Essa assertiva
é do grande escritor Euclides da Cunha, sociólogo, historiador ao constatar o grande potencial dessa árvore,
cujas raízes são armazenadora de água, capaz de assegurar a
sobrevivência do homem e dos animais nos longos períodos de seca. Essa e
outras considerações sobre o umbuzeiro
foram feitas pelo escritor em seu livro Os Sertões que relata a Guerra de
Canudos. Ainda Euclides da Cunha: “Se não existisse o
umbuzeiro, aquele trato do sertão, tão estéril que nele escasseiam os
carnaubais, tão providencialmente dispersos nos que os convizinham até ao Ceará,
estaria despovoado”. Essa propriedade desconhecida dos soldados foi usada como
estratégia de resistência dos seguidores de Antônio Conselheiro. O umbuzeiro fora
descrito mais tarde pelo escritor alagoano Graciliano Ramos, em seu livro
autobiográfico Infância. Também por J.N.
Caminhoá que o considerara utilíssimo e por Saint-Hilaire
(“O umbuzeiro floresce logo, e pouco depois cobre-se de saborosos frutos agridoces
e odoríferos, de cuja polpa, misturada com leite, fazem alí uma deliciosa
bebida, a umbuzada, que é tomada só, ou com a coalhada”).Gilberto Freyre faz
referência em um de seus livros a um delicioso doce feito com umbus verdes.
A maior parte
dos umbuzeiros do sertão tem mais de 100 anos. É uma pequena árvore com 7m de
altura, tronco curto, copa esgalhada e densa em forma de guarda-chuva. O tronco
apresenta sinais de atrofia, tortuoso, irregular e o crescimento é lento, porém
espécimes mais antigos apresentam 1m de
diâmetro. O tronco velho, cinza desprende-se em placas sub-retangulares, sendo
substituídas por outras novas, lisas, avermelhadas internamente e recobertas
por saponina. Por incisão obtem-se um exsudato transparente, resinoso, com odor
de terebentina e com sabor distinto.
Pertence à
família das Anacardiáceas – Spondias tuberosa - própria da caatinga, de folhas
penadas, alternas, compostas,
imparipinadas com 3 a 9 folíolos, bordas
inteiras, ovaladas ou elípticas acuminadas,
que formam uma folhagem que se expande até 15m de comprimento. As flores brancas, pequenas e agrupadas em panículas com 10 a 15cm de
comprimento com fascículos opostos, encerram
onze flores alvas, com cinco
pétalas e cinco sépalas em forma de taça. Essas flores de raro perfume tem o néctar
que é retirado pelas abelhas que fabricam excelente mel. A abertura das flores
se dá entre 0 às 4h, com pico às 2h
O nome umbu ou
imbu deriva do tupi-guarani yumbu e significa árvore que dá de beber. O fruto é pequeno, arredondado, com 3 a 4 cm
de diâmetro, casca lisa de cor amarelo-esverdeado com 4 a 5 protuberâncias ou
com pequenos pelos que lhe confere uma textura aveludada. Tem odor e sabor
agradáveis; sua polpa é branca, esverdeada, mole, suculenta, com sabor azedinho, com um único caroço no
centro.
Suas raízes são fasciculadas, podendo atingir até 1m de
profundidade, desdobrando-se horizontalmente no solo, expandindo-se em
tubérculos ocos repletos de seiva, cujo
tamanho varia de um punho à cabeça de criança, em forma de batatas, sendo
grandes reservatórios de água. Esses
órgãos armazenadores são chamados
xilopódios e são estruturas intumescidas, consistentes, esponjosas, arredondadas,
formando tecido lacunoso, celulósico e cheio de água. Às vezes chegam a medir 50
cm de comprimento e armazenar mais de
meio litro de água, que pode ser clara ou opalescente. A casca é escura e o
interior esbranquiçado.
Em 100 anos
cada umbuzeiro pode produzir 2.000l de água.
Nativo no
Brasil é conhecido desde o Período Colonial e se distribui pelo chapadão
semiárido do Nordeste, principalmente na Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba,
Sergipe e norte de Minas Gerais. É uma
planta heliófila e caducifólia, isto é perde totalmente as suas folhas na seca,
revestindo-se de novas folhas um pouco antes da floração. A frutificação se dá dois meses após a abertura das flores.
VALOR ALIMENTÍCIO
O fruto verde
possui 33mg de ácido ascórbico (Vit.C). Deve ser posto de molho e fervido para tirar a
acidez. Maduro o teor é reduzido pela metade, mas apresenta Vit.A, vitaminas do
Complexo B, proteínas, carboidratos, amido e minerais. Apreciada in natura, mas
sua polpa agridoce, pode ser
processada para a produção de sorvete, geleia, mousse, doces; também vinho, vinagre e picles. O fruto maduro dura 2 a 3
dias, o que dificulta o consumo. A umbuzada é muito apreciada, feita com leite
quente de cabra e açúcar mascavo ou com coalhada e pimenta. O suco é usado em
merenda escolar. A polpa pode ser fermentada e peneirada para retirar a nata
até virar xarope.
Os frutos e
folhas são usadas na alimentação de animais.
Das flores consegue-se excelente mel. Os túberos são usados como farinha após
secagem e trituração ou como legume, crocante.
USOS NA MEDICINA POPULAR
O suco é empregado
para tratar escorbuto e como antidiarreico. O decocto das cascas do tronco é
usado no tratamento de diarreias, blenorragia, hemorroidas e afecções da
garganta.
IMPORTÂMCIA ECONÔMICA
A madeira é utilizada para fabricar cachimbos,
caixotes e para lenha. Usado em reflorestamento
de áreas degradadas.
Alguns países
como a França, Alemanha e Áustria importam a polpa.
CURIOSIDADES
Referida em
várias composições como a do cantor pernambucano Alceu Valença. Na Bahia
realiza-se, anualmente, o Festival do Umbu. É de autoria do compositor Leo
Bargon o Cordel do Umbu, com 12 estrofes do qual transcrevemos apenas cinco:
“Quero falar
neste meu ingênuo canto/da importante árvore sagrada do sertão/conhecida em
toda a região como umbu/ importante e rica fonte de alimentação. Para quem não
conhece pode duvidar/ mas para quem desfruta desta fruta gosta e diz: nunca ví
umbu ser tão bom!...Esta árvore planta sagrada é a salvação do sertão/ seja
para os racionais, seja para os irracionais/ todos vivem desta abençoada árvore
fiel/que mata a fome de todos os animais/ sacia a fome do sertanejo na época da
seca. É sumarenta, doce, agradável e comestível. É o pão que se multiplica/
quem vê na caatinga diz: nunca ví umbu ser tão bom”.
Esta árvore no
sertão e no mundo, o que nós conhecemos como umbu, no estrangeiro é chamado
Spondias tuberosa. Mas não se engane com
uma planta do sul/ porque a do sertão é sagrada e poderosa. Veio do
tupi-guaraní, seu significado ymbu: para os índios árvore que dá de beber/ para
nós é só dizer: nunca vi umbu tão bom. Esta sagrada árvore vive mais de 100
anos/ tem grande destaque pelo seu aroma/ rico em hidratos de carbono e
energético/ vitaminas B e C formidável à
vida humana. Seu consumo nunca causa desconforto/ foi usada como remédio até
pelo rei de Roma. Até lá foi aclamada como árvore sagrada, quando o rei falou: nunca
vi umbu ser tão bom.
ótima e esclarecdora pesquisa sobre a Árvore Sagrada do Sertão. Parabéns.
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