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PAPIRUS DO EGITO

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

UMBUZEIRO, ÁRVORE SAGRADA DO SERTÃO


Essa assertiva é do grande escritor Euclides da Cunha, sociólogo, historiador ao  constatar o grande potencial dessa árvore, cujas  raízes são  armazenadora de água, capaz de assegurar a sobrevivência do homem e dos animais nos longos períodos de seca. Essa e outras  considerações sobre o umbuzeiro foram feitas pelo escritor em seu livro Os Sertões que relata a Guerra de Canudos.  Ainda  Euclides da Cunha: “Se não existisse o umbuzeiro, aquele trato do sertão, tão estéril que nele escasseiam os carnaubais, tão providencialmente dispersos nos que os convizinham até ao Ceará, estaria despovoado”. Essa propriedade desconhecida dos soldados foi usada como estratégia de resistência dos seguidores de Antônio Conselheiro. O umbuzeiro fora descrito mais tarde pelo escritor alagoano Graciliano Ramos, em seu livro autobiográfico  Infância. Também por J.N. Caminhoá  que o  considerara utilíssimo e por Saint-Hilaire (“O umbuzeiro floresce logo, e pouco depois cobre-se de saborosos frutos agridoces e odoríferos, de cuja polpa, misturada com leite, fazem alí uma deliciosa bebida, a umbuzada, que é tomada só, ou com a coalhada”).Gilberto Freyre faz referência em um de seus livros a um delicioso doce feito com umbus verdes.
A maior parte dos umbuzeiros do sertão tem mais de 100 anos. É uma pequena árvore com 7m de altura, tronco curto, copa esgalhada e densa em forma de guarda-chuva. O tronco apresenta sinais de atrofia, tortuoso, irregular e o crescimento é lento, porém espécimes mais antigos apresentam  1m de diâmetro. O tronco velho, cinza desprende-se em placas sub-retangulares, sendo substituídas por outras novas, lisas, avermelhadas internamente e recobertas por saponina. Por incisão obtem-se um exsudato transparente, resinoso, com odor de terebentina e  com sabor distinto.
Pertence à família das Anacardiáceas – Spondias tuberosa - própria da caatinga, de folhas penadas,  alternas, compostas, imparipinadas com 3 a 9 folíolos,  bordas inteiras, ovaladas ou elípticas acuminadas,  que formam uma folhagem que se expande até  15m de comprimento. As flores brancas, pequenas  e agrupadas em panículas com 10 a 15cm de comprimento com fascículos opostos, encerram  onze flores alvas,  com cinco pétalas e cinco sépalas em forma de taça. Essas flores de raro perfume tem o néctar que é retirado pelas abelhas que fabricam excelente mel. A abertura das flores se dá entre 0 às 4h, com pico às 2h
O nome umbu ou imbu deriva do tupi-guarani yumbu e significa árvore que dá de beber.  O fruto é pequeno, arredondado, com 3 a 4 cm de diâmetro, casca lisa de cor amarelo-esverdeado com 4 a 5 protuberâncias ou com pequenos pelos que lhe confere uma textura aveludada. Tem odor e sabor agradáveis; sua polpa é branca, esverdeada, mole, suculenta,   com sabor azedinho, com um único caroço no centro.
Suas raízes  são fasciculadas, podendo atingir até 1m de profundidade, desdobrando-se horizontalmente no solo, expandindo-se em tubérculos ocos  repletos de seiva, cujo tamanho varia de um punho à cabeça de criança, em forma de batatas, sendo grandes reservatórios de água.  Esses órgãos armazenadores  são chamados xilopódios e são estruturas intumescidas, consistentes, esponjosas, arredondadas, formando tecido lacunoso, celulósico e cheio de água. Às vezes chegam a medir 50 cm de comprimento e armazenar  mais de meio litro de água, que pode ser clara ou opalescente. A casca é escura e o interior esbranquiçado.
Em 100 anos cada umbuzeiro pode produzir 2.000l de água.
Nativo no Brasil é conhecido desde o Período  Colonial e se distribui pelo chapadão semiárido do Nordeste, principalmente na Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e norte de Minas Gerais. É  uma planta heliófila e caducifólia, isto é perde totalmente as suas folhas na seca, revestindo-se de novas folhas um pouco antes da  floração. A frutificação  se dá dois meses após a abertura das flores.
                                                        
                                            VALOR ALIMENTÍCIO

O fruto verde possui 33mg de ácido ascórbico (Vit.C).  Deve ser posto de molho e fervido para tirar a acidez. Maduro o teor é reduzido pela metade, mas apresenta Vit.A, vitaminas do Complexo B, proteínas, carboidratos, amido e minerais. Apreciada in natura, mas sua polpa  agridoce, pode ser processada  para a produção  de sorvete, geleia,  mousse, doces;  também vinho,  vinagre e picles. O fruto maduro dura 2 a 3 dias, o que dificulta o consumo. A umbuzada é muito apreciada, feita com leite quente de cabra e açúcar mascavo ou com coalhada e pimenta. O suco é usado em merenda escolar. A polpa pode ser fermentada e peneirada para retirar a nata até virar xarope.
Os frutos e folhas são usadas na alimentação  de animais. Das flores consegue-se excelente mel. Os túberos são usados como farinha após secagem e trituração ou como legume, crocante.
                
                               USOS NA MEDICINA POPULAR

O suco é empregado para tratar escorbuto e como antidiarreico. O decocto das cascas do tronco é usado no tratamento de diarreias, blenorragia, hemorroidas e afecções da garganta.

                            IMPORTÂMCIA ECONÔMICA

A  madeira é utilizada para fabricar cachimbos, caixotes e para lenha. Usado em  reflorestamento de áreas degradadas.
Alguns países como a França, Alemanha e Áustria importam a polpa.
               
                                      CURIOSIDADES

Referida em várias composições como a do cantor pernambucano Alceu Valença. Na Bahia realiza-se, anualmente, o Festival do Umbu. É de autoria do compositor Leo Bargon o Cordel do Umbu, com 12 estrofes  do qual transcrevemos  apenas cinco:
“Quero falar neste meu ingênuo canto/da importante árvore sagrada do sertão/conhecida em toda a região como umbu/ importante e rica fonte de alimentação. Para quem não conhece pode duvidar/ mas para quem desfruta desta fruta gosta e diz: nunca ví umbu ser tão bom!...Esta árvore planta sagrada é a salvação do sertão/ seja para os racionais, seja para os irracionais/ todos vivem desta abençoada árvore fiel/que mata a fome de todos os animais/ sacia a fome do sertanejo na época da seca. É sumarenta, doce, agradável e comestível. É o pão que se multiplica/ quem vê na caatinga diz: nunca ví umbu ser tão bom”.
Esta árvore no sertão e no mundo, o que nós conhecemos como umbu, no estrangeiro é chamado Spondias  tuberosa. Mas não se engane com uma planta do sul/ porque a do sertão é sagrada e poderosa. Veio do tupi-guaraní, seu significado ymbu: para os índios árvore que dá de beber/ para nós é só dizer: nunca vi umbu tão bom. Esta sagrada árvore vive mais de 100 anos/ tem grande destaque pelo seu aroma/ rico em hidratos de carbono e energético/ vitaminas B e C  formidável à vida humana. Seu consumo nunca causa desconforto/ foi usada como remédio até pelo rei de Roma. Até lá foi aclamada como árvore sagrada, quando o rei falou: nunca vi umbu ser tão bom.

Um comentário:

  1. ótima e esclarecdora pesquisa sobre a Árvore Sagrada do Sertão. Parabéns.

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