As primeiras referências sobre o
algodão no Maranhão remontam ao Período Colonial, tendo sido feitas na época em
que os franceses invadiram e se apossaram da ilha de Upaon-Açu, atualmente Ilha
de São Luis, e plantavam a malvácea, segundo Diogo de Campos Moreno.
Além de cultivarem, faziam escambo
com os chefes das várias aldeias da tribo Tupinambá, espalhadas pela ilha.
Alguns historiadores dizem que esse número se aproximava de trinta. Além de
usarem o algodão, enviavam para a França. Provavelmente era o algodão amarelo.
Também Simão Estácio de Sá se refere a essa cultura em seu livro: Relação
Sumária das Cousas do Maranhão, considerado o primeiro marqueteiro das nossas
riquezas naturais, como forma de atrair seus patrícios para a América
Portuguesa.
Também Francisco Dias Deiró, cúmplice
de Bequimão na malograda Revolta, sugeriu à Câmara que não permitisse as
exportações desse produto. Nessa época com 150 a 400 varas de algodão,
comprava-se um escravo para a lavoura, multiplicando as colheitas e levando a
Colônia a padecer com a falta do produto.
Em 1682 foi criada uma companhia de
gestão privada, em substituição à Câmara Municipal, gerando conflitos de
interesses, culminando com a Revolta de Beckman, e reprimida energicamente
com o enforcamento de Bequimão e seu cúmplice. Somente em 1688, o governador
Gomes de Freire de Andrade atribuiu um valor, em réis, ao novelo e vara do
algodão, confirmado pelo rei.
Em 1693, Antônio Albuquerque de
Carvalho taxou as exportações, impostos esses que destinados ao pagamento dos
soldos dos soldados.
Em 1703, o Senado da Câmara proibiu
a exportação em caroço e rama, deixando para consumo local. A primeira
resolução, anulada em 1699 foi revogada, em 1757, pelo gov. Gonçalo Pereira Lobato que proibiu
sumariamente a exportação, atribuindo preços ao produto: o novelo passaria a
valer entre 20 e 25 réis e um rolo por 10$000, usados como moeda-corrente.
Permutava-se o nosso algodão por ouro em pó ou em barras com Goiás e Minas Gerais. Em 1724 o algodão já era
falsificado, isto é, os fardos continham além da pluma, pequenas pedras,
folhas, pedaços de troncos e outras sujeiras, o que aumentava a pesagem,
exigindo-se, a partir daí que os custos do transporte fossem arcados pelo lavrador e a
obrigatoriedade de uma marca por meio da qual se saberia a procedência de
algodão e, consequentemente o nome do proprietário.
As primeiras áreas cultivadas ficavam
no Itapecuru, Alto Mearim, Coroatá, Codó, Tutoia, Barreirinhas, Brejo e durante
os primeiros anos do reinado de d. José, na região de Cumã, atual Regiões da
Baixada e Litoral Norte, onde se situam Viana, Guimarães, Pinheiro, Cururupu,
Alcântara. As espécies mais cultivadas
eram o “peruviano” e outros, conhecidos
por crioulo, governo e quebradinho. Só mais tarde foram introduzidas sementes
de Sea-Island, Upland e outras dos Estados Unidos, empregando-se, ainda no
plantio, o sistema rotineiro, sendo de preferência escolhidos os terrenos mais
elevados, propícios às espécies arbóreas que duram oito anos ou mais e atingem
entre 5 e 7 m de altura.
Inicialmente o algodão foi cultivado
com o objetivo de suprir a necessidade de fabricar tecidos que pudessem ser
utilizados para acondicionar produtos e usados como vestimenta dos escravos. Os
integrantes da elite não utilizavam o produto da terra, preferindo importar os
tecidos da Europa.
No contexto da economia colonial, o
algodão surge como mais um produto agrícola que se estabeleceu na base do
trabalho escravo, inicialmente usando a mão-de-obra indígena, substituída pelos
negros trazidos da África, em grandes propriedades, caracterizadas pela
monocultura voltada para o comércio exterior.
Por essa época a moeda circulante era
o algodão em novelos, fios e rolos de panos.
Em 1755, no reinado de D. José e por
sugestão do seu primeiro-ministro, Sebastião de Carvalho, mais tarde Marquês de
Pombal, foi criada a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, cuja
produção foi incrementada através da disponibilidade de grandes recursos
financeiros. Com a proibição da escravização dos silvícolas, houve necessidade
de buscar braços mais vigorosos para aumentar a produção. Recorreu-se à
mão-de-obra escrava, importando milhões de negros da África, auferindo grandes
lucros para a Metrópole. Desse modo, a
região foi integrada ao grande sistema
comercial mantido por Portugal, mudando também, a fisionomia étnica da
região. Cada negro colhia até duas arrobas diariamente. Os algodoais sofriam já
as investidas do bicudo, também de
aves, ratos, lagartos, percevejos ou pulgões e gafanhotos. A prensagem também
era feita pelos escravos, comprimindo o algodão com os pés. Só mais tarde foram
introduzidas as prensas de madeira ou bolandeiras puxadas por animais, substituídas
pelas hidráulicas, melhorando a qualidade do produto. Até 1826 o descaroçamento
era feito em maquinetas de madeira. Nesse ano foi instalada a primeira grande descaroçadora, na fazenda Barbados em Itapecuru, pelo
proprietário o escocês Alfred Hall. Em 1831 já havia dezenas nas principais
vilas da Província.
Em 1820 com a queda da cotação do
algodão no mercado europeu, houve esperas e falências de muitos negociantes que
se entregaram a luxos desmedidos, fazendo grandes compras à longo prazo.
Também, nessa época foi criado o cargo de inspetor de algodão, visando a
melhoria da qualidade do produto.
As exportações do algodão, em maior
volume, tiveram relação direta com a crescente demanda industrial europeia. A
primeira remessa deu-se em 1760, totalizando 651 arrobas de plumas de algodão arbóreo, perene, de
fibras mais longas. Em 1778, outras colônias como Piauí e Ceará, se tornaram importantes produtoras. Com
a morte de d. José, o banimento da corte do Marquês de Pombal, d. Maria que
substituiu o pai no trono lusitano, mandou publicar um alvará extinguindo todas
as indústrias manufatureiras do Brasil que competiam, com vantagem, com as de Portugal. Após a liberação
o Maranhão voltou a ser um grande produtor-exportador, entre 1796 e 1806. Com a invasão francesa em
território português, a arroba do algodão voltou a cair, subindo novamente em
1808 com a abertura dos portos brasileiros às nações estrangeiras.
O primeiro e mais importante mercado
consumidor foi a Inglaterra, aumentando, consideravelmente, o comércio em
decorrência da Guerra da Independência dos EUA, para atender a grande demanda
consequente da Revolução Industrial Inglesa. Com isso o Maranhão teve o seu
primeiro surto econômico, havendo necessidade de construir a Praça do Comércio
na Praia Grande, centro de ebulição econômica e cultural de São Luis. Pelas
casas comerciais exportavam-se os produtos maranhenses, principalmente o arroz
e o algodão. Em contrapartida, entravam produtos europeus como tecidos, móveis,
azeite português, cerveja da Inglaterra e outras novidades do Velho Continente.
Esse fluxo comercial tornou São Luis a terceira cidade mais populosa do país,
abaixo apenas do Rio de Janeiro e de Salvador.
O algodão maranhense cultivado no
Vale do Itapecuru era considerado superior no mercado exportador, tendo sido
classificado em 1° lugar na Exposição de 1867. Esse tipo de algodão era mais alvo, mais resistente com fibras
iguais, prestando muito bem para fabricar tecidos de meia durabilidade e finura
média, quer para chitas.
Com uma área territorial de aproximadamente
333.000km², terras férteis, clima ideal e condições favoráveis de escoamento, o
Maranhão tornou-se, em pouco tempo, um
grande mercado exportador. As primeiras máquinas descaroçadoras eficientes,
com dois cilindros, só entraram no fim do século XVIII.
Entretanto com a recuperação da
produção norte-americana, a entrada no mercado de algodão mais barato do Egito
e da Índia, aliadas à abolição da
escravidão, fizeram com que as nossas exportações despencassem de 30% em 1825, para 2,3% em 1880. No fim do
século XIX, esse setor começou a entrar em decadência. Com o preço reduzido, o
algodão começou a apodrecer nas lavouras e abarrotar os galpões e depósitos,
transformando antigos lavradores em industriais. A produção agrícola foi aos poucos superada
pela indústria têxtil que além de matéria-prima à mão, encontrou mercado
consumidor, concorrendo para a expansão geográfica das cidades, pelo surgimento
de novos bairros periféricos, geralmente ao redor das fábricas. Em 1880
estima-se que a exportação tenha sido de 2.630 toneladas, sendo cerca de 2.000t
foram consumidas pelas fábricas de fiação e tecelagem.
A Balaiada, conflito que se espalhou entre
caboclos e escravos foragidos das fazendas das regiões do Itapecuru e Mearim
paralisou a produção, reduzindo- pela metade e causando grandes prejuízos não
só aos lavradores como à economia da Província.
O estabelecimento de uma ativa
indústria de tecidos de algodão, no fim do período monárquico e princípio do
republicano, com 10 fábricas de
fiação e tecidos de lã, e mais algumas,
diversificando o nosso parque industrial como as de produção de fósforo, sabão, de pilar
arroz, chumbo, calçados, gerando a ilusão de uma nova e grande ascensão da
lavoura . Em breve, no entanto, se dissiparam as esperanças. Os teares
adquiridos por esses inexperientes industriais, não passavam de sucatas das fábricas
têxteis inglesas. Convém registrar a falta de assistência técnica para orientar
os plantadores que ainda o faziam de modo primitivo e rudimentar, a ausência de
infraestrutura para a construção das
fábricas, carência de operários e técnicos especializados, ficando-se à mercê
dos técnicos ingleses que permaneciam pouco tempo aqui, queixando-se do clima,
da alimentação, da falta de diversões. Até a determinação do pH da água usada
para lavagem do algodão, era feita na Inglaterra.
Com todos esses óbices, na virada do
século, o número de fábricas instaladas subiu para dez, não só na capital, mas
em municípios como Caxias e Codó. Na esteira desse processo houve necessidade
de aumentar o número de equipamentos
descaroçadores, para separar as ramas ou plumas que eram enfardadas e
remetidas para os mercados consumidores. Essa atividade era realizada em vilas
e povoados, perto dos centros produtores, e não muito distante das fábricas,
absorvendo grande contingente de mão-de-obra para esse mister.
Foram abertas quatro fábricas de prensar os caroços de
algodão, para extração do óleo e obtenção da torta, para consumo de ruminantes. . No primeiro quinquênio do século XX as exportações atingiram 25 toneladas, decrescendo nos anos
posteriores, em decorrência da dinâmica econômica mundial. Os principais
fatores dessa falência começaram com a quebra da Bolsa de Nova York, elevação
dos juros dos empréstimos, geralmente feito em libras esterlinas, a ausência de
investimentos, o baixo padrão de
qualidade do algodão, ocorrendo a completa desativação na década de 1960.
- PRINCIPAIS
FÁBRICAS TÊXTEIS INSTALADAS NO MARANHÃO
EM SÃO
LUIS
O primeiro projeto para a criação de
uma instituição onde se ensinasse as técnicas de cultivo, manejo, transporte e
avaliação do produto, assim como seu uso na fabricação de tecidos e extração do
óleo das sementes por máquinas movidas a vapor, data de 1873, com a fundação da
Casa dos Educandos, por vários motivos, não deslanchou.
1891 – Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo, com capital de 900 contos, operando 105 teares, com o
objetivo de fabricar tecidos de juta, também chamado estopa ou aniagem, para
ensacar produtos.
1892 – Companhia Progresso do Maranhão,
com 160 operários manipulando 150 teares, para produção de panos de algodão.
- Companhia Fabril Maranhense – Santa Isabel. Capital inicial 1.700 contos, 600
operários para trabalhar em 450 teares,
produzindo riscados e domésticos de algodão.
1893 - Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil. Capital inicial de 1.600 contos,
172 teares, 60 máquinas de fiação e 18 de branqueamento, produzindo morins e
madapolões, com 209 operários.
- 1893 – Fábrica de Tecidos de Malhas Ewerton, com 30
operários produzindo meias e tecidos para camisas.
-1894 – Companhia Industrial Maranhense, com capital inicial de 250 contos, com 50 operários.
Destinada à manufatura de fio, punho de rede e rede de pesca.
- 1895 - Companhia de Lanifícios Maranhenses com capital de 600 contos, 22 teares e outros
equipamentos com 50 operários para fazer todos os produtos de lã e seda.
Fundada desde 1892, mas suas atividades só começaram três anos depois,
produzindo riscados e brins. Mais tarde
foi arrematada pelo industrial maranhense Cândido Ribeiro que nomeou a rua onde foi construída a
fábrica.
EM CODÓ
1892 - Companhia Manufatureira e
Agrícola de Codó. Capital de 1000
contos, fazendas, com 250 operários, produzindo fios, punhos e redes de pesca.
EM CAXIAS
1883 – Companhia Industrial Caxiense foi a 1ª a ser instalada no
Maranhão. Era uma indústria de fiação e tecelagem.
1889 – União Caxiense.
1891 – Fábrica
Sanharó.
1892 – Companhia Manufatora de Caxias.
RESUMINDO: respaldada em dados de Fran Paxeco in Geografia do
Maranhão, 1923 e repassados pela Prof. Lílian Leda:
A primeira fábrica no Maranhão foi a Companhia
de Fiação e Tecidos Maranhenses de João Antônio Coqueiro. Mais tarde, em 1883
foi criada a Indústria Caxiense. Em São Luis, organizou-se a Camboa (companhia
de Fiação e Tecidos Maranhense). Em 1890 inaugurou-se a Fabril que reuniu as
Fábricas de São Joaquim e Santa Isabel. Em 1891, foi instalada a Cânhamo que trabalhava com a juta. Em 1893, a Companhia
de Fiação e Tecidos Rio Anil, que
fabricava morins.
Nesse mesmo ano estabeleceram-se, em
Caxias, a Sanharó e a Companhia Manufatureira Caxiense.
As Fábricas São Luis de Fiação Santa Amélia que
fabricavam brins e riscados, pertenceram a Cândido Ribeiro & Cia e
iniciaram suas atividades entre 1894 e 1895.
Em
Codó foi instalada a
Manufatureira Agrícola, completando o Parque Têxtil.
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Estas informações foram tiradas da Wikipedia sobre as nossas fábricas:
- Companhia de Tecidos Maranhenses – 1888-89, localizava-se
na Camboa. Faliu em 1894.
- Companhia de Fiação e Tecidos de São Luis – 1894.
Localizava-se na rua São Pantaleão, ao lado da Cânhamo.
- Companhia Lanifícios Maranhenses – Rua as Crioulas. Mais tarde
passou a chamar-se Santa Amélia, integrando
o Grupo Cotonífico Cândido Ribeiro. Faliu em 1969.
- Companhia Progresso Maranhense – 1892. Localizava-se no
prédio onde até bem pouco tempo funcionava o SIOGE. Teve vida efêmera,
- Companhia Manufatureira e Agrícola de Codó – 1893.
- Companhia Fabril Maranhense – 1893 – Rua Senador José
Pedro, no local onde funciona um depósito da
Lusitana, perto do edifício do Ministério da Fazenda.
- Companhia de Fiação Rio Anil – 1893. Localizava-se no Anil
onde atualmente funciona o CINTRA. Faliu
em 1969.
- Companhia de Fiação e Tecidos Cânhamo - 1891. Rua São
Pantaleão atual CEPRAMA. Faliu em 1969.
- Companhia Industrial Caxiense – 1880.
- Companhia de Fiação e Tecidos – 1889. Era instalada à
Avenida Pedro II.
- Companhia de Fiação
e Tecidos. 1889 – Caxias, Faliu em 1950.
- Sanharó – Trizidela, Caxias.
- Companhia industrial Maranhense – 1894. Rua dos Prazeres.
- Fábrica de Tecidos e Malhas Ewerton – 1892. Rua de Santana.
- Fábrica São Thiago. Antigo prédio da CINORTE.
- Cotonière Brasil Ltda. Década de 1930.
Este tema
terá continuidade, numa III Parte para abranger as atividades fabris do século
XX.
AGRADECIMENTOS
À amiga Rosa Martins pelas fotos
antológicas das fábricas.
Às amigas Malu Luz e Lílian Leda, pelas
informações sobre as nossas fábricas.
- Editor: Thiago Silva Prazeres
Excelente documentário. Parabéns !
ResponderExcluirExcelente documentário. Parabéns!
ResponderExcluir