O texto de hoje começará com uma lenda
nordestina – Dizem que Jesus Cristo passava por uma estrada em um dia de sol
muito forte e por isso estava sedento e com muita fome. A certa altura ele
avistou um canavial e resolveu sentar-se numa sombra entre as folhas,
refrescando-se do calor, descansando e chupando uns gomos de cana e, enfim,
matando a fome e a sede. Ao sair, abençoou as canas, prometendo que delas o
homem haveria de tirar um alimentobom e doce.
No outro dia, na mesma hora, o diabo
saiu do fogo do inferno, com os chifres e o rabo queimados. Galopando pela
estrada, foi dar ao mesmo canavial. Mas dessa vez, as canas soltaram pelos e o
caldo estava azedo e queimou-lhe a garganta. O diabo furioso, prometeu que da
cana o homem tiraria uma bebida tão ardente como as caldeiras do inferno, É por
isso que da cana se tira o açúcar, bênção de Nosso Senhor e a cachaça, maldição
do diabo.
Os carboidratos
(nome derivado de carbos que
significa carbono mais hidrato que significa
água),contêm a energia radiante do sol, capturada de modo que os seres vivos
podem usar para impulsionar a vida. Assim eles formam o primeiro elo na cadeia
alimentar que sustenta a vida na Terra. Os alimentos ricos em carboidratos vêm,
com raras exceções, das plantas que os sintetizam pelo processo da fotossíntese, na presença da clorofila
e luz solar.
Desde o Ensino Fundamental aprendemos que a águaabsorvida
pelas raízes das plantas,seusátomos de hidrogênio e oxigênio, e o gás
carbônico, combinam-se para produzir o mais comum dos açúcares – a glicose,
que fornece energia para todas as
células do caule, raízes, folhas, flores e frutos.
Os vegetais, entretanto,não usam toda a energia
armazenada, de modo que ela fica disponível para uso dos animais, dos seres
humanose, principalmente, dos animais que consomem essas plantas. A
fotossíntese por isso é importante para a nossa sobrevivência.
Os açúcaresconhecidos são: os monossacarídeos (glicose, frutose e galactose (do leite
materno); os dissacarídeos (lactose, a maltose e a sacarose, composto de glicose
e frutose). O amido, as fibras e o glicogênio são polissacarídeos, isto é, filamentos formados de muitas unidades
de glicose.
O AÇÚCAR
O termo AÇÚCAR se
refere a todos os monossacarídeos e dissacarídeos, principalmente a sacarose.
Os principais, por fazerem parte do nosso dia-a-dia são:
- açúcar branco:
sacarose pura, produzida pela dissolução, concentração e recristalização do
açúcar bruto;
- açúcar mascavo:
açúcar branco com melaço adicionado, 95% de sacarose;
- açúcar de confeiteiro:
sacarose finamente pulverizado, refinado, 99,9% ,adicionado a amido de arroz,
milho ou carbonato de cálcio, usado para glacê e cobertura de bolos.
- açúcar granulado:
açúcar comum, de mesa;99,9% de sacarose pura;
-açúcar bruto:
a primeira colheita de cristais obtida durante o processamento do açúcar;
contém sujeiras;
- açúcar turbinado:
açúcar bruto limpo;
- açúcar light:
mistura de açúcar refinado e adoçantes;
-açúcar orgânico:
grânulos mais grossos e escuros e não se utilizam ingredientes químicos no seu
processamento
- açúcar líquido:
usado em bebidas gasosas; não é encontrado no comércio.
- demerara: açúcar mais caro, grânulos
castanho claros, devido à camada de melado que envolve os cristais; usado para
preparar doces; refinamento leve e nenhum aditivo químico em seu processamento.
Tem mais valor nutritivo.
A sacarose é também extraída da beterraba, desde 1747,
processo esse, implantado na França por Napoleão Bonaparte e usado na
Inglaterra pelos puritanos que se negavam a consumir o açúcar produzido por
trabalho escravo. Deportados para os EUA deram prosseguimento nas regiões
ocupadas. A beterraba de onde se extrai a sacarose é de espécie diferente da
que usamos em saladas e foi descoberta desde 1575 por camponeses franceses.
Enquanto a cana fornece 60% de sacarose, da beterraba se extrai 15 a 20%.
OUTROS AÇÚCARES
- melaço:
xarope restante do refino da sacarose da cana-de-açúcar;um xarope espesso,
castanho, rico em ferro, resultado do equipamento usado no seu processamento.
- açúcar invertido:mistura
de glicose e frutose, formado pela divisão da sacarose. Encontrado em forma
líquida e mais doce que a sacarose. Esse açúcar se forma durantecertos procedimentos
de cozimento e age impedindo a
cristalização da sacarose, em balas moles e doces;
- mel:
solução concentrada composta de glicose e frutose, produzida pela digestão
enzimática da sacarose do néctar de flores, realizada pelas abelhas;
- açúcar de milho:
xarope produzido com glicose e em parte por maltose, resultante da ação
enzimática do amido do milho;
- açúcar de bordo:
solução concentrada de sacarose derivada da seiva de bordo, predominantemente a
sacarose;
- açúcar de beterraba:
muito usado na Europa e num determinado tempo nos EUA.
MECANISMO DE AÇÃO DOS AÇÚCARES
Quando se ingere alimentos que contêm açúcares simples
eles são absorvidos diretamente pela corrente sanguínea. Quando se ingere
dissacarídeos, há necessidade de digeri-los antes da sua absorção, o que é
feito pelas enzimas intestinais que os transformam em monossacarídeos. Do
sangue passam para o fígado que também produz enzimas, para modificar
nutrientes que se tornam úteis ao organismo.
OBTENÇÃO DO AÇÚCAR DA CANA-DE-AÇÚCAR
A extração da sacarose começa com a moagem da
cana,obtendo-se um suco doce e esverdeado, chamado caldo de cana ou garapa.
Tanto a cana como a garapa são alimentos completos, contendo vitaminas, sais
minerais, proteínas e gorduras. Depois de fervida e resfriada a garapa se
transforma num caldo grosso, em que a sacarosecristaliza na forma de massa
escura. O caldo é o melaço, usado para fazer rum, cachaça e álcool. A massa
escura é o açúcar mascavo que depois de sofrer vários processos químicos
torna-se branco – açúcar refinado.
A digestão da sacarose, ou seja, do
açúcar branco, produz a glicose que se soma à glicose produzida pela digestão
do amido encontrado nas massas e cereais, transformando-se em glicogênio e
gordura, se não for desgastada por trabalhos físicos.
O AÇÚCAR NA HISTÓRIA
Até alguns séculos atrás, a humanidade não usava aditivos
doces na sua dieta ordinária. Os povos antigos, civilizações passadas, grandes
exércitos não conheciam o famoso aditivo doce. O mel era usado eventualmente, como
remédio. Todas essas considerações históricas são para provar que o açúcar
refinado é desnecessário, não obstante as propagandas que nos bombardeiam através
domaior sistema de comunicação que o mundo conhece (livros, jornais, revistas
especializadas, rádio, televisão e agora a internet),propagando as delícias e
sabores variados de sorvetes, chocolates, bolos, pudins, biscoitos, tortas,
dissimulados através de embalagens atraentes e divulgadoscomo elemento
fundamental para a nossa sobrevivência.
Desde cedo, ainda recém-nascidos, aprendemos a gostar do
açúcar: no mingau que substitui o leite materno; nos bombons, balas, algodão
doce, pães, pirulitos, jujubas, caramelos, chicletes, pastilhas,doces e outras
guloseimas com as quais agradamos nossos
filhos e seus amigos nas festinhas de aniversário e principalmente os
refrigerantes. Chantageamos e castigamos nossos filhos, privando-os de comer doces
e sorvetes, fazendo com que se tornem mais desejadas, tornando-nos cúmplices de
um mal maior, no futuro. Mais tarde os chocolates usados como presentes nos
aniversários e datas especiais, a troca de receitas de bolos, cremes e pudins
com as nossas amigas, enfim, em todos os eventos da nossa vida.
Foi só a partir do século XIX que o açúcar começou a ser
produzido em larga escala e consumido pelas populações pobres que antes não
tinham acesso. Com as novas tecnologias de purificação do açúcar, retira-se da
cana apenas a sacarose. Atualmente somos uma civilização dependente do açúcar,
pois seu consumo vem aumentando de modo assustador.
A glicose é fundamental para o nosso organismo, mas todo suprimento
de que precisamos é obtido através dos alimentos que ingerimos. O mais é
excessivo, supérfluo, responsável,a longo prazo, por algumas de nossas doenças.
Se não, vejamos: 100% dos carboidratos (farinhas, cereais, açúcar de frutas)
transformam-se em glicose; 60% das carnes consumidas e até mesmo 15% das
gorduras e óleos se transformam em glicose; e é assim que normalmente
mantemosas necessidades bioquímicas do nosso organismo.
A glicose sempre foi um elemento essencial na nossa corrente
sanguínea. Quando comemos,o processo de digestão converte os alimentos em
glicose que é levada ao pâncreas, gerando a produção de insulina que é transportada
pelo sangue para o fígado, convertido em glicogênio onde fica estocado.
As civilizações antigas como a dos orientais acreditavam que
todas as desordens do corpo e da mente eramconsequentes dos alimentos que
consumiam. Assim pensavam os indianos, chineses e vietcongs.
Os guerreiros vikings, hunos,
árabes, gregos e romanos, os trabalhadores da muralha da China e das pirâmides
do Egito não necessitavam de açúcar extra, além de uma pequena porção de mel de
abelha. A sua energia provinha da
ingestão de alimentos ricos em carboidratos não nocivos, como: amêndoas, castanhas,
nozes e pistaches; maçãs, figos, uvas, azeitonas e amoras; cevada, trigo,
centeio, e painço; pepinos, melões, alho-poró, alfarroba, hortelã, anis, cebola
e alho; lentilhas, mostarda; leite, mel e uma infinidade de alimentos naturais
que forneciam os nutrientes essenciais, mantendo-os fortes e aguerridos. Os
soldados dos exércitos de Júlio César, a mais eficiente máquina de guerra que o
mundo teve notícia carregavam apenas um saco de cereais integrais para a sua alimentação
e conseguiram grandes conquistas.
Nenhum Livro sagrado
como o Antigo Testamento, o Alcorão, o Código de Manu, o I-Ching – clássico da
Medicina Interna do Imperador Amarelo, faz referência ao açúcar.
Os profetas se
referem ao status que o açúcar gozava na antiguidade: erauma preciosidade
importada de terras longínquas e extremamente cara. Nada se sabe sobre o seu
uso, além de servir de oferenda aos deuses.
Há mitos e
lendas da Polinésia que se referem à doçura da cana. A China cobrava tributos à
Índia sobre a cana importada. A ela também se refere o Athava-veda, com um hino
à doçura.
A cana era cultivada pelos indianos com grande esforço que a
esmagavam,quando madura, num almofariz e deixavam o suco sedimentar num
recipiente, até solidificar. As raspas eram cozidas com mingaus e chapati. Só
mais tarde começaram a espremer a cana e beber o caldo. Da mesma forma que os
ameríndios sangravam a árvore de bordo para extrair xarope. A sidra, o suco da
tamareira e o caldo de cana eram ingeridos ainda frescos, para evitar a fermentação.
Os gregos não tinham um nome para ele. Quando Niarchos, um
almirante a serviço de Alexandre Magno, desceu o Indo para explorar as Índias
Orientais, no ano 325 a.C., descreveu-o como um tipo de mel extraído da cana de
junco. Os soldados de Alexandre encontraramas populações nativas do Vale do
Indo bebendo o suco fermentado. E o açúcar foi da Macedônia para a Ásia,
desembarcando na Europa Oriental. Em outros relatosgregos e romanos, a cana
aparece com muita frequência, comparada
ao sal e ao mel, gêneros básicos da época. Importado a preços elevados,
Heródoto chamou-o de mel manufaturado e Plínio de mel de cana, usado
exclusivamente para remédio, como o mel de abelha. Era desde o século VII conhecido
em Chipre, Creta e Rodes.
Os egípcios não tinham sacarose, mas consumiam o mel de
abelha, assim como o açúcar das tâmaras, todos eles alimentos integrais, sem
apresentar grandes problemas. Hipócrates nunca descreveu a Diabetes, a pior
doença provocada pelo uso abusivo do açúcar. Quando o papiro de Ebers, um dos
documentos médicos mais veneráveis, foi descoberto em Luxor, no Egito em 1872,
os pesquisadores traduziram diversas prescriçõesde remédios para acabar com a
passagem exagerada de urina. Embora este não seja um sintoma só da diabetes,
historiadores médicos chegaram à conclusão de que os sintomas atribuídos à
diabetessurgiram há mais de 3 mil anos.
Coube a um
escritor romano do tempo de Nero registrar seu nome latino: Saccharum. Discorides descreveu-ocomo
um tipo de mel solidificado encontrado na cana da Índia e Arábia, tendo
consistência semelhante ao sal e desfazendo-se entre os dedos.
Atribui-seà
Escola de Medicina e Farmacologia da Universidade de Djondisapour, a pérola do
Império Persa, a pesquisa e desenvolvimento de um processo de refino do suco da cana, dando-lhe uma forma sólida,
que poderia ser estocado, sem que fermentasse, o que facilitava o transporte e
consequente comércio. Isso ocorreucerca do ano 600 d.C. quando os persas
começaram a cultivar a cana. A China da dinastia T’ang, importava cones de mel,
fervendo-o e acrescentando-lhe leite, para regalo imperial. Um pedaço era
considerado uma rara e preciosa droga sagrada, nessa época de pragas e
pestilência.
Enquanto o nome genérico- Saccharum - vem do latim; em sânscrito tornou-se khanda ou cande.
Como ocorreu com todos os impérios o Império Persa teve a sua
ascensão e queda. Quando os exércitos do Islão
devastaram, um dos troféus foi a posse do segredo do processo da cana, como medicamento. De
Bagdá foi à Meca, passando os árabes a controlar o negócio do sacharum.
Após a morte de Maomé, o seu sucessor com alguns milhares de
árabes partiu com a fé que remove montanhas, para subjugar o mundo inteiro.
Em 125 anos o Islã expandiu-se do Vale do Indo ao Atlântico e
Espanha; da Cachemira ao Alto Egito. O califa conquistador levou da Pérsia,
também os grãos de arroz, mudas de cana. Em breve o Islã descobriu várias
doenças e forçosamente a Ciência e a Religião se separaram. Foram os primeiros
povos a usar anestésicos, iniciaram a ciência Química, fizeram grandes avanços
na Astronomia, redescobriram a Matemática, descobriramo álcool, aprenderam a
trabalhar o metal, o vidro, a cerâmica, a tecelagem e o couro. Dentre todas as
contribuições que legaram ao mundo civilizado, o açúcar teve um impacto
maior.Foram os seguidores de Maomé, embora não conste do Alcorão, os primeiros
a dispor de grande quantidade de açúcar, suficiente para suprir tanto a corte
como as tropas com doces e bebidas açucaradas. Em breve começaram a perder a
sua agressividade.
Os turcos e mouros
foram os primeiros a sofrer as consequências do consumo exagerado de açúcar,
comprometendo a intrepidez dos seus antepassados guerreiros.
Com a expansão do
Islamismo o açúcar se tornou uma potente arma política. Em sua marcha para
retomar os lugares sagrados das mãos dos infiéis, os Cruzados começaram logo
cedo a consumir o condimento dos sarracenos. Alguns historiadores dizem que o
objetivo das cruzadas não se limitava à conversão dos muçulmanos e sim a obtenção
de riquezas, especiarias e, principalmente do açúcar, pois se os cristãos
capturassem as terras do sultão, causariam grandes prejuízos àqueles povos e a
cristandade teria seu suprimento garantido, a partir do Chipre. A cana também
era cultivada em Morea, Malta e na Sicília.
As Cruzadas eram assim
chamadas por terrm uma cruz, como símbolo emseus estandartes; era formada não
só por cristãos devotos, mas por mercadores genoveses e venezianos, que
transformaram essas excursões religiosas para atender interesses políticos e
econômicos. A mais famosa foi a 3@, chamada Cruzadas dos Reis, pela participação do rei da Inglaterra, Ricardo, Coração
de Leão, do rei da França Felipe Augusto e Frederico Barbarroxo, imperador do
Sacro-Império, além de príncipes e outros nobres.
A 8@ e última grande
Cruzada terminou em 1270, com os cruzados sendo expulsos pelos turcos. A partir
dessa época o papa Clemente V, exilado em Avignon, negara a permissão para mais
excursões.
Os portugueses saíram à
frentena primeira corrida europeia pelo açúcar. Os sarracenos, durante a ocupação
haviam introduzido o cultivo da cana na PenínsulaIbérica, principalmente em
Valência e Granada.
D. Henrique (1394-1460),
explorando a costa ocidental africana, em busca de terras férteis para o
cultivo da cana, longe dos árabes, não achou e que procurava; em compensação
descobriu africanos em Lagos, levando para Sevilha 235 negros, vendidoscomo
escravos e iniciando, assim, o comércio negreiro. De lá foram levados para as
ilhas da Madeira e Canárias, soerguendo o Império Português.
Açúcar e escravidão
eram as duas faces da Coroa Portuguesa. Por volta de 1476, Portugal detinha o
monopólio do açúcar na Europa, seguido pela Espanha que, após a expulsão dos
mouros ficara com as plantações de cana de Granada e Andaluzia. Os mouros
invadiram a Península Ibérica entre os anos 711e 713 com a vitória do berbere
TuriqueibnZiyard, que subjugou a Luzitânia e Cartaginense, saqueando as cidades
do norte, denominando o território conquistadode al Garb-al–andalus. O reino
cristão das Astúrias empreendeu uma guerra para a sua expulsão, fazendo no ano
754. No sul de Portugal, na Estremadura, desenvolveram-se em al-Usbuna (Lisboa)
e Santarin (Santarém). No Baixo-Alentejo, Beja, Mertode e Algarves, onde a
presença muçulmana se manteve por seis séculos. Suas marcas foram apagadas pela
política cristã de “terra arrasada”, deixando poucos vestígios.
A Reconquista
totaldurou quase toda a Idade Média e início da Moderna, quando foram
definitivamente expulsos pelos reis católicos.
A cana, como já foi
mencionada no texto anterior, foi introduzida na América, em 1493 por Cristóvão
Colombo, por sugestão da rainha D. Isabel, sendo levados nativos para o cultivo
nas Índias Ocidentais. A Rainha, por princípios religiosos era contra a
escravidão, mas após a sua morte, D. Fernão autorizou-ae, em 1510, chegava o primeiro contingente de escravos africanos
para a florescente indústria açucareira. Entre 1444-46 sairam de Lagos 40
embarcações carregadas de africanos.Os povos nativos dessas regiões foram
exterminados para a introdução do escravo africano.
No século XVI o açúcar
era precioso, degustado apenas pelos convidados para as festas das Cortes. Em
1500 várias nações já estavam envolvidas no tráfico de escravos, multiplicando
a produção de açúcar para a Holanda, Inglaterra, Alemanha, Países Bálticos e
Espanha, cujos magníficos palácios foram construídos pelo rei Carlos V ao custo
de milhares de vidas. A Inglaterra com a sua Armada dominava o mundo: as Ilhas
Britânicas produziam, anualmente, 10 toneladas de açúcar. Em 1700 foi a vez da
França. Tão logo os EUA se livraram da dominação britânica, e sem interesse em
cultivar a cana em seu território, exportouo seu colonialismo para Cuba,
colônia açucareira pobre. Em 1865, os EUA eram os maioresexportadores de açúcar
do que todos os países produtores.
Na época do
descobrimento do Brasil, o açúcar ainda era uma mercadoria escassa na Europa,
que tinha o mel de abelha como único produto adoçante disponível, embora os
portugueses já cultivassem a cana nas ilhasda Madeira e de Cabo Verde. Os
holandeses faziam o mesmo nas Antilhas.
Pode-se dizer que no
Brasil a indústria açucareira começou com a colonização do novo território
pelos donatários das capitanias hereditárias. A primeira notícia acerca da
intenção de instalar no Brasil a produção açucareira está num Alvará datada de
1516. Nele D. ManuelI ordenava que fossem dados machados, enxadas e todas as
ferramentas aos povoadores e que fossem procurados homens práticos e capazes de
dar início a engenhos de açúcar.
Oficialmente a cana foi
introduzida no Brasilpor Martim Afonso de Sousa, em 1532 que trouxe as
primeiras mudas de cana, dando início ao cultivo em São Vicente, hoje São
Paulo, onde foi instalado o primeiro engenho, ponto de partida para a indústria
açucareira em nosso país.
Em 1535, Duarte Coelho
consolidou a indústria no Nordeste, fundando em 1535 o engenhoNossa Senhora da
Ajuda, em Pernambuco. Em seguida os engenhosproliferaram, principalmente em
Pernambuco e na Bahia, usufruindo dos solos férteis, das águas dos rios ainda
não poluídos e destruindo matas e enormes reservas florestais. A madeira cortadapara abrir clareiras para os
canaviais era usada para alimentar as fornalhas onde o açúcar era obtido, fervendo o caldo em caldeiras e
tonéis. Os métodos de derrubada da mata, plantio da cana e sua moagem eram
muitos rudimentares: as queimadas empobreciam os solos e reduziam a
produtividade, levando os donos de engenhos a adentrar as matas, apropriando-se
de terras indígenas.
Em pouco tempo o açúcar
se tornou o maisimportante produto de
exportaçãodo Brasil, mas foi uma das culturas agrícolas que causaram maior
impacto na Mata Atlântica, no decorrer de quase cinco séculos. Cada tonel de
açúcar enviado para Portugal ia manchado de sangue, inicialmente dos índios e
depois dos escravos africanos.
Mesmo considerada uma
lavoura baseada no latifúndio, na monocultura e na escravidão, o açúcar deu ao
Brasil alguns dos valores culturaiscaracteristicamente nacionais.
A cana-de-açúcar nos
traz lembranças de uma ocupação territorial devastadora do meio ambiente,
provocando o desequilíbrio ecológico de diversas áreas, com o desmatamento
desenfreado e a poluiçãodos rios e do ar.
Foi o açúcar que atraiu
os holandeses que invadiram Pernambuco em 1630, conquistando Recife e Olinda.
Dispondo de técnicas especializadas, os holandeses tendo como governador o
príncipe Maurício de Nassau, incrementou e elevou a produção de açúcar na
região conquistada. Os batavos também, tentaram conquistar oMaranhão, aqui
demorando três anos, explorando os engenhos da ribeira do Itapecuru, mas
após renhidas lutas foram finalmente expulsos.
Não obstante todo o progresso que
trouxeram para Pernambuco, inclusive o início da fabricação de doces para
consumo próprio e exportação, deixando suas marcas até hoje, foram definitivamente expulsos do território brasileiro, indo para
as Antilhas holandesas onde introduziram as técnicas de produção de açúcar, aliando-se
a produtores estabelecidos nas colônias francesas e inglesas da América Central,
ameaçando desse modo, as exportações
brasileiras. Essa situação só foi modificada na segunda metade do século XVIII
com as agitações políticase conflitos nacionais que levaram à independência das
colônias europeias dessas regiões, voltando o Brasil a ser o maior produtor de
açúcar, beneficiando-se, também com a abertura dos seus
portos às nações estrangeiras (1808)e com a Independência do
Brasil, em 1822.
Atualmente o Brasil é o maior exportador mundial de açúcar,
seguido da Índia e da Austrália. Há dez anoshavia no pais mais de trezentas
usinas, dentre as quais cerca de cento e trinta só em São Paulo. Em média 55%
da cana brasileira produzálcool e 45%, açúcar.
E na antiga Corte, mais tarde Distrito Federal e hoje Cidade
Maravilhosa a natureza caprichou na ereção de um monumento em homenagem ao
nosso ouro branco: o Pão de Açúcar.
A cana é atualmente cultivadano Centro-Sul e no
Norte-Nordeste. Além do açúcar e do álcool de vários tipos, fornece energia
elétricada queima do bagaço nas caldeiras, álcool hidratado para movimentar
veículos, álcool anidro para melhorar o desempenho energético e ambiental da
gasolina, e bebidas como a cachaça.O bagaço é transformado em ração animal e em
aplicações industriais, na produção de papel, plásticos e produtos químicos. O
vinhoto, antigo poluente,é atualmente empregado como fertilizante da própria
lavoura da cana; também na recuperação de terras cansadas, aumentando, assim, a
produtividade.
Nenhum produto, ao longo dos séculos foi alvo de tantas
disputas e conquistas, como o açúcar, mobilizando pessoas e nações. Exerceu
grande influência na a História Política do Mundo Ocidental sendo a mola
propulsora de grande parte da História das Américas, embora carregue o estigma
da mais cruel e infame formade tratamento dos chamados povos civilizados: a
escravidão de homens.O rastro de sangue deixado pelo açúcar começou com a
conquista da Pérsia pelos muçulmanos, destes pelos cristãos, nas Cruzadas, e
por todo o Continente Americano, inicialmente dizimando os índios que se
negavam a trabalhar nos canaviais e finalmente a escravização de quase todo o
Continente Africano.
Os métodos modernos de fabricação de açúcar, trouxeram à
humanidade doenças até então desconhecidas. O açúcar comercialnada é mais do
que um concentrado de ácidos cristalizados. A perda de energia provocada pelo
consumo no século XIX e por todo o século XX jamais poderá ser recuperada,
tendo já deixado a sua herança, como carma na raça humana.
VALOR NUTRITIVO DO AÇÚCAR
Assim como foi motivo de disputas em séculos passados, nestes
últimos 150 anos, o açúcartem sido o alvo de controvérsias sobre o seu valor
nutritivo. Vimos anteriormente que o homem obtém toda a glicose que seu
organismo precisa de vegetais, principalmente defrutas e de cereais.
O açúcar brancoé o resultado de um processamento químico que
consiste em adicionar à sacarose da cana, produtos como clarificantes,
antiumectantes, precipitadores e conservantes, a maioria totalmente
desconhecida e por isso é considerado
mais um produto quimicamente ativo, concentrado, resultante de uma síntese e
não um alimento, pois não possui proteínas, fibras, nem vitaminas e sais
minerais
Para metabolizar um produto extremamente concentrado, o
organismo exige uma complementação química para digeri-lo. Por ser pobre em
vitaminas e sais minerais, o açúcar vai exigir muito cálcio e vitaminas do
complexo B do metabolismo de reserva. Descalcificante, desminaneralizante,
desvitaminante e empobrecedor metabólico.
Autores como William Dufty considera o açúcar uma droga doce e
vicianteque dissolve os dentes e os ossos de toda uma civilização, por seus
efeitos cumulativos, insidiosos,
drenando a saúde lentamente.
Várias doenças são associadas ao uso do açúcar, como a
formação de cáries, enfraquecimento dos ossos; danos à mucosa do estômago,
prejudicando o equilíbrio enzimático gástrico.
Sua presença em quantidades elevadas no estômago e no sangue
estimula as ilhotas de Langherhans do pâncreas responsável pela liberação da
insulina. Com o tempo o órgão sobrecarregado se desgasta e cessará a produção
dessa enzima,responsável pelo transporte da glicose às células. E a
consequência é a Diabetesmellitus.O
açúcar é rapidamente absorvido no intestino, contribuindo para diminuir as suas
funções, provocando prisão- de- ventre e atonia.
Produz, também, alterações metabólicas no fígado, responsável
pelo armazenamento e liberação da glicose.
No cérebro pode provocar distúrbios psicomentais, pois este
órgão necessita de um perfeito equilíbrio neuro-hormonal e de um suprimento
adequado de glicose.Diminui o apetite para o alimento natural e contribui para
a obesidade.
O açúcar é chamado por alguns pesquisadores calorias vazias, pois não possui os
nutrientes essenciais para o nosso organismo, somente excesso de calorias que o
prejudicam.
O açúcar refinado fornece 387 kcal; 99,9mg de carboidratos;
2mg de fósforo; 2mg de potássio; 0,040mg de cobre; 1,0mg de cálcio; 0,020mg de vit B1. Não apresenta, na sua composição, as vitaminas
B1 e B6, assim como magnésio
O Livro Negro do
Açúcar relaciona 147 doenças atribuídas ao açúcar comum.
COM AÇÚCAR E COM AFETO
Existem vários estudos feitos, associando o consumo excessivo
do açúcar à carência afetiva. É comum as mães sem tempo de dar carinho e
atenção aos filhos fornecer-lhes uma boa dose de chocolate para substituir o
afeto. Os rapazes quando brigam com suas namoradas, costumam mimá-las com
chocolates, como forma de desculpar-se.
Nem sempre o açúcar age como vilão. Quem nunca ouviu a frase:
“traz um copo d’água com açúcar”para tranquilizar, reduzir o estresse, a
ansiedade, refazer de um susto, acalmar uma crise nervosa passageira?
O açúcar é um dos componentes do soro caseiro que tem salvado
muitas crianças desidratadas. Coadjuvante no tratamento da dependência química
para aliviar nos casos de abstinência, diminuindo acompulsão das drogas.
Aplausos amiga!!! Você supera-se a cada pesquisa. E nós só ganhamos com isso. Aprendi muito!!!! Já aguardando a próxima!!!!! Um gde abraço com açúcar e muito afeto!!!!
ResponderExcluirUm belo trabalho de pesquisa, Moema!
ExcluirMuito interessante sua postagem. O conhecimento sobre o açúcar é bastante oportuno.
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