HISTÓRICO
A História nos conta que o cultivo de grãos marca a transição
entre as tribos nômades para as sociedades agrícolas, dando origem à civilização
como a conhecemos hoje.
O trigo é a segunda cultura de grãos
mais conhecida em todos os cantos da
Terra. Acredita-se que as variedades de trigo são plantadas pelo homem desde 12
mil anos a.C. Entretanto os primeiros indícios arqueológicos são de 8 mil anos
a.C., no Oriente Médio. O trigo se originou de uma mutação genética da planta
que torna as sementes grandes e pesadas demais pra serem carregadas pelo vento.
Inicialmente cultivavam só o sorgo e a cevada; depois o
centeio e finalmente o trigo. Ignora-se quando o homem começou a usar o trigo
na alimentação. Do surgimento da necessidade de manejo do solo para a produção
de alimentos, passando pela invenção da escrita pelos sumérios, com consequente
divisão de trabalho, o trigo desempenhou um papel importante na história da
humanidade. O cultivo começou na Mesopotâmia, numa região chamada pelos
historiadores de Crescente Fértil, correspondendo aos atuais Iraque e Egito e
dessa região para o mundo. A Mesopotâmia que significa em grego entre
rios foi dominada por vários povos, como os sumérios, amoritas, assírios e
caldeus, todos responsáveis por importantes avanços no conhecimento. Os
sumérios representa, a base cultural dessa vasta região que definiram ao conceito cidade-estado,
noções de metalurgia, domesticaram bois, cabras e jumentos, viviam em casas de
barro, criaram a roda e a escrita cuneiforme Os amoritas que representam o
primeiro império babilônico, veio o famoso Código de Hamurabi, o mais completo
conjunto de leis da Antiguidade. Os assírios
se preocuparam em agregar conhecimentos na Biblioteca de Nínive, porém o
maior avanço científico se deu com os caldeus. Som o domínio de Nabucodonosor
foram construídas importantes obras arquitetônicas. A Astronomia deslanchou e
foi criado o calendário dividindo o ano em 12 meses.
Sabe-se que no Egito, no período pre-dinásticos, já era
consumido como alimento emmer, um
trigo primitivo, bem como a cevada, atribuindo a esse povo a invenção do pão,
por volta de 4 mil anos a.C., quando descobriram o processo da fermentação. Mais
do que alimento, faziam pães e biscoitos com formas humanas e animais usados em
rituais, como oferta aos seus deuses. Só mais tarde ganhou status de símbolo
religioso: na Religião Católica, o pão e o vinho compõem a Eucaristia, enquanto
no Judaismo, o pão ázimo, sem fermento, é presença obrigatória até os dias
atuais. Na Babilônia, há cerca de 6 mil anos, o trigo era tão importante quanto
a cevada e o painço. Os habitantes das aldeias palafitas suíça e os
escandinavos da idade da Pedra conheciam esses três cereais. Há 5 mil anos, o
trigo era a cultura mais importante. Na época dos antigos gregos e romanos os
trigais eram comuns nas terras do Mediterrâneo, substituindo, paulatinamente a
cevada, o mais antigo cereal que se tem notícia. As classes ricas davam
preferência ao trigo, que se tornava cereal nobre, ficando a cevada para os
pobres e escravos. Os chineses conheceram o trigo cerca de 2mil anos a.C. com o
qual faziam farinha, pasteis e macarrão, levados à Itália por Marco Polo..
Na Grã-Bretanha, plantavam grandes
trigais que contribuíam para o abastecimento de Roma. Na Alemanha, Dinamarca,
Noruega, Suécia, Finlândia e em outros países,
o trigo foi substituindo os outros cereais na alimentação humana.
Posteriormente, verificou-se o mesmo na Rússia, Japão, China e Índia, grandes
consumidores de arroz.
Há autores que afirmam que a cultura
do trigo surgiu na Ásia, nas regiões onde estão
localizados o Irã, o Turquestão, a Transcaucásia e a Turquia. No
Paleolítico esse cereal era também
cultivado nas terras ocidentais do Mediterrâneo, de onde se espalhou pela
Europa. Por volta do terceiro milênio a.C., já era conhecido na China. Desde
cedo o homem aprendeu a utilizá-lo como alimento.
A princípio, os grãos eram apenas colhidos;
mais tarde aprenderam a torrá-los, o que permitiu a sua trituração. O produto obtido era usado para
preparar mingaus e uma espécie de massa folhada. Bolas de mingau grosso e
consistente começaram a ser assadas na brasa, surgindo, assim, o pão ázimo que
servia de alimento para babilônios, egípcios e hebreus; também para os povos da
Europa, na Idade do Bronze. A massa era escura e pesada contendo muita umidade
e para cozimento mais rápido adelgaçavam-na em forma de folha.
Mais tarde foi incluído o fermento
que levantava essa massa. Dos cereais apenas o trigo tem essa peculiaridade,
devido à quantidade de matéria albuminosa que lhe dão rijeza e elasticidade.
Isso se deu na época em que a fabricação de cerveja se difundiu na Europa.
Em Roma, no tempo de Petrônio (séc.I)
consumia-se pão acidulado, privilégio das classes abastadas. Na Europa
Medieval predominavam o centeio, a
cevada e a aveia que juntamente com o
painço e o trigo sarraceno, originário do Oriente, compunham a base da
alimentação popular.
A massa acidulada foi sendo
substituída pela massa fermentada , de
que se fazia o pão leve. Mas isso só ocorreu em tempos recentes.
Em sua trajetória na história da humanidade o trigo teve papel
decisivo, não só como alimento mas para a invenção da escrita pelos sumérios,
como forma de registrar e controlar a safra excedente, utilizado como moeda de
troca.
E O TRIGO CHEGA
ÀS AMÉRICAS
Atravessando o Atlântico chegou ao
nosso continente com os primeiros europeus, inicialmente no México desde 1519,
embora na América do Norte, incluindo o Canadá dessem preferência ao centeio,
reinando até o século XIII. A descoberta e povoamento das vastas e férteis
planícies de além Apalaches tornou possível a triticultura em amplíssima
escala. Em 1870, os trigais americanos começaram a ser atacados pela ferrugem o
que causou grandes prejuízos enquanto o trigo trazido da Táurida, na Rússia,
era mais resistente.
E
NO BRASIL?
Quem introduziu o trigo no
Brasil foi Martim Afonso de Souza, na
capitania de São Vicente, em 1534, sendo cultivado pelos primeiros
colonizadores, tendo se disseminado em várias áreas, principalmente na região
meridional subtemperada. No começo do século XVII, casais de açorianos, fixados
na antiga província de São Pedro do Sul, incrementaram seu cultivo. As
exportações começaram em 1805, mas a partir de 1811, com a irrupção da
ferrugem, os agricultores preferiram outros cultivos. No século XIX a XX, até a década de 1940, não
prosperou a cultura do trigo.
Atualmente as regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste são as maiores produtoras de trigo, com uma produção anual de 10
milhões de toneladas.
CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS.
O trigo é uma gramínea cultivada em
todo o mundo. É a segunda cultura mais difundida, atrás do milho e maior do que
a do arroz. A cultura do trigo chama-se Triticultura e é cultivado,
principalmente das regiões temperadas. Nas regiões tropicais é substituido pelo
milho e pelo arroz.
O vocábulo trigo se origina do latim triticum. Trata-se de um cereal do grupo das gramímeas, da família das
Poaceas. Pertence ao gênero Triticum
que compreende 24 espécies, das quais as
mais extensamente cultivadas são o T.
aestivum e o T.durum. É o cereal mais
importante da alimentação, sendo o alimento básico do homem; também de animais,
servindo de planta forrageira.
O porte varia de 20cm a 2m de altura.
É planta anual com ciclo de 90 a 180 dias, dependendo do ambiente,
A planta tem raízes fasciculadas,
colmos eretos, com cinco a sete nós sólidos e internos ocos, na maioria das
variedades. As folhas são lineares, simples com bainhas que em geral cobrem 2/3
do colmo, com aurículas e lígulas. A inflorescência é uma espiga com espiguetas
sésseis. Cada espigueta consiste de duas brácteas estéreis ou glumas com duas a
cinco flores. Cada flor tem duas glumas: a lema e a pálea, três estames e um
pistilo e duas lodículas na base.
O fruto é uma cariopse, pequena,
seca, indeiscente, com uma única semente, fino pericarpo, embrião e endosperma.
Tem cor vermelha, branca ou intermediária. Quando o endosperma é vítreo, a cor
é mais escura; quando farinhoso, mais clara. O endosperma corresponde a 75 a
89% do total do grão. A casca é chamada farelo.
Os trigais brasileiros se anteciparam
aos norte-americanos, argentinos e uruguaios, pois o Brasil foi o primeiro país
americano a exportar trigo. As primeiras
sementes de trigo vieram para São Vicente,
em 1534, desenvolvendo trigais ao lado do centeio e da cevada, no planalto, em
terras de Piratininga.
VALOR NUTRITIVO DO
TRIGO
O trigo é rico em nutrientes como os carboidratos e fibras.
Também apresenta elevados teores de vitaminas (A, B, C, E e K) que podem ajudar
a melhorar o sistema imunológico, prevenindo doenças como a diabetes, o câncer
do intestino, melhorando o seu funcionamento; combate o colesterol ruim, ajuda
a emagrecer, combate a acne e ajuda a prevenir a depressão; a betanica ajuda a
combater inflamações.
A Vit K, participa da coagulação; as
proteínas gliadina e gentenina, glutenina e prolina ricas em aminiácidos, agem
na manutenção do funcionamento do
organismo; Vit. C aumenta a imunidade; Vit. E combate as toxinas que atacam as
células; a Vit A é antioxidante, fortalece o sistema imunológico e combate o
envelhecimento; a Vit. B1 ou ácido fólico e outras como a tiamina, a
riboflavina e a niacina são indispensáveis para gestantes, atua na formação do
tubo neural e de outras terminações nervosas; a Vit E é mais encontrada no
gérmen. Dos minerais o Cálcio concorre para a formação dos ossos; o Ferro previne
a anemia e dificuldades cognitivas. Outros minerais com taxas mais baixas são:
cloro, sódio, magnésio, enxofre e potássio. Os lipídios são representados pelos
triglicerois. As fibras limpam o organismo e ajudam a combater a constipação e
os carboidratos fornecem a energia essencial para o funcionamento do organismo.
Há deficiência em aminoácidos lisina, treonina e triptofano. Tanto o trigo
branco como o integral constitui
excelente fonte de selênio.
No Brasil, faz-se obrigatoriamente o
enriquecimento da farinha com ácido fólico, na proporção de 150mcg/100g.
PRINCIPAIS USOS
Na fabricação de pães de diversos
tipos, bolos, biscoitos, macarrão, pizzas, sanduiches, salgadinhos. O gérmen do
trigo possui muitos ingredientes e pode ser usado na preparação de cerveja,
uísque.
TRIGO INTEGRAL
Citado pela Bíblia e confirmado pela história
da criatividade genial da civilização greco-romana.
Contém ácido glutâmico, o ácido da
inteligência. É alimento energético, equilibrado pela relação sódio-potássio.
Considerado eficaz contra o tifo, raquitismo, retardo mental e câncer, pelo seu
notável poder inibidor da ação cancerígena do corante químico. Recomendado para
a alimentação de gestantes, crianças e indivíduos raquíticos, pois é rico em
vitamina D, a vitamina que metaboliza o cálcio, além dos minerais cálcio e
magnésio. O ácido glutâmico é prescrito para crianças com deficiência mental,
que não conseguem acompanhar a escola, mostrando desinteresse e mesmo apatia.
Trezentos gramas de pão feito com
trigo integral, sem fermentos químicos, sem óleo, sem açúcar, equivalem a 117gr
de carne, fornecendo 360 calorias.
Além do selênio, o trigo
integral apresenta elevados teores de
manganês. Seu consumo é mais saudável ao organismo, possuindo 60% a mais
de nutrientes, do que a farinha comum.
Também contém todas as porções dos grãos: casca ou farelo, rico em fibras;
endosperma, com altos teores de carboidratos e o gérmen, rico em vitaminas e
minerais. A sêmola são partículas do endosperma nas primeiras passagens pelos rolos de trituração.
TRIGO
SARRACENO
Também chamado trigo mourisco, na realidade
não é uma gramínea e sim uma planta da família das Polygonaceas (Fagopyrum esculentum).
Seus grãos são comestíveis e parecem com cereais.
Energizante e nutritiva é fonte de
proteínas, contendo todos os aminoácidos inclusive a lisina que falta na
farinha branca. Usado para fazer papas e mingaus e engrossar molhos e
ensopados. Rico em minerais como manganês, magnésio; fibras dietéticas; rutina
que é um flavonoide, também chamado vitamina P e quercetina que são
antioxidantes. Possui mais proteínas do que o arroz, o trigo e o milho e não
tem glúten.
Faz parte da culinária judaica,
russa, polaca, japonesa e bretã (os famosos crepes).
Usado como coadjuvante no controle da
diabetes, hipertensão e obesidade.
GLÚTEN
O glúten é uma proteína formada
basicamente pela mistura de cadeias proteicas longas de gliadina e glutenina,
responsável pela viscosidade e elasticidade às massas.
O glúten pode ser encontrado no trigo,
o malte, a cevada e o centeio e podem
causar uma série de problemas à saúde
das pessoas que apresentam intolerância ou são alérgicas. A síndrome causada
pela sua intolerância é chamada Doença Celíaca que se exterioriza, por dores no
estômago, inchaço, rinite alérgica e asma, além de outros sintomas ligados às carências
nutricionais, como a deficiência de cálcio, pois danifica as células
epiteliais de revestimento do intestino
delgado, interferindo no metabolismo dos alimentos e impedindo a absorção de
nutrientes.
Segundo os nutricionistas, o glúten
cola o intestino, grudando as paredes, provocando várias complicações. Com o
tempo provoca saturação do aparelho digestivo, com retenção de líquidos estufando
e aumentando a gordura na região
abdominal, levando à obesidade. O organismo responde de diversas maneiras:
dores articulares, alergias cutâneas, intoxicação que provoca enxaqueca,
depressão, produção de gases, devido à proliferação de bactérias intestinais, causando
diarreias constantes, vômitos, síndrome de resistência à insulina, doenças autoimunes.
Como o glúten é aliado do açúcar, sequestrador de cálcio, acelera o processo da
osteoporose, aumenta a formação de cáries, e das taxas de colesterol, com riscos de
aterosclerose.
Há também, a intolerância genética ao
glúten. Um em cada trezentos brasileiros tem esse problema, cujo diagnóstico é
às vezes difícil.
Sem o glúten o organismo produz
serotonina que causa nosso bem-estar.
Segundo pesquisas do dr. William
Davis (2013) o trigo é um veneno para milhões de pessoas no mundo inteiro. A
farinha não contém a enzima transglutaminase que quebra o glúten. Ao ser
ingerido as proteínas atacam as paredes do intestino delgado, dificultando a
absorção de nutrientes.
Ele chega a propor a eliminação total
de pratos à base de farinha de trigo.
Trigo X Joio
Joio, conhecido também por cizânia, é
considerada erva daninha. Se confundida com o trigo e processados juntos
compromete a qualidade do produto obtido. Pode até ser venenoso.
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