos Moreira
22

Almir Lima e Silva
23
Tarquínio de Castro Leite
Cloves Moraes
24

Carlos Paiva
25
Pedro Alexandrino Bastos
Josias Peixoto de Abreu
26
Cleber Mendes Silva
Hélio João da Costa
27
César Augusto Castro
Wilson da Silva Soares
28
Evandro Sérgio Moraes Pereira
Mariano Chagas
29
Maria Rita Lobato Gonçalves
Antônio Carlos Pereira Lobato
30
Aurelina Catarina Amorim
Ricarda de Araújo Sodré
31
João Batista Pessoa
Alice Guterres Soares
32
Deusdedit Carneiro Leite Filho
Oswaldo da Silva Soares
33
Manoel da Conceição Silva
Waldemir Guterres Soares





segunda-feira, 20 de junho de 2011

A APLAC - SUA FUNDAÇÃO

*Aymoré Alvim, Cadeira nº 04

A fundação da APLAC ocorreu, em 23 de novembro de 2005.  Em meado de 2004, começou a se formar o grupo que a idealizou: Moema, Jurandy, Aymoré, José Agnaldo e Antônio Trindade.
            Inicialmente, a tarefa foi dar corpo a uma Academia que fugisse um pouco do modelo francês para que tivesse entre seus objetivos contribuir para a promoção cultural do povo de Pinheiro e para o seu desenvolvimento intelectual.
            O sonho sonhado por aquele grupo de pinheirenses e amigos de Pinheiro, em 1920, continuava, ainda, a produzir seus efeitos, 85 anos após o início do Movimento Cultural que revolucionou o ambiente da cidade. A vaga formada, à época, em um mar encapelado por questiúnculas políticas à falta de opções mais nobres a que se dedicar, se desdobrou em grandes e pequenas ondas, produzindo seus benéficos efeitos, em um município cuja comunidade experimentava acelerado crescimento.
            Posteriormente, outros pinheirenses convidados foram se integrando ao grupo inicial e trazendo mais idéias à mesa de discussões que iam, pouco a pouco, contribuindo para dar a forma final e definitiva ao projeto idealizado.
            Para patronear as primeiras 33 Cadeiras, de um total de 40, foram indicados escritores, intelectuais e artistas pinheirenses ou que viveram, em Pinheiro, contribuindo para projetá-lo como um centro irradiador de cultura na região. Foram também contemplados empresários e políticos do município ou que nele viveram concorrendo com seu trabalho para o bem-estar da comunidade e dos quais a memória quisemos preservar, numa homenagem aos grandes construtores da base estratégica do seu desenvolvimento econômico.
            A falta de literatos que completassem o preenchimento das Cadeiras nos levou à ampliação da sua área de abrangência, na composição de seu quadro inicial de acadêmicos, com a inclusão de profissionais dos campos das Ciências e das Artes. Estava, assim, definida a composição da nova Academia, que se reflete na denominação que lhe fora atribuída: Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências – APLAC.
            Em fins de outubro de 2005, a Academia estava pronta para iniciar as suas atividades, mas, em homenagem à data de fundação de Pinheiro, somente a 23 de novembro seguinte, a Academia foi criada, em uma sessão constituída pelos membros fundadores. Houve eleição por aclamação da primeira Diretoria para dirigir os destinos da entidade, no biênio 2005 a 2007. Na mesma reunião foi apresentado, pela acadêmica Moema Alvim e aprovado pelos presentes, o logotipo da Academia com o dístico que revela os ideais que moveram o grupo inicial: Accendere ut illuminet. (Acender para iluminar). A instalação solene da APLAC ocorreu, em sessão solene, na noite de 17 de dezembro desse mesmo ano, em Pinheiro.
            No ano seguinte, a Academia passou a ocupar, como sede própria, o antigo prédio da usina elétrica da cidade que fora totalmente reformado pelo prefeito, à época, Dr. Filadelfo Mendes Neto, e inaugurado por ocasião dos festejos comemorativos ao sesquicentenário de elevação do Lugar do Pinheiro à categoria de vila, em 3 de setembro de 1856.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Porque João Victal de Mattos

Em texto anterior,  postado no mês de maio  último, traçamos um breve perfil do farmacêutico João Victal de Mattos, um dos empresários mais influentes no período compreendido entre o último decênio do século XIX e as primeiras três décadas do século XX. Também, na política, segundo o escritor Milson Coutinho é considerado um dos Vultos Notáveis, tendo sido deputado atuante  nas 4ª e 5ª legislaturas.

João Victal  de Mattos teve influência decisiva sobre a ida de José Paulo Alvim, para Pinheiro. Patrono da cadeira nº 3 da Academia  Pinheirense de Letras, Artes e Ciências (APLAC), escolhido para tão elevada honraria pelo seu trabalho  em prol dos pinheirenses, zelando, por quase 40 anos,  pela saúde dos moradores da pequena vila e dos seus arredores e, após 1920 da cidade e seus povoados, principalmente nos longos períodos em que a população não dispunha de assistência médica.

Prático de Farmácia, José Alvim, na sua Botica, não só aviava  as receitas, solicitadas por médicos que esporadicamente visitavam a cidade (Dr. Clarindo Santiago, Dr. Neto Guterres, Dr. Fernando Viana e a partir do fim da década de 1930 o Dr. Antenor Abreu e o Dr. Costa Rodrigues), como manipulava fórmulas retiradas do Czernovitz e algumas por ele desenvolvidas, constituindo-se como um dos elementos responsáveis pela fixação das pessoas vindas das mais diversas regiões, portanto, do povoamento da vila, impondo-se, pela sua experiência, conquistando a confiança dos moradores, evitando que eles desertassem da terra em que levavam vida tão primitiva.

Na  APLAC a cadeira nº 03 é ocupada por sua filha Moema de Castro Alvim, farmacêutica, professora adjunta de Parasitologia, do Depto.  de Patologia da UFMA, atualmente aposentada. Entretanto  durante o tempo em que exerceu a sua profissão,diferente do pai, Moema dedicou-se ao magistério e à pesquisa, tendo sido a primeira  profissional  maranhense a dedicar-se ao estudo da  epidemiologia da esquistossomose e das  leishmanioses.

João Victal mais do que ninguém vislumbrou a inteligência, força de vontade e dedicação de José Alvim, conferindo-lhe aos 18 anos o certificado de Prático em Farmácia,  que o credenciava para estabelecer-se como boticário em qualquer localidade do Maranhão. E foi, também, João Victal quem o incentivou a estabelecer-se na pequena, porém já promissora Vila de Pinheiro, a esse tempo em franco desenvolvimento, superando, alguns anos depois as vilas circunvizinhas.

Mestre na arte da manipulação, João Victal não só ensinou ao seu jovem discípulo os segredos do ofício, mas, apostando na determinação e na integridade do  caráter de José Alvim, forneceu-lhe os medicamentos imprescindíveis para a instalação de uma pequena e sortida Botica na emergente vila.

                Desde fins do século XIX, os irmãos Mattos, João Victal, Tancredo, Heráclito e Abeillard, naturais de Viana, estabeleceram-se em São Luís e fundaram a firma João Victal de Mattos & Irmãos, dando início  a um sucedido empreendimento no ramo farmacêutico, com sede à rua do Quebra Costas ou Beco da Pacotilha, atualmente João Victal de Mattos, no prédio onde funcionou a firma Abreu & Cia, até o 3º quartel  do século XIX.

No seu período áureo foi uma das maiores drogarias, servida por um excelente laboratório, cujos produtos se tornaram conhecidos e procurados em todo o norte do país. Antecipando em décadas as técnicas de marketing, João Victal divulgava os seus produtos através do Almanaque Maranhense, distribuído anualmente e elaborado com seleta colaboração literária, sendo impresso em Paris, divulgando literatos maranhenses como Luso Torres e o maestro Inácio Cunha.

Riquíssimos, viajados, sofisticados, os irmãos Mattos  destacavam-se no meio social e foram os idealizadores e fundadores do Clube Euterpe, o mais seleto e conceituado clube de São Luís, que tinha entre  seus associados  cavalheiros das mais altas esferas  sociais. O clube que teve o nome em homenagem `a musa da diversão e da música funcionava no palacete que pertencera ao Comendador Leite  e  era gerenciado  pelo Sr. João Lurine Guimarães, proprietário do sortido botequim.

Além dos bailes , o clube oferecia outros  tipos de atividades como  saraus literários, conferências, proferidas por intelectuais da terra como: Antonio Lopes, Domingos Barbosa, Fran Paxeco, Corrêa de Araujo, Raul Pereira, Aníbal Mascarenhas, Vieira da Silva e outros. Nos salões  havia mesas onde se realizavam partidas de gamão, xadrez, dama, bilhares e até jogos de azar (exceto roleta). Em 1911 por desentendimento entre seus sócios o clube  encerrou suas atividades. No prédio, mais  tarde,  funcionou o Superior Tribunal de Justiça.

João Victal era muito popular entre os poetas, como Maranhão Sobrinho que sempre ia à  sua farmácia tomar um cálice de Málaga, geralmente, em troca de sonetos transcritos  em  seu álbum de poesias.

As fórmulas farmacêuticas desenvolvidas por João Victal renderam-lhe  premiações importantes como a Medalha de Prata na Exposição da Festa Popular do Trabalho, realizada em São Luís em 1912, como parte das solenidades comemorativas  ao tricentenário de fundação de São Luís e também na Grande Exposição Universal de Saint Louis, nos E.E.U.U.  Na última Exposição Nacional realizada no Rio de Janeiro lhe foi concedida uma Medalha de Ouro.

Em 1921,  Bernardo Caldas & Cruz e A. R. da Costa Santos e o Laboratório João Victal de Mattos foram considerados os maiores laboratórios maranhenses, com o  maior número de produtos exportados, perfazendo 67.000  unidades  de remédios fabricados.

Além de preparados medicinais, o  Laboratório também fabricava produtos de toucador como Beleza do rosto, Talco hidratado e perfumado, Óleo de mutamba glicerinado, Odontina Mattos  e  outros pós dentrifícios, dentre outros cosméticos.

Na virada do século XX, João Vital aceitou o convite do grande líder Benedito Leite, presidente do Partido Republicano para ingressar na política, candidatando-se a Deputado Estadual, elegendo-se, sucessivamente  na 4ª legislatura (1901-03) e na 5ª (1904-06), oportunidades em que apresentou e defendeu dois projetos de grande repercussão:  o que  criava    a    aposentadoria  por  invalidez  de funcionário público, regulando, assim, essa modalidade e o que criaria um serviço de assistência aos lázaros.Em 1916 foi eleito sub-intendente de São Luis, na administração de Clodomir Cardoso.

Após  a morte dos irmãos Mattos, assumiu a direção técnico-administrativa do  Laboratório e Drogaria João Victal de Mattos o seu sobrinho Dr. Tancredo Segundo Mattos, farmacêutico, casado com a sra. Esther Castro Mattos, irmã da insignie mestra Prof. Rosa Castro.

Com a exoneração do interventor Paulo Ramos pelo presidente Getúlio Vargas, substituído pelo Dr, Clodomir  Serrão Cardoso, caiu, consequentemente  o prefeito de  São Luís, o médico Pedro Neiva de Santana, sendo empossado em seu lugar o Dr. Tancredo Mattos que administrou a capital de maio a outubro de 1945.

O Laboratório ainda  funcionou durante o período de 1940 a 1970, sendo que na última década de maneira precária,  enfrentando, com dificuldade  a concorrência local  e sem quaisquer condições de competir com os grandes  Laboratórios  instalados  no Rio de Janeiro e em São Paulo e, principalmente com a poderosa  indústria estrangeira, com as suas linhas de produção automatizadas e os princípios ativos sintetizados  em laboratórios de química.

Com  o falecimento do Dr. Tancredo, assumiu a responsabilidade técnica a sua  filha, a Dra. Zayde Mattos, a última descendente dessa linhagem, constituídas de brilhantes farmacêuticos e bem-sucedidos empresários.

Formada, também,  em Letras, a Dra. Zayde dedicou-se exclusivamente ao magistério, lecionando Latim e Francês nos Colégios Liceu Maranhense, Santa Teresa e Rosa Castro. Na antiga Faculdade de Filosofia e Letras, encampada, mais tarde pela  Universidade Federal do Maranhão, a Prof. Zayde ministrava aulas de Filologia  das Linguas Neolatinas, fluente em francês, italiano, espanhol e romeno.

Grande mestra, porém sem a necessária aptidão para gerir uma empresa, sem recursos financeiros,   sem  quadro técnico especializado,  nocauteada  pelas multinacionais, com seus escritórios de representação,  com um invejável trabalho de marketing junto à classe médica, distribuindo amostras grátis em grande quantidade, não teve outra alternativa senão cerrar as portas de um empreendimento  centenário, assim como o fizeram outros laboratórios que com grandes dificuldades ainda se mantinham de pé como o Laboratório Jesus, o  Bernardo Caldas, o Garrido, José Esteves e o Pedrosa.

O encerramento da produção mesmo em condições artesanais,  deixou uma lacuna  na  farmácia  caseira    de uma clientela fiel  a  essas fórmulas manipuladas e até hoje lembradas pelos mais idosos:

- Tintura Preciosa João Victal de Mattos \ Elixir de Carnauba | Vinho João Victal de Mattos| Pílulas antifebris de macela e genciana| Xarope de lactofosfato de cálcio iodurado| Elixir de hemoglobina| Vinho de quina|Linimento sedativo antinevrálgico|Xarope peitoral de mutamba e mais umas três dezenas de outros preparados medicinais.

Como farmacêutica e filha de José Paulo Alvim, manifesto neste texto, a homenagem da nossa família a esse  brilhante profissional, pioneiro na instalação da indústria farmacêutica  no  Maranhão e que ficou relegado, por décadas, nos escaninhos  mais secretos da memória maranhense.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Dez estudos históricos – Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão. – Mário Martins Meireles
História do Comércio do Maranhão (1612 a 1895) – 2º volume  - Jerônimo de Viveiros
Prosa. Poesia. Iconografia –Ruben Almeida
O Poder Legislativo do Maranhão – 1830-1930 – Milson Coutinho
                                        
                
                                              

                                               São Luís, 10 de Junho de 2011

                                               Moema de Castro Alvim