CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
As fêmeas de todos os mamíferos segregam leite
para alimentar seus filhos recém-nascidos. O leite é composto de água e de
vários nutrientes necessários à progênie: gordura, proteínas, sais minerais,
açúcar e vitaminas, em proporções diferentes, conforme as espécies de animais.
A gordura constitui o fator
determinante para atribuir-se maior valor comercial e índice de capacidade
produtiva da vaca. Os sólidos não gordurosos são importantes para
reconhecimento do seu valor nutritivo. As normas do leite recomendam como
aceitável o leite que contenha 3.00 a 3.25% de gordura e, no mínimo 8.00% de
sólidos não gordurosos.
HISTÓRICO
Desde os tempos imemoriais, durante
milhares de anos da pré-história, o homem tem utilizado o leite dos animais
como recurso alimentar. Atualmente o leite de vaca é o mais consumido em todo o
mundo, embora se use em muitas regiões o leite de cabra, de ovelha, de égua e
outros animais. No Nordeste do Brasil o leite de jumenta é muito procurado
pelas populações carentes, em caso de recém-nascidos com intolerância ao leite
materno e em casos de coqueluche.
Devido o seu papel de fornecedora
universal de leite, a vaca recebeu, de há muito a denominação de ama da humanidade.
Presume-se que o homem começou a
alimentar-se de leite de vaca quando conseguiu domesticar os animais selvagens
que vagavam pelos campos e florestas, ainda que àquela época remota, os nossos
antepassados se interessassem pelos animais como fonte de produção de carne. As
vacas só davam o leite necessário à nutrição de suas crias, sustentando-se com
a vegetação agreste que encontravam, pois o homem primitivo não cogitava em
melhorar o gado, nem os seus alimentos.
Com o progresso da civilização e o
aumento populacional, tornou-se imprescindível obter alimentos em maiores quantidades e de novas fontes, originando-se,
então a prática de cultivar o solo e fazer plantações. Por sua vez a lavoura
exigiu a necessidade da tração animal, adaptando-se o boi para tal propósito,
por causa de sua força e do seu grande porte. As vacas foram reservadas para a
função reprodutiva, isto é, o crescimento e manutenção das manadas e o pouco
leite que produziam era consumido pelas crias, na fase de amamentação, até que
estas pudessem alimentar-se de capim e de outras forragens.
Nas suas lides com os animais que
domesticava, o homem deve ter percebido desde cedo que o leite era o alimento
natural de todas as crias e que, portanto, o leite de vaca poderia nutrir seus
próprios filhos. Começara, então, a deixar uma parte para a alimentação dos
bezerros e com o correr dos tempos,
passou a depender dessa fonte para alimentar a família.
Através dos séculos o leite de vaca
tem contribuído para a saúde, bem-estar e longevidade da raça humana, pois o
leite e seus derivados possuem um valor nutritivo incomparável, e que devem ser
incluídos no regime alimentar das pessoas de todas as idades, para que a sua
nutrição seja a mais satisfatória possível.
A primeira medida tomada pelos povos
primitivos, após domesticar os bovinos, e para atender a grande demanda de
leite, foi aumentar seus rebanhos, levando-os consigo, em suas migrações. Mais
tarde houve necessidade da criação de gado de qualidade, não só para corte,
como para a produção de leite, melhorando as pastagens, cultivo de cereais e
plantas forrageiras, para a engorda. Também para melhor a capacidade leiteira,
para atender melhor suas necessidades mais prementes.
INTRODUÇÃO DO GADO NA AMÉRICA TROPICAL
Todas as raças e tipos de gado
atualmente existentes em nosso Continente foram originalmente importados da
Europa e da Ásia, pois não havia gado nativo por ocasião da sua descoberta, em
1492. Na sua segunda viagem, em 1493, Cristóvão Colombo trouxe gado a bordo, e
os navegantes espanhóis e portugueses que lhe sucederam o trouxeram para o Novo
Mundo, a partir de 1525. Os exploradores, conquistadores e colonos, levaram
gado não somente para as Índias Ocidentais, mas também, para os portos das
costas da América do Sul, da América Central do Golfo do México e, a partir daí
espalhou-se, acompanhando sempre o movimento de colonização. Era de grande
utilizado como animais de carga, fornecimento de carne e também do couro. Os
colonos e conquistadores somente se interessavam na produção de leite e seus
derivados que bastasse às suas necessidades imediatas.
INTRODUÇÃO
DO GADO NO BRASIL
Os primeiros bovinos entraram o
Brasil no início da colonização, em 1534, por sugestão de d. Ana Pimentel de
Souza, esposa de Martin Afonso de Souza. Este mandou buscar em Cabo Verde e em
Portugal algumas dezenas desses animais, para as feitorias, engenhos,
propriedades circunvizinhas dos povoados e vilas que foram sendo fundados com
as Capitanias e no Governo Central, localizados ao longo do litoral brasileiro.
Era gado Turino (Bos taurus), comum, da Península Ibérica,
criado sem nenhuma especialização de função, servindo para o trabalho, fornecimento de carne e leite. D.
Ana era uma senhora autoritária, de ascendência espanhola e que, munida com uma procuração do marido
governou São Vicente de 1534-36. Alguns historiadores afirmam que entre o gado
comum, vieram reses com sangue de zebu.
Duarte Coelho Pereira
quando chegou ao Brasil, em 1535 trouxe uma centena de cabeças de gado
das ilhas da costa ocidental da África, principalmente Açores, Madeira, Cabo
Verde e de Portugal.
Tomé de Souza, foi nomeado por d.
João III, o primeiro Governador Geral assumindo
em 1549. Dois anos depois, solicitou e foi atendido pelo rei que lhe
enviou centenas de cabeças de gado, distribuídas entre os proprietários locais.
Do cruzamento de várias espécies surgiram as variedades crioulas (pé duro ou
curraleiro, pantaneiro e caracu) que se espalharam por todo o território
brasileiro. Em 1550 já se ouvia o ranger dos carros de bois, únicos meios de
transporte até o advento da estrada-de-ferro. Também o Pe. Nóbrega, em 1565,
faz referência a grandes rebanhos, na Bahia.
VALOR ALIMENTÍCIO DO
LEITE
As principais funções dos alimentos
para o homem são: produzir energia, criar e renovar os tecidos do corpo e
regular os processos fisiológicos e o estado interno. As propriedades químicas de
um regime alimentar adequado deve possuir proteínas de qualidade apropriada e
em quantidade suficiente para produzir os aminoácidos essenciais; elementos
nutritivos orgânicos em forma digerível para produzir a energia necessária; os
elementos minerais em quantidade e proporções adequadas e presença de vitaminas
essenciais, em quantidade suficiente.
O leite supre todas essas exigências,
mais do que qualquer outro alimento para a boa nutrição, sendo considerado o
alimento protetor pelo fato de conter
grandes teores de elementos nutritivos essenciais ao regime alimentar
habitual.
O leite apresenta em sua composição; água – 86,61%; gordura – 4,14%; proteínas
– 4,96% e cinzas 0,7%.
-PROTEINAS – As
principais proteínas que o leite possui são a caseína e a lactoalbumina,
contendo a maioria dos aminoácidos essenciais que são materiais plásticos,
necessários ao organismo para o desenvolvimento de seus tecidos.
-LACTOSE - fonte
de energia; de digestão lenta facilita a fermentação ácida nos intestinos;
reduz a formação de produtos tóxicos de
decomposição; atua como laxante suave; promove a assimilação do cálcio.
-MINERAIS - nosso organismo necessita de
minerais para desenvolvimento da nossa
ossatura, dos tecidos moles e para manter o equilíbrio dos fluidos
normais. Os minerais mais importantes são o cálcio, e o fósforo,
imprescindíveis para o desenvolvimento dos ossos e dentes, enquanto o ferro é essencial para a formação dos
glóbulos vermelhos. O fósforo,
também é importante na composição de todas as células vivas.
Os teores de minerais encontrados no
leite são os seguintes: Potássio:
20,8%; Cloro: 14,3%; Cálcio: 14,3%; Fósforo: 10,6%; Sódio:
7,4%; Magnésio: 1,5%; Enxofre: 2,3% e Ferro: 0,09%. Ferro, Cobre e Manganês estão em teores menores.
-VITAMINAS
– as vitaminas são substâncias existentes nos alimentos, indispensáveis à
boa nutrição e à saúde. Promovem o crescimento, o vigor, e à saúde; dão
resistência contra as doenças; determinam o crescimento normal dos dentes e dos
ossos; estimulam o apetite; protegem o organismo contra doenças de carência,
manifestadas nos ossos e na pele.
O leite possui todas as vitaminas
conhecidas, algumas em abundância, outras em baixos teores. Vitamina A: 160-225 UI; Vit. B (Tiamina):
40-65 mcg; Riboflavina: 195-240 mcg;
Ácido ascórbico: 2,1-2,2mg; Ácido
nicotínico: 2-8mg; Vitamina D: 1,7 UI.
DERIVADOS DO LEITE
O leite é uma emulsão de gorduras,
contendo materiais coloidais e sais em solução. Uma das suas propriedades mais
importantes é a sua reação uniforme quando submetido a determinado processo.
Quando em repouso, forma a nata que é a gordura que sobe à tona. A nata ou
creme pode separar-se por processo mecânico e transformar-se em manteiga. A
indústria proveio da facilidade com que a gordura do leite se separa dos seus
demais componentes. O leite tem ainda a propriedade de coagular-se, quer pela
adição de ácidos, de coalho ou pela ação do calor. Essa capacidade de
coagular-se é a propriedade do leite da qual depende a fabricação de queijos.
Apesar de líquido, pelas suas propriedades nutricionais é considerado mais um
alimento do que uma bebida.
Os mais comuns são os queijos, a
manteiga, iogurtes, coalhadas, farináceos, leite condensado, creme de
leite. Entra na fabricação de sorvetes,
doces, balas, chocolates, biscoitos, pudins, bolos, e até usados em licores e
coquetéis.
O leite pode ser consumido in natura,
fervido ou pasteurizado, desnatado,
integral, ou processado: liofilizado, cremoso como o leite condensado. Também
são processados, enriquecendo-os com vitaminas e minerais, como o ferro.
Não é o objetivo deste texto,
discorrer sobre a grande variedade de queijos produzidos artesanalmente ou
industrializados, derivados de leite de vaca ou de cabra.
DEFICIÊNCIA DE LACTASE
INTESTINAL E INTOLERÂNCIA
AO LEITE
Indubitavelmente o leite é um
complemento dietético de grande valor nutritivo, por conter proteínas de boa
qualidade, sais minerais, um açúcar (lactose), gordura e vitaminas. Entretanto
a inclusão do leite na dieta humana após a fase de lactação pode ser
prejudicial para muitos indivíduos, já que sua ingestão pode causar transtornos
intestinais cuja intensidade pode variar de simples indisposição até o
impedimento de atividades normais.
A lactose, açúcar presente na
composição química do leite é um dissacarídeo, cuja biossíntese é feita nas
células epiteliais das glândulas mamárias. A única fonte natural de lactose é o
leite da maioria dos mamíferos placentários, sendo raros aqueles, como algumas
espécies de leões marinhos e focas que o produzem sem esse açúcar. A lactose
cuja proporção varia segundo as espécies, é encontrada por volta
de 7% em humanos e 5% no leite da vaca e não sofre alterações com a fervura nem
com a pasteurização.
A lactose não é absorvida pelo
organismo a não ser quando a sua concentração na luz intestinal é muito alta ou
quando a mucosa intestinal se encontra lesada. Somente nessas circunstâncias é
que pequenas porções podem entrar passivamente na corrente sanguínea, sendo
eliminada pelos rins, em processo conhecido por lactosúria. Geralmente a
lactose ingerida deve ser hidrolisada dando origem à galactose e à glicose, que
são absorvidas pelas células epiteliais de transporte ativo. Essa hidrólise é
efetuada nas células do intestino
delgado, com o concurso de uma enzima chamada lactase e não na luz intestinal,
uma vez que essa enzima tem pouca atividade no suco entérico. A produção de
lactase intestinal começa a diminuir a partir da época de desmame, atingindo
níveis relativamente baixos na idade adulta.
A intolerância ao leite poderá ter
sérias consequências em crianças desnutridas, tornando-as mais propensas às
infecções gastrointestinais, causadas pela ação das salmonelas ou shigelas e
levando à grave desidratação. Essa deficiência manifestada na idade adulta foi
caracterizada pela primeira vez em 1963; é considerada uma característica normal da
espécie humana e não deve ser confundida com a deficiência congênita da lactase,
nem com a alergia ao leite que é uma reação imunológica adversa às
proteínas do leite e se manifesta após a ingestão de uma pequena porção do
produto à base de leite de vaca. Os principais sintomas podem ser alterações
intestinais, na pele e sistema respiratório (tosse e bronquite).
Cerca de 70% da população mundial não
podem tomar leite nem consumir
lacticínios sem ter problemas gástricos. É um problema genético e acontece com
mais frequência entre os descendentes de africanos, asiáticos e nas populações
mediterrâneas. A causa dessa intolerância é devida à deficiência de lactase,
uma enzima necessária à absorção e digestão da lactose. Sem poder ser digerido,
o açúcar do leite permanece no cólon fazendo com que a pressão osmótica do
fluido intraluminal se torne superior à do plasma, o que provoca um fluxo de
água extracelular para o interior do duodeno e jejuno, também para o estômago,
estimulando os movimentos peristálticos e consequente velocidade do trânsito
intestinal. A lactose pode fermentar, causando distúrbios intestinais, de
brandos a severos, como: inchaço, cólicas, meteorismo, borborigmos, flatulência
e diarreia com fezes aquosas, espumantes e ácidas. Determina, também, a
malabsorção de outros nutrientes como o ácido fólico, ferro, cálcio, nitrogênio
e gorduras, confundindo até os especialistas que a considera, equivocadamente como
a síndrome do intestino irritável e
outras doenças intestinais sérias.
A ingestão de dois copos de leite
aumenta oito vezes a quantidade de liberação de gases. Há testes confiáveis
para diagnosticar essa intolerância, incluindo exames de sangue e um teste
simples de respiração-hidrogênio.
A gravidade desses incômodos depende da gravidade da deficiência
de lactase. Dos indivíduos portadores dessa intolerância 60% a 80% ainda
conseguem tomar um copo de leite, diariamente. Segundo alguns pesquisadores
pessoas normais absorvem 92% da lactose ingerida enquanto os portadores da
síndrome absorvem entre 25 e 58%.
Alguns pesquisadores atribuem essa deficiência,
também à cirurgias intestinais, infecção do intestino delgado causada por
vermes e fungos, afetando as células do revestimento intestinal.
Dos produtos lácteos o único seguro é
o iogurte pois já vem pré-digerido: as bactérias Streptococcus thermophylus
e Lactobactobacillus bulgaricius que transformam o leite em
iogurte, ingerem grande parte da lactose durante o processo da fermentação e
uma vez no intestino, digerem o resto. O iogurte natural é o mais ativo.
Entretanto o sorvete de iogurte é repasteurizado, destruindo as bactérias.
Em pessoas com intolerância à lactose
podem diminuir as quantidades de leite ingeridas, fazendo-o durante as
refeições. Esse leite deve ser integral e não desnatado ou acrescentar Lactaid
ou outros produtos semelhantes, que fornecem as enzimas ausentes, ou usar
leites especiais, nos quais a lactose é diminuída.
VALOR ALIMENTÍCIO
Rico em cálcio, que ajuda a combater
a hipertensão, o leite e os laticínios constituem os alimentos consumidos no
dia-a-dia mais saudáveis, embora cause azias e até constipação intestinal,
fadiga crônica em muitas pessoas. Consumido para combater o câncer,
principalmente de cólon, pulmão, estômago e cervical e para reduzir o
colesterol, principalmente com leite desnatado.
A gordura do leite promove câncer e doenças
cardíacas, além de alergias que provocam dores nas articulações e sintomas de
artrite reumatoide, asma, síndrome do cólon irritável e diarreia
Esse estudo sobre o leite para demonstrar como ocorre a intolerância à lactose está muito bom. No fim, tudo está ligado à genética e aos padrões culturais do homem ao longo de sua evolução.
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