Até alguns anos atrás eu nunca havia comido pequi: achava o cheiro enjoativo e o aspecto não muito convidativo. Entretanto crescí vendo as pessoas consumindo-os, cozidos ou misturados com arroz ou galinha, em Pinheiro, provenientes da Chapada. Já casada e aposentada, morando em sítio, fui induzida, pelo marido a experimentá-los, quando ele trazia do povoado Pequizeiro, em Bequimão. E não é que gostei? Pequenos e magros ou grandes e carnudos, comprávamos sempre na época da safra. Fui impedida de consumí-los, por recomendação do Dr. Armando Bogéa, meu cardiologista, pois as taxas de lipídios e triglicerídeos estavam na estratosfera. E assim terminou a minha ligação gastronômica com o pequí.
O pequizeiro ou Carycar brasiliense (família das Caryocaceas) é nativo no cerrado brasileiro, principalmente em Goiás, onde são encontradas todas ase espécies e em Minas Gerais, o segundo maior produtor; também no Tocantins, Rondônia, Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Ceará, Bahia e nos cerrados de São Paulo e Paraná. Fora do Brasil é encontrado na Bolívia. Seu nome deriva do tupi py-quiy e significa casca suja ou py (pele) qui (espinho).
O famoso botânico Auguste de Saint-Hilaire em sua viagem à Província de Goiás, e, 1819 faz referência esse fruto, como piqui.
Árvore de grande utilidade não é adequadamente cultivada e nem protegida estando em certas regiões praticamente extinta, devido ao extrativismo indiscriminado e ao desmatamento das áreas de vegetação nativa. Graças às técnicas de propagação desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, não só para o pequi como o araticum, caju, mangaba, guapeva e palmito de guariroba, renovaram-se as esperanças de exploração sustentada do bioma, a partir da diversificação das espécies de reconhecida importância e potencial econômico, num consórcio com a própria natureza, isto é, com outras plantas nativas.
Árvore de grande utilidade não é adequadamente cultivada e nem protegida estando em certas regiões praticamente extinta, devido ao extrativismo indiscriminado e ao desmatamento das áreas de vegetação nativa. Graças às técnicas de propagação desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, não só para o pequi como o araticum, caju, mangaba, guapeva e palmito de guariroba, renovaram-se as esperanças de exploração sustentada do bioma, a partir da diversificação das espécies de reconhecida importância e potencial econômico, num consórcio com a própria natureza, isto é, com outras plantas nativas.
O nosso descaso com árvores cujos frutos não são apreciados pelas elites, permitiu que o pequi fosse patenteado pelo Japão, batizado por CSL (Chemical Strengthemer Layer).
Desde o século XIII o pequi começou a ser utilizado na culinária. Polpa macia, saborosa, sabor e aroma marcante e peculiar, pode ser conservada. Deve-se comê-lo com as mãos e somente a parte amarela, por causa dos espinhos que recobrem seus caroços e que podem causar ferimentos sérios nas gengivas e no palato. Alguns biólogos afirmam que esses espinhos surgiram no processo evolutivo do pequi como proteção de sua amêndoa e se não fossem eles, provavelmente essa espécie estaria extinta. Além de cozido com arroz e galinha é também saboreado com peixes, carnes, leite, assim como para preparar doces, licores, sorvetes. Rico em óleos é utilizado para o fabrico de sabão, sendo excelente para fins terapêuticos na indústria de cosméticos, para pele e cabelos.
É uma árvore frondosa, com 10m de altura, tronco e ramos grossos, aspecto tortuoso, casca rugosa e áspera com coloração castanho-acinzentado, heliófita, xerófita e semidecídua, ocorrendo em agrupamentos mais ou menos densos, tanto em formações primárias como secundárias e pioneiras.
As folhas são verde-escuro, ásperas, ovais com 12cmX 6cm, bordas picotadas sinuosamente, prendendo-se no caule aos grupos de 3 em 3. Delas volatilizam essências aromáticas e calmantes, dando um bem-estar físico e tranquilidade ao espírito, quando se repousa à sua sombra acolhedora. Cerca de doze espécies já foram descritas. Na região Amazônica atingem até 30m com 6 m de diâmetro, enquanto nas zonas áridas não passam de arbustos, cuja vantagem é facilitar a colheita. Nesse ecossistema de florestas fluviais, encontra-se o pequiá – Caryocar vilosum, que difere do pequi pelos folíolos mais finos, ovados-oblongos, acuminados e sésseis. Frutos e madeira semelhantes. Encontra-se, também a pequirana da Amazônia à Bahia. Caryocar deriva do grego Caryon que significa núcleo ou noz.
As flores são grandes, amarelas ou branco-creme com estames longos e numerosos, desabrochando entre novembro e dezembro, frutificando de janeiro a abril. A frutificação demora 4 a 8 anos e os frutos ocorrem entre janeiro e março. Os frutos tipo drupa, pesam de 100 300g, tem casca esverdeada, do tamanho de uma laranja média, polpa amarela, farinácea, oleosa, com 1 a 4 caroços, através dos quais se faz o plantio. Um só pequizeiro produz 500 a 2000 frutos. A raiz é tóxica, possuindo rotenona e usada em pescaria para atordoar e mesmo matar peixes. Os agentes polinizadores são os morcegos.
VALOR ALIMENTÍCIO
O pequi é a estrela da culinária regional, fruto dourado motivo de festa e fartura para sertanejos, índios e brancos, assim como para roedores como ratos, preá, paca, capivara, anta e outros animais como o lobo-guará..
Rico em óleos insaturados, Vitaminas A, C , riboflavina, tiamina, Vit. E e carotenoides; minerais como fósforo, magnésio, cálcio, ferro e cobre, além de açucares. A sua ingestão previne o aparecimento de tumores, problemas cardiovasculares e a formação de radicais livres.
A polpa é separada dos caroços, por fervura, dela extraindo-se um óleo comestível ou consumido numa mistura quente com leite, cravo, canela e açúcar. Contém 6% de proteínas, daí ser usado como restaurador de energia.
A castanha encontrada no interior dos caroços é também comestível.
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VALOR ECONÔMICO E USO NA MEDICINA POPULAR
A madeira é resistente, com boa durabilidade, usada na construção civil, fabricação de móveis, postes e em xilogravura.
Flores e frutos são usados na medicina popular para tratar gripes e resfriados, bronquite, O chá das folhas é excelente regulador menstrual e alivia as cólicas. Os frutos são também utilizados na indústria de cosméticos.
Das raízes extrai-se tanino usado para curtir couros. Do tronco extrai-se um corante amarelo usado pelos artesãos locais. As cinzas das cascas são, também, usadas em tinturaria e para alimentar animais. Raspando-se a entrecasca consegue-se o pó de pequi, com propriedade urticante, provocando intensa coceira – é uma das maneiras de adquirir-se o famoso “pó de mico”.
Os pequizeiros são adequados para o paisagismo, tanto de grandes parques como de pequenos jardins.
CURIOSIDADES
Comum num dos biomas mais pobres do Brasil, o pequi é cercado de lendas e mitos. As músicas tocadas nessas regiões, assim como poemas, como o Velho Pequizeiro, segundo o dr. Hermes de Paula, louvam as propriedades alimentícias e curativas do pequi. Vários municípios do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e até de Minas Gerais são denominados Pequizeiro.
Famosos são os Festivais do Pequi realizados em Tocantins e Montes Claros (MG), assim como o “ pequizeiro de ouro” de Januária, debaixo do qual os romeiros deixavam guloseimas. Em Rio Pardo dizem que existe um pequizeiro de tamanho incomum.
Sobre as propriedades excitantes e afrodisíacas do pequi, D. Pedro II quando foi conhecer a Cachoeira de Paulo Afonso, tendo como guia Manoel José Gomes deixou um breve relato de que as mulheres emprenhavam com mais frequência na época da safra de pequí, pois é considerado restaurador da virilidade dos homens e dá vida às mulheres que tem filhos.
O mais famoso pequizeiro está em Lagoa Santa, MG. , em cuja sombra jazem os restos mortais do Dr. Peter Wilhelm Lund, sábio dinamarquês , considerado o Pai da Paleontologia e que escolhera um grande pequizeiro para ler e descansar à sua sombra. Contam que o mesmo viera ao Brasil tratar-se de uma doença pulmonar, conseguindo a cura com o uso de pequi. Graças a ele não só o Brasil, mas praticamente todo o mundo soube de suas propriedades nutritivas e medicinais. Antes de falecer, em 1888 pediu que fosse enterrado debaixo do “seu” pequizeiro.
Há uma lenda indígena para explicar a origem do pequi, tendo como protagonista Tainá-racan, que ao perder seu filho Uadi, levado por Canaxiné, teria vertido muitas lágrimas no local onde havia ainda as marcas dos pés do seu filhinho. Nesse lugar nascera uma árvore copada de flores amarelas que deram frutos dourados como os cabelos do filho, de odor e sabor inesquecível, sendo chamado Tamanó ou piqui, cujos caroços eram recobertos por espinhos da dor do coração de sua mãe.
Há outra lenda envolvendo escravos africanos, refugiados no último quilombo, dizimado pelo branco colonizador, resultando em grande carnificina, não poupando velhos nem crianças. Uma índia grávida conseguiu fugir, abrigando-se debaixo de uma grande árvore estéril, onde morreu. Com a decomposição do seu corpo o solo tornou-se rico em minerais, provocando o aparecimento de flores amarelas com frutos redondos e verdes. Quando partidos revelam uma polpa amarela em forma de embrião.
Parabéns, Mó pelo resgate dos valores culinários e terapêuticos do pequi. Gostei e recomendei no Google a leitura.
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