Embora não goste de pimentas, pimentinhas nem pimentões, não posso escusar-me de falar sobre
suas propriedades farmacológicas, texto solicitado pela acadêmica de
Bioquímica, Arcângela Sampaio, filha de uma amiga e colega de Departamento de
Patologia da UFMA, dra. Luzimar Costa, falecida recentemente.
Cristóvão Colombo foi
o primeiro europeu a encontrá-las em sua
primeira viagem ao Novo Mundo. Acreditando estar nas Indias, chamou esses
pequenos frutos vermelhos de pimientas,
devido o sabor parecido com o da
pimenta-do-reino, proveniente daquela região e conhecida como pimenta de Guiné,
usada há séculos na Índia, China e Pérsia para torturar assaltantes e assassinos.
A Medicina Ayurveda, na Índia,
empregava a pimenta preta com
açafrão ou cúrcuma para vários males, principalmente como anti-inflamatório,
dores das articulações,para melhorar o funcionamento do fígado e do coração;
também do sistema circulatório.
Os povos nativos da Meso-América, que constituíam os impérios pré-colombianos, como os Olmeca, Mochica, Tiwanacu, Maia e
Asteca não só conheciam a pimenta vermelha como a usavam como emplastros e
outras formas curativas. Estima-se, baseado em achados encontrados em sítios arqueológicos, vestígios de cultura datando de
7.500 a.C.
Em 1493, Peter Martyr d’Anghiere escreveu que Colombo levara para a Europa
pimentas mais picantes do que as do Cáucaso. O cultivo da pimenta tornou-se
mundialmente famoso, levada por exploradores espanhóis e portugueses, em meados
do século XVI, para a África e Ásia, espalhando-se pelas Filipinas, Índia,
Coreia, China e Japão, incorporando-se à culinária dessas regiões. Colônias
portuguesas na Índia, como Goa, tem um prato vinduloo, uma adaptação do prato
português carne de vinha d’alhos.
No século XV, Gênova e Veneza monopolizavam o comércio de especiarias, adquiridas na
China, Índia e levada para a Europa pela rota do Mar Mediterrâneo. No século
XVI os portugueses descobriram uma rota alternativa através da Costa Africana, tornando-se
os agentes monopolizadores da comercialização dessas especiarias. Essa pimenta
apreciada pelo mundo inteiro, principalmente na época das grandes navegações é
a Aframomum
melegueta ou pimenta de Guiné.
Desde 1600
os americanos comercializam pimenta, após o cultivo irrigado feito por
espanhóis, no Rio Chama, norte do México.
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS
Pimenta é o nome empregado para uma grande variedade de
plantas, nativas das regiões tropicais das Américas, cujos frutos tem sabor picante. São arbustos da família das
Solanáceas, com altura que chega até 2m; folhas com
dimensões entre 50mm e 100mm de comprimento, verdes, lisas, com número de
sementes reduzido. Há 25 a 27 espécies oriundas da América do Sul e Central,
das quais apenas 5 espécies são domesticadas. Os principais gêneros são: Capsicum e Piper.
O gênero Capsicum
inclue variedades doces, como os pimentos e pimentões e variedades picantes.
É na extremidade do fruto, próximo do pedúnculo que são
produzidas as substâncias que conferem o sabor picante, por isso quando se
removem as sementes e a as membranas onde elas se prendem, reduz-se em muito a
ardência.
No continente americano as principais espécies são: Capsicum annum que se distribui do México ao norte da América Central e C.
frutescens, na América do Sul.
Atualmente há variedades dessa pimenta em São Tomé, Porto Príncipe, Moçambique
e Portugal.
VALOR ALIMENTÍCIO
As pimentas são ricas em vitamina C que aumenta a resistência
do organismo, ajudando a prevenção de gripes e como antioxidante aumenta as
defesas, neutralizando os radicais
livres que podem causar danos ao organismo; vitamina E, antioxidante,
retardando o envelhecimento e anda protege o organismo contra doenças crônicas
não transmissíveis, como o Mal de Parkinson, e o Mal de Alzheimer e doenças
cardiovasculares; calorias, fósforo, potássio, cálcio, fibras. Possui também
carotenoides que tem o mesmo pigmento da cenoura e que se transforma em
vitamina A, excelente para a visão, integridade dos epitélios, crescimento e
desenvolvimento do esqueleto. Como antioxidante combate e previne o câncer e
doenças como catarata, artrite e doenças cardiovasculares.
Além dos países americanos, a pimenta é bastante consumida na
Turquia, Indonésia, Nepal, Tailândia, cruas, cozidas, fritas, secas ou em
saladas de frutas. No Brasil faz parte da culinária de vários pratos como o
acarajé na Bahia, servido com molho de pimenta. Também usadas para temperar
carnes como a de porco e principalmente peixes.
Os herbívoros não se alimentam desses frutos; somente as aves
que não tem dentes, só bicos, através dos quais engolem facilmente, sendo
responsáveis pela sua disseminação.
As pimentas podem ser consumidas cruas, em saladas,
conservas, geleia, curtidas, molhos e até como sobremesa. Desidratada em flocos
é conhecida como pimenta calabresa.
1 – Butch T – classificada pelo Guiness como a mais ardida
com 1.463 unidades de ardência,
2 – Bhut Jolokia – indiana, atinge o grau máximo de Scoville
que mede a ardência. Dizem que espanta até espírito. Deve ser manuseada com
luvas.
3 – 7 – Pod é respeitada; caribenha; ardência infernal.
4 – Naga Monich supera a mexicana; mesmos princípios da B.
jolokia.
5 – Scorpion – originária de Trinidad e Tobago.
PIMENTAS MAIS CONHECIDAS ENTRE NÓS
1 – Americana ou doce – frutos alongados, verde intenso e
brilhante; baixo aroma e pungência doce, utilizada na Culinária para substituir
o pimentão.
2 – Pimenta branca é a do reino madura e seca que foi
descascada, menos picante que a preta e é encontrada em pó ou sementes. Usada
em maioneses, peixes, molho branco, sopas claras e para temperar saladas.
3 – Cambuci ou chapéu de frade, frutos verdes e vermelhos na
forma de campânula ou sino; pungência
doce e aroma baixo. Usada em saladas e cozidos.
4 – Tabasco – procedente do Chile é encontrada na Louisiana;
saborosa e bastante picante.
5 – Pimenta-do-reino verde – colhida ainda verde, usada em
pratos como steake de filé mignon com poivre
vert.
6 – Pimenta-do-reino – a mais antiga e usada no mundo;
arredondada, sabor forte e levemente picante. Originária das florestas
equatoriais da Ásia, principalmente da Índia, pode ser encontrada verde e
vermelha, em óleo ou conservada em salmoura, mantém a cor original, dependendo
do seu estágio de amadurecimento. Quando fervidas e depois dessecadas tornam-se pretas.
7 - Pimenta de cheiro –
frutos alongados, esverdeados, triangulares, campanulares e retangulares;
quando maduras a cor varia de amarelo forte, alaranjado, salmão, a vermelho.
Variedades com pungência doce, de ardência baixa a picante alta. Seu aroma é
forte. Utilizada em saladas como condimento para carnes e peixes. Típica da
cozinha baiana e nordestina, a sua presença é obrigatória em pratos como xinxim
de galinha e bobó.
8 – Jalapeño – frutos cônicos verde- claro a vermelhos; pimenta
saborosa, líquida, fresca ou em conserva, pode ser desidratada em flocos.;
muito popular no México e nos EUA; seu nome
é em homenagem à Jalapa, capital de Vera Cruz. Usada em molhos, tacos,
burritos. Quando defumada é chamada chipothe.
9 – Pimenta da Jamaica – semente aromática, lembrando a noz
moscada, cravo e canela, muito consumida na América e no Oriente, em pó ou em
gás. Pouco picante, levemente adocicada; cor marrom; usada para fazer conservas
de legumes, patés, doces, tortas e pudins.
10 – Pimenta habañero – originada no Caribe e costa norte do
México, Cultivada pelos Maia. Coloração verde, laranja e vermelho. Pode ser
usada fresca, seca ou em molhos. O seu
gosto persiste na boca.
11 – Pimenta dedo-de-moça – frutos alongados, verde a vermelho,
pungência picante, baixo aroma, mais suave que a malagueta e mais picante que a
jalapeño; saborosa, líquida, fresca, em conserva, desidratada em flocos, usada
em molhos; chamada calabresa.
12 – Pimenta cumari-do-pará
- frutos arredondados, amarelados, aroma forte, pungência picante; pode
ser usado em conserva.
13 – Pimenta cumari -
pequenina, redonda ou ovalada, verde a vermelho; picante, ligeiramente
amarga, baixo aroma. Muito comum na mata brasileira. Pode ser comida fresca ou em conserva.
14 – Chili – provém do México, extremamente picante,
utilizada no preparo de pratos mexicanos e italianos, molho cremoso com tomate,
sopa, frutos do mar, carnes, verduras, cogumelos.
15 – Pimenta de bode –frutos verdes, amarelos ou vermelhos,
arredondados ou achatados, tipo pitanga. Pungência alta, aromática. Condimento
para preparar carnes, arroz, feijão, pamonhas salgadas e até biscoitos de
polvilho; quando maduras fazem-se conservas.
16 – Pimenta malagueta – Variedade com pungência de média a alta, baixo aroma; frutos
alongados, vermelhos quando maduros. Muito utilizada para preparo de peixes, carnes, feijoada,
acarajé.
Há ainda a pimenta murici, a biquinho.
NÍVEIS
DE ARDÊNCIA DAS MAIS CONHECIDAS
A murupi apresenta 223 mil unidades; cumari-do-pará, tem
210mil; a malagueta, 164 mil; a de cheiro 94 mil; a de bode 53 mil;
dedo-de-moça 46 mil; jalapeño 37 mil.
Cambuci ou chapéu de frade e a de biquinho é zero.
PROPRIEDADES QUÍMICAS
As pimentas contém Capsaicina,
alcaloide com várias atividades, principalmente no tratamento de certas doenças
e como antioxidante. Esse alcaloide são amidas, compostas basicamente por Nitrogênio, Oxigênio, Hidrogênio e
Carbono, encontrado nas sementes e parede das cápsulas. A capsaicina, tem atividade antimicrobiana, anti-inflamatória,
anticancerígena, baixa o colesterol, melhora a digestão e ajuda a emagrecer,
combate e previne o câncer, artrite e doenças cardiovasculares. Algumas
variedades, como a pimenta-do-reino contém a piperina, usada como anti-inflamatória e antifertilidade de caráter
lipolítico; a chavicina, responsável
pelo sabor pungente, tem atividade
analgésica em caso de artrites, diabetes e ajuda a prevenção do câncer; a bioperina usada na preparação de
compostos bioativos que estimulam a absorção de selênio e vitaminas do complexo
B, como a niacina, tiamina e riboflavina, agindo como antioxidantes,
anticancerígena, potencializando o tratamento com outras drogas.
Hans Christian Ortead, cientista dinamarquês descobriu a
presença de piperina, em 1820.
Entretanto, só em 1882, Leopoldo Hugheimer, químico alemão descobriu a síntese, como inibidora das enzimas hepáticas
de metabolismo de fármacos.
A característica mais importante e peculiar da pimenta é a
ardência causada pela ingestão ou aplicação tópica, causada pela capsaicina, composto produzido por um
metabólico secundário das pimentas e formado por capsaicinoides produzidos nas
glândulas da placenta do fruto. É um composto hidrofóbico, incolor, inodoro e
cristalino a graxo tendo sido isolado pela primeira vez em 1929. As sementes
absorvem o alcaloide, perceptível aos seres humanos em solução diluída de 10
partes para 1 milhão, de água.
Quanto mais picante for a pimenta, melhor o seu desempenho. O
nível de ardência é medido numa escala sensorial denominada Scoville Heat Units (SHO),
variando de zero para pimentas doces até hum milhão de SHO para pimentas
altamente picantes. Essa ardência favorece a quebra de gorduras, ajudando em
processo de emagrecimento. Entretanto em casos de ardência exagerado deve-se ingerir
leite para neutralizá-la.
PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS
As pimentas são benéficas para o organismo porque possuem
propriedades antimicrobianas, anti-inflamatória, anticancerígenas, diminui os
níveis de colesterol, previne enfartes melhora a digestão, combate gripes e
resfriados e seu efeito termogênico, acelera o metabolismo
e ajuda a emagrecer.
Usadas sob a forma de pomadas ou cremes e emplastros para
aliviar dores nas articulações, pois ajuda a desensibilizar as fibras nervosas
que levam e transportam os sintomas da dor. Muito usada em medicina esportiva
em casos de lesões, torsões, nevralgias. Alivia coceiras da pele e acalma as
dores provocadas pelo herpes zoster.
Não são indicadas em casos de gastrite, hemorroidas, refluxos
gastro-esofágicos.
Muitas pesquisas estão sendo realizadas com capsaicina, principalmente em artrites
reumatoides. Perspectivas interessantes no tratamento de osteoartrite e
psoríase.
VALOR
COMERCIAL
Além de utilizada para extração de alcaloides empregados
na produção de bioativos, é matéria-prima na preparação de spray de pimenta.
O maior e mais importante produtor de pimentas é o casal Sylvio
Borges e Priscila Ávila que mora no Distrito Federal e cultiva 90 espécies
provindas de 62 paises, inclusive a Butch T que foi classificada pelo Guiness
como a mais ardida, com 1.463 milhões de unidades de ardência.
CURIOSIDADES
Diz-se que uma pessoa é pimenta, pimentinha quando muito agitada. Esse apelido foi dado à
cantora Elis Regina.
As pimentas podem ser cultivadas em jarros como bonsais.
Usadas como elementos decorativos e para afastar o mau olhado. Há também outra
erva medicinal de família diferente chamada hortelã-pimenta. Usa-se um adágio
muito comum entre nós: pimenta nos olhos dos outros é refresco.
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