MOEMA

MOEMA
PAPIRUS DO EGITO

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

VOCÊ GOSTA DE SERIGUELA?

É uma das frutas mais populares, eleita pelos ludovicenses, principalmente pelos frequentadores de praias. Gosto muito e a aprecio bem lavada e geladinha. A minha ligação com essa fruta começou quando já adulta, de volta ao Maranhão. Foi uma das agradáveis descobertas. Desde essa época tento cultivá-la em todos os sítios que possuí. De fácil plantio, feito por estacas, demora  entre dois e três anos para produzir. Eu, como alguns amigos sabem, sou” una donna mobile” e dificilmente fico com um imóvel por mais de dois anos, portanto, um pouco antes da frutificação. Plantei nos sítios de Ubatuba em São José de Ribamar, no Altos do Calhau e até na área de um condomínio que habitei no Jardim Eldorado. Na verdade não me empenhei  muito, pois no sítio do mano José Paulo, no Araçagi, há um pé que à época da safra fica carregadinho de belos frutos.
Conhecido em Botânica pela nomenclatura  Spondias  purpurata já foram descritas mais de 18 espécies do gênero. Nativa da América Central  e do Sul, expandiu-se por toda a região Nordeste do Brasil, principalmente no Maranhão, Piauí,  Alagoas, Bahia, onde os frutos são muito apreciados e a região do Cariri no Ceará,  maior produtor. É também cultivada no Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo. No nosso continente,  encontra-se dispersa no México e no Caribe, onde é conhecida pelo nome de ciroela, ameixa da Espanha ou cajá vermelho. Ciroela deriva do Espanhol, que por sua vez é derivada do Latim, cereola, que significa superfície lisa, semelhante à cera. Atualmente vem sendo cultivada no sudeste da Ásia, onde produz frutos sem sementes.
É uma planta da família das Anacardiáceas, a mesma da manga e do caju, atingindo até 7m de altura, tronco retorcido, bastante ramificado com galhos que se desenvolvem rente ao solo. As folhas são lisas, compostas e possuem de 9 a 11 folíolos longos. A inflorescência é em cachos, com flores brancas e pequenas; em cada um vingam  2 a 3 frutos juntos. Estes são do tipo drupa, pequenos, ovalados, do tamanho de azeitonas, chegando a pesar 10g. Quando maduros adquirem uma cor  laranja-avermelhado ou amarelo-ouro, polpa macia e de sabor adocicado; caroço lenhoso, pesando 40% do peso da fruta. Ótima para bonsai.
                                             
                             VALOR  ALIMENTÍCIO

Rica em carboidratos, proteínas,  gorduras totais, gorduras saturadas, colesterol, fibra, sódio, cálcio, fósforo, ferro e vitaminas A e C. Apreciada tanto in natura, como sob a forma de polpa vendida em feiras e mercados, e  usada na preparação de sucos com ou sem leite, sorvete , picolé, licor, geleia, compota. Cem gramas da polpa fornecem 76 calorias. As pessoas que apreciam coquetéis conhecem a mistura de vodka e seriguela, conhecida por serigueloska ou como tira-gostos de outras bebidas alcoólicas. Na América Central é bastante apreciada  a “chicha”, bebida fermentada feita com essa fruta.

                         USOS EM MEDICINA POPULAR

Diurética, energética,  combate disenterias, espasmos, flatulência, febre; usada para aliviar queimaduras.
                 
A  SERIGUELA  NO FOLCLORE  NORDESTINO.

Como fruta popular e bastante apreciada pelos nordestinos é cantada em verso e prosa, fazendo parte do repertório da banda baiana Chiclete com Banana. Até a década de 1980 havia em Minas uma banda chamada Seriguela e Pitanga.
              Incluída no universo  onírico e usada para decifrar sonhos: vê-la madura entre a folhagem  vaticina um futuro próspero. Fruta verde significa esforços decepcionantes. Jovem comendo frutos verdes significa degradação ou perda de herança; madura, fortuna incerta e prazer. Como se constata, apesar de ser bastante apreciada na vida real, no mundo dos sonhos  comê-la é geralmente desfavorável.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

MUTAMBA PARA QUEDA DE CABELOS

O Cerrado é um dos mais importantes biomas do Brasil, chegando a ocupar cerca de 22% do território. Essa área vem decrescendo anualmente, em virtude das queimadas para construção de cidades, implantação de pastos para animais e cultivo de grãos. Essa prática não atinge só a flora nativa, mas a variada fauna que aií tem seus ecótopos. Grande divisor de águas possui um expressivo manancial de águas, tanto na superfície como no subsolo. As fruteiras nativas destacam-se pela importância na região, não só por possuírem espécies alimentícias, como algumas que, pelo potencial farmacológico, vem sendo pesquisadas para detecção e extração de princípios ativos, na cura de várias doenças, inclusive alguns tipos de cânceres. Outras, são utilizadas na indústria  alimentícia, para fabricação de licores, vinhos e doces como compotas, geleias, mousses, sorvetes. Outras vêm sendo exploradas  na indústria cosmética e na produção de tintas, e em projetos de reflorestamento de áreas degradadas, enquanto outras, por falta de orientação, são cortadas para fornecimento de lenha.
Guazuma ulmifolia  pertence à família das Esterculiáceaes, nativa da América do Sul, sendo uma  das árvores autóctones, típica da região do Cerrado, ao lado do pequi, araticum ,buriti, cagaíta, mangaba e murici.
Guazuma  é termo mexicano  e ulmifolia porque lembra um olmo.
SINONÍMIA – Mutamba se origina do tupi e significa fruto duro. Também chamado araticum  bravo, fruta de macaco, camacã, cabeça de negro, mucungo, pojó, embira, guaxuma, guaxina macho, chico magro, coração negro.
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA – Caribe, México , Guatemala, Belize e outros países da América Central, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Brasil, onde se espraia do Amazonas ao Paraná. Levada há mais de cem anos para a Índia e recentemente cultivada na Indonésia.
No Maranhão é encontrada no Cerrado e Chapadões, principalmente São João dos Patos, Pastos Bons, Nova Iorque, Barão de Grajaú, São Raimundo das Mangabeiras, Mirador, Tasso Fragoso, Fortaleza dos Nogueira, Balsas, Riachão nas e regiões vizinhas.
HISTÓRICO: A Guazuma , também  conhecida por guasima já era usada   há centenas de anos, pelos índios Mixe do México e da Guatemala  sob a forma de decocção das cascas secas e frutos para curar diarreias, hemorragias  e dor uterina. A casca fresca  era usada para cicatrizar feridas, ajudar no parto, dores gastrointestinais, asma, sífilis, problemas renais.

CARACTERÍSTICAS BOTÂNICAS

É uma árvore de médio porte,  perenifólia.  Nas espécies mais velhas o e tronco atinge 30 m de altura e 30cm de diâmetro. Tronco reto e  levemente  tortuoso, ramificado na região inferior.  Copa densa e larga, ramificação dicotômica com ramos horizontais e ligeiramente pendentes. A casca chega a ter  12mm de espessura, grisácea ou  café escuro, acanalada, áspera, gretada longitudinalmente, desprendendo-se em tiras. Internamente é fibrosa, rosada com estrias brancas.
As folhas são alternas, simples, ovaladas ou lanceoladas, membranácea, aguda no ápice, com margens denteadas ou crenadas, possuindo cinco nervuras. A face dorsal é pilosa com pelos estrelados.
As flores são pequenas, amarelas ou esverdeadas,, ligeiramente perfumadas, com cinco pétalas cuculadas. A inflorescência é composta de até vinte flores, subsésseis, formando um cálice com três lobos valvares. Melíferas principalmente para abelhas sem ferrão. Frutifica ente agosto e outubro e os frutos  são perfumados, duros, tipo cápsulas, subglobosos, com casca seca, verrucosa, verde e negra, com 1,5 a 3,5 com de comprimento, escuras e redondos, com saliências. A parte interna é lenhosa e comestível; quando mastigada vai largando um mel viscoso que deixa a boca aromatizada e induz à salivação. Abre-se em cinco segmentos que se fundem no ápice ou irregularmente, através dos poros. As sementes, em número de 45, são comestíveis, imersas numa polpa doce e mucilaginosa.
                                           
             VALOR  ALIMENTÍO E USOS EM MEDICINA CASEIRA E NA INDÜSTRIA DE COSMÉTICOS

Desde criança tenho ouvir falar sobre os efeitos da mutamba na queda de cabelos. O meu pai, em sua farmácia, manipulava fórmulas de tônicos e loções para seus cliente, alguns em processo de perda de cabelos e outros totalmente carecas.
Atualmente cientistas de várias instituições de pesquisas, têm voltado a atenção para a mutamba, depositando grandes esperanças no seu potencial farmacológico. Foram encontrados altos teores de tanino e antioxidantes químicos capazes de contribuir para combater a calvície e certos tipos de cânceres.
Apenas a casca do tronco e as folhas merecem pesquisas, pois os frutos pequenos e comestíveis são utilizados mais na alimentação de animais.
Foram isolados os seguintes princípios ativos: arinofileno, catequinase , farnesol, precoceno I,procianidina B2 e B5, procianidyn C1-sisterol, ácido caurenófilo, friedelina.
Na medicina popular  por ser adstringente é usada nas afecções parasitárias, principalmente do couro cabeludo como caspa, seborreia;  também para tratar  sífilis, úlceras, hanseníase e outras doenças da pele. As sementes esmagadas  são sudoríferas  e usadas para tratar gripe, tosse; contusões e doença venéreas. Também é tônica, diurético  adstringente e cicatrizante. Os frutos verdes podem causar náuseas, vômitos, disenteria.
Os frutos não têm merecido pesquisas, sendo arroxeados quase negros com aspecto não muito atraente. Em seu interior há uma polpa esbranquiçada e seca, muito doce, provavelmente açucares e poucas proteinas.

INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS
– O óleo extraído de suas folhas é usado sob a forma de tônicos, loções, xampus, sabonetes para impedir a queda de cabelos, retardando a calvície. Ajuda na manutenção da elasticidade dos fios de cabelos, em mistura com a seiva de juá..
Todas as suas partes são utilizadas: As sementes trituradas são consumidas como paçocas doces , para fabricar licores e aromatizar cachaça.
Os galhos são flexíveis e resistentes e usados para açoitar animais; servindo como chicote para os castigos familiares. As fibras extraídas das cascas são usadas na confecção de cordas (embira) e objetos artesanais.
São usadas  em paisagismo e na recuperação de áreas degradadas para fazer pastos e plantio de grãos como a soja. Com a sua grande copa, excelente sombra.

                                               CURIOSIDADES

Cair na mutamba é o mesmo que apanhar. Quando se refere  a moças significa de pouca beleza, cansada, esculachada, mal cuidada.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

sábado, 15 de fevereiro de 2014

OLHA A MANGABA!

Não conheço essa fruta a não ser de nome. Pertence à Família das Apocináceas, a mesma do  velame branco, da alamanda, da tiborna e guatambu. Cientificamente é conhecida  pela nomenclatura Hancoma speciosa e vulgarmente chamada mangaba-ovo. Mangaba se origina do tupi e significa “coisa boa para comer.”
Árvore rústica,  de clima tropical, típica do bioma Caatinga,  ocorre  no Cerrado, litoral do Nordeste. Nativa no Brasil, encontrada também no Paraguai e no Peru. No Brasil é encontrada  desde os tabuleiros costeiros e Baixada, litoral do Nordeste, vegetando espontaneamente. Também na Amazônia e no Pará, principalmente na Ilha de Marajó e na região do Salgado, alto e médio Tapajós,  Maranhão, Alagoas Bahia, Sergipe, Paraiba, Pernambuco e norte de Minas Gerais e São Paulo, onde cresce espontaneamente. Vem sendo cultivada na Zona da Mata Paraibana e do Rio Grande do Norte. Sergipe é o principal produtor, sendo a árvore-símbolo desse Estado, a partir de 20/1/1992, pelo Decreto-Lei  n2 12.723. Não obstante sofre ameaça de sobrevivência, para cortar os troncos na fabricação de caixotes e para lenha.

Hermafrodita frutifica entre 3 e 5 anos após o plantio. A copa é larga e arredondada forma uma sombra à época da florescência e frutificação. Tolera bem a seca e se desenvolve em solos ácidos e pobres em nutrientes. O tronco é tortuoso, com a casca rugosa e áspera. As flores são brancas e perfumadas e aparecem entre os meses de agosto e março, porém não é regra geral, pois a mangaba é encontrada praticamente durante  todo o ano. Os frutos  são pequenos, piriformes ou elipsoides,  com 6cm de comprimento, do tamanho de uma ameixa, muito aromáticos e delicados. São do tipo baga, casca de cor amarelado ou esverdeado com ou sem manchas. Quando maduros adquirem  uma coloração amarelada com pigmentação vermelha. A polpa  é branca, cremosa e leitosa, suculenta  ligeiramente  viscosa e fibrosa com sabor acidulado, mas muito saborosa.  Pesam de  30 a 260g e  apresentam  no interior da polpa duas sementes achatadas e arredondadas.  A fruta completa o amadurecimento  no chão entre 12e 24 h. A safra ocorre em novembro e a colheita é feita geralmente no Dia de Finados.
                 
                                            VALOR ALIMENTÍCIO

Rica em  Vitamina C, possui elevados teores de vit. A, B1, B2. Proteínas fibras e minerais com ferro, cálcio e fósforo. Usado na Culinária  para a preparação de sucos, compotas, geleias, doce em calda, sorvetes, licores, vinhos, xarope e até vinagre.  Dizem que o bolo é delicioso. Geralmente consumida in natura, quando madura e guardada por uns dois dias para completar a sua maturação, sendo de fácil digestibilidade. São muito perecíveis, devendo ser consumidos tão logo completa a maturação. Se consumidas verdes causa intoxicação  e até morte. 100g da polpa fornecem 43 calorias.
                                                   
                                USO EM MEDICINA POPULAR

Vendidas  as  cascas da árvore, usadas no controle da diabetes, colesterol e como vasodilatador, na hipertensão. Também na icterícia e doenças do fígado e do baço. As folhas sob a forma de infusão  são usadas  em gripes, cálculos renais e cólicas menstruais.
     Do tronco e das folhas é extraído um látex – leite de mangaba – com propriedades medicinais, usado no tratamento da tuberculose e na cicatrização de úlceras e da herpis.  O látex também é usado para fazer borracha de cor rosada.
Na II Guerra Mundial  fora empregada na fabricação de artefatos de borracha.

                                      IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

Em muitos povoados do Nordeste, principalmente de Sergipe dá um grande incremento  na renda familiar de milhares de família que se organizam em cooperativas.  São as catadoras de Mangaba que conferiu o prêmio Sebrae de Jornalismo, na Rádio Liberdade de Aracaju à jornalista Juliana Almeida.
Infelizmente a especulação imobiliária, principalmente para construção de hotéis e resorts tem causado grande devastação nas áreas de restingas, ecossistema incrível  onde são encontrados milhares de pés.
                                  
                                         CURIOSIDADES

Pela grande abundância dessa árvore, vários logradouros usam seu nome pelo Brasil afora. No Ceará há um município com o nome de Lavras de Mangabeira, situada em área de cerrado,  em ecótopo com vegetação caducifólia.
Em Belo Horizonte é famoso o Parque das Mangabeiras.
A atriz Ellen Rocha, uma das protagonistas da novela Sangue bom foi cognominada Mulher-Mangaba.
Na MPB é muito conhecida a música Mangaba doce. No Ceará há um personagem querido das populações rurais – O véio mangaba, - suas pastoras e bandas, pastoril criado por Walmir  Chagas.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

VOCÊ QUER INGÁ? INGA TAÍ!

O Brasil possui  uma das mais diversificadas coberturas florísticas da Terra, principalmente a Região Amazônica. Segundo alguns  estudiosos” as grandes variações botânicas se devem à inclinação dos raios Gama, que atuando nos genes ou fator e no DNA, faz com que o ritmo das mutações seja proporcional à quantidade de irradiação Gama e da inclinação deste raio solar. Na Hileia Amazônica como os raios caem com a perpendicularidade nula (0@), os mesmos penetram , com maior profundidade, no núcleo das células dos, vegetais, aumentando as mutações e, consequentemente, as variações fitogeográficas”.
Desde a descoberta do Brasil e por todo o Período Colonial, principalmente entre os séculos XVI e XVII,  o extrativismo  das nossas matas e florestas acabou sendo a maior atividade econômica, nos primeiros anos com o corte do pau-brasil e outras madeiras nobres, como pela busca das chamadas drogas do sertão, em substituição às especiarias das Índias que estavam se esgotando: salsaparrilha, cacau, baunilha, guaraná, castanha do Pará, óleo de copaíba, urucu, anil, canela, gergelim, puxuri, noz moscada, quina e muitas outras, inicialmente feitas pelas missões jesuíticas que aproveitavam a mão-de-obra indígena disponível. Mais tarde pela ação dos invasores holandeses, ingleses e espanhóis, despertando o interesse da Metrópole e a cobiça dos Capitães-Generais do Estado do Maranhão e Grão-Pará, ao constatar que esses recursos naturais podiam ser comercializados na Europa, por preços elevados, enriquecendo-os mais rapidamente. Para atingir seus objetivos a Coroa , transferiu o eixo político e econômico de São Luis para Belém, porta de entrada da Região Amazônica.
E assim começou a derrubada das matas, depois das seringueiras, estas a partir do século XIX, sem que houvesse a menor preocupação em recuperar essas áreas desmatadas, causando um grande impacto ambiental.
Além da Amazônia que continua no processo do desmatamento indiscriminado para  implantar a atividades agropastoris,  praticamente toda Mata Atlântica foi devastada.
O reflorestamento só passou a preocupar, a partir de uma tomada de consciência sobre as consequência que essas agressões estavam fazendo ao  meio ambiento, com o  consequente  esgotamento de suas riquezas naturais. A partir daí começou o plantio de Pinus e eucalipto  para a obtenção da celulose, de carvão vegetal,  construção civil e movelaria.
Além dessas regiões mencionadas, o bioma Cerrados vem sendo implacavelmente degradado ,no Planalto Central,  há mais de cinquenta anos, desde a construção de Brasília e cidades satélites, a abertura de estradas, principalmente a Belém-Brasília. O Pantanal Mato-grossense  encontra-se bastante descaracterizado pela implantação de  fazendas de gado, assim como para o cultivo de grãos, como a soja, o mesmo se dizendo do sul do Estado do Maranhão. Infelizmente tudo  isso é feito em nome do progresso sem que se exija dos responsáveis por esses crimes ecológicos  a obrigatoriedade de restaurar a cobertura vegetal  dessas áreas.
Atualmente em nome da sustentabilidade, experiência  adotada nos últimos 25 anos, estão sendo praticadas associações  entre vegetais, cultivando café e cacau e até flores,  à sombra de grandes árvores, sem necessidade de derrubá-las. Também priorizando projetos de caráter estruturante que precisam  ser sustentáveis, ou seja,  permitir que as populações dessas áreas  sejam os protagonistas das transformações, usando os conhecimentos adquiridos para gerar renda e acessar seus direitos de forma contínua. O objetivo é  incentivar a agricultura, a produção auto-sustentável e a proteção ambiental nas áreas mais pobres, para não comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Um dos vegetais  usados para recuperar áreas degradadas é a ingazeira. Nativa da Amazônia, pertence ao gênero Inga, da família das Fabáceas. Ocorre em outros ecossistemas florestais  do Amazonas até o Paraná, sendo exclusivamente neotropical. Também designa os frutos da árvore que contém sementes envolvidas por um arilo ou polpa branca e comestível Seu nome deriva do tupi in-ga e significa embebido, empapado, ensopado.


Na adolescência  passada totalmente na cidade de Pinhero costumávamos ir nos fins de semana na Ilha de Ventura para apanhá-las no sítio do sr. Palmério Martins. Hoje a ilha faz parte do núcleo urbano, pelo aterramento de parte do campo.
Encontrada em matas ciliares, geralmente nas margens de rios e lagos, quando caem servem de alimento para peixes . Produz cerca de 20 anos.
São conhecidas cerca de 300 espécies que se distribuem  no México, Antilhas  e toda a América do Sul. A espécie mais comum entre nós é a Inga vera. A  ingazeira chega a alcançar 15 m de altura, raíz  pivotante  além de numerosas secundárias e se desenvolve em solos arenosos, sendo procurada pelo homem e animais, pássaros como periquitos e papagaios; abelhas, macacos  e roedores. O tronco atinge 5 a 10m de altura com 20 a 30cm de diâmetro . A copa é  ampla, aberta, ramificada com folhas  com textura papirácea,  compostas, paripinadas, raque foliar e com nectários foliares entre cada folíolos e sarcotesta  envolvendo as sementes. A florescência é terminal ou subterminal, nas axilas das folhas com os ramos. As flores são andróginas, perfumadas, coloração branco-esverdeado, protegidas por  5 brácteas  que  formam um cálice inteiro de forma tubular com corola de cor amarela e revestida de finos pelos; a floração se dá mais de uma vez por ano, isto é,  a ingazeira frutifica praticamente todo o ano. Os frutos são lineares, alongados, do tipo vagem, variando o comprimento de 10 a 30 cm, cor amarelo claro, facilmente descascada, arilo flocoso, semelhante a algodão doce, envolvendo sementes verdes.  A polpa, arilo ou sarcotesta é levemente fibrosa e adocicada,  sendo consumida in natura.
A espécie Inga  edulis ou ingá de metro, tem a fava mais dura e quando aberta uma polpa branca, macia, flocosa, consistência macia, sabor adocicado  recobre grandes caroços pretos luzidios. A ingá-cipó não é nativa da Amazônia, porém vem sendo encontrada atualmente. Suas vagens grandes atingem  1 m de comprimento, meio espiralada.

                                   VALOR  ALIMENTÍCIO

Rica em sais minerais, açúcares, fibras, proteínas e umidade não é fruta cultivada, nem explorada comercialmente. É fruta de passatempo.

                              USO NA MEDICINA CASEIRA

Sob a forma de xarope usada para bronquite e cicatrizante com o chá obtido das folhas. Também tem propriedades anti-artrites, anti-reumáticas, dores reumáticas, disenterias, problemas intestinais, diarreias, dores de cabeça.

                                      OUTROS USOS

Excelente em projetos de paisagismo não só em parques, praças e avenidas mas para arborização de calçadas estreitas; melíferas atraem pássaros e abelhas.Apresenta porte médio e crescimento rápido. Também para recuperação de áreas degradadas, principalmente matas ciliares.
A madeira é leve, macia, medianamente resistente e de baixa durabilidade, usada para fabricar brinquedos, lápis e caixotaria, lenha, carvão. As cascas são usadas em tinturaria e curtumes.

                                                   FOLCLORE

É muito conhecida no município de Ingazeira, em Pernambuco esta toada cantada por capoeiristas: O ingá da ingazeira/Ingazeira o ingá/Oioi, oioi ingazeira o ingá. Vou cantando a capoeira, ingazeira o ingá. Essa fruta é brasileira/ ingazeira o ingá. Do folclore popular, ingazeira o ingá. Se você quiser me ver, bote seu navio no mar/ ingazeira o ingá.
Também é muito conhecida a música Maringá de autoria do compositor e médico paranaense Joubert Gontijo de Carvalho, corruptela de Maria de Ingá, de grande sucesso até os dias atuais:
“...Maringá, Maringá, depois que tu partiste, tudo aqui ficou mais triste que eu garrei a maginá....Foi  numa leva que a cabocla Maringá, ficou sendo  a retirante que mais dava o que falar. Maringá, Maringá, volta aqui pro meu sertão/ pra de novo o coração do caboclo assossegar...”

domingo, 2 de fevereiro de 2014

EM TERRA DE PEQUI NÃO EXISTE CABRA FROUXO NEM MULHER QUE NUNCA PARIU

Até alguns anos atrás eu nunca havia comido pequi: achava o cheiro enjoativo e o aspecto não muito convidativo. Entretanto crescí vendo as pessoas consumindo-os,  cozidos ou misturados com arroz ou galinha, em Pinheiro, provenientes da Chapada. Já casada e aposentada, morando em sítio, fui induzida, pelo marido a experimentá-los, quando ele trazia do povoado Pequizeiro, em Bequimão. E não é que gostei? Pequenos e magros ou grandes e carnudos, comprávamos sempre na época da safra. Fui impedida de consumí-los, por recomendação do Dr. Armando Bogéa, meu cardiologista, pois as taxas de lipídios e triglicerídeos estavam na estratosfera. E assim terminou a minha ligação gastronômica com o pequí.
O pequizeiro ou Carycar brasiliense (família das Caryocaceas)  é nativo no cerrado brasileiro,  principalmente em  Goiás, onde são encontradas todas ase espécies e em  Minas Gerais, o segundo maior produtor; também no Tocantins,  Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Bahia e nos cerrados de São Paulo e Paraná. Fora do Brasil é encontrado na   Bolívia. Seu nome deriva do tupi py-quiy e significa casca suja ou py (pele) qui (espinho).
O famoso botânico Auguste de Saint-Hilaire em sua viagem à Província de Goiás, e, 1819 faz referência esse fruto, como piqui.                 
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         Árvore de grande utilidade não é adequadamente cultivada e nem protegida  estando em certas regiões praticamente extinta, devido ao extrativismo  indiscriminado e ao desmatamento das áreas de vegetação nativa. Graças às técnicas de propagação desenvolvidas  por pesquisadores brasileiros, não só para o pequi como o araticum, caju, mangaba, guapeva e palmito de guariroba, renovaram-se as  esperanças de exploração sustentada do bioma, a partir da diversificação  das espécies de reconhecida importância e potencial econômico, num consórcio com a própria natureza, isto é, com outras plantas nativas.
O nosso descaso com árvores cujos frutos não são apreciados pelas elites, permitiu que o pequi  fosse patenteado pelo Japão,  batizado por CSL (Chemical Strengthemer  Layer).
Desde o século XIII o pequi começou a ser utilizado na culinária. Polpa macia, saborosa, sabor e aroma marcante e peculiar, pode ser conservada. Deve-se  comê-lo com as mãos  e somente a parte amarela, por causa dos espinhos que recobrem seus caroços e que podem causar  ferimentos sérios nas gengivas e no palato. Alguns biólogos afirmam que esses espinhos surgiram no processo evolutivo do pequi como proteção de sua amêndoa e se não fossem eles, provavelmente essa espécie estaria extinta. Além de cozido  com arroz e galinha é  também saboreado com peixes, carnes, leite, assim como para preparar doces, licores, sorvetes. Rico em óleos é utilizado para o fabrico de sabão, sendo excelente para fins terapêuticos na indústria de cosméticos, para pele e cabelos.
É uma árvore frondosa,  com 10m de altura, tronco e ramos grossos, aspecto tortuoso, casca rugosa e áspera com coloração castanho-acinzentado, heliófita, xerófita e semidecídua, ocorrendo em agrupamentos mais ou menos densos, tanto em formações primárias como secundárias e pioneiras.
     As folhas são verde-escuro, ásperas, ovais com 12cmX 6cm, bordas picotadas sinuosamente, prendendo-se no caule aos grupos de 3 em 3. Delas volatilizam essências  aromáticas e calmantes, dando um bem-estar físico e tranquilidade ao espírito, quando se repousa à sua sombra acolhedora. Cerca de doze espécies já foram descritas. Na região Amazônica atingem até 30m com 6 m de diâmetro, enquanto nas zonas áridas não passam de arbustos, cuja vantagem é facilitar a colheita. Nesse ecossistema de florestas  fluviais, encontra-se o pequiá – Caryocar vilosum, que difere do pequi pelos folíolos mais finos, ovados-oblongos, acuminados e sésseis. Frutos e madeira semelhantes. Encontra-se, também a pequirana da Amazônia à Bahia. Caryocar deriva do grego Caryon que significa núcleo ou noz.
As flores são grandes, amarelas ou branco-creme com estames longos e numerosos, desabrochando entre novembro e dezembro, frutificando de janeiro a abril. A frutificação demora 4 a 8 anos  e os frutos ocorrem entre janeiro e março. Os frutos tipo drupa, pesam de 100  300g, tem casca esverdeada, do tamanho de uma laranja média, polpa amarela, farinácea, oleosa,  com 1 a 4 caroços, através dos quais se faz o plantio. Um só pequizeiro produz 500 a 2000 frutos. A raiz é tóxica, possuindo  rotenona  e usada em pescaria para atordoar e mesmo matar peixes. Os agentes polinizadores são os morcegos.

                            VALOR  ALIMENTÍCIO
O início das chuvas no cerrado  transforma o bioma árido e seco em um misto de jardim e pomar.
O pequi é a estrela da culinária regional, fruto dourado motivo de festa e fartura para sertanejos, índios e brancos, assim como para roedores como ratos, preá, paca, capivara, anta e outros animais como o lobo-guará..
Rico em óleos insaturados, Vitaminas A, C , riboflavina, tiamina, Vit. E  e carotenoides; minerais como fósforo, magnésio, cálcio, ferro e cobre, além de açucares. A sua ingestão previne  o aparecimento de tumores, problemas cardiovasculares e a formação de radicais livres.
A polpa é separada dos caroços, por fervura, dela extraindo-se um óleo  comestível ou consumido numa mistura quente com leite, cravo, canela e açúcar. Contém 6% de proteínas, daí ser usado como restaurador de energia.
A castanha encontrada no interior dos caroços é também comestível.

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VALOR ECONÔMICO E USO NA MEDICINA POPULAR

A madeira é resistente, com boa durabilidade, usada na construção civil, fabricação de móveis, postes e em xilogravura.
Flores e frutos são usados na medicina popular para tratar gripes e resfriados, bronquite, O chá das folhas é excelente regulador menstrual e alivia as cólicas. Os frutos são também utilizados na indústria de cosméticos.
Das raízes extrai-se tanino usado  para curtir couros. Do tronco extrai-se um corante amarelo usado pelos artesãos locais.  As cinzas das cascas  são, também,   usadas em  tinturaria e para alimentar animais. Raspando-se a entrecasca   consegue-se o pó de pequi,  com propriedade urticante, provocando intensa coceira – é uma das maneiras de adquirir-se o famoso “pó de mico”.
Os pequizeiros são adequados para o paisagismo, tanto de grandes parques como de pequenos jardins.

                                     CURIOSIDADES

Comum num dos biomas  mais pobres do Brasil, o pequi é cercado de lendas e mitos. As músicas tocadas nessas regiões, assim como poemas, como o Velho Pequizeiro, segundo o dr. Hermes de Paula, louvam as propriedades alimentícias e curativas do pequi. Vários municípios do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e até de Minas Gerais são denominados Pequizeiro.
Famosos são os Festivais do Pequi  realizados em Tocantins e Montes Claros (MG), assim como o “ pequizeiro  de ouro” de Januária, debaixo do qual os romeiros deixavam guloseimas. Em Rio Pardo dizem que existe um pequizeiro de tamanho incomum.
Sobre as propriedades excitantes e afrodisíacas do pequi, D. Pedro II quando  foi conhecer a Cachoeira de Paulo Afonso, tendo como guia Manoel José Gomes  deixou um breve relato de que as mulheres emprenhavam com mais frequência na época da safra de pequí, pois é considerado restaurador da virilidade dos homens e dá vida às mulheres que tem filhos.
O mais famoso pequizeiro  está em Lagoa Santa, MG. , em cuja sombra jazem os restos mortais  do Dr. Peter Wilhelm Lund, sábio dinamarquês , considerado o Pai da Paleontologia  e que escolhera um grande pequizeiro para ler e descansar à sua sombra. Contam que o mesmo viera ao Brasil tratar-se de uma doença pulmonar, conseguindo a cura com o uso de pequi. Graças a ele não só o Brasil, mas praticamente todo o mundo soube de suas propriedades nutritivas e medicinais. Antes de falecer, em 1888 pediu que fosse enterrado  debaixo do “seu” pequizeiro.
Há uma lenda  indígena para explicar a origem do pequi, tendo como protagonista Tainá-racan, que ao perder seu filho Uadi, levado por Canaxiné, teria vertido muitas lágrimas no local onde havia ainda as marcas dos pés do seu filhinho. Nesse lugar nascera uma árvore copada de flores amarelas que deram frutos dourados como os cabelos do filho, de odor e sabor inesquecível,  sendo chamado Tamanó ou piqui, cujos caroços eram recobertos por espinhos  da dor do coração de sua mãe.
Há  outra lenda envolvendo escravos africanos, refugiados no último quilombo, dizimado pelo branco colonizador, resultando em grande carnificina, não poupando velhos nem crianças. Uma índia grávida conseguiu fugir, abrigando-se debaixo de uma grande árvore estéril, onde morreu. Com a decomposição do seu corpo  o solo tornou-se rico em minerais, provocando o aparecimento de flores amarelas com frutos  redondos e verdes. Quando partidos revelam uma polpa amarela em forma de embrião.