Até meados do século XX, o algodão
foi o produto econômico mais importante
do Maranhão. Nos séculos anteriores foi utilizado na fabricação de
roupas de colonos e de escravos. A partir da segunda metade do século XVIII, em
decorrência da Revolução Industrial na Inglaterra, ocasionando grande desenvolvimento na fabricação de
tecidos para atender a grande demanda europeia, houve uma corrida para os
centros produtores da malvácea. O algodão brasileiro, pelos preços razoavelmente
baixos teve uma grande procura, sendo produzido nas lavouras nordestinas,
principalmente do Maranhão, considerado um dos melhores. Como consequência
houve uma importante acumulação de capital, representando um fator determinante
das diferentes fases do desenvolvimento do estado.
O ciclo econômico do algodão,
essencialmente em nosso estado, iniciou-se e desenvolveu-se no modelo
mercantilista, com a utilização da mão-de-obra escrava, constituída por negros
africanos, cuja aquisição foi financiada pela Companhia do Comércio do Maranhão,
criada em 1682 para promover a Colônia, com base na monocultura.
No século seguinte (1755), no governo
de D.José I, foi criada a Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão que assentou
as bases e definiu a nossa vocação agrícola para fornecimento de produtos para
a Coroa e outros mercados europeus.
Em 1895 existiam 27 unidades fabris,
sendo 17 pertencentes a Sociedades Anônimas e 10 a particulares. Desse total,
10 fabricavam e teciam; 1 só de fiação; 1 de cânhamo, 1 de tecidos de lã e
sedas e 1 de meias. Além da indústria têxtil, havia 1 de fósforo, 1 de chumbo e
pregos, 1 de calçados, 1 de produtos de cerâmicas, 4 de pilar arroz, 2 de pilar
arroz e fabricar sabão, 1 só de sabão e 2 de açúcar e aguardente.
A 1ª a ser instalada fora a Companhia
Industrial Caxiense, em 1887, com capital de 1000 contos de reis, incorporada
pelo dr. Francisco dias Carneiro e era munida de 130 teares manipulados por 250
operários, produzindo tecidos crus e tintos.
Em 1889 foi instalada a União Caxiense,
investimento de 850 contos de reis, 220 teares e 350 operários, fabricando
tecidos crus. O dr. Dias Carneiro também participava deste empreendimento com
mais dois empresários, Antônio Joaquim Ferreira Guimarães e Manuel Correia
Bayma do Lago.
Mais tarde, Caxias contou com a
Fábrica Sanharó, com investimento de 150 contos de reis, 26 teares, 60
operários, fabricando panos de algodão.
Em São Luís a 1ª fábrica foi aberta em 1890.
Era a Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses, na Camboa do Mato, às margens
do Rio Anil. Investimento inicial de 1.200 contos de reis, 300 teares
produzindo tecidos em geral, riscados grossos e finos e fios em novelos.
A Companhia de Fiação e Tecidos
Cânhamo, foi instalada em 1891 com capital de 900 contos de reis, 105 teares
para fabricar tecidos de cânhamo ou juta.
A Companhia Progresso Maranhense,
instalada em 1892, empregava 160 operários que trabalhavam em 150 teares,
fabricando panos de algodão.
A Companhia Fabril Maranhense Santa
Isabel, começou com um capital de 1.77 contos de reis, 450 teares manipulados
por 600 operários que fabricavam riscados e domésticos de algodão.
Em 1893 foi inaugurada a Companhia de
Fiação e Tecidos Rio Anil, com investimento de 1.600 contos de reis, 172
teares, 60 máquinas de fiação e 18 de branqueamento, 209 operários fabricavam
morins e madapolões. Eram seis sócios nesse empreendimento: Antônio Cardoso
Pereira, Francisco Xavier de Carvalho, Manuel José Francisco Jorge, José
Francisco Viveiros, Jerônimo Tavares Sobrinho e o escocês Henry Arlie, cônsul
da Grã-Bretanha.
Ainda nesse ano foi instalada em São
Luis a Fábrica de Tecidos de Malha Ewerton, empregando 30 operários que
fabricavam meias e tecidos para camisas.
Em Codó foi instalada a Companhia
Manufatureira e Agrícola, com um investimento de 100 contos de reis, 150
teares, fazendas, fios e cordas e empregando 250 operários.
Em 1894 foi inaugurada, em São Luis,
a Companhia Industrial Maranhense, com capital de 250 contos de reis,
empregando 50 operários que fabricavam fios, punhos e linhas de pesca.
A Companhia de Lanifícios Maranhenses
Santa Amélia, com investimento de 600 contos de reis, instalada em 1892,
começou a funcionar em 1895. Fabricava tecidos de lãs, sedas e algodão, em 22
teares manuseados por 50 operários. Foi arrematada pelo empresário Cândido
Ribeiro que morreu na década de 1930, antes da fábrica atingir o auge, entre as
décadas de 50 e 60. Fabricava riscados e brins e funcionou até 1966.
Algumas fábricas não resistiram à
crise resultante da I Guerra Mundial encerrando essas atividades,
diversificando-as para o babaçu, a essa época, no auge do seu beneficiamento
para exportar para os países em guerra. A extração da borracha, no Amazonas,
atraia levas de nordestinos, principalmente maranhenses, em busca de uma
atividade mais promissora.
Em 1921, após o fim do conflito, a
indústria têxtil maranhense contava com
um capital investido na ordem de 8.028 contos de reis, 3.537 operários 2.336 teares e 71.608 fusos, com uma produção
estimada em 11.776 metros de tecidos.
Desde o Período Colonial até o século
XX, o Brasil centrou sua atividade econômica no cultivo de produtos primários,
para exportação. O Maranhão não chegou a participar dos grandes ciclos
econômicos, pelos percalços enfrentados, devidos, principalmente, às oscilações
do mercado importador. Diferente dos ciclos da cana-de-açúcar, do ouro e do
café, o algodão era cultivado quase que
exclusivamente para suprir o mercado interno.
Esse modelo agroexportador permaneceu
até a ruptura do modelo econômico, vigente até a República Velha, em 1930 e
mantido pelas classes dominantes, principalmente dos latifundiários e
exportadores de matéria-prima para abastecer mercados estrangeiros. O mercado interno
diversificou-se com a fabricação de cachaça, produtos farmacêuticos, chapéus,
calçados, utensílios domésticos, e outros bens de consumo. Foi só a partir
desse período que houve realmente uma estruturação econômica em todo o Brasil.
Entre 1921-45 essa produção alcançou
4 milhões e meio de metros de tecidos, ocupando 3.871 operários.
A tecnologia e os equipamentos de
procedência inglesa, movidos a vapor ainda operavam na década de 1960, quando a
última fábrica foi fechada. Os teares e fusos obsoletos fabricados no século
anterior foram utilizados em nossas fábricas até os anos 50.
A fraca competição de outros estados
nordestinos, devida a escassez da matéria-prima e a restrição da
mão-de-obra decorrente das novas leis
trabalhistas, o não favorecimento de investimentos para renovação dos
equipamentos, resultaram na estagnação da nossa indústria têxtil. A concorrência
com as fábricas do Sudeste e do Sul com mercado mais promissor, foi uma das causas
da decadência do nosso parque fabril, somados à falta de atualização técnica,
escassez de mão-de-obra qualificada e impossibilidade material de renovação e
modernização do maquinário. Acrescente-se a essa situação caótica para os
empresários, os elevados custos dos
encargos sociais, que tiveram de arcar, depois da Revolução de 30 com a criação
do Ministério do Trabalho, que ocasionou grandes conquistas e tranquilidade para o trabalhador,
com contrato assinado na carteira profissional, redução da jornada de trabalho,
férias remuneradas, licença-maternidade.
O Maranhão experimentou um período de
intensa redução da produção e dos investimentos que aos poucos foram
direcionados para a fabricação de fibras nas novas fábricas do Sudeste.
Foram pouco expressivos os resultados desses tímidos financiamentos até
1970, devidos os elevados índices de obsolescência do parque fabril no tocante
à fiação e tecelagem de algodão. A partir dessa década, houve o deslocamento do
eixo agrícola das regiões da Baixada, Itapecuru, Mearim para o sul, com a
ocupação das chapadas, resultante da política de valorização das terras agrícolas.
O BNDS implantado nos anos 80, deu um novo alento para o setor têxtil, nos
grupos preferenciais de financiamento. Nesse período, o algodão teve um novo surto,
declinando em 1985, quando foi substituída pelo cultivo da soja e atividades
pecuárias.
Atualmente há poucas fábricas de
fiação que apesar de demonstrar relativo dinamismo empresarial não traduzem a
potencialidade estadual para o setor e, principalmente quando a produção de
algodão voltou a assumir posição de relevo no setor primário maranhense. Em
Paço do Lumiar funciona uma fábrica de malhas.
A cultura do algodão em nosso estado
contribuiu para o desenvolvimento econômico, propiciando acúmulo de capitais gerando
divisas, abertura de mercado para produtos não agrícolas, contribuindo na
diversificação da economia, além de fornecer matéria-prima para a indústria.
Esse aporte de recursos foi, durante a Monarquia, malbaratado pelas elites que
não foram capazes de reformar seu maquinário, mantendo equipamentos obsoletos e
até inadequados às nossas condições ecológicas e climáticas. Não conseguimos
competir sequer com o mercado interno, do Sul e Sudeste.
Em 2013 a colheita de algodão na
Maranhão, segundo dados do IBGE, atingiu 4,083 kg/ha, conseguindo ocupar o 1°
lugar em produtividade no país, colocando-o acima da média nacional de
3.615kg/ha. Foi a 4ª maior safra, abaixo de Mato Grosso, Bahia e Goiás. O prognóstico sobre a produção
agrícola nacional para 2014, é de um
quadro praticamente inalterado no Maranhão. O rendimento deverá avançar
4.089kg/ha, resultado de uma produção de 76.009 t, numa área colhida de 18.588
ha.
Atualmente a nossa produção algodoeira é de 75,1 mil
toneladas, com previsão para os próximos anos, de um crescimento mais acentuado.
Não estamos mais na relação dos maiores produtores como Mato Grosso, Bahia e
Goiás, mas ainda estamos em vantagem em relação aos outros estados nordestinos.
Antes de concluir esta rápida
pesquisa, quero fazer um tributo às tecelãs da Baixada, principalmente de São
Bento, Bequimão, Perimirim, pelas bonitas, macias e confortáveis redes saídas
dos seus teares, Também são conhecidas as redes de linha feitas em Pastos Bons,
São João dos Patos e adjacências.
Além do algodão, o Maranhão continua
a cultivar arroz, milho, mandioca, feijão, cana-de-açúcar e na região de
Balsas, a soja. Há fábricas de óleo de babaçu; cerâmicas, pisos, móveis,
calçados, malharias, refrigerantes, cachaça, sabão, farinha, doces, papel, vestuário, uniformes, artesanato, estruturas
metálicas, serralherias, fibra de vidro. Em relação ao extrativismo, além do
babaçu, exploram-se tucum, fibra de buriti, madeira em toras, carvão vegetal,
lenha, castanha de caju, pequi, açaí, cera de carnaúba, óleo de copaíba, de
rícino, mutamba, água mineral, polpas de frutas. Princípios ativos extraídos do
jaborandi, fava d´anta. Do solo extraem-se: calcários, gesso, bauxita, enxofre,
sal marinho, gipsita, granito, mármore, urânio, ouro, cobre, diamante, opala.
Na década de 1960 foram instaladas
fábricas para beneficiamento do babaçu, a COPISA, em Pinheiro e uma de celulose
em Coelho Neto, com recursos da SUDENE e da SUDAM, que infelizmente não
prosperaram.
Grandes fábricas foram instaladas na
década de 80 como a ALUMAR, a Vale do Rio Doce. Na virada do milênio, a Suzano
Papel e Celulose. Também de gás natural.
Não esqueçamos a Pecuária, a Pesca e
a coleta de mariscos, nossa promissora indústria naval e muitas outras
atividades, em fase de projeto como a Refinaria Premium para derivados de
petróleo.
GOSSIPOL
Enquanto pesquisava os elementos
constituintes do algodão, encontrei referência a um aldeído polifenólico, o gossipol. Os subprodutos do algodão
podem ser classificados como primários, secundários e terciários, até em
pesticida.
As limitações do uso de subprodutos
são decorrentes da presença de gossipol,
pigmento tóxico, principalmente para suínos. Os sintomas variam de leves
tremores até a morte, devido aos danos causados ao fígado e no coração. Além de
comprometer as funções hepáticas a taxa de respiração e a capacidade de
transporte de oxigênio pelos glóbulos vermelhos ou hemácias, possibilitam
ataques cardíacos.
O gossipol pode ser encontrado no farelo, cascas, caroço e é composto
polifenólico, de cor amarela com características e propriedades físico-químicas
definidas.
O caroço do algodão pode conter 15
pigmentos diferentes do gossipol, em
grânulos amarelados e rosados, sendo que no processamento das sementes, as
glândulas se rompem liberando o gossipol.
Os sais de ferro formam com o gossipol,
complexos que não podem ser absorvidos pelo organismo. Pode ser utilizado como
contraceptivo masculino, antioxidante de borracha, estabilizante de polímeros
vinílicos, inseticidas potenciais. Altamente tóxico para animais monogástricos.
O governo chinês está desenvolvendo pesquisas para produzir compostos
defensivos a partir do gossipol.
- Editor: Thiago Silva Prazeres
- Editor: Thiago Silva Prazeres
Nenhum comentário:
Postar um comentário