MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

segunda-feira, 31 de março de 2014

O Neem e a Medicina Ayurveda

A ciência Ayurveda é uma filosofia voltada para seguir com naturalidade o funcionamento natural do ser humano como um todo. Baseia-se  no sistema filosófico dos cinco elementos que formam toda a constituição do universo: ar, éter, fogo, água e terra, além do discernimento  e da mente. Quando há desequilíbrio  desses elementos, surgem as doenças.
Esse Sistema desenvolvido por antigos sábios da Índia significa “conhecimento da vida” e se baseia no fato de que todos os seres humanos são regidos por esses cinco elementos, através de dosha: Vatar que rege ar e éter; Pita, regido pelo fogo e água e Kapha regido por terra e água.
O Ayurveda traz todas as orientações adequadas para isso e tem por princípio básico reativar a inteligência do nosso corpo para que ele trabalhe junto com as substâncias orgânicas. Essas práticas não separam  a ingestão de alimentos, estilo de vida, ambiente, estado de vida mental  e das ações medicinais  que são prescritas. Para a Ayurveda não existe o bom e o ruim, tudo pode ser remédio quanto veneno. A questão está no entendimento  de como, quanto, quando, onde e porque usar determinada substância.
As doenças resultam do desequilíbrio desses elementos, pela liberação das toxinas acumuladas, impedindo o fluxo  natural e espontâneo da energia no organismo.
A Medicina Ayurveda que em sânscrito significa a ciência da vida, do entendimento da natureza das coisas, continua sendo a medicina oficial da Índia, base da medicina árabe, chinesa, grega e romana; busca a prevenção dessas doenças, empregando várias ferramentas terapêuticas para equilibrar os doshas, através de massagens com óleos medicinais, drenagens linfáticas, relaxamento mental; age no sistema linfático, desintoxicando o organismo; atua no sistema circulatório, aumentando a produção de glóbulos brancos, facilitando a nutrição e oxigenação das células; e energética, equilibrando o chacra, atuando nos sete elementos do corpo, desfazendo bloqueios emocionais. Também  uma dieta equilibrada, rotina diária de hábitos saudáveis, oleação, sudação, fitoterapia, uso de metais e pedras preciosas, yoga e meditação.
As massagens liberam as toxinas que se acumulam no organismo que as expele através das fezes e da urina. O óleo no  caso é o medicamento, extraído de plantas específicas, escolhido para cada constituição psicofisiológica,  e restaura o bem-estar físico, mental, energético e emocional.
Os óleos variam, pode ser de rícino, oliva, coco, sésamo, mostarda e muitos outros escolhidos de acordo com o tipo de desequilíbrio predominante no paciente, a estação do ano, e em função das necessidades particulares e individuais.
Também são utilizados chás de folhas, cascas de árvores, raízes, flores e frutos na medicina ayurvédica, principalmente na Charaksamhita e no sistema medicinal Unani, visando remediar as causas e não os sintomas.
Para a Ayurveda a doença é muito mais que uma percepção de sintomas desagradáveis ou perigosos à manutenção da vida. Como ciência integral considera que a doença se inicia muito antes de chegar à fase em que é percebida. Assim, pequenos desequilíbrios tendem a aumentar com o passar do tempo se não forem corrigidos, originando as doenças.
 Quanto à fitoterapia ou Medicina Alternativa, as plantas medicinais são seguras desde que usadas de forma correta, funcionando muito bem para tratar desequilíbrios básicos do metabolismo e do corpo, mas são menos eficazes em doenças agudas, decorrentes de hábitos inadequados e ignorância. É ingenuidade pensar que as ervas medicinais são 100% eficientes se não há mudanças no estilo de vida e dieta que dê suporte ao tratamento
A fitoterapia é exatamente onde o Brasil e a Índia se encontram, pois 80% das nossas plantas são também nativas no subcontinente indiano e podem ser usadas de acordo com a milenar tradição ayurvédica. As mais conhecidas entre nós são: gengibre, cravo, canela, noz moscada, coentro, cominho, hortelã, usadas tanto na culinária como condimento, como na terapêutica. No livro As Plantas Curam, o autor, Alfons Balbach faz referência a mais de quinhentas.
Outras plantas asiáticas usadas no Brasil são: ginseng, castanha da Índia, centelha asiática, cáscara sagrada, salsaparrilha, valeriana, melissa, echinacera, jaborandi, arnica, alcachofra, lúpulo, cavalinha, espinheira santa, cardo mariano, fel da terra, erva de São João, alfazema, malva, chapéu de couro e quase duzentas outras que fazem parte do nosso arsenal terapêutico popular, como a Pfaffia paniculata, substituta do ginseng, e nestas últimas décadas o  noni e o nim.

Atualmente a medicina ocidental, a homeopatia e a medicina psicossomática recuperaram  a visão global do ser humano já adotada há milênios pela Medicina tradicional chinesa  e pela Ayurvédica de que a doença começa na psique porque ela é a energia formativa que cria os órgão e os mantém em funcionamento. Longos períodos de estresse, deixam marcas profundas no corpo.
Em todos esses sistemas de saúde o conceito de espírito e psique é parte integrante do diagnóstico (individual e global) e a saúde depende do equilíbrio, enquanto o desequilíbrio leva à doença.
A dimensão psicológica e espiritual é indissolúvel do corpo. Em todos os sistemas das grandes Civilizações, algumas com milênios de observação e experiência, adotaram o princípio de que o espírito, a mente, o corpo, as vísceras e as emoções fazem parte de um todo. 

                               NEEM  ou NIM

O Neem é um dos mais importantes componentes da Medicina Ayurvédica. Seu nome científico é Azadirachta indica, que significa árvore generosa, pertence à família das Meliáceas sendo a única espécie do gênero, A essa família pertencem o cedro e o mogno. Alcança grande porte atingindo, alguns espécimes, 30m de altura com tronco medindo 2,5m de diâmetro.
Autóctone em todo o subcontinente indiano a sua origem é bastante discutida. Alguns botânicos dizem ser originária de Assam e Burma, sendo comum em toda área seca central e nas colinas Siwalifa, estendendo-se de Kerala, na Índia, ao Himalaia. Outros dizem ser nativa  nas áreas florestais secas em todo sul e sudeste da Ásia, na índia e Birmânia, no Paquistão, Sri Lanka, Tailândia, Malásia e Indonésia, Papua e Nova Guiné. Na Nigéria é conhecida como Babo Yaro. Ao longo dos séculos se distribuiu no sul do Pacífico nas ilhas Fidi, Maurício, Caribe, América Central e do Sul. Também é conhecida na Austrália e nos Estados Unidos, com pequenas plantações na Flórida.
Na América Latina foi introduzida no século XX, em projetos na Nicarágua, Honduras, Cuba, República Dominicana e na Venezuela. No Brasil entrou em 1993, através da Embrapa, para experimentos como defensivo agrícola, logo se espalhando por todos os Estados, principalmente em projeto de arborização.
Venerada como árvore sagrada na Índia, onde é considerada a Farmácia da Aldeia, tem tronco curto, reto, casca fissurada na cor cinza escuro; folhagem sempre verde, seus galhos atingem  até 20 m.  proporcionando uma boa sombra.  Contam que Gandhi costumava meditar à sombra dessas árvores e consumia diariamente um chutney de suas folhas, cujo extrato tem a capacidade de bloquear o funcionamento da alfa-enzima, envolvida no funcionamento do pâncreas durante a digestão e que transforma o amido em glicose. Normalmente com nove anos mede 20m de altura. Sua vida útil chega a 200 anos. As folhas são pequenas, com cerca de 8cm, lanceoladas, acuminadas, bordos serreados e com base assimétrica; a floração ocorre entre 3 e 4 anos e as flores pequenas com cinco pétalas, são bissexuais, brancas, delicadas, aromáticas e melíferas.  Os frutos, tipo drupa, são do tamanho de uma azeitona, com 2cm e quando maduros tomam uma coloração amarelo-esverdeado, indo à púrpura, com polpa doce e um só caroço. As raízes são bem aprofundadas, de grande vigor, rebrotando com facilidade.
É uma planta polivalente, usada há milênios na Índia. Dela se aproveita tudo: casca, galhos, folhas, flores, sementes e a madeira do tronco, resistente a pragas.
O Nim está sendo testado como anti-virótica, no tratamento da herpes e da hepatite B.
Há mais de 3 mil anos vem sendo utilizada na higiene pessoal, profilática e terapêutica humana, animal e vegetal. Cientistas modernos estão encontrando cada vez mais usos para esta notável planta: antiviral, antisséptica, antipirética, anti-inflamatória, cicatrizante, antifúngica, antibiótica e contra úlceras. Também no tratamento de salmoneloses e estafilococoses. A sua atividade imunomodeladora do linfócito Th1, considerado estimulante potente no sistema imuno-hipoglicemiante tanto para a diabetes 1 e 2. Purificador do sangue, previne contra eczemas, candidíase, pé-de-atleta, acne. Indicada para os problemas periodontais.
Na Índia, além de todas as indicações mencionadas, são utilizados rebentos de Nim, para dar força vital e purificar o sangue.
Um longo processo iniciado pela Índia e o Instituto Europeu de Patentes, anulando só recentemente patentes já registradas por uma multinacional que impedia os indianos de dispor livremente dos recursos do Nim. Em consequência, os financiamentos  para pesquisas por instituições ocidentais foram suspensas. Foi um  duro golpe nas pretensões da biopirataria farmacêutica europeia que queria manter o registro de setenta patentes de produtos do   Nim,  no campo da saúde.

                       USOS   NA  INDÚSTRIA

Nos Estados Unidos comercializam-se vários produtos derivados do Nim, como tortas, repelentes, sendo, no entanto, mais ulilizado como cosméticos: sabonetes, creme dental, enxaguatório bucal, xampu, condicionador, desodorante, gel para o corpo Também folhas dessecadas, cápsulas, pomadas, spray, tônico modificado, pó e até bonecos. Esses produtos são totalmente naturais.
Vários países da Europa, principalmente a Alemanha  pesquisam as propriedades do Nim há mais de vinte anos. No Continente Americano, a República Dominicana, Cuba, El Salvador, Guatemala, Costa Rica e Nicarágua têm envidado esforços para detectar princípios ativos para fins industriais, químicos e medicinais.
Sua principal utilidade  é como pesticida e no controle biológico de diversas pragas que atacam as plantas e animais do campo. O Nim possui nove princípios ativos com função inseticida e biodegradável, sendo o mais potente a Azardirachtina, que é um tetranortriterpenoide ou limenoide, tornando as plantas mais resistentes. Também usada como adubo resultante da prensagem de sementes, formando uma pasta que deve ser misturada com fertilizantes sintéticos, fontes solúveis de nitrogênio, pois sendo antimicrobial reduz a população de bactérias  nitrificadoras do solo, que captam o oxigênio do ar, disponibilizando-o à planta.
Combate mais de 500 espécies de parasitos, como ácaros, insetos, mosca do berne, fungos, bactérias, nematoides; repelentes de insetos, carrapatos, piolhos, pulgas de cães.
A azadirachtina tem efeito residual de 3 a 7 dias, podendo ser borrifada uma vez por semana.
Estão sendo realizadas pesquisas em várias instituições científicas para testar o seu potencial no controle biológico do dengue, malária e leishmaniose, atuando sobre o sistema hormonal dos insetos, impedido o seu desenvolvimento.
Combate a fusariose que causa a podridão das raízes das pimenteiras, cochonilhas das bromélias e também dos cinamonos. Para pulverização usa-se o óleo das sementes misturado com andiroba e citronela, obtendo-se excelente  Repel.
Mais de 240  plantas são conhecidas por suas propriedades pesticidas, porém somente o Nim oferece controle efetivo sobre os insetos sem afetar o meio ambiente, considerada o melhor agrotóxico do mundo.
                    
                    USOS  NA  MEDICINA  POPULAR
   
Chamada amargosa pelo seu sabor, possui múltiplos usos: folhas, cascas da árvore, frutos, sementes têm diversas aplicações. Desde tempos imemoriais os indianos já usavam suas folhas como antisséptico e para tratar problemas bucais, como gengivite, mau hálito, dentes amarelados, sangramento, reduzindo as placas bacterianas e candidíase. As folhas são usadas in natura, ou sob a forma de chá e extrato, no controle de doenças cardíacas, melhorando a circulação sanguínea, reduz a coagulação do sangue, regula a pressão arterial. Fortalece o sistema imunológico, envolvendo o sistema metabólico, inibindo a ação dos radicais livres. Usada como coadjuvante no tratamento da obesidade e da diabetes, graças aos teores de serotonina que inibe a liberação da insulina. Combate os fungos que atacam as unhas, tornando-as fortes e resistentes.
A Medicina Veterinária usa como carrapaticida de animais domésticos, como cachorros, gatos e cavalos. Na lavoura é utilizada no controle da mosca de chifre e como repelente de insetos, na prevenção de pragas que atacam hortaliças, culturas de arroz e feijão, assim como os percevejos, cascudinhos e lagartas.
O Instituto Osvaldo Cruz, em Manguinhos, há três anos pesquisa os efeitos do óleo do Nim  no   combate aos flebótomos na sua fase larvária, controlando assim, as leishmanioses.
Na Universidade de Maringá, no Paraná, o Nim vem sendo testado como espermicida. 
                             
                PROPRIEDADES  NUTRITIVAS

Cento e vinte princípios ativos já foram identificados, considerando, por suas funções e propriedades nutracêuticas, um alimento que previne doenças. Desse total noventa são bioativas, atuando no metabolismo do organismo, considerados nutrientes funcionais com ações terapêuticas, sendo cinco purificadoras e desintoxicantes sanguíneos. Os frutos  contém muitas proteínas, usadas como aditivo alimentar, carboidratos para fermentação industrial. A polpa é promissora para produção do gás metano.

                      OUTROS  USOS

A madeira do tronco é dura, pesada e usada na fabricação de carretas, ferramentas, postes para cercas, móveis, casas. Usada em reflorestamento e como planta ornamental de praças e parques. Na Índia extrai-se do tronco uma resina usada como cola e das cascas, fazem-se cordas bem resistentes.
  
                                 RESUMINDO

1 – As cascas são usadas para tratar reumatismos, dores lombares, febre.
2 – O sumo das folhas é empregada para expelir lombrigas, curar icterícia e doenças da pele.
3 – O óleo das sementes, de forte odor, é usado no tétano, em eczemas, urticárias, escrófulas, erisipelas e estágios iniciais da hanseníase.
4 – Os galhos pequenos são usados como escovas descartáveis.

                      CONTROVÉRSIAS

Pesquisadores contrários à difusão do Nim, atribuem a essa planta a transformação de ecossistemas abertos em fechados, com perda da biodiversidade, pelo sombreamento e exposição do solo, com consequente erosão, provocando o assoreamento dos cursos d’água, com impacto sobre a fauna ictiológica. Reduz, também, a área agropastoril para herbívoros. Alteração  do regime hídrico em ecossistemas abertos, pela supressão  de outras espécies  arbóreas é  causada pela ação  de substâncias alelopáticas e estabelecimento gradativo de dominância de uma só espécie.

                         AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Antônio Pinheiro Gaspar, farmacêutico-bioquímico pela sugestão do tema que vem suscitando interesses na Indústria Farmacêutica.
À amiga Flavya Aranha por informações precisas e atuais
À amiga Ana Sofia Moraes Nascimento que me enviou de Miami,  catálogos com produtos derivados do Nim,  à venda nos EUA.
                          

sexta-feira, 28 de março de 2014

YES, NÓS TEMOS BANANAS


Há várias semanas, de posse de muitas informações sobre a Banana, busco uma abordagem de mais fácil entendimento, sem complicações com termos botânicos, químicos e genéticos, confundidos, às vezes, com pedantismo ou erudição.
Longe disso. Apesar de farmacêutica, eu sou tão leiga como vocês, pois a Botânica, a Bioquímica e a Fitoterapia nunca  foram a minha seara. Entretanto, a minha alimentação é praticamente à base de frutas, daí o meu interesse em conhecer o seu valor nutritivo, caracterizado por elevados  teores de vitaminas e sais minerais. Também, abordo o seu uso em medicina popular,  baseado em conhecimentos advindos dos nossos ancestrais e negligenciados durante muito tempo  pela  Medicina Moderna,  pois faltava-lhe comprovação  de seu valor científico. Eximindo-se as superstições e mitos, numerosas  plantas vem sendo  pesquisadas, a partir do século XIX,  por farmacêuticos e bioquímicos, com os avanços da  tecnologia, constando de aparelhagem sofisticada e métodos  revolucionários, para  detectar e isolar seus princípios ativos e testá-los, com a finalidade de comprovar a sua eficácia. A partir daí, vem sendo desvendadas as atividades biológicas dos alimentos e seus constituintes, principalmente de origem vegetal, assim como seu papel na nutrição e  no mecanismo de ação sobre as doenças.
Desde a pré-história o homem percebeu que as plantas poderiam  oferecer, além de alimentos (frutos, tubérculos, folhas e até flores), drogas que acalmavam seus males e curavam seus ferimentos. Claro que esses conhecimentos  empíricos, sem base científica  foram deixados de lado, após conhecer-se o funcionamento dos órgãos e os mecanismos  de ação e impactos  dos fármacos  nos processos de determinadas doenças. Algumas pesquisas, no entanto, provaram que os conhecimentos utilizados por povos  antepassados, principalmente de países orientais, como a China, o Japão e a Índia,  não atingidos pelos tentáculos da Inquisição, responsável pela  destruição de manuscritos preciosos,  ciosamente preservados e pela queima,  na fogueira, de pessoas que detinham   esses saberes milenares.
Após a decifração dos hieróglifos da Pedra de Roseta, em 1822, pelo erudito francês Jean-François Champollion, a civilização ocidental teve acesso à informação sobre a influência de uma alimentação equilibrada para melhorar sua qualidade de vida, como uma das preocupações dos egípcios  4.500-5.000 anos a.C., e  defendida mais tarde pelo médico grego Hipócrates, por volta do século V a.C.
Entretanto, não foram os povos antigos do Oriente que se destacaram pelo desenvolvimento tecnológico, relativo à domesticação e cultivo de vegetais. Registros de 7.000 anos atrás indicam que os povos da Meso-América (do México à América Central), os Olmecas, substituídos  pelos Zapotecas,  cultivavam o milho, feijão e certos tipos de pimentas, usados não só na sua alimentação, como fazendo parte do seu arsenal curativo. Os Maias, provavelmente descendentes dos olmecas, espalharam-se desde a Península de Yucatán até a Guatemala e criaram a maior civilização da época, evoluindo para os Astecas (1325 d.C.) que cultivavam  milho, feijão, tomate. Os Incas, se estenderam pelos Andes, especialmente Peru, Bolívia e Chile  e cultivavam  algodão, alpaca e vicunha, além de frutas e legumes.
As frutas, na sua maior parte,  possuem  elevado teor hídrico, baixa densidade calórica, considerável riqueza de material fibroso, enzimas, pigmentos, ácidos orgânicos e outros elementos mineralizantes e  alcalinizantes, proporcionando a desintoxicação do organismo, pela exoneração intestinal, estimulando a diurese e purificando o metabolismo de certos produtos de degradação. Isto se deve à presença  de antioxidantes poderosos que combatem os radicais livres, responsáveis pela formação de vários tipos  de câncer e pelo envelhecimento precoce. Os principais antioxidantes encontrados nas frutas e verduras são as vitaminas C e E, os betacarotenos, o mineral selênio, pigmentos  como as antocianinas e outros glicosídeos.
A Banana é a mais popular de todas as frutas,  considerada a Rainha das Frutas, sendo cultivada em mais de 130 países, todos na região tropical. É um dos principais alimentos da Humanidade e o único para milhões de pessoas. É o 4@ alimento mais consumido no mundo, perdendo para o trigo, arroz e milho. De consumo universal, é vendida em cachos, pencas, em quilo, dúzia e até por unidade Com quase uma centena de variedades atende a todos os gostos, sendo  consumida in natura, pela facilidade de descascá-la. Apreciada, também cozida, assada, frita, flambada, sob a forma de doce em massa, salada de frutas, bananada, banana em calda, bombom cristalizado, compota, geleia. Usada na preparação de bolo, pudim, mousse, madalena,  merengue, suco, cuca, empada, torta, biscoitos, barras de cereais, chips, purê, sushi, sorvete, iogurte, pão, suflê, panqueca, à milanesa, banana caramelada, e banana Split.
Faz-se até cerveja, cumbe e vinho de bananas. Tambémé  muito apreciada dessecada – banana passa –. Liofilizada, entra na fabricação de mingaus, papinhas e outros alimentos para idosos e crianças, pois reveste os tecidos do tubo digestivo, graça à sua consistência viscosa.

                             HISTÓRICO

Acredita-se que a bananeira  seja originária da Malásia, Indonésia e Filipinas; mais tarde levada para a Índia, sendo mencionada em textos budistas de 600 anos a.C. Até hoje os adeptos do Budismo incluem a banana em suas oferendas a Buda. Conta-se que Alexandre, o Grande da Macedônia, ao passar com seu exército na Índia teria visto extensos bananais, sendo o primeiro civilizado a provar a fruta. Levou para o Ocidente em 300 a.C.. No século 2 d.C. teria chegado à China, onde era considerada  exótica, cultivada em jardins como planta ornamental.
Produzida pela primeira vez em território asiático, pode ser encontrada em variedades silvestres na Nova Guiné, Malásia, Indonésia e Filipinas. As bananas silvestres ou selvagens  são mais curtas e grossas e com muitas sementes no seu interior. Algumas chegam a apresentar cinco cachos. Recentes pesquisas arqueológicas revelam, no entanto, que em Kuk Swamp, na província das Terras Altas Ocidentais da Nova Guiné, o cultivo da banana remonta  5.000 anos, até mesmo 8.000 anos a.C., o que torna esse local o berço dessa fruta.
A teoria aceita antes dessas pesquisas é a sua chegada  a Madagascar (ilha situada na costa sudeste da África) e de lá, através de guerreiros islâmicos, em busca de escravos africanos, chegou a Guiné, na costa oeste. Evidências textuais reforçam as informações que o profeta Muhammad era familiarizado com a banana, desde o século IX. Por volta do século X era encontrada na Palestina e Egito e daí para o Norte da África. Também, os muçulmanos teriam introduzido na Península Ibérica. No período medieval as bananas de Granada eram consideradas as melhores do mundo.
Os gregos e romanos a teriam levado para a Europa no século I a.C. e, em 1402, navegantes portugueses levaram-na  para as  Canárias e outras ilhas oceânicas. Em 1516, através do monge português Tomás de Berlonga, fora trazida para o Novo Mundo, sendo cultivada em  Santo Domingo, atualmente República Dominicana. Dessa região passou  para o Caribe, América Central, sendo trazida depois para o Brasil. Há referências a espécies nativas no nosso país, pois os primeiros habitantes já a conheciam. Em 1587, Gabriel Soares de Souza em seu Tratado Descritivo do Brasil, descreveu a banana como fruto natural da terra ”a qual dá numa árvore muito mole e fácil de cortar; de sabor agradável da qual se faz uma marmelada (sic) sofrível”.
Os índios a chamavam de pacova ou paçoba, derivado do tupi  pa kowa que significa folha de enrolar.
No Maranhão  foi descrita e reproduzida em desenho por Frei Cristóvão de Lisboa, em sua História dos Animais e Árvores do Maranhão, escrito entre  1624 e 1635. Com o nome de bananeira ou pacoveira,  foi descrita em Poranduba  Maranhense, pelo Frei  Francisco Nossa Senhora dos Prazeres Maranhão ( 1729),  que faz   alusão a um comentário de Avelar Brotero, que considera a banana  o fruto proibido e que Adão e Eva se cobriam com folhas de bananeira. Daí ser, também chamada figueira de adão. Menciona, também, o uso das folhas na extração de linho para fabricar  papelão.
Em 1872, o escritor francês Jules Verne, faz referência a essa fruta, em seu livro Volta ao Mundo em Oitenta Dias, embora fosse pouco conhecida no Período Vitoriano.
Em 1870 já eram encontradas grandes  plantações na Jamaica, estendendo-se depois para a Costa Rica, Honduras e Colômbia.
Após a Guerra Civil Americana,  em 1880, a preferência pela banana difundiu-se por toda a América do Norte .
As plantações mais modernas são as da Jamaica,  e  da zona oeste do Caribe, incluindo a América Central . Os principais produtores são: Filipinas, China, Equador e Brasil.

    CARACTERÍSTICAS  BOTÂNICAS

A Bananeira é a maior planta herbácea  vivaz  com flores, caracterizando-se pela exuberância  de suas formas e dimensões de suas folhas. Pertence à família das Musaceas, sendo   constituída de um pseudocaule que atinge  6m de altura que se origina de um verdadeiro caule subterrâneo ou rizoma, curto,  que se desenvolve no sentido horizontal e do qual  surgem as folhas que crescem para fora da terra, formando um pseudocaule, tipo estipe. O rizoma funciona como órgão de reserva onde se inserem as raízes adventícias e fibrosas. Apenas uma vez na vida cada caule falso dá um ramo de flores que aos poucos vai se transformando em cacho, formado por pencas que podem ter até vinte bananas. A  longevidade de um rizoma é de 15 anos ou um pouco mais. Um só rizoma pode dar origem a vários rebentos ou filhos. Portanto a multiplicação se dá pela emissão de novos brotos.. As  folhas são dispostas em espiral, e ao se desenvolverem já tem as dimensões definidas. Quando abertas são facilmente rasgadas pelo vento. A inflorescência possui muitas brácteas entre as fileiras de flores masculinas e femininas, fecundadas por insetos. O escapo floral forma-se entre 5 e 8 meses após a floração dos brotos. Na extremidade do pendão, acha-se um cone arroxeado, chamado coração ou umbigo e recebe ordem para começar a promover o desenvolvimento do cacho; após o encerramento da sua fase produtiva, deve ser cortado para acelerar a maturação das frutas. O seu miolo é comestível.
Seu nome científico é Musa sapientum ou árvore dos sábios. Alguns a chamam   M. paradisíaca, por acreditar-se ser a fruta proibida do paraíso.
O nome do  gênero Musa,  que conta com mais de cem espécies entre selvagens e cultivadas, é atribuído a Antônio Musa, médico do imperador Augustus. Há informações, no entanto, que o naturalista Lineu nomeou esse gênero em 1750, pela adaptação  de mauz, em árabe ou banan que significa dedo. Ernest  Chesman descobriu que as espécies mais conhecidas, são descendentes de espécies selvagens, principalmente da M. acuminata e da M.balbisiana, que apresentam sementes, atualmente encontradas na Polinésia e na Papua Guiné. As consumidas pelo homem não tem, exceto a espécie M. balbisiana  encontrada na Indonésia. Há uma subespécie silvestre  M.sapientum  schum que pode ser comida crua.
Cada planta gera  um só cacho com 5 a 15 pencas e após a coleta morre ou é eliminada e então um novo caule simulado cresce. Nas Filipinas uma bananeira pode dar até  5 inflorescências.
As frutas,  na realidade  pseudobagas, com 10 a 15 cm de comprimento, alongadas de acordo com a variedade, têm polpa macia e doce;  quando maduras, as cascas apresentam  cores diferentes:  verde,  amarela, pardo,  vermelha, roxa, tornando-se pretas quando estão apodrecendo.
Das cem espécies conhecidas do gênero Musa, apenas umas cinquenta são usadas pelo homem. As  variedades mais comuns no consumo do dia-a-dia são: prata, maçã, pacovan que é um híbrido  da prata,  cacau, caturra ou costela de vaca, nanica, são tomé, casca verde, pera e mulata, A  banana da terra só pode ser comida  após cozimento.


                      VALOR  ALIMENTÍCIO

O Brasil é o 4@ maior país produtor de bananas e Santos, em São Paulo, o maior produtor, seguido pela Paraíba.
Cada banana pesa em média 130g e é formada de 75% de água e 25% de matéria seca. Pode ser  consumida a partir de 6 meses de idade até a velhice. Para crianças costuma-se esmagar bananas com açúcar. Rica em potássio, carboidratos, ferro, magnésio, fósforo,  zinco cobre, manganês, selênio, proteínas, betacarotenos precursores da vitamina A., vit. B1, B2, B3, B5, B6 B9 e C; fibra e pouca gordura e sódio. Uma banana  fornece  cerca de 120 kcal.  Por ser pobre em sódio não altera a pressão arterial. O seu elevado teor de potássio  atua sobre as contrações musculares,  combatendo as câimbras, sendo por isso chamada fruta dos atletas. Nosso tenista famoso,  Guga, comia bananas  nos intervalos das partidas que disputava.
As cascas são ricas em nutrientes como glicose, sacarose e sais minerais e servem para fazer brigadeiro, bolo, bife empanado e farinha.
A banana depois de cortada escurece rapidamente devido à oxidação, pela presença  de polifenolxidase em contato com o ar. 

USO EM  MEDICINA  CASEIRA

Usada para curar anemia, depressão, ressaca, picada de mosquito, úlceras, estresse, constipação intestinal, aumentar a capacidade mental, nervos, enjoos, problemas cardíacos, regular a pressão arterial, baixar o colesterol. Em gastrites e úlceras, a banana funciona como calmante intestinal  estimulando as funções digestivas,  graças a uma substância oleosa com efeito adstringente para o intestino delgado, grosso e reto, reduzindo os riscos  de câncer colo-retal, carcinomas de células renais e câncer de mama, principalmente nas mulheres. Usado em casos de diarreias crônica e aguda.
A farinha da banana verde, constituída, em grande parte, por água e amido, é usada para controle da diabetes.
A água do tronco é aplicada sobre queimaduras. As gotas de água deixadas nas folhas pelo sereno são usadas em dor de olhos (dordolho) ou conjuntivite. O suco do rizoma cozido é usado no tratamento da icterícia. 

A BANANA  NO  CANCIONEIRO BRASILEIRO  E   INTERNACIONAL

No Espírito Santo, Alagoas  e Santa Catarina encontra-se inserida no Cancioneiro Folclórico. Uma das bandas  baianas de axé mais conhecidas é a Chiclete com Banana. Filme Banana dirigido pelo cineasta Wood Allen. Há a dupla de bonecos animados Bananas de Pijamas, duas divertidas bananas B1e B2, carinhosas e generosas que buscam  sempre o melhor das pessoas, com várias músicas infantis; Bananamóvel ou Festa das Bananas.
O cantor Harry Belafonte se tornou conhecido entre nós após a gravação da música Banana boat song . Mellow Yellow Donovan e sua  banana elétrica. Frank Prata e Irving Cohn compuseram: Yes, we have not banana.  Já Braguinha compôs e gravou Yes, nós temos bananas e Chiquita Bacana, marchinhas carnavalescas, de grande  sucesso. Também o tema banana serviu de inspiração para Jorge Benjor compor algumas músicas, sendo a mais conhecida Olha a banana, olha o Bananeiro. Carmen Miranda imortalizou-se, não só com os discos que gravou e  com os filmes dos quais participou, mas por suas fantasias, imitando  as vendedoras de acarajé e outras guloseimas da Bahia, adornadas com turbantes com frutas tropicais, principalmente bananas e abacaxis.

                      CURIOSIDADES

Sendo uma fruta muito difundida  e cultivada em todo o território brasileiro, seria difícil não estar incluída no inconsciente popular. Eis aqui algumas pérolas:
Às vezes duas bananas crescem e amadurecem grudadas, como gêmeas xifópagas. No interior, costuma-se chamá-las conconhas  e as mulheres férteis que as comem podem ter filhos gêmeos. Outra crendice reza que galinha que come caule da bananeira não põe ovos.
Muitas simpatias são bem conhecidas como uma realizada pelas moças casadoiras, às vésperas do dia de Santo Antônio que consiste em enfiar-se uma faca virgem no tronco de uma bananeira  à meia-noite, e no dia seguinte as iniciais do pretendente estarão na lâmina da faca. Outra simpatia, esta para fazer o cabelo crescer:: colocam-se fios do cabelo da pessoa nos filhotes da planta; à medida  que o tronco se desenvolve, os cabelos também  crescem. Deve-se  replantar bananeira, levando-se o filho (broto) nas costas. Outra simpatia muito usada para reconquistar amantes ou maridos, consiste em cortar-se uma banana no sentido horizontal e colocar no seu interior o nome do amado num pequeno pedaço de papel. Em seguida amarra-se com linha preta de um carretel novo e coloca-se depois sobre um prato branco, virgem, jogando-se açúcar e mel até que fique  totalmente coberta. Coloca-se em mato limpo e protegido dos animais, oferecendo a Oxum, num sábado pela manhã, na fase de lua crescente pra cheia. Quando o pretendente voltar, joga-se a oferenda  em água corrente. Essas simpatias são feitas com banana provavelmente por ser símbolo fálico.
Há também a mulher-banana que participava da abertura dos shows de Jô Soares. E Dany Bananinha, modelo e assistente de palco.
Sonhar com bananeira: solução favorável para assuntos pendentes.
Expressões usadas pelo povo: como a bananeira só dá um cacho, diz-se de pessoa infértil ou que  teve um  só filho, ou pessoa cuja atividade e influência está em declínio. Também para pessoas que vivem se gabando: tem mais água do que bananeira. Por preço de banana significa de custo baixo.
Dar bananas, considerado ato obsceno é usado até em novelas. Plantar bananeira: ficar de ponta-cabeça. Diz-se que uma pessoa é um banana,  quando molenga, sem iniciativa, palerma, indolente, medroso. As charges dos jornais republicanos faziam referências ao imperador Pedro II representado por uma banana, numa total falta de respeito que herdamos dos republicanos. República das Bananas, designação de países da América Central, com governos ditatoriais e corruptos, com forte influência estrangeira, como a Guatemala e  Honduras.
Escorregar na casca de banana significa que a pessoa fez uma asneira. Estar encrencado é estar numa bananosa ou embananado. Os jovens usam bananas para treinar como usar camisinhas. Penteado feminino em que o cabelo é enrolado em uma espécie de coque vertical, na parte de trás da cabeça, a partir da nuca. Alimento preferido dos macacos.
Há localidades com o nome de Bananeiras no brejo paraibano e também uma hidrelétrica no município de Conceição da Feira, na Bahia. A maior ilha fluvial do mundo, situada no Brasil, é a Ilha do Bananal, com 320km de comprimento e 70km de largura formada na bifurcação do Rio Araguaia, no Estado de Tocantins. Também usada para denominar cartuchos de dinamite.

                USO  NA  INDÚSTRIA

Além da indústria alimentícia é, também aproveitada na indústria têxtil, pela utilização da fibra  extraída do pseudotronco  na produção de tecidos finos e na fabricação de papel. No Japão era usada desde o século XIII.
Algumas espécies do gênero Musa, como a M. textilis e M. fehi, chamadas abacás, cultivadas  para o fornecimento de fibras.
Há um solvente de tintas e fixador de esmaltes nas unhas chamado óleo de banana; na verdade é o acetato de amila, resultante da ação do ácido acético com o álcool amílico, em meio ácido, chamado óleo de banana  pelo odor característico dessa fruta.
A bananeira também é empregada na despoluição de rios e lagos, no chamado círculo das bananeiras, devido ao tamanho das folhas que ajudam a evaporar grande quantidade de água, uma vez que a casca extrai os metais pesados; usada, outrossim, para tratamento de águas servidas, de uso residencial  como de pias e chuveiros.
Seus troncos e folhas secas são aproveitadas em artesanato; também para acondicionar grãos, farinha e na alimentação de animais. As folhas verdes são utilizadas para envolver carnes e peixes  moqueados, também  bolos, pães, pamonhas.
O gênero Musa apresenta uma espécie M. ornata, perene, rizomatosa, de aspecto tropical, com brácteas coloridas em forma de concha, envolvendo flores amarelas. Há cerca de 40 espécies, chamadas bananeiras de jardim, usadas em decoração de ambientes e, também para corte. Outras espécies, por suas diferenças botânicas foram incluídas na família Heliconáceas: são as helicôneas, ou bananeiras do brejo, nativas da região amazônica, de cachos de flores com belo colorido, também conhecidas como falsa ave do paraíso, bico de guará,  usadas  em projetos de jardins e outros ambientes.

sábado, 22 de março de 2014

NONI – CAUSA BENEFÍCIOS OU É NOCIVO À SAÚDE?


Fruta originária da Índia, sua descoberta data de 4mil anos a.C. De lá migrou para a Polinésia Francesa,  no Sudeste da Ásia, onde atualmente é nativa, principalmente nas ilhas da Polinésia e do Havaí, onde medra no rico solo vulcânico. Alguns textos pesquisados consideram o Taiti o seu local de origem. É citada em antigos manuscritos da Ayurveda e Siddla, com mais de 2000 anos e ao longo da História, curandeiros havaianos ou Kahuna encontraram usos saudáveis nesta planta antiga, como uma das mais importantes plantas medicinais dessas regiões, e ainda hoje valorizada por suas propriedades nutracêuticas (nutrientes que tem função medicinal).
Na realidade o Noni não é um medicamento, apresentando  seu suco nutrientes benéficos para o nosso organismo. Vários usos seculares e até milenares têm sido atribuídos aos frutos com várias aplicações não medicinais, tanto na China, como no Japão e no Taiti. Já foram identificados mais de 153 nutracêuticos dos quais onze são vitaminas, nove aminoácidos como a glicina, alanina, argenina, serina, cisteina, tirosina, ácido aspártico, ácido glutâmico, prolina. Contém seis dos mais importantes minerais como o cálcio, potássio, magnésio, cobre, ferro, manganês, molibdênio, selênio e zinco.  As vitaminas são: C, B1, B2, B3, B5, B6, B8, B9 e B12, além das lipossolúveis: A, D, E e K. Por todos esses elementos é uma  mais bioativas  frutas conhecidas.

             CARACTERÍSTICAS  BOTÂNICAS

É uma Rubiácea, denominada cientificamente Morinda citrifolia, conhecida no Havaí com o nome de nono e nonu e na Índia, em hindi, com o nome de aal, difundida, através da Ásia Meridional, ilhas do Pacífico, Polinésia Francesa, Porto Rico, República Dominicana e Brasil, sendo o Haiti o maior produtor. Cresce em florestas tropicais, tanto em terrenos rochosos, como arenosos, salinos, secos, calcários e até vulcânicos. São arbustos ou pequenas árvores, cujo  tronco ereto mede  de 3 a 6m de altura, no máximo 9m. 
Suas folhas grandes, elípticas, simples,  verde-escuras com nervuras vincadas. As  flores são pequenas e brancas que se desenvolvem em pequenos glóbulos fundidos para formar uma inflorescência. A  cabeça da flor aumenta lentamente de tamanho até a floração, crescendo rapidamente quando concluída. Antes do desabrochar da última flor, surge um pequeno fruto de cor verde brilhante, ficando com uma cor amarelada a  incolor quando madura e contém  muitas sementes. Os frutos geralmente têm 12 cm de diâmetro e alguns são menores, ovoides, com 4 a 7 cm,  comestíveis, cheiro forte e marcante, com gosto único e peculiar. A maior parte das pessoas, no entanto, acha desagradáveis tanto o sabor como odor, chamada fruta de queijo ou  de vômito. Floresce  o ano inteiro.
As frutas maduras atraem formigas-tecelãs protegendo a planta de insetos parasitas e os morcegos de frutas que ajudam no processo de disseminação.   

 PROPRIEDADES MEDICINAIS e VALOR ALIMENTÍCIO

De altíssimo valor nutricional o Noni  é um alimento natural, responsável  pelo balanço calórico e proteico, graças  a uma grande variedade de nutrientes  destacando-se a proxeronina, cujos benefícios para a saúde suprem deficiências nutricionais. A sua ação é exercida pela nutrição das células, o que faz com que o organismo recupere seu funcionamento harmonioso, traduzindo em saúde e bem-estar. Isso se deve, entretanto, à ação sinérgica da xeronina com os demais constituintes do fruto.
No sumo do Noni encontram-se, também, sistoesterol, estigmasterol e campestol, três fitosterois que agem como fortificantes de grande capacidade nutricional, reduzem a absorção  intestinal do colesterol em plaquetas e do LDL, além do Ômega 6  e óxido nítrico que dilatam os vasos, melhorando a oxigenação e, consequentemente a memória. Aliado valioso contra o tabagismo.
Outros elementos são os betacarotenos precursores da Vit. A,  ácidos linoleicos (capróico, e caprílico), ácidos  gordurosos que regulam a absorção intestinal. Também glucopiranosas que regulam os níveis de açúcar. A acubina e o asperulósido, que agregam propriedades antibióticas poderosas, e em combinação com a escopoletina, além de conter substâncias antibióticas em conjunto com a moridona e morindina, agem sobre as bactérias, fungos e são anti-inflamatórias, protegendo o organismo contra transtornos digestivos. Associa-se à serotonina componente necessário que se encontra nas plaquetas, no forro do aparelho digestivo e no cérebro. A serotonina por sí é mediadora e neurotransmissora, influente no estado de espírito, no ritmo do sono, na assimilação de alimentos, na percepção da dor, no SNS (sistema nervoso central), atuando como antidepressivo e estimulante da digestão.      Os bioflavonóides são antioxidantes poderosos que impedem a formação  dos radicais livres, responsáveis pela degeneração das células. Estimulam a produção de ácido nítrico que atuam na secreção do hormônio do crescimento, fator chave para evitar o envelhecimento, contribuindo para  manutenção  da massa muscular e a densidade óssea.
A escopoletina é um fito-nutriente isolado em 1993, na Universidade do Havai e que interage sinergicamente com outros nutracêuticos, baixando a pressão arterial. Estimula a produção de linfócitos T do sistema imunológico; essas células desempenham papel central  no combate às doenças, aumentando a produção de macrófagos e/ou linfócitos que constituem componentes vitais da defesa natural do organismo.
A  xeronina, alcaloide existente em todas as células dos seres vivos, serve para ativar as enzimas catalisadoras do processo metabólico celular e regular a síntese das proteínas estruturais,  abrindo os poros das paredes celulares dos humanos, possibilitando, a absorção melhor dos nutrientes consumidos.  Reativa as proteínas catalíticas encarregadas de transportar até às vias excretoras, as células mortas e outras substâncias indesejáveis.
O Noni,, é também rico em proxeronina numa forma inativa, precursora da xeronina que não  é afetada pelos ácidos e enzimas gástricas, sendo metabolizada no intestino grosso. Interage com a melatonina e a serotonina, ajudando a regular o sono e os estados de ânimos. A rutina, o Damnacanthal, as antraquinonas, além dos ácidos capróico, ursólico e terpenóides, são também encontrados no Noni.
Dos frutos isolam-se o Acubin L asperuloside e alizarina. Das raízes extrai-se a  e escopoletina conatins que inibe o crescimento da Escherichia coli e do Helicobacter pylori que provoca úlceras e de fungos do gênero  Pythrium.
Pesquisadores descobriram o Damnacanthal que é encontrado  em The Roots noni, e que inibe a tirosina quinase, dando uma atividade antitumoral à fruta e que pode ser uma excelente aliada na luta contra o câncer, ativando o sistema imunológico, defendendo-o do ataque de doenças, protegendo, dessa forma, o material genético das células,  permitindo outrossim,  que as células doentes voltem à normalidade ou induzindo as   já cancerígenas à morte. Já a xeronina  ajuda a recuperação dos tecidos, controlando o processo de formação de novos leucócitos.
Resumindo, a xeromina é o elemento mais importante no Noni, agindo sobre os seguintes sistemas:
- Aparelho Respiratório – tosse, dor de garganta, resfriado, cólera sinusite.
- Aparelho Digestivo –  diarreias, parasitoses intestinais, enjoos e intoxicação por alimentos.
Também intervém no desarranjo progressivo de tecidos específicos fibroides: uterinos, arteriosclerose, diverticulite, verruga, falha na defesa contras células malignas que podem causar câncer.
Associada a d-glucopyranosides – age sobre as doenças imunodepressoras como Herpes 1 e 2, inflamação pélvica, síndrome pós-viral, pancreatite, tireoide viral, infecções por fungos, mofos e leveduras como pé-de-atleta, candidíase, aftas e muitas outras micoses.
Em associação com os terpenos, age sobre o Sistema  Cárdio-Vascular, regulando a pressão arterial e hipertrofia do ventrículo esquerdo, também a Imunodeficiência virótica, como o  HIV e a de Esptein-Bar, candidíase crônica, falta de energia vital.
Associada à escopoletina e terpenos, atua no Sistema Imunológico, como artrite reumatoide, psoríase, diabetes melitus tipo 2, tireoide, lúpus eritematoso, doenças de Crohn e outras doenças auto-imunes.

                                  USO  ALIMENTAR

O Noni, nunca é demais repetir, por si só, não é um medicamento e sim uma fruta que concentra a maior variedade de nutrientes encontrados  na natureza. Rico em Vitaminas, sais minerais, aminoácidos e outros nutrientes essenciais à vida humana.
Os aborígenes da Austrália comem a fruta com sal ou consumida com especiarias. As sementes podem ser comidas assadas.  O modo mais frequente de obter o suco é bater a polpa dos frutos no liquidificador, misturando com suco de uva, abacaxi ou outra fruta de sabor acentuado que mascare o gosto desagradável do Noni, adoçando-o com mel.
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                           USO NA MEDICINA  POPULAR

Na China, Japão e Taiti, aproveitam-se todas as partes da planta. Dos sumos obtidos dos frutos, flores, folhas e do tronco obtém-se preparados  usados para combater febres, gengivites, constipação, dores de ouvido, indisposição do estômago, dificuldades respiratórias. Na Malásia  põem-se sobre o peito flores cozidas para curar tosse, náuseas e cólicas. Nas Filipinas o sumo das folhas é usado nas artrites, também  contra asma e disenterias; na Indochina, aplica-se, externamente o fruto descascado e esmagado com sal para consolidar fraturas de ossos. No Havaí os frutos são empregados para extração de pus de furúnculos. O extrato da fruta regula a menstruação e dificuldades urinárias.
Mais de dez aplicações medicinais já obtiveram êxito, tanto comendo o fruto cru, assado, chá das folhas e cápsulas com a polpa liofilizada. Também usado como anti-inflamatório e inibidor histamínico relacionado com a  dor, artrite e alergia
O Ocidente só conheceu o Noni  a partir de 1996, inicialmente no Peru e na Bolívia, estendendo-se por todo o Brasil, onde vem sendo usado  para regular a pressão arterial, devido à presença de escopoletina; nos problemas cardíacos reduzindo as taxas de colesterol e triglicerídeos; na obesidade ajudando nos regimes de emagrecimento; na diabetes dos tipos I e II, reduzindo o uso de insulina e como coadjuvante no tratamento do câncer; aumenta o vigor sexual, melhora a digestão; reduz as inflamações e artrites e usada em casos de depressão. A dose máxima permitida é 300ml/dia, pois não há comprovação dos seus efeitos colaterais, com o  uso prolongado.
O Noni só deve ser usado por indicação de médicos e nutricionistas. Há restrições aos pacientes que fazem radioterapia e quimioterapia.

                                   ANVISA x NONI

Por falta de pesquisas toxicológicas mais aprofundadas, tendo em vista a grande variedade de alcaloides, o Noni se transformou em centro de polêmicas entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a indústria alimentícia que fabrica e comercializa os derivados  dessa fruta,   no Brasil. Não há pesquisas sistemáticas  cujos resultados  exigidos possam comprovar a sua segurança, conforme determina a Resolução n@ 16/1999 e a Resolução RDC n@287/2005, atualizada por sua vez em 18/6/2008, sendo, talvez liberado quando esses requisitos legais forem  cumpridos.
A ANVISA é um órgão que presta conta ao Congresso Nacional, através de Relatórios de Atividades.
As publicações científicas sobre o suco tem causado  muitas controvérsias sobre a sua segurança como alimento. Considerando tratar-se de solicitação de registro de um novo alimento, sem histórico, a avaliação de sua segurança deve ser baseada em critérios rígidos, uma vez que há suspeita de causar hepatite e hepatoxicidade por ser o fígado, porta de entrada do organismo, funcionando como filtro das substâncias que ingerimos. Os que se posicionam contra o seu uso, associam os riscos à proxeronina  precursora da xeronina.
Entretanto pode ser encontrado, principalmente nos EUA, como suco engarrafado, chá. Vendido até pela Internet, sob a forma de cápsulas com conteúdo de folhas ou frutos liofilizados.
Em 2003 o suco foi aprovado pela União Europeia e autorizada a sua fabricação.
Aqui no Brasil, apesar  da não aprovação pela ANVISA é usado pela população, sob a forma de suco.

                                    PROPRIEDADES INDUSTRIAIS

Além da indústria farmacêutica e de alimento, do tronco retira-se uma cera-batik, castanho púrpura que se aplica sobre sedas, principalmente na Ilha de Java (Indonésia). No Havaí retira-se das raízes uma tintura amarelada para tingir tecidos. No Suriname as árvores são usadas como cerca viva ou para-ventos, também como suporte para videiras ou para cobrir pés de café. Usada como xampu para matar piolhos  na Malásia. Na indústria de cosméticos, devido aos ácidos linoleicos são empregados na fabricação de hidratantes das mãos, corpo e cabelos, máscaras faciais, esfoliantes, xampus, condicionador, máscara capilar.

                         CONSIDERAÇÕES  FINAIS

Apesar de todos esses princípios ativos o Noni não é considerado medicamento, nem incompatível com qualquer tratamento.
A ANVISA (Agência de Vigilância Sanitária) cita efeitos colaterais causados pelo uso prolongado, como desencadeadora de hepatite e hepatoxicidade, porém de modo inconcluso por falta de comprovação científica

                           AGRADECIMENTOS

À amiga Ana Sofia Nascimento de Moraes pelo envio, de Miami, via Internet, de prospectos sobre as formas alimrntícias e produtos  cosméticos, disponibilizados no mercado norte-americano.

domingo, 16 de março de 2014

VOCÊ JÁ COMEU ABIU?

O abieiro ou abiurana é uma fruteira originária da Região Amazônica e Mata Atlântica, considerada  exótica, da família das Sapotáceas - Lucuna caimito -, com árvores  perenifólias  que medem entre 7 e 24m de  altura, folhas glabras, na extremidade dos galhos que têm 5 a 20cm, folhagem ornamental, verde escura na parte superior e dourado no verso
Inflorescência em fascículos que ficam sobre os ramos finos e as flores são brancas, miúdas, com pétalas perfumadas na cor amarelo-avermelhado e  aparecem diretamente no tronco, nos ramos desnudados, abaixo das folhas.
Nativa da América Central e Antilhas, incluindo Haiti e Cuba. No Brasil, floresce no Acre, Amazonas, Pará, Maranhão, Rondônia, Roraima, Minas Gerais, no litoral de Pernambuco ao Rio de Janeiro, praticamente do Oiapoque a Santos. Também é encontrada no Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Equador e Guianas, sob as mais diversas formas: ovais, redondos e alongados, amarelados com estrias verdes no sentido horizontal. Nas proximidades das encostas andinas é encontrado de forma silvestre. Na região do Cerrado encontra-se a espécie Pouteria caimito, ou abiu do Pará cujos frutos apresentam  cor arroxeada. Ambas fornecem sombra e são usadas para arborização.
 O fruto que é encontrado na Amazônia, em estado silvestre, é  denominado  abiu, que deriva do tupí  iba-yu ou au-yu  que significa fruto alongado Recebe vários nomes de acordo  com a região: abiu piloso, curiola, grão de galo, guapeba, cabo de machado, pêssego do mato. Apresenta a casca fina, com coloração amarelo manchado, tendo uma polpa mucilaginosa, doce, muito saborosa, translúcida ou branco-amarelada. As sementes em número de 1 a 4 são lisas e pretas. A frutificação dá-se entre 3 e 5 anos, e cada árvore produz 200 a1000 abius.
                              
                                       VALOR  ALIMENTÍCIO

Rica em betacarotenos ou pró-vitamina A, anticancerígena, melhora a visão e aumenta a imunidade. Também contêm vitaminas do Complexo B (B1, B2, B5) que protegem o organismo contra os metabólicos causados pelas toxinas, sendo úteis em doenças neurológicas e na anemia.
Na sua polpa carnuda, doce com fundo azedo, encontram-se  vitamina C, carboidratos, proteínas, fibras solúveis que reduzem as taxas de colesterol e ajuda a reverter as placas que obstruem as artérias e água. A vit. C aumenta a imunidade contra resfriados, reduz as taxas de colesterol, combate doenças vasculares. Apresenta altos teores de cálcio, essencial para a vida humana por ser o principal componente dos ossos e dentes. Também o fósforo crucial para a contração muscular, condução nervosa e frequência cardíaca
.100 gramas da polpa fornecem 95 calorias. A fruta pode ser consumida in natura, ou na preparação de sucos, sorvetes geleias e em saladas de frutas.
Entre a casca e a polpa há um látex que não deve ser ingerido, podendo ser  usado como cola doméstica. Dos seus caroços extrai-se um óleo aplicado  topicamente como anti-inflamatório e em otite.

                                USO  EM  MEDICINA  POPULAR

Tônico poderoso combate a anemia e a desnutrição; suas frutas agem contra infecções pulmonares, bronquites, asma, em preparações feitas com a polpa cozida. Também usada contra queda de cabelos.  O chá de suas cascas grossas é usado para baixar a febre e  nas disenterias . Dos galhos mais novos extrai-se um látex usado topicamente em verrugas.

                                        OUTROS  EMPREGOS

A copa da árvore é densa e esgalhada, fornece sombra, sendo  usada em projetos paisagísticos. A madeira é densa e boa para construção. É fruteira de quintal e sítios não sendo cultivada com  finalidade comercial.

sexta-feira, 7 de março de 2014

A FAVA D’ANTA DO NOSSO CERRADO

                                           INTRODUÇÃO       

Pela concentração  de rica e diversificada cobertura florística, o Brasil ocupa o primeiro lugar no planeta,  com mais de doze mil espécies identificadas, exibindo grande variedade de  biomas, às vezes numa mesma Unidade da Federação. O Bioma Cerrado é o segundo maior do País com uma área  de  196 milhões de hectares e abrange os Estados do Maranhão, Piauí, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, norte de Minas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
O Estado do Maranhão ocupa uma área de 328.663 km2, sendo o 2@ no Nordeste e o 7@ no País e está situado numa posição privilegiada,  entre as Macrorregiões: Norte, Centro Oeste e Nordeste, apresentando as características climatológicas e principalmente fitogeográficas dessas três grandes regiões.  Em consequência, a sua vegetação reflete, em grande parte, as condições de transição  entre o clima super-úmido da Floresta Amazônica e o semi-árido da Caatinga.
Os Biomas são:  Pré-Amazônia, Baixada, Litoral Norte e Nordeste, Cocais, Chapadões,  Cerrado e Planalto.
Por sua localização entre a Amazônia, o Centro-Oeste e a Caatinga, no Maranhão,  o bioma Cerrado que ocupa 33% do território, não é caracterizado por  um determinado  tipo de cobertura florística, e sim um complexo vegetacional, constituído, na sua  estrutura, por um extrato arbóreo, consistindo de espécimes de troncos e galhos curtos, tortuosos e revestidos por casca grossa. Essas formações   se   distribuem  dentro de um gradiente, cujos limites vão do campo limpo  ao cerradão,  e abrangem  33 municípios dos quais  só 23 apresentam vegetação típica. Estende-se a sudoeste desde a bacia do Itapecuru, abrangendo os municípios de São Francisco do Maranhão, Barão do Grajau, São João dos Patos, Pastos Bons, Nova Iorque, São Raimundo das Mangabeiras, Montes Altos, Sítio Novo, Mirador, Riachão, Carolina, Imperatriz, Tasso Fragoso, Alto Parnaíba e pequenas áreas em Presidente Dutra e Bacabal. Ao sul da bacia do Mearim, o Cerrado chega a ocupar uma área de 7.500km2, principalmente em Grajau e Porto Franco. Em alguns municípios da Baixada,  do Litoral  e dos Chapadões encontra-se superposição  de biomas, formando ecossistemas diversificados, de acordo com os tipos de solos e índices pluviométricos, como Santa Helena, Pinheiro, Itapecuru, Barreirinhas, Humberto de Campos, São  Benedito do Rio Preto, Chapadinha, Vargem Grande, Urbano Santos, Pirapemas, Coroatá.
Sem uma consciência ambiental,  por parte das populações que habitam essas regiões , nem políticas públicas voltadas para a exploração sustentável  e com manejo adequado, e sem  uma legislação mais rigorosa para frear o desmatamento, assistimos impotentes a redução progressiva da vegetação nativa para a expansão agropecuária. Quase 50%  do território  ocupado pelos municípios de Balsas, Riachão, Tuntum, Barra do Corda, Grajaú, Aldeias Altas, Caxias, Codó,  Timbiras, Parnarama, São João Sóter, Urbano Santos, Vargem Grande, São Bernardo, Santa Quitéria, Barreirinhas, Chapadinha,  Coroatá, São Benedito do Rio Preto, correspondendo a uma área de  25 mil campos de futebol, foram devastados para a implantação de projetos agropastoris.
As espécies mais importantes e comuns são: pequi, araticum, cajuí, murici, buriti,  ingá, mangaba, sucupira, andiroba,  jatobá, barbatimão, canela de ema, mutamba, pau santo, pau terra, pau de colher, pau de pombo, fava d’anta, e outros vegetais, quase todos  com frutos bioativos  e nutritivos que alimentam os povos que ali vivem: índios, quilombolas, gente sem terra. Entretanto, o corte indiscriminado dessas árvores, é responsável pela destruição da cobertura florística original, dando lugar a diferentes  paisagens  antrópicas.
Apesar da falta de uma política mais incisiva, visando o reflorestamento para  recuperação das áreas degradadas, o Cerrado brasileiro  é reconhecido como a savana mais rica do mundo, pela biodiversidade  dos vários ecossistemas que abriga.

 FAVA d’ANTA  - CARACTERÍSTICAS  BOTÂNICAS

O Portal São Francisco afirma que há várias espécies de plantas com esse nome, dispersas no Cerrado. Entretanto, a verdadeira é uma leguminosa da família das Caesalpináceas, com 11 espécies, sendo a mais comum a Dimorphandra mollis -  originária do Brasil, com arbustos  de porte mediano,  com tronco tortuoso, revestido por casca grossa, escura e descamante que atinge entre 7 e 14m. As folhas grandes e bipinadas com folíolos alternos ou subpostos; flores pequenas, em espiga,  creme-amarelado. O fruto é uma baga de aroma adocicado, tipo vagem, achatada de cor entre marrom escuro a quase preto, opaca, com superfície irregular, rugosa no ápice, base arredondada, bordo irregular e lenhoso. Mede de 10 a 15cm, com 10 a 21 sementes alongadas e avermelhadas. Adapta-se bem aos terrenos secos, embora prosperem muito bem em terrenos adubados com esterco e fosfato. Para atingir 14m a árvore demora entre 6 e 7 anos.
A espécie predominante no Maranhão, parte do Piauí, Ceará e Bahia é  D.gardneriana.
Sinonímia: falso barbatimão, barbatimão de folha pequena, faveira, farinheira, canafístula e outras denominações, dependendo da região.

 VALOR  COMERCIAL - PROPRIEDADES  FARMACOLÓGICAS

Das suas vagens extraem-se flavonoides do grupo dos polifenóis ou pigmentos vegetais que protegem as plantas contra os raios ultravioletas, assim como de fungos, insetos, vírus e bactérias. Controlam a ação de hormônios dos vegetais e agentes alelopáticos, inibindo as enzimas. O principal flavonóide  é a quercetina, constituindo matéria-prima por excelência no desenvolvimento de produtos  fitoterápicos como a rutina, sintetizada na planta,  e que retarda o processo de envelhecimento, melhora a circulação, devido às suas propriedades vasodilatadoras, atuando sobre a resistência e permeabilidade capilar, semelhante à Vitamina P. Também possui ação anti-inflamatória, usada como agente terapêutico  no tratamento de doenças que envolvem os radicais livres. Outro componente químico  extraído de suas vagens é a ramnose, usada na indústria de cosméticos.
A rutina,  flavonoide solúvel  em metanol foi descoberta em 1936, pelo bioquímico húngaro  Albert Szent-Gyorgy que a chamou de vitamina P.
Pesquisadores da Universidade da Bahia, em testes com a rutina  obtiveram  resultados surpreendentes em células cancerígenas, impedindo a formação de vasos sanguíneos que alimentam os tumores, freando o seu  crescimento e  induzindo à morte as células doentes. Quando associada à vit. C, aumenta a sua absorção, formando um complexo com os radicais livres, que protege o organismo de sua ação lesiva.
Esses favonóides biossintetizados a partir da via dos fenilpropanóides, fazem parte da importante classe dos polifenóis e podem pesar 10,25%  da fava seca.
 Várias  instituições  científicas estão  desenvolvendo pesquisas para modificar os princípios ativos dos seus subprodutos, convertendo-os em remédio para o Mal de Alzheimer,  agindo para melhorar o funcionamento neural e controle das convulsões.
Espécies caducifólias, pioneiras das plantas adaptadas a solos pobres, ocorrem agrupadas  ou dispersas, desde formas arbustivas até espécimes cujos caules cilíndricos  podem alcançar 25 a 30 m. de altura
A coleta das vagens é feita, geralmente, com o  auxílio de instrumentos rudimentares como ganchos, forquilhas ou de maneira predatória pela  quebra dos galhos. Depois são processadas, por trituração para  extração do princípio ativo, de grande valor na indústria farmacêutica. No mercado  encontra-se sob a forma de vitaminas e complemento alimentar. O subproduto  é usado  na alimentação de animais domésticos, também de tucanos, araras, antas e bovinos. Das cascas extrai-se tanino usado em curtumes. Seu manejo inadequado contribui, no entanto,  para  perda considerável de seus princípios ativos.
O Brasil comercializa 95% da rutina extraída, para o mercado internacional, constituído  de 36 países, sendo o Laboratório Merck o maior comprador. De cada quilo de vagem, extraem-se 100 a 150 g de rutina ou cada 100g do pericarpo rende 8g de rutina. Somente uma planta chinesa possui os elementos químicos da fava d’anta, tão disputados pela indústria farmacêutica.
Provoca nos animais  reações neurológicas estranhas, acompanhadas de dificuldade motora e fraqueza,  tremores musculares, salivação  espumosa, pelos arrepiados, timpanismo, distúrbios intestinais graves com fezes muco-sanguinolentas, coágulos sanguíneos, prolapso retal, problemas renais e aumento dos batimentos cardíacos. Pode provocar aborto em vacas. A dose letal éde25g/kg do peso vivo.
Das sementes obtem-se galactomananos   para determinar o rendimento de polissacarídeos, na indústria alimentar.  Na indústria de cosméticos extrai-se a soforina adicionada  a  creme para regular o brilho da pele.
A madeira é usada para tabuados, caixas, compensados, forros, brinquedos, painéis, postes, moirões de cercas, lenha e carvão. As mudas estão sendo usadas para recuperação de áreas degradadas e em arborização  de projetos paisagísticos.

                             USO  EM  MEDICINA  POPULAR

Antioxidante, cardiovascular, atua na oxidação de lipídeos e na radioproteção; também, anti-inflamatória, anti-carcinogênica. Usada para diminuir as dores provocadas por  varicocele,  hemorroidas e varizes e em  pacientes hipertensos para prevenir tromboses  ou em  vítimas de irradiação.

                                 CONSIDERAÇÕES  FINAIS

Apesar da falta de políticas públicas para orientar o extrativismo dos frutos do Cerrado, algumas práticas e inovações em sustentabilidade, estão sendo adotadas para preservar as árvores,  contribuindo com  conhecimentos científicos e agregando valores a esses produtos vegetais, levando em consideração o crescimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto para essas comunidades que já se organizam em cooperativas familiares. Fomentando e dando suporte técnico algumas tentativas bem sucedidas vêm sendo adotadas em certas áreas, como em Januária e Montes Claros, norte de Minas, para coleta das favas, sem destruir os faveiros, substituindo a precariedade da  extração, aperfeiçoando as técnicas corretas de manejo. Também incentivando o plantio de mudas, visando o reflorestamento das áreas degradadas e desestimulando o uso de troncos e galhos na produção de carvão. No Cariri, sul do Ceará,  a produção de favas chega a ser  de 300 toneladas por ano. O Laboratório  Merck, em uma só oportunidade, comprou 350t. para repassar para a multinacional Nutrilite.
Aqui no Maranhão as tentativas são ainda tímidas e bem menos sucedidas. Entretanto o Laboratório Merck, adquiriu  em 1989, a Unidade Agroindustrial da Fazenda Chapada, em Barra do Corda, com uma área  de 3mil hectares, com o cultivo de jaborandi para extração da pilocarpina, com produção anual de 450 toneladas  e, ultimamente da fava d’anta, para obtenção da rutina.

                                       AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Marco Antônio  Teixeira Neto pela sugestão do tema e à Prof. Ana Maria Santana Neiva Costa pelas fotos de faveiros,  enviadas de São João dos Patos, ambos sertanejos.