MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

sexta-feira, 18 de abril de 2014

UNHA-DE-GATO

Há duas espécies de trepadeiras conhecidas como “unha-de-gato”: Ficus pumilla, usada em paisagismo, para recobrir muros, paredes, escadas, colunas e moldes de topiaria, principalmente estruturas sem acabamento. Suas folhas são pequenas, claras e redondas. Ramos  aderentes  dispensam o tutoramento. Quando não se fazem podas periódicas seu tronco se torna lenhoso, frutifica e chega a destruir o suporte.
A planta dotada de princípios ativos pertence ao gênero Uncaria com duas espécies: U. tomentosa, nativa da Região Amazônica e U.guianensis, encontrada nas Guianas. Há cerca de 50 espécies na América Tropical, em área que faz fronteira com Peru, Venezuela e Bolívia. Acredita-se que os índios do Peru já a conheciam, pelo menos há 2000 anos.
Atualmente corre risco de extinção pela ação predadora extrativista, interessada em suas propriedades medicinais. Chamada popularmente de herinha.
 Apesar de descrita desde 1830, o interesse por essa planta só foi despertado em 1970. Em 1994, foi feito o primeiro registro das suas propriedades farmacológicas, reconhecida na Suiça como planta medicinal. Nas últimas décadas, vários países, como a Alemanha, Inglaterra, Hungria, Itália,  Peru e Brasil vêm realizando importantes estudos científicos, para detectar e isolar seus princípios ativos. Os EUA  vêm utilizando a planta para melhorar as defesas imunológicas do organismo de pacientes acometidos por infecções causadas por vírus e bactérias, inclusive a AIDS, herpes simples e zoster e até câncer.

                       CARACTERÍSTICAS  BOTÂNICAS

Pertence à família das Rubiáceas. Constitui vigoroso arbusto, chegando  o seu caule, em forma de cipó, a atingir 5m de comprimento, pouco ramificado com ramos quadrangulares trepadores, apresentando espinhos em forma de ganchos em cada axila foliar; as folhas são opostas, ovais, medindo entre 5 e 10cm de comprimento; as flores são singelas, quase imperceptíveis, às vezes esbranquiçadas ou branco-amareladas. As raízes são adventícias prendendo-se nos muros.
             
                         DISTRIBUIÇÃO  GEOGRÁFICA

Nativa da Região Amazônica, distribui-se ao longo da costa dos rios e áreas úmidas e mal drenadas, em regiões fronteiras com o Peru, Bolívia e Venezuela.  Atualmente é encontrada em quase todos os países da América do Sul e Central, principalmente Peru, Bolívia, Venezuela, Argentina, Equador, Guianas, Suriname, Costa Rica, Guatemala, Panamá, México. Na Flórida é considerada planta exótica, invasiva, tendo sido introduzida em 1947.

                         PRINCÍPIOS    ATIVOS

A Uncaria tomentosa é um verdadeiro arsenal de alcaloides. Nas cascas do tronco e das lianas já foram isolados seis alcaloides do grupo dos indólicos com 50% de função imunitária.
Também nas raizes encontram-se alcaloides oxiudólicos para estimular o sistema imunológico e antileucêmico; glicosídeos do ácido quinóvico que tem grande poder anti-inflamatório e antiviral. O alcaloide mais importante é o rhynchophylline com atividade  vasodilatadora e anti-hipertensiva.  Outros alcaloides  e taninos são encontrados com atividades diversas. Também ésteres de alquilos carboxílicos, também como estimulantes, anti-inflamatórios, anticarcinogênicos e ação reparadora de tecido; compostos antioxidantes, como o tanino,  catequinos e procianidina; esterois com função anti-inflamatória.

                       MECANISMO  DE  AÇÃO

Impede a produção excessiva de citocina que é uma proteína de resposta anti-inflamatória do organismo. Usada na Indústria Farmacêutica na produção de anti-inflamatórios. Seus componentes atuam como esteroides, ativando o tratamento das artrites. Modela a função imunológica, ajudando a formação de linfócitos T que atacam as células cancerígenas e diminuindo a produção de  citocina. 

                PROPRIEDADES  FARMACOLÓGICAS

Analgésica, anti-inflamatória, antimutagênica, antioxidante, antiproliferativa, antitumoral (inibidora da carcinogênese) antiviral, antibacteriana, antialérgica citoprotetora, citostática, citotóxica, cicatrizante, depurativa, diurética, vasodilatadora, hipotensiva, imunoestimulante e imunomodulatória.

                     USO  EM  MEDICINA  POPULAR

Osteoporose, processos inflamatórios articulares como osteoartrite, bursite e artrite reumatoide, artrose, problemas do sistema digestivo e infecções virais. Angina, afecções urinárias e de próstata, antiabortivo ou contraceptivo, cicatrizante de feridas profundas. Alivia úlceras gástricas e duodenais, cirrose,  colite, diverticulite. Reduz as taxas de colesterol e ajuda no emagrecimento.  Previne acidente vascular cerebral (AVC), hemorroidas, síndrome do intestino permeável, amigdalite, alergias, rinite, sinusite, abscessos cutâneos; previne e cura enfermidades virais como gripe,  varicela, herpes labial, gonorreia e até AIDS, todas decorrentes da debilidade do sistema imunológico,  fortalecendo-o. Em casos de neoplasias não deve ser usado com quimioterapia e radioterapia. Impede o crescimento das células cancerígenas, ajuda a reparar os danos causados pela radioterapia e quimioterapia, reduz os sintomas do Mal de Alzheimer, síndrome da doença crônica ou doença de Crohn, inflamação crônica do trato gastrointestinal, afetando principalmente o íleo e cólon, causando fortes dores abdominais com diarreia, perda de peso e febre.
Antioxidante, combate os radicais livres. Aumenta a atividade cerebral e contribui para melhorar a memória.
Na Amazônia o chá de Unha de Gato é usado em associação com o uxi-amarelo para resolver problemas ligados à menstruação, pois atua no sistema hormonal, no período da menopausa, próstata e diabetes.

                      PESQUISAS  CIENTÍFICAS

Atualmente o Instituto do Envelhecimento pesquisa a ação de derivados dessa planta sobre o cérebro dos pacientes com Mal de .
A Unha de Gato é a planta de vez na luta contra o câncer, em  pesquisas realizadas pela Faculdade de Medicina da Universidade do ABC  Paulista, já em fase de Terapêutica Clínica, isto é, experimentos em humanos, saindo na frente de outras instituições de ensino e pesquisa. 
Pesquisas estão em desenvolvimento em outras instituições científicas  para isolar princípios ativos no tratamento de AIDS,  constituindo, também,  a esperança no tratamento da artrite, doença até o momento sem cura.
Na Europa os médicos infectologistas associam extrato da raiz de Unha de Gato com AZT no tratamento da AIDS.
Possibilidade do seu uso para reparar o DNA, prevenindo mutações celulares
Desde o ano de 2009 o IOC vem utilizando essa planta como  matéria-prima para controlar os efeitos da dengue.
                      VALOR  COMERCIAL

Encontrado à venda sob a forma de comprimidos, cápsulas, tônico herbal, feitos a partir do extrato das cascas e raízes da planta. Também folhas dessecadas e raízes para chás.

                   CONTRA-INDICAÇÕES

Apesar de utilizada no tratamento e prevenção de tantas doenças, pelos alcaloides diversificados, alguns em elevados teores, há severas contraindicações que não podem ser ignoradas:
- não usar com antiácidos.
- em casos de transplantes, pelos princípios ativos com função imunológica.
-  não pode ser usado junto com a quimioterapia e radioterapia.
- interromper o uso dez dias antes de qualquer cirurgia, por seus componentes que reduzem a agregação das plaquetas.

                      REAÇÕES  SECUNDÁRIAS

Foram relatados casos de dores abdominais, problemas gastrointestinais e diarreias.



                                   HISTÓRICO

Os índios do Peru  já conheciam essa planta, por eles denominada ërva sagrada da mata”,  usada em processos inflamatórios, reumatismo, artrite, asma, úlceras gástricas, dor nos ossos, ferimentos profundos, inflamações urinárias, purificador dos rins, recuperação de parto, problemas do estômago e intestinais. Os Ashaninka, povo ainda hoje existente perto da fronteira do Peru e do Brasil, vivia anteriormente no Peru, Bolívia e Acre são grandes consumidores dessa planta, em rituais chamados kamarapi (vômito, vomitar)..
A etnia se autodenomina “meus parentes” e são aparentados dos Incas que  se instalaram no vale Andino, em 1300, onde fundaram Qosqo (Cuzco) sob a liderança de Manco Capac. Em menos de 200 anos deixaram de ser uma formação tribal para constituir um império com uma área de 5mil Km@ e que se manteve até 1572. Nesse ano  desmoronou o Império Inca, após a execução de Tupac Amaru, líder da resistência  após a prisão  e execução de Atahualpa, na fogueira em 1532, por ordem de Francisco Pizarro. No ano seguinte Cuzco foi conquistada pelos espanhóis que ocuparam  a  costa  e a serra peruana até a rendição completa do Império Inca.
Os inca cultivavam  402 plantas medicinais, sendo 84% silvestres e 63% coletadas nas florestas e apenas 2% eram exóticas. As principais espécies pertenciam às famílias: Rubiáceas, Euphorbiáceas,  Asteraceas,  Araceas, Solanáces e Piperáceas.
Plantavam nos campos dispersos  ao longo da Cordilheira dos Andes, em vertentes elevando-se quase a quatro quilômetros, e em clima variando do tropical ao glacial. Vencendo essa enorme variedade de obstáculos, constituídos por escarpas e aclives, desenvolveram sofisticadas técnicas agrícolas, constando de socalcos ou muros de contenção, feitos de pedra e barro, colocando cascalho em suas bases e nas laterais para facilitar a drenagem, evitando a erosão pelas chuvas. Nesses terraços agrícolas ou andenes cultivavam valiosos cereais, tubérculos, vagens, frutas que serviam de alimentação para toda aquela gente. Dentre os principais produtos destacam-se: o amaranto,  considerado místico também para os astecas, a quinoa, o uluco, a oca e o arracachá, espécies de tubérculos e frutos como a  chirimóia, nuna,  babaco, o kiwicha, amoras gigantes, groselha de cabo, um maracujá da casca amarela, o pepino doce com gosto de melão,  o tamarillo com cativante travo tropical. Também cultivavam ervas medicinais.
O amaranto na época de Colombo constituía a base alimentar do México; era usado no desjejum e para fazer bolos e uma bebida, preparada para as cerimônias religiosas. Era adotado em forma de pagamento, junto com o milho, como tributo ao imperador Montezuma II. Também era cultivado contra os espíritos maléficos.
 As plantações de amaranto foram destruídas por Cortés, após a invasão do México em 1519, sucedendo o mesmo no império inca que incluía o Peru, a Bolívia e o Equador, assim como parte do Chile, Argentina e Colômbia.
Os  Ashaninka surgiram no Peru, por volta do século XII, no mesmo período dos Inca e conviveram próximo a eles, fugindo para a  Região Amazônica, com a chegada dos espanhóis. A sua língua pertence ao tronco linguístico dos Nu-Aruaque. Dedicavam-se à tecelagem  e sempre usaram roupas, com cores  diferentes,  de acordo com a etnia. Possuem até os dias atuais uma tradição de trabalhos espirituais.
Esses índios têm o hábito de ingerir uma bebida feita de ayuraska, nos rituais chamados kamarapi. Acreditam  que essa bebida foi o legado que lhes foi deixado por Pawa para que adquiram conhecimento e aprendam a viver na Terra. O aprendizado xamânico se dá através do consumo regular e repetitivo da bebida. A experiência  confere respeito e credibilidade e os efeitos os levam a fazer viagens para outros mundos, adquirindo sabedoria para curar os males que afetam a comunidade, principalmente os nativos, causados por suas crenças como feitiçarias e que chegavam a 57% de todas as aplicações medicinais. Contra as doenças dos brancos só  os remédios industrializados.
Ayuraska, nome quíchua de origem  inca  é uma bebida  cerimonial produzida a partir da decocção de duas plantas nativas da região amazônica, marini ou jabuge, tipo cipó e folhas do arbusto chacrona ou rainha que  contém dimetiltriptanina. Entre nós é conhecida por daime e usado pelos inca e 72 tribos indígenas do Peru, Colômbia, Bolívia e Brasil,
Usado em rituais de movimento religioso conhecido por Santo Daime ou União Vegetal  para potencializar a percepção, prática que altera o modo de entender as coisas, estabelecendo uma ponte entre o homem e suas divindades.
Os Ashaninka têm longa história de luta, repelindo os invasores desde a época do período incaico até a econômica extrativista da borracha na Amazônia, no século XIX, principalmente entre os habitantes do lado brasileiro. Povo austero e festivo, orgulhoso  de sua cultura, é movido por um forte sentimento de liberdade, pronto a morrer para defender seu território. Admirável a sua capacidade de conciliar costumes e valores tradicionais com ideias e práticas do mundo dos brancos que o conhecem como Kampa. Somente em 1992 suas terras foram demarcadas.

                       CURIOSIDADES

Há várias plantas conhecidas por Unha de Gato. Nos descampados da ilha de São Luis há um arbusto invasivo, espinhento cujos galhos são usados em decoração de igrejas e salões de festas.
No município de Bequimão o jamarí, cuja madeira com âmago resistente fornece  mourões de cerca, usado, também como cerca viva. O seu porte, no entanto, lembra uma árvore pequena, com espinhos.
Os Jesuitas foram os primeiros contatos de     brancos com esse povo, em 1595, documentado através de cartas enviadas pelos missionários aos seus superiores.

                      AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Luiz Raimundo Azevedo pela sugestão do tema.
Ao Prof. Dr. José Cloves Verde Saraiva por disponibilizar-me artigos sobre os Inca.
À Sra. Rosa Paxeco Machado, de Caldas da Rainha, Portugal e à amiga Ana Sofia Nascimento Moraes, residente em Miami, que me enviaram links sobre os produtos à base de Unha de Gato, fabricados em Laboratórios Farmacêuticos da Europa e dos Estados Unidos, respectivamente.

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