MOEMA

MOEMA
PAPIRUS DO EGITO

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A SAGA DE UMA LUTADORA.*


                                 Pastos Bons foi a sua terra natal. Sob a proteção e cuidados de seus pais, Cleonizard e Joana, e no convívio com os irmãos, parentes e amigos, crescia em graça e se desenvolvia.

            Era uma menina viva, inteligente. Aos 5 anos já lia e escrevia. Estudou o primário, na Escola Municipal Dr. José Neiva, onde se destacava pelos seus conhecimentos de aritmética e português. Afinal, naquela época, não era comum encontrar uma menina que gostasse dos números.
            Ao concluí-lo, disse aos pais que queria prosseguir nos seus estudos, pois pretendia fazer medicina e voltar para cuidar das crianças de sua terra. Então, aos 10 anos, o pai a levou para estudar no curso ginasial do Colégio Santa Teresinha, em Floriano-Piaui. Aplicada e dedicada aos estudos, lá, também, demonstrou seus conhecimentos em português, matemática e em latim. Ainda pequena, tinha de subir em um banquinho para resolver os problemas, no quadro negro.
            Laureada como a primeira aluna do colégio, ela viajou para São Luís, no início de 1958, aos 16 anos, para fazer o científico e se preparar para o vestibular da Faculdade de Ciências Médicas do Maranhão.
             Nessa mesma época, eu havia deixado o Seminário de Santo Antônio e estava procurando, também, uma instituição de ensino para cursar o científico e me habilitar ao vestibular de medicina. Foi, assim, que nos encontramos, no Colégio de São Luís.
            Morena linda, graciosa e meiga, porém, muito séria, logo chamou a minha atenção e de outros marmanjos do colégio. Mas fiquei na minha, maquinando um jeito de me aproximar sem espantar.
            Com muita tática e cuidado, nos tornamos amigos. Passamos a estudar juntos, à tarde, na Biblioteca Pública Benedito Leite. Disse-lhe que não sabia Física e ela se prontificou a ensinar-me. Num belo fim de tarde, no final de dezembro de 1960, ao descermos as escadarias da Biblioteca, me enchi de coragem e seja o que Deus quiser. Virei o rosto para outro lado e agarrei-lhe a mão. O coração disparou. Aguardei a reação que não veio. Então, pensei, será que ela aceitou? Caminhamos, assim, até onde ela morava. Não disse nada, nem ela também. Ao chegarmos, nos despedimos. Ela sorriu e eu também. Parti para casa feliz da vida, mas ansioso para chegar dia seguinte e verificar se era mesmo verdade ou apenas uma consideração ao amigo.
            Era verdade. Iniciamos, então, uma relação de afeto com a qual atravessamos os seis anos do curso e mais dois de pós-graduação. Em fevereiro de 1970 nos casamos, em Pastos Bons. Três filhos: Aymoré Filho, Augusto José e Bruno enriqueceram a nossa casa, enchendo-a de muita alegria e aumentando a nossa felicidade.
          Nesse mesmo ano, por concurso público, ingressamos na docência do curso de Medicina da Fundação Universidade do Maranhão. Eu já trabalhava como médico do Estado e ela do INAMPS, no setor de pediatria.
            No Departamento de Patologia, ela reorganizou a disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias e introduziu, como uma das atividades do programa, a pesquisa de campo que propiciou a muitos alunos seus primeiros trabalhos científicos apresentados, em eventos locais e nacionais. Em 1972, foi a inspiradora da fundação da Sociedade de Parasitologia e Doenças Tropicais do Maranhão e, seis anos depois, organizou a primeira Jornada de Parasitologia e Medicina Tropical do Maranhão. No Hospital Materno-Infantil, reorganizou e atualizou o Serviço de prontuário médico que passou a servir de modelo a outras instituições locais e para algumas de outros Estados que enviavam visitantes em busca de informações. Reestruturou, ainda, a Comissão de Infecção Hospitalar da qual foi presidente.
            Em 1986, devido aos trabalhos sobre esquistossomose mansônica que apresentamos, no Congresso Brasileiro de Parasitologia, no Rio de Janeiro, estivemos, em Berlim Ocidental, a convite do Governo Alemão, onde passamos 45 dias participando de um curso-estágio, em diagnóstico imunológico de doenças parasitárias.
            Dedicada ao exercício da pediatria, tinha um desvelo todo especial aos seus pequenos pacientes. Lembro-me das muitas vezes que chegava para mim e dizia: “Meu bem, vai comprar esses remédios para um paciente, pois não tem no Hospital. Traz, também, um carrinho ou uma boneca.” Dependia do sexo da criança. Eu, então, lhe respondia: “Meu bem, falta de remédio é problema do hospital e esse negócio de brinquedo é coisa pra papai Noel”. “Se não puderes ir me diz porque eu mesma vou”. “Não, senhora! Eu já estou indo”.
            Assim, era Maria Augusta. Amiga, amante, confidente e companheira. Mãe devotada e carinhosa. Profissional responsável, humana, dedicada e ética. Morena linda, graciosa e meiga que vi pela primeira vez, no Colégio de São Luís. Sempre foi uma guerreira. Mas o Senhor entendeu que ela já havia cumprido a sua missão e que eu estava pronto para voltar a ser só. E levou a minha Augusta.
            Foi numa madrugada, igual a muitas outras, mas para mim foi diferente. Ficou fria, nebulosa e triste. Nesse dia, não houve aurora. O meu sol se apagou. A minha estrela já não brilhava mais.
            Era primeiro de dezembro de 2006.

* Aymoré de Castro Alvim.
     IHGM, AMM e APLAC.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

AFINAL DE CONTAS, O QUE É MESMO SESMARIA?

De acordo com a Barsa, o vocábulo português sesmaria deriva do verbo sesmar, com as suas variações sesma, seisma,  que significa a sexta parte de qualquer coisa. Embora esse sistema tenha sido instalado em 1375, somente foi documentado em 1378, no reinado de D. Fernando I: a célebre lei das sesmarias. Referida lei vinculava a terra ao seu aproveitamento mediante vigilância pública.
Etimologicamente indica que as doações de terras eram feitas com o foro da sexta parte dos frutos.
 Desde o período medieval  a  Coroa Portuguesa instituiu juridicamente em seu território  esse  regime de distribuição de terras comunais, lavráveis e não cultivadas a quem nelas pudesse plantar em proveito da produção agrícola. O Estado recém-formado e sem capacidade de organizar a produção de alimentos, para combater a crise agrícola econômica agravada pela peste negra que assolou  toda a Europa, decidiu  delegar a particulares essa função. Esse instrumento foi regulamentado pelas Ordenações Manuelinas e aperfeiçoado pelas Ordenações Filipinas. Com as novas conquistas estendeu-se a todos os seus domínios da África, Ásia e  das terras recém-descobertas no Continente Americano.
No Brasil o governo português, tomou posse de todo o  território por aquisição originária, isto é, por direito de conquista, passando todas as terras descobertas a ser consideradas terras incultas ou virgens, sem qualquer senhorio ou cultivo anterior, despojando, assim, os índios de quaisquer direitos. Com alguns ajustes, Portugal resolveu adotá-lo, tendo sido  Martim Afonso de Sousa o  primeiro proprietário de sesmaria que, com o poder conferido pela carta patente de 1530 concedeu terras a João Ramalho e a Brás Cubas.
Além de Martim Afonso de Sousa, os governadores-gerais, os capitães-generais podiam fazer essas doações. Já os capitães-mores e governadores subalternos, salvo disposições especiais, não gozavam de igual competência.
É evidente que no Brasil com um território imenso os procedimentos não ocorreram como a Coroa determinava: as sesmarias extrapolaram os limites pré- estabelecidos, ampliando para 5, 10, 20 léguas de quadras, extensões maiores que muitos Estados atuais, sendo distribuídas às empresas  de engenhos de açúcar com o cultivo extensivo da cana. Desse modo surgiram propriedades de grandes dimensões, com tendência a crescer mais ainda em função de anexações de outras glebas obtidas por doação, compra ou herança, dando origem aos atuais latifundios.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

UMA ODE PARA DONA INEZ, MINHA MÃE !

                 PARA MUITOS, LONGEVIDADE SIGNIFICA DESPRAZER COM A VIDA, DOENÇAS, DECEPÇÃO COM PARENTES PELOS MAUS TRATOS QUE SOFREM, MAS FELIZMENTE PARA OUTROS, SIGNIFICA VIVER, PASSAR ADIANTE SUAS EXPERIÊNCIAS, SER OUVIDO PELOS MAIS NOVOS, CONTINUAR EXERCITANDO A MENTE COM LEITURAS OU TRABALHOS MANUAIS, ESCREVER, SER QUERIDO E ACEITO POR SEUS PRÓXIMOS, MANTER ENFIM, ATÉ O SEU OUTONO, A DIGNIDADE.
OS PRIVILEGIADOS QUE CHEGAM EM PAZ NA QUARTA IDADE, PRÓXIMO DOS SEUS AMIGOS E PARENTES, TEM O PRAZER DE VIVER DEGUSTANDO CADA MOMENTO COM UM SORRISO. É A VELHICE PRAZEIROSA, AINDA OTIMISTA COM A VIDA. SÃO PESSOAS QUE AINDA PODEM SONHAR E SONHAM...
DONA INEZ, DO ALTO DOS SEUS 98 ANOS, É UMA DESSAS PESSOAS QUE NÃO ESTÃO PASSANDO PELA VIDA DESPERCEBIDAS. NASCEU EM PINHEIRO NO DIA 21 DE JANEIRO DE 1913, SEXTA DE DEZ IRMÃOS, OS DEMAIS JÁ FALECIDOS, FILHA DE UM DELEGADO DE POLÍCIA, SR. FRANCISCO CASTRO E DE UMA DONA DE CASA, D. RAIMUNDA DOS REIS CASTRO. TEVE UMA INFANCIA FELIZ,  ADOLESCENTE CANTOU NO CÔRO DA IGREJA CATÓLICA POR UNS 15 ANOS. SEMPRE CURIOSA NA VIDA, TEVE VARIOS APRENDIZADOS MANUAIS COMO: BORDADOS À MÃO E À MÁQUINA, PONTO DE CRUZ, CROCHÊ, FILÉ (EM REDES), ASSIM TAMBEM COMO APRENDEU A TOCAR VIOLINO COM D. MARIA PAIVA ( ANTES DE CASAR ) PARTICIPAVA DE PEÇAS TEATRAIS QUE ENSAIAVA COM OUTRAS COLEGAS DE ESCOLA. JA MOÇA TRABALHOU NA "CASAS PERNAMBUCANAS" EM PINHEIRO E POSTERIORMENTE EM SÃO LUIS. SEMPRE TEVE POR LEMA VIVER, OLHAR A VIDA COMO DEVE SER VISTA: COM SOL E AR PRIMAVERIL, EM TODOS OS MOMENTOS. NUNCA SE QUEIXA MAS SEMPRE AGRADECE A DEUS POR SEUS DIAS.E RELEMBRANDO A PIADA: NÃO TEM INIMIGOS.
            MANTINHA COM AMIGAS, UMAS VINTE, UM COMPROMISSO DE VISITAS MÚTUAS NOS DIAS DE ANIVERSÁRIO DE CADA UMA. REUNIAM-SE E ALEM DA MANUTENÇÃO DESSA BONITA AMIZADE, ELA SEMPRE SE DESTACAVA POR CANTAR, RECITAR POESIAS E ASSIM ALEGRAR AS AMIGAS E A ELA PRÓPRIA.      
DONA INEZ É, NA ACEPÇÃO DA PALAVRA, UM SER POLÍTICO. NÃO FAZ POLÍTICA MAS É POLITICAMENTE CORRETA NAS OBSERVAÇÕES CONTUNDENTES QUE FAZ DO NOSSO DIA A DIA COMO CIDADÃ, PELAS OBSERVAÇÕES E LEITURAS QUE FAZ DIARIAMENTE NOS JORNAIS. POR COERENCIA, SÓ LÊ O “JORNAL PEQUENO” E POR SAUDOSISMO, JORNAL “CIDADE DE PINHEIRO”. POR ISSO É DEVERAS MORDAZ EM SUA ANÁLISE DA NOSSA POLÍTICA MUNICÍPAL, ESTADUAL E NACIONAL.
COM PERSONALIDADE FORTE, NÃO ALTIVA MAS FESTIVA, É SEMPRE ALEGRIA EM SEUS CONTATOS COM PARENTES E AMIGOS.
MÃE ZELOSA, APESAR DE SEMPRE TER-SE DIVIDIDO ENTRE A MULHER EMPRESÁRIA E MÃE, FEZ DO PRIMERO A PONTE DE LIGAÇÃO PARA DAR CONDIÇOES AOS FILHOS DE ESTUDAR E ASSIM PODEREM TRABALHAR E TER SUAS FAMILIAS. NA NOSSA INFANCIA BUSCOU PESSOAS  DE SUA CONFIANÇA PARA AUXILIA-LA NOS CUIDADOS CONOSCO. VIOLETA E CAMÉLIA NA INFANCIA DE AYMORE E MOEMA, AINDA CAMÉLIA E TERESA NA MINHA INFANCIA E CONCEIÇÃO E ISABEL DE TATIANA E CLEUBER. PESSOAS INESTIMAVEIS E DEDICADAS. NO ENTANTO D. INEZ SEMPRE FOI MUITO PRESENTE EM NOSSA EDUCAÇÃO, COM SEU AMOR INCONDICIONAL, UMA VERDADEIRA LEOA NOS CUIDADOS E ATENÇÃO COM OS FILHOS. DANDO-NOS  AMOR,  CARINHO E PROTEÇÃO SEMPRE.
HOJE SOMOS ADULTOS, FORMADOS, EMPREGADOS, APOSENTADOS, CASADOS E MORAMOS EM SÃO LUIS. POR CIRCUNSTANCIAS DA VIDA, APESAR DE NÃO SER SEU “HABITAT” NATURAL, A CONVIDAMOS PARA MORAR MAIS PRÓXIMO DE NÓS, APÓS A PERDA DO NOSSO PADRASTO. ESTÁ MORANDO EM SÃO LUIS, NA COMPANHIA DO NOSSO IRMÃO CLEUBER, PRÓXIMA ASSIM DE NÓS TODOS.
SEUS MOMENTOS DE MAIOR FELICIDADE, EM RELATO DELA PRÓPRIA, ACONTECEM QUANDO ESTÁ REUNIDA, NUM ALMOÇO DOMINICAL COM SEUS CINCO FILHOS, GENROS, NORAS, NETOS E A BISNETINHA LINDA, ALYSSA, FILHA DE JOSE PAULO ALVIM NETO, MEU FILHO.
SENTE TRISTEZA, SAUDADES, DORES, COMO TODO SER HUMANO, CONTUDO, NUNCA SE QUEIXA. PASSA AOS SEUS SEMELHANTES ALEGRIA, LIÇÕES DE OTIMISMO COM A VIDA EM SEU DIA A DIA.
MEMÓRIA HISTÓRICA, SABE E DESCREVE EM MINUCIAS FATOS EM FAMILIA, COM VIZINHOS, COM AMIGAS E AMIGOS, DA SOCIEDADE DAS ÉPOCAS QUE PASSARAM E ATUAIS EM PINHEIRO, COM CITAÇÕES DE NOMES, SOBRENOMES E DATAS. UMA VERDADEIRA BIBLIOTECA AINDA VERDEJANTE E BEM VIVA. MEMÓRIA PRIVILEGIADA, GRAÇAS A DEUS.
RECEBEU COMENDA DA CÂMARA MUNICIPAL DE PINHEIRO AOS 94 ANOS, POR RESPEITO À SUA PESSOA, PELA ÓBVIA CONSTATAÇÃO DA COMERCIANTE MAIS IDOSA EM PLENA ATIVIDADE (TRABALHANDO SEM AJUDANTES) NA CIDADE DE PINHEIRO, PROPRIETÁRIA DA FARMÁCIA DA PAZ . TAMBÉM POR OCASIÃO DO SESQUICENTENÁRIO DE PINHEIRO.
DONA INEZ TEVE O RARO PRIVILÉGIO DE CONHECER EM SUA INTIMIDADE DUAS PESSOAS QUE A AMARAM E POR ELA FORAM AMADAS E A FIZERAM MANTER-SE VIVA, EM PLENA EVOLUÇÃO DE SER HUMANO, E SER A PESSOA DIGNA, OTIMISTA COM A VIDA, ALEGRE NO COTIDIANO QUE É HOJE. FORAM SEUS DOIS MARIDOS: JOSE PAULO ALVIM, MEU PAI, DE AYMORE E DE MOEMA. COM ELE NOSSA MÃE MANTEVE UM RELACIONAMENTO PLENO E FELIZ, UM CASAMENTO POR 14 ANOS. INFELIZMENTE, ACOMETIDO DE DOENÇA CARDÍACA VEIO A FALECER EM 1952, INTERROMPENDO UMA BELA CARREIRA DE COMERCIANTE E FARMACEUTICO POIS ERA MUITO QUERIDO EM PINHEIRO E CIDADES CIRCUNVIZINHAS. PROPRIETÁRIO DA “FARMÁCIA DA PAZ” ATENDEU A POPULAÇÃO DAQUELA CIDADE POR MAIS MAIS DE 40 ANOS, IMPRESCINDÍVEL, PRINCIPALMENTE, QUANDO NÃO HAVIA MÉDICOS..
DONA INEZ, POR SUA DEDICAÇÃO E ESMÊRO, JÁ DOMINAVA CONHECIMENTO DOS MEANDROS QUE UM NEGÓCIO TÃO ESPECÍFICO EXIGIA. MAS AÍ SURGIU O PRIMEIRO PROBLEMA: COMO MANTER FUNCIONANDO A FARMÁCIA, SE NÃO ERA FARMACEUTICA? COM SUA POSTURA DE MULHER DE PERSONALIDADE FORTE E AUDAZ, FOI À LUTA EM BUSCA DE SOLUÇÃO PARA TÃO CRUCIAL SITUAÇÃO. ELA NÃO QUERIA PERDER A CONDIÇÃO DE PODER CONTINUAR COM O NEGÓCIO DA FARMÁCIA, ÚNICA MANEIRA DE CONTINUAR A PENSAR NUM FUTURO MELHOR PARA OS SEUS FILHOS. PARA SUA SORTE, TEVE O APOIO INCONDICIONAL DO SEU AMIGO O DEPUTADO DR. COSTA RODRIGUES NA CAPITAL DO ESTADO. O MESMO CONSEGUIU APOIO DO SECRETARIO DE SAUDE E DO GOVERNADOR PARA AJUDA-LA. FOI SÓZINHA A UMA AUDIENCIA COM O TÃO TEMIDO SECRETÁRIO DE SAUDE, DR. PAULO BOGÉA. COM SUA COSTUMEIRA FRANQUEZA, FALOU-LHE QUE JÁ SABIA DE SUA TERRIVEL FAMA DE GROSSEIRO E ARROGANTE, MAS QUE ESTAVA ALI, NAQUELE MOMENTO DEFENDENDO SUA DIGNIDADE DE MULHER VIUVA, MÃE DE TRÊS FILHOS. ELE SORRIU BASTANTE E ADMIROU-SE POR SUA CORAGEM EM FALAR-LHE DE PRONTO O QUE ELE JÁ DESCONFIAVA QUE FALAVAM PELOS CORREDORES. PEDIU ENTAO QUE ELA EXPUSESSE SUA SITUAÇÃO TRANQUILAMENTE. E ASSIM ELA FEZ UMA EXPLANAÇÃO, FUNDAMENTOU SEUS MOTIVOS E CONSEGUIU QUE AQUELE TÃO TEMIDO HOMEM, SE MOSTRASSE COMO DE FATO ERA, SENSÍVEL. OUVIU DONA INEZ COM ATENÇÃO, ASSENTIU E APROVOU A IDÉIA COLOCADA POR DR. COSTA RODRIGUES TAMBEM AO GOVERNADOR EM TRANSFORMAR A FARMÁCIA EM DROGARIA, POIS ASSIM NÃO SERIA NECESSÁRIO O ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES E ELA PODERIA CONTINUAR PROPRIETÁRIA. O JÁ ENTAO AMIGO E ADMIRADOR DA BRAVURA DESSA MULHER, FOI AO GOVERNADOR E LOGO UMA LEI ESPECÍFICA TRANSFORMANDO A FARMACIA EM DROGARIA FOI SANCIONADA PELO ENTÃO GOVERNADOR, DR. EUGENIO BARROS.
E ASSIM, COM UM CRÉDITO ENORME NO CORAÇÃO PELA GRANDEZA DE ALGUNS SERES HUMANOS, DONA INEZ PÔDE LEGALMENTE PROSSEGUIR EM SEU COMÉRCIO, E TER CONDIÇOES DE MANTER-SE COM DIGNIDADE E AOS SEUS TRES FILHOS.
QUANDO MOEMA SE FORMOU EM FARMACIA, A DROGARIA DA PAZ FINALMENTE PÔDE VOLTAR `A SUA ANTIGA CONDIÇÃO DE “FARMÁCIA DA PAZ”.
QUATRO  ANOS PASSARAM QUANDO NUM DAQUELES MOMENTOS CIRCUNSTANCIAIS DO DESTINO, EIS QUE CONHECE SEU SEGUNDO MARIDO. UM HOMEM QUE FAZ PARTE DO ELENCO DE UM CIRCO: “TIANY”, DE PASSAGEM POR PINHEIRO, UM POETA E ATOR, ABILIO DA SILVA LOUREIRO, QUE LHE SUSCITA UMA PAIXÃO ATÉ ENTÃO ADORMECIDA. ENAMORADOS E APAIXONADOS, LOGO DEPOIS SE CASAM NA IGREJA DE SÃO JOSE DE RIBAMAR. FRUTO DESSA RELAÇÃO QUE PERDUROU POR 56 ANOS,  TIVERAM UM CASAL DE FILHOS: TATIANA E CLEUBER CLAUDIO.
NOSSA MÃE,  COM SEU SEGUNDO MARIDO, TRABALHARAM JUNTOS “TOCANDO” A “DROGARIA DA PAZ” E ASSIM O FIZERAM POR MAIS DE CINQUENTA ANOS, ALEGRES, FELIZES, COM OS PROBLEMAS QUE TODO CASAMENTO LOGEVO TRAZ EM SEU BOJO, MAS UNIDOS NA ESSENCIA DO MATRIMONIO E RESPEITO MÚTUO. 
PRÓXIMO DE FAZER 100 ANOS, A ENTÃO “FARMACIA DA PAZ”, QUE TANTA CONTRIBUIÇÃO HUMANITARIA  FIZERA  AO POVO DE PINHEIRO  E ARREDORES, AOS 95 ANOS FOI ASSALTADA POR DOIS MELIANTES, LADRÕES, QUE USARAM SEM NCESSIDADE A VIOLENCIA CONTRA DOIS IDOSOS, AGREDINDO-OS, EMPURRANDO-OS E PISOTEANDO O MEU PADASTRO ABILIO E QUEBRANDO-LHE O FÊMUR. PEGARAM UMAS BENGALADAS DE DONA INEZ MAS NÃO SE INTIDARAM  E FUGIRAM EM SEGUIDA. SEU ABILIO, EM ESTADO CRÍTICO TIVERA QUE VIR  A SÃO LUIS, PARA OPERAR. COM O INCIDENTE NÃO MAIS LEVANTOU-SE. PROVAVELMANTE O STRESS PELA VIOLENCIA A QUE FORA ACOMETIDO DESENCADEOU UM CANCER E DAÍ PROVEIO SUA MORTE AOS 78 ANOS. E O QUE JÁ É NOTICIA COMUM: OS LADRÕES, ASSASSINOS NÃO FORAM SEQUER PRESOS. HOJE NÃO SEI PRECISAR QUANTAS MORTES E ASSALTOS OS MESMOS JÁ COMETERAM, EXCETO SE UM ANJO DO SENHOR NA FORMA HUMANA JÁ TIVER FEITO A JUSTIÇA QUE OS HOMENS, HIPOCRITAMENTE TEMEM EM NÃO FAZER, DEIXANDO A SOCIEDADE A MERCÊ DOS MAUS, ACOBERTADOS POR LEIS EQUIVOCADAS E  DÚBIAS, AINDA MAIS MAL APLICADAS POR UM JUDICI´RIO CLAUDICANTE, EM QUE JUIZES, DESEMBARGADORES E MINISTROS DÃO INTERPRETAÇÕES DIFERENCIADAS A UMA MESMA LEI, DIZEM QUE TAL SUBJETIVIDADE É EM DEFESA DO “DIREITO”. POBRE SOCIEDADE.   
CONTRA TUDO ISSO SE INSURGE ESSA BRAVA MULHER, NÃO SE ACOMODANDO EM SEU QUASE CENTENÁRIO PARA BRADAR POR JUSTIÇA REAL EM BENEFÍCIO DOS QUE DEVERÃO PERMANECER: SEUS NETOS, BISNETOS, A SOCIEDADE ENFIM.
PARABENS DONA INEZ, OBRIGADO MAMÃE.

TEU FILHO JOSE PAULO ALVIM FILHO.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

DIOGO ANTÔNIO DOS REIS.*

* Aymoré Alvim.

                Na história de Pinheiro, vamos encontrar várias pessoas que marcaram a sua vida com o seu trabalho e com a sua dedicação à causa do desenvolvimento e do bem estar da terra e do seu povo. Resgatar-lhes a memória para o conhecimento das gerações vindouras se impõe pelo exemplo que nos legaram e como preito da nossa gratidão pelo muito que realizaram. Desta forma, iniciamos por destacar o Sr. Diogo Antônio dos Reis.

Não era pinheirense, mas amou a terra que o abraçou como se fora a sua.

Nascido em Alcântara, em 1813, foram seus pais Agostinho Antônio dos Reis e Maria Joaquina dos Reis dos quais lhe nasceram quatro irmãos. Todos concluíram, na capital da Província, o curso de humanidades. Por volta de 1832, chegou ao Lugar do Pinheiro.

Não obstante as regulares transações comerciais que mantinha, principalmente, com as vilas de Alcântara e Guimarães e, às vezes, até com a capital, o lugarejo se constituía em um espaço tranqüilo e de paz, o que, certamente, motivou a vinda de várias famílias para tentar a sorte, nas atividades comerciais, que já prenunciavam bons negócios e, na agropecuária, que estava em expansão ou, simplesmente, para morar.

O conturbado ambiente que imperava, no restante da Maranhão, decorrente das lutas políticas entre conservadores e liberais, permitia, quase sempre, a ocorrência de conflitos de exacerbada violência como a guerra da Balaiada que, no final da década de 1830 e início da de 1840, manchou de sangue as terras maranhenses.

Enquanto isso, sem imiscuir-se nesses conflitos, o povoado desenvolvia a sua pecuária e a sua agroindústria com o plantio da mandioca, arroz, milho e da cana de açúcar que recebera grande incentivo, nessa época, quando Franco de Sá governava a Província. A partir de então, foi ampliada a área cultivada e vários engenhos para produção de açúcar começaram a ser instalados.

Tais iniciativas permitiram à povoação não somente atingir, na década seguinte, o “status” de vila, como ainda, apresentar uma pauta de produção, segundo César Marques, de 3.000 arrobas de açúcar/ano, propiciando bons lucros aos seus produtores junto à produção do algodão que também atingiu bons preços, em decorrência da grande crise, nos Estados Unidos, deflagrada pela guerra de Secessão e pela libertação dos escravos.

Foi esse ambiente de paz e de início de prosperidade que Diogo dos Reis encontrou ao chegar ao Lugar do Pinheiro.

 Ainda bem jovem, passou a dedicar-se às atividades comerciais. Inicialmente, trabalhou como empregado do capitão José Caetano de Sá e, mais tarde, pela dedicação demonstrada e pela argúcia nele vista, o patrão terminou por convidá-lo para sócio.

Atencioso e prestativo, logo granjeou a simpatia e a amizade do povo. Exímio comerciante, pouco a pouco, adquiriu a confiança da comunidade, o que viria torná-lo o guru do lugar, a quem todos acorriam para consultá-lo antes de realizar qualquer negócio.

Com tal perfil, não passou despercebido aos políticos locais e regionais que logo o convidaram a se filiar ao Partido Liberal cuja liderança, na Província, segundo Carlos Lima, era exercida pelo doutor Carlos Fernandes Ribeiro, Barão de Grajaú.

Os Liberais pinheirenses, logo, o fizeram chefe político local do Partido e, com outras tantas lideranças locais, muito trabalhou pela emancipação política do povoado.

Após a instalação da Câmara de vereadores, em 1862, na vila recém-criada, Diogo dos Reis a presidiu, em três legislaturas, em 1873, 1883 e em 1887 quando permaneceu até 14 de janeiro de 1888. Nesse mesmo mês, tomou posse, pela segunda vez, como deputado, na Assembléia Legislativa Provincial.

Ali desenvolveu um profícuo trabalho em benefício da Vila de Santo Inácio de Pinheiro e do seu povo pelo bom desempenho político que, segundo Viveiros, sempre o caracterizou.

Conciliador e arguto articulador político, fez na Assembléia fortes laços de amizade até mesmo com os colegas adversários que sempre lhe dispensaram grande respeito e muito apreço.

Por isso, todos lamentaram o seu falecimento ocorrido, em São Luís, no dia 9 de março desse mesmo ano.

A Vila ficou triste, pois havia perdido um grande amigo.




domingo, 9 de outubro de 2011

CÔNEGO OSMAR PALHANO DE JESUS

Autora: Moema dee Castro Alvim. APLAC.
Dentre as pessoas mais importantes na vida de José Paulo de Carvalho Alvim, além de João Victal de Mattos que plasmou a sua personalidade e lhe deu a oportunidade de profissionalizar-se como Prático de Farmácia, figura o Sr. Ulisses Palhano de Jesus e os seus familiares, principalmente o seu filho Osmar, ordenado padre em 1925.
Quando d. Leonor de Carvalho Alvim ficou viúva, em Codó, o Sr. Ulisses ajudou-a a vir para São Luís, com seus dois filhos Abelardo e José Paulo, além de sua sobrinha Florentina que precisava de tratamento psiquiátrico.
O Sr. Ulisses era filho de Fábio Alexandrino Palhano, proprietário da fazenda “Mata Virgem” em Codó, na qual era cultivado, dentre outros produtos agrícolas, o algodão, que abastecia a incipiente indústria têxtil naquela região.
Sócio-proprietário do Jornal  Comarca em Codó era casado com a sra. Clélia  Palhano de Jesus, nascendo desse consórcio, quatro filhos: Gildásio, Nazilde, José e Osmar, o caçula, nascido em 02/04/1903.Em São Luís fez parte da 10ª Legislatura eleita para o período de 1919-1921, sendo escolhido pelos seus pares para 2º Secretário da Mesa Diretora, entre  1919 e 1920. Residiam em uma confortável casa, no centro, à Rua do Sol.
Um dos irmãos mais conhecidos dos  sr. Ulisses foi o Dr. Anísio Palhano que no governo do Dr. Luís Domingues dirigiu o Serviço de Obras Públicas do Estado e, alguns anos depois, entre  1927 e 1930 desempenhou o cargo de Inspetor Federal de Obras contra as Secas, tendo visitado várias vezes, a cidade de São Bento, para inspecionar as obras de recuperação  da Vala Conduru. Era, também, irmão do Dr. José de Jesus, um dos engenheiros responsáveis pela construção dos primeiros trechos da Estrada de Ferro São Luís- Caxias.
Com a morte de d. Clélia, d. Leonor foi contratada  para cuidar dos filhos do Sr. Ulisses, que a chamavam de Mãe Clódia, cujos filhos  apesar da pouca idade já estavam trabalhando: José Paulo, o seu caçula, trabalhou, inicialmente na Pharmácia e Drogaria de Augusto César Marques, farmacêutico, graduado pela Faculdade de Medicina da Bahia, irmão do médico e historiador Dr. César Augusto Marques.
Mais tarde, com 14 anos empregou-se no Laboratório João Victal de Mattos, como lavador de frascos, depois no setor de manipulação e produção de medicamentos.
Abelardo, mais velho, foi para o Amazonas, trabalhar na extração da borracha, o ouro branco do  Brasil, nessa época já no início da decadência, pelos preços mais competidores da Malásia, Indonésia, Tailândia e Ceilão, países asiáticos, cujos seringais, resultantes de mudas,  levadas daqui do Brasil pelos ingleses, foram plantadas de maneira racional, facilitando os processos de obtenção.
 Dois anos após a ordenação, o Padre Osmar foi encarregado do curato da Sé Catedral, no período entre 1927 e 1931. A partir de abril desse ano  foi enviado como  pároco para  São Bento, levando, em sua companhia a sua  irmã e dona Leonor, que  passava períodos com o seu filho José Paulo já estabelecido com farmácia em Pinheiro e outros em S.Bento, com os irmãos Palhano de Jesus.Posteriormente seus irmãos fixaram residência no Rio de Janeiro.
Até o mês de agosto de 1937, o Pe. Osmar exerceu o seu apostolado em São Bento, dando assistência, também, às freguesias circunvizinhas, como a instalada na recém-criada  cidade de Pinheiro, hospedando-se, na maioria das vezes, com o seu amigo José Alvim. O seu trabalho em São Bento foi especialmente dedicado à juventude: criou o Grêmio Cultural D. Luís de Brito e a União de Moços Católicos. Fundou e dirigiu o semanário “ O Legionário”, não se descuidando da educação artística e desportista, dando grande impulso ao ensino da Música, ao Teatro, principalmente com os espetáculos de mágica, um de seus hobbies cultivados até a sua morte.
Instalou a Biblioteca Cônego Barros, estabelecendo a Bolsa D. Luís de Brito para manter seminaristas  sambentuenses no Seminário de Santo Antônio, em São Luís.Os principais doadores, além, de vários amigos, foram suas primas  Helena Reis Palhano de Jesus e Trazíbula Palhano Quadros. 
Foi  Diretor da Escola Paroquial, por seis anos, criando um pequeno museu com animais empalhados, para motivação dos alunos.
Estabeleceu,  em 1937,  pouco tempo antes de ser transferido, a Ordem Terceira da Penitência.
Uma das atividades mais importantes desse padre, ativo e preocupado com o bem-estar dos jovens, foi a introdução de um esporte pouco conhecido ainda no Maranhão: o volleiball, formando duas equipes, que competiam  numa quadra construída no fundo da Igreja Matriz, em partidas que movimentavam e atraiam a torcida dos moradores da pequena cidade.
Transferido para São Luís,  deixou, como doação, seis cabeças de gado para o funcionamento da Escola Paroquial.Também, doou à Associação Filantrópica São José um imóvel na principal rua de São Bento A partir dessa época d. Leonor passou a morar em Pinheiro com o seu filho, José Paulo, ainda solteiro.
Participou  de várias  visitas pastorais feitas por D. Carlos Carmelo de Vasconcellos Mota,  àquela época Bispo do Maranhão, às paróquias interioranas, principalmente da Baixada. Em São Luís, reassumiu o curato da Sé Catedral.
Em 1938, visitou seus antigos paroquianos, a bordo de uma motocicleta, transportada até São Bento em lancha, levando em sua companhia  a jovem Inês dos Reis Castro ( a pedido do seu amigo José Paulo Alvim) e dona Leonor, a essa época hospedada com amigos.  José Alvim casaria com Inês no ano seguinte, 1939.
Em São Luís assistia aos paroquianos da Igreja dos Remédios, bairro onde residia, em uma pequena porta e janela. Lecionou, por vários anos no Seminário de Santo Antônio as disciplinas de Latim, Português, Arte Sacra, Teologia Ascética, Doutrina e Geografia.Acreditando no poder da palavra impressa, editou  a revista “Boa Semente”.
Após a  transferência de D. Carlos Carmelo para São Paulo, onde seria eleito o 1º Bispo de Aparecida e mais tarde Cardeal-Arcebispo daquele estado, o Pe. Osmar fora, também, transferido para Codó, como pároco, na década de 1940.
Já indicado para tomar parte do Cabido do Clero Maranhense, como Cônego, foi um dos fundadores da Faculdade de Filosofia de São Luís, tendo sido professor de Literatura Brasileira. Também, lecionou nos Colégios Rosa Castro  e no Liceu Maranhense. Cônego, para quem não sabe, é o presbítero  que vive sob uma regra que o obriga às funções litúrgicas mais solenes da Igreja,fazendo parte do Cabido, o qual na hierarquia  da Igreja está acima dos Clérigos e abaixo do Bispo. Foi, outrossim, indicado como Arcediago da Catedral, o que o tornava  responsável pela administração de uma parte  da Diocese, exercendo,  as funções de consultor  do Bispo sobre diversos assuntos da  vida diocesana.
Criou e dirigiu várias Associações Religiosas de Moças e Senhoras, tanto na Igreja da Sé como na Igreja dos Remédios. Publicou algumas obras como: O Seminário e a obrigação dos fiéis; Carteira Inseparável; Catecismo para desobrigar; Catecismo para a 1ª Comunhão; Sapiens e Feliz Despertar.
Aposentado, dedicou-se a outros hobbies: Astronomia, Fotografia,Pintura, divertindo, também, seus amigos e paroquianos com um variado repertório de truques de mágicas. Chegou, inclusive a ir à Fortaleza, em 1956, impressionando as platéias com as suas técnicas de prestidigitação.    
 Na década de 1950, formava com os artistas plásticos Raul Deveza, Rosa Waquim, Telésforo Rego, Newton Pavão e o jovem  Ambrósio Amorim, um grupo que saia com seus cavaletes e telas,  nas tardes dos sábados, pintando as belas paisagens de São Luís. Duas de suas alunas de pintura são as professoras aposentadas e escritoras Lurdinha Lauande Lacroix e  Arlete Cruz Machado. O Cônego Osmar, apesar de pertencer a uma das famílias mais abastadas de Codó, por sua simplicidade aliada ao voto de pobreza, andava com as suas batinas desbotadas, cerzidas por sua amiga Fizoca – Afir Lia Melo - de família codoense, na casa de quem  jantava aos domingos. D. Afir era filha do Cel. Júlio Ribeiro e casada com o Sr. Afonso Melo, irmão de D.José Carlos Melo, lazarista, ex-Bispo Auxiliar de Salvador e Arcebispo Emérito de Maceió e do professor aposentado da UFMA, Antônio Sálvio Melo.
Reconhecido e estimado pela população de São Luís, era reverenciado quando, absorto, percorria as ruas,  lendo o seu Breviário.
Morreu na década de 1970.
P.S. – Apesar dos nossos esforços não conseguimos obter dados importantes sobre o Cônego Osmar como, a data da sua morte, o período em que foi pároco em Codó e a época de sua indicação como Cônego.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Fundação de São Luís - Eu só queria saber...*

* Aymoré Alvim.
             O que, realmente, será comemorado a 8 de setembro de 2012? Pode ser a ocupação do Maranhão pelos franceses com o estabelecimento de uma colônia ou a fundação do forte São Luís. Pode ser, ainda, o início da evangelização do Maranhão ou, então, a fundação da cidade de São Luís.
            A despeito desses conflitos, há uma intensa movimentação de instituições culturais e órgãos públicos elaborando suas programações com vista às comemorações dos 400 anos de fundação da cidade. Mas, como vemos, há controvérsias, como dizia o saudoso humorista Milini, entre os historiadores.          
As conclusões emitidas por eles nos colocam numa situação de grande incerteza: o que realmente vai ser comemorado? Considerando, então, a fundação de São Luís, há de se perguntar: a quem competem os loiros? Aos franceses ou aos portugueses?
            Logo, pelas interpretações assumidas, afirmar quem está certo ou errado, ou melhor, quem é mais coerente em suas conclusões, não é fácil.
            Um antigo professor meu de História Universal costumava dizer que a História é um grande campo de reflexão e que as melhores interpretações e conclusões partem de quem dispõe de maior embasamento teórico, fundamentado em uma boa documentação.
            Assim, vejamos como alguns historiadores se pronunciaram, ao longo do tempo, sobre a ocupação do Maranhão pelos franceses e a fundação de São Luís. Iniciemos pelos mais antigos ou, até mesmo, por aqueles que foram contemporâneos dos fatos.
            Em “Viagem ao Norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614”, Ives D’ Evreux faz referência à colônia mas nenhuma sobre a fundação da cidade de São Luís. Trata da construção do forte São Luís e de outras edificações.
            Diogo de Campos Moreno em “Jornada do Maranhão por ordem de Sua Majestade, 1614”, não faz, também, nenhuma menção à ocorrência, nas cartas trocadas entre La Ravardiere e Jerônimo de Albuquerque. Em uma delas, o francês se refere apenas ao forte de São Luís. Do mesmo modo, não há, também, qualquer manifestação sobre a cidade, no Tratado de paz celebrado, em novembro desse mesmo ano, entre Daniel de la Touche, Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno. Em uma intimação de Alexandre de Moura, datada de 3 de novembro de 1615, (Arq.Púb.MA.), há referência apenas ao Forte de São Luís e, na resposta, em 4 do mesmo mês, o francês se reporta à posse da fortaleza de São Luís. Nada sobre cidade alguma.
            Simão Estácio da Silveira que por aqui aportou em 1619, em “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, não se refere à fundação de São Luís por franceses.
No seu livro “História da Companhia de Jesus, na extinta Província do Maranhão”, o padre José Moraes escreveu que, em 12 de agosto de 1612, os religiosos capuchinhos celebraram a primeira missa, em terras maranhenses, com grande solenidade. Diz, ainda, que com o trabalho dos silvícolas, além de construírem algumas edificações, acabaram aquela pequena e ainda pobre cidade, à qual deram o nome de São Luís do Maranhão.
            César Marques, em seu “Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão”, relata que Alexandre de Moura ao retornar a Pernambuco, em 1615, nomeou Jerônimo de Albuquerque como Capitão-mor da Conquista do Maranhão que, então, passou a se dedicar à fundação da cidade.
            Na sua “História do Maranhão”, Barbosa de Godois trata da construção do forte de São Luís e de outros além de capelas, conventos e moradias. Depois atribui a Jerônimo de Albuquerque a fundação da cidade.
            Em “História do Maranhão”, Mário Meireles relata que, no dia 8 de setembro de 1612, os franceses fundaram por fim a colônia. Houve missa solene, procissão e a inauguração do forte com o nome de São Luís. E que a complementação da ocupação foi marcada pelas solenidades cívico-religiosas ocorridas, em primeiro de novembro desse mesmo ano.
            Carlos de Lima diz, em “História do Maranhão – Colônia”, que no dia 8 de setembro de 1612, dia da Natividade de Santana e da Imaculada Virgem Maria, houve uma missa solene seguida de procissão até o forte onde foi entoado o Te Deum e plantada uma cruz.
            A historiadora e professora Maria de Lourdes Lacroix, ao se dedicar à elucidação do ocorrido, conta em seu livro “A Fundação Francesa de São Luís e seus mitos”, que a fundação da cidade não pode ser atribuída às solenidades ocorridas, em 8 de setembro de 1612. Nessa data, os atos religiosos simbolizaram a expansão do cristianismo, no Maranhão, e os atos cívicos se constituíram em manifestação de poder, na colônia recém-instalada. Por fim, escudada em Bettendorff, Berredo, Gaioso, João Lisboa e outros, reafirma que a fundação de São Luís é devida a Jerônimo de Albuquerque e que a sua atribuição aos franceses nada mais é que um mito.
            Logo, eis aí a questão. Ou o dilema? O que devemos, então, comemorar, no dia 8 de setembro se 2012?  A ocupação do Maranhão pelos franceses e o estabelecimento de uma colônia? O início da evangelização em terras maranhenses ou a fundação da cidade de São Luís? A palavra continua com os historiadores. Quanto a mim, eu só queria saber.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

E, ASSIM, PARTIU SEU CHICO DE JECO. *


* Aymoré Alvim.

            Homem simples, emoldurado pela humildade e grande amigo de Pinheiro. Assim, partiu seu Chico de Jeco, ou seu Chiquinho ou, então, Francisco José de Castro Gomes.
            Partiu e deixou-nos um grande vazio, no cenário histórico-cultural da nossa terra, difícil de ser preenchido, haja vista o profundo e vasto conhecimento que detinha como importante relicário da história de Pinheiro e do seu povo.
            Nascido em Pinheiro, quando ainda era a Vila de Santo Inácio do Pinheiro, em 21 de junho de 1919, seu Chiquinho era um dos 7 filhos do casal José Gomes Júnior, pecuarista que militou por algum tempo na política local, e da Sra. Itelina de Castro Gomes, conhecida por todos os amigos como dona Inhazinha.
            Iniciou muito cedo o período de alfabetização, na escola de dona Júlia Ubaldo Pimenta, passando depois para a escola do professor Elpídio Estrela. Concluído o curso primário, no grupo escolar Odorico Mendes, viajou para São Luís onde estudou, na escola Almeida Oliveira e depois no Seminário Santo Antônio.
            Ao deixar o Seminário, seu Chiquinho retornou à terra natal quando, então, aprovado em processo seletivo, conseguiu seu primeiro emprego, em 1940, aos 21 anos, para trabalhar nos municípios de Penalva e Monção como delegado municipal, no recenseamento geral do Brasil ocorrido nesse mesmo ano.
            Em plena segunda guerra mundial, foi convocado para o Serviço Militar tendo servido, em São Luís, no 24º B/C, em Teresina, no 25º B/C e no 23º B/C, em Fortaleza.
            Responsável e diligente, escudado no bom trabalho, anteriormente, desempenhado, ingressou no quadro de servidores da Fundação IBGE, em 1946. Na chefia da Agência local, conduziu com esmero os censos de 1950, 1960 e de 1970.
            Em 1948, aos 29 anos, casou-se com a professora Maria Fausta de Carvalho Gomes com quem teve dois filhos: o engenheiro Francisco de Castro Gomes Filho já falecido e a professora Maria Elizabete Fausta Gomes Nogueira, esposa do professor João Paulo Castro Nogueira que atua na política municipal, tendo sido vereador e presidente da Câmara em duas legislaturas.
            Ainda em 1948, ao lado do sogro, Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho, ingressou na imprensa local, inicialmente, como secretário do Jornal Cidade de Pinheiro e depois como seu diretor-responsável. Além das suas atividades administrativas, começou nessa época um longo e produtivo período de atividade jornalística, tendo publicado inúmeros trabalhos sobre a história de Pinheiro da qual foi um diligente pesquisador, deixando à posteridade um importante acervo histórico.
            Com a fundação do Ginásio Pinheirense em 1953 e da Escola Comercial da ACREP em 1962, seu Chico foi designado Inspetor Federal dos dois estabelecimentos de ensino pelo Ministério da Educação. Exerceu, também, as funções de Secretário de governo durante a administração municipal do Dr. Elizabetho Carvalho.
            No ambiente cultural, foi um dos membros fundadores do Centro Cultural da Mocidade de Pinheiro ou Academia dos Novos, em 1959, e, em 2005, da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências – APLAC, onde ocupou a Cadeira de Nº 17 cujo patrono é o Dr. Elizabetho Barbosa de Carvalho.
            Além da coluna que mantinha, no jornal Cidade de Pinheiro, seu Chiquinho publicou “Coisas de Nossa Terra”, “ Conheça o Patrono de Sua Rua, Praça e Avenida”, “Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário” e “ O Patrono dos Estabelecimentos Educacionais”.
            E, assim, partiu seu Chiquinho. Homem simples, emoldurado pela humildade e grande amigo de Pinheiro.
* Aymoré Alvim
Uma homenagem ao amigo e confrade da APLAC.

sábado, 20 de agosto de 2011

FRANSOUFER, UM ARTISTA PLÁSTICO DA BAIXADA !

                                     Em trinta e cinco anos , como artista plástico,  na busca de elementos  com os quais pudesse melhor traduzir as fantasias do menino Chiquinho, mais tarde os sonhos do jovem Francisco e, finalmente suas emoções e sensações de adulto, Fransoufer experimentou óleo sobre tela, guache, aquarela, acrílico sobre duratex, até tinta plástica, colagens e óleo espatulado, retornando  na maturidade, à sua técnica original.
No início da década de 1970, ainda no Maranhão como Francisco Sousa Ferreira, tentava passar para a tela as fantasias que povoavam a sua imaginação de menino pobre da Baixada. Sem saber,  assumia o Surrealismo, movimento artístico lançado na França na década de 1920 e que se caracterizava pela expressão espontânea e automática, regrada apenas pelos impulsos do inconsciente. Esse movimento  cultural que teve grandes expressões como André Breton, Salvador Dalí e De Chirico, proclamava  a prevalência absoluta do sonho, do instinto, do desejo, inspirado pela Psicanálise. Só que naquela época o jovem Francisco não sabia nada sobre isso, porém produziu dezenas de telas sobre seres extraterrestres, alienígenas fazendo  contato com a Terra, catedrais estratosféricas e outros temas.
Mais tarde, em Brasília, a Meca dos nordestinos e outros brasileiros que não se tornaram profetas em seus Estados, e com a ânsia de conhecer lugares novos e outros artistas que usassem  essa mesma  linguagem, tornou-se amigo do pintor Jô Campos que o orientou na busca  de  um estilo diferente, mais  compreensível e aceitável pelos seus conterrâneos, que ele acreditava serem  potenciais  compradores. O nome, também, não era midiático: Francisco, muito comum e banal, por certo não atrairia os admiradores das Artes Plásticas. Foi quando ele passou a adotar o nome FRANSOUFER (junção de Francisco Sousa Ferreira), profissionalizou-se, não mais pintando por diletantismo. Nome novo, estilo diferente:  cenas  do folclore maranhense que ainda povoavam as  recordações do jovem artista, afloravam à sua memória, evocadas, em grande parte, pela saudade de sua gente.
Datam dessa  época suas primeiras exposições, inicialmente  coletivas com outros  jovens artistas, mais tarde   individuais, realizadas em Brasília e Goiânia.
De volta ao Maranhão, em 1977, conheceu o pintor húngaro Nagy  Lajos  que iria influenciar decisivamente na carreira do jovem pintor, ensinando-lhe o  manusear do pincel e da espátula, a dosar as cores, a usar a luz, a desvencilhá-lo das formas anatômicas , atreladas ao estilo clássico e libertá-lo das amarras das escolas,  seguidas pelo maioria dos  colegas maranhenses, adotando um estilo próprio através do qual  pudesse melhor expressar-se.
Rendendo-se, no entanto, às suas origens, Fransoufer aprendeu a técnica mas não substituiu  os temas, passando a retratar cenas guardadas na sua memória e que marcaram a sua infância no Mojó, povoado do município de Bequimão, iniciando o figurativismo regional ao qual se mantém fiel, até hoje.
             São desse  período: as procissões de romeiros, os casamentos na roça, os violeiros, os vendedores de pamonha, de derressol, os empinadores  de pipas, os  boizinhos,os vaqueiros transvestidos de cangaceiros, os tocadores de viola.
O estilo delineava-se através de cores  frias, sóbrias e esmaecidas, revelando um artista ainda tímido, introvertido. As figuras apresentavam o rosto vincado, traduzindo todo o sofrimento do  nordestino, no trabalho  áspero, estafante e mal remunerado de lavrar a terra e nem sempre colher os frutos esperados. Os olhos  assustadoramente arregalados e o nariz grosseiramente triangular, eram a sua marca registrada.
No fim da década de 1970, o pintor encontra a sua companheira e expressa  os seus sentimentos, pintando mulatas opulentas com turbantes coloridos, olhos brejeiros, lábios  sensuais, numa explosão de cores e formas. São, também, dessa época  os  frades e freiras, retratados na intimidade dos claustros, ponto de partida para a  sua fase franciscana.
A década de 1980 revelou um pintor mais criativo, ousado, produzindo uma das fases mais interessantes da sua trajetória: as colagens, elaboradas com chitas floridas  de cores fortes, cobrindo os couros dos  bois, principalmente o Boi do Portinho no qual seu pai, João Grande,  tocava zabumba; às vezes  de finíssimas rendas que guarnecem as almofadas das rendeiras da Praia da Raposa, praia onde costumava recolher-se em busca de inspiração.
Os  traços  foram tornando-se mais delicados, os vincos faciais desapareceram, o nariz ficou reduzido e os olhos  ligeiramente entreabertos. Nessa fase o artista reproduziu, com requinte, as riquezas do Maranhão, introduzindo o dourado no acabamento dos cachos de babaçu, de tucum, de juçara, das pencas de bananas, nos adornos dos brincantes de bois e nas dragonas dos militares, que nesse tempo ainda mandavam no País.
No fim da década, já amadurecido, divulgado pela mídia como senhor de um estilo próprio e inconfundível, Fransoufer deixa  emergir  todas as emoções refreadas durante os anos de privações materiais. Nesse ponto a sua trajetória pessoal influencia o seu  processo criativo   refletindo-se, positivamente, na qualidade dos seus trabalhos. Na medida em que como  cidadão ia adquirindo estabilidade material, afirmando-se socialmente, como artista deixava correr solta a sua imaginação que se reproduz em dezenas de obras expostas em galerias oficiais e particulares das principais cidades brasileiras.
A  partir de então, Fransoufer se divide entre o seu atelier em São Luís e um instalado em Brasília, mais perto dos centros consumidores do Centro-Oeste, do Sudeste e do Sul. As exposições  individuais se sucedem em Brasília, Goiânia, Cuiabá, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Belém, Teresina, São Luís, Imperatriz. Nas coletivas que participa recebe  premiações (medalhas de ouro, prata e bronze)  e até no exterior (Bruxelas)  recebe menção honrosa. Foi efetivamente um período decisivo na carreira do pintor, cujas obras passaram a fazer parte do acervo de colecionadores de quase todo o País e, também, de instituições oficiais.
Com a carreira consolidada,  São Francisco começou a ser uma constante na obra de Fransoufer. O Santo arrancado da sua Assis, na região da Umbria (Itália) passou a figurar em todas as mostras do pintor que o trouxe para os trópicos, ambientando-o no Nordeste, principalmente na Baixada Maranhense onde é visto sempre à vontade, em cores fortes, ora salvando os animais em extinção, ameaçados pelas queimadas, levados pelas enchentes, ora protegendo-os da sanha dos  caçadores.
O ambiente do sertão é caracterizado por um sol avermelhado e muitos mandacarus cujos frutos e flores atraem gafanhotos, libélulas  e  borboletas. Quando retrata a Baixada o fundo é representado por campos verdes ou alagados, cobertos de aguapés, junco, algodão e mururus, exibindo, orgulhosamente suas hastes com flores  lilases,  em  torno das quais circulam livremente marrecas, japiaçocas, jaçanãs, socós, búfalos e até caramujos. Outras vezes o Santo é retratado conversando com pássaros regionais, com peixes e até encantando cobras. Em outros quadros aparece tocando gaita, flauta, corneta, banjo, tambor e até pandeiro e sanfona.
Nos quadros de Fransoufer os animais parecem ganhar vida própria, quase que saltando sobre o expectador.
Outros santos também aparecem em sua obra: São João, São Jorge, São José, São Cosme e Damião, Santo Antônio, Santa Clara, a Sagrada Família e outros geralmente pintados  sob encomenda. Também vemos anjos cavalgando antas, capivaras e pacas e até figuras carnavalescas. As ceias, belíssimas, presididas por Cristo que ora se veste como  vaqueiro, ora como cacique, fazem, também, parte dessa fase e constituem os temas preferidos. O vinho é geralmente substituído por água contida em quartinhas de barro , cuias ou cabaças e o pão cede lugar a uma variedade de frutas regionais as quais o artista confere não só a cor, mas um sabor todo especial: mangas, cajus,ingás, oitis, jatobás, tuturubás, jacas,  ananases, bacuris, jenipapos, sapotis,  piquís, carambolas,  abóboras,  se  esparramam em profusão sobre mesas toscas,  cobertas com toalhas guarnecidas com rendas da Raposa,  ou simplesmente por jornais de circulação local.
Nessa fase as figuras têm nariz reduzido a um simples traço, permitindo que destaque maior seja dado aos olhos oblíquos, parados, mas muito expressivos. O artista se permitiu algumas concessões e pintou naturezas mortas, retratando flores silvestres, nativas da  Baixada.
Na década de 1990 a cromática fora a maior preocupação do artista. As  cores ainda fortes são melhor trabalhadas. O uso de tons” degradées” conferem uma maior dimensão e profundidade aos detalhes. Os traços fisionômicos, reduzidos, simplificam as figuras que raramente apresentam braços, como ex-votos, ou somente as mãos  são visíveis.
Nessa  época o pintor realizou duas viagens de estudo na  Europa. Na primeira visitou os Museus do Prado em  Madrid, o Louvre em Paris, oportunizando  conhecer as obras de grandes pintores e escultores mundiais, principalmente as cerâmicas de Pablo Picasso, resultando, dessa viagem mais uma nova vertente em sua trajetória artística. Também visitou museus em Lisboa, no Vaticano, Milão, Nápoles e outras cidades italianas, inclusive Pompéia. Na segunda viagem, mais demorada, passou um mês em Londres, expondo desenhos elaborados durante a sua estadia, na Galeria  Embassy  da Universidade de Wimbledon. Visitou, também, a Escócia e Viena, na Áustria.
Totalmente fascinado pelas esculturas de Picasso, na sua volta para o Maranhão, demorou-se dois meses no Rio de Janeiro, freqüentando o atelier de cerâmica da escultora Mônica Kuhner, onde produziu suas primeiras modelagens em cerâmica.
Montou em seu sítio Canaã, município de Bequimão uma oficina para trabalhar com o barro de sua terra, agregando um grupo de jovens que também  se encantaram com a possibilidade de serem artistas plásticos, formando o grupo  Cerâmica Jaburu. Muitas peças foram produzidas e vendidas em lojas de artesanato  de São Luís e em exposição no Shopping São Luís.
Nessa época, convidado para ser o titular da Secretaria de Cultura do seu município desenvolveu, às suas custas, sem apoio material de fontes oficiais, mais quatro projetos:
- Incrementar a  confecção de redes de teares, tentando resgatar  uma pequena manufatura local. Sem apoio algum, ainda chegaram a ser produzidas 40 redes.
- Tapeçaria – técnica aprendida no Rio de Janeiro e aqui desenvolvida por mulheres moradoras de áreas de invasão. Dezenas de tapetes foram confeccionados e expostos na Galeria do SESC, e no Shopping São Luís.
- Diversificação da produção de cerâmica em áreas de quilombolas, dos municípios de Bequimão e de Alcântara, em áreas já  produtoras de objetos  utilitários de barro, como potes, alguidares,  fogareiros, urinóis, etc. Os ceramistas aprenderam a modelar objetos de decoração.
- Confecção de peças decorativas (jarros, flores,  copos, ventarolas), a partir de garrafas pet, descartáveis.
Após várias tentativas frustradas para fazer algo por seus  jovens conterrâneos, para mantê-los afastados das drogas, principalmente da comercialização das mesmas,  passou um mês nas matas do rio Jaburu, em um tijupá por ele construído com palhas de babaçu, alimentando-se, exclusivamente  de  peixes por ele apanhados, ovos, granola  dissolvida em leite em pó e frutos silvestres, como camapus, araticuns, marias-pretinhas, murtas, muricis. Místico, supersticioso, tomou essa atitude para purificar-se de influências adventícias e espúrias que estavam interferindo em sua criatividade artística. Após esse período, voltou ao convívio civilizado, fortalecido, energizado e pronto para recomeçar a produzir uma nova série. Além de livros sobre História Universal, levou, também, livros sobre Mitologia e uma filmadora.
A sua nova produção , enriquecida pelos  deuses do Olimpo, ninfas, harpias, faunos, sátiros e outros elementos que  integram o  universo onírico, se encontra à venda em seu atelier no bairro Sítio Leal.
As suas obras, estão, também à venda no Sebo Papiros do Egito e no Restaurante Maracangalha e em São Paulo na Galeria Rodrigo Paisin.
Simples, despojado de vaidades e destituído de ambições, Fransoufer    foi tema de monografias, teses, documentários, capítulos de livros sobre Cerâmica no Nordeste, Artes no Brasil, Artes no Maranhão. Faz parte, como membro correspondente da Academia de Letras e Artes de Paranapuã, no Rio de Janeiro.
A Telemar em  2000 selecionou dez obras suas, reproduzidas  em 2 milhões  de cartões telefônicos, com uma tiragem de 200 mil de cada quadro.
Em todos esses anos, a preservação da natureza tem sido a proposta de Fransoufer, convidado em 1980, para abrir a Semana do Meio Ambiente com uma mostra realizada no saguão da agência do Banco Central, promovida pelo Ministério de Minas e Energia, sendo-lhe concedido o Escudo de Prata, pela postura pacifista adotada, portanto, alguns anos antes  da onda pró-ecologia que ora  sensibiliza os brasileiros.
Com seu pincel, Fransoufer, muitas vezes criticado pelos colegas por fazer uma arte limpa, descomprometida com o caos atual, consegue com muita habilidade e a mesma simplicidade e despojamento, do seu homônimo o “povarello” de Deus, pregar o seu evangelho de paz, amor e esperança.       

São Luís, 17 de agosto de 2011
Moema de Castro Alvim – livreira e membro fundador da APLAC



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A Fundação de Pinheiro-Maranhão. Histórico.

Aymoré de Castro Alvim*

1. Localização:
            O município de Pinheiro está situado, na Microrregião da Baixada Maranhense que formava, com parte do Litoral Norte Ocidental do Estado, a Capitania de Cumã que foi reincorporada ao patrimônio da Coroa Portuguesa, em 1754, pelo rei D. José I.
            Atualmente, tem uma área de 1.513Km² onde vive uma população estimada em 78.000 habitantes. (IBGE,2010).
            É o centro educacional, cultural e econômico da região. Segundo o Portal da Prefeitura Municipal, funciona como “pólo do comércio e demais atividades dentre os 19 municípios que integram a região”.
2. A Fundação: A antiga versão dos fatos:
Os eventos que marcaram a origem do município de Pinheiro, a partir de uma sesmaria de índio onde fora estabelecida uma povoação denominada Lugar do Pinheiro, estão bem mais recuados no tempo do que a história que chegou até nós.
 Viveiros relata que “naquela manhã ao atingir a ponta de uma enseada, o Capitão-mór Inácio José Pinheiro parou o belo cavalo baio que montava e, deslumbrado, percorreu a vista pela planície imensa que se desdobrava à sua direita[...]e então pensou: parece que descobri o que procurava, depois de tantas fadigas”. E prossegue na sua descrição dizendo que o Capitão deixara, por volta de 1817/1818, os campos de Tubarão (Alcântara) com suas 3.000 cabeças de gado, devido à exigüidade da pastagem, e para não brigar com uma fazendeira vizinha, dona Maria Rosa, que tinha um irmão bacharel formado em Coimbra. Acompanharam-no vaqueiros, pajens, agregados e outros serviçais. Foi seguido por outros fazendeiros, confiados no bom tino e experiência do Capitão E, assim, foram sendo instaladas outras fazendas no entorno das quais surgiu uma povoação que, mais tarde, seria chamada de Lugar do Pinheiro que muitos aborrecimentos viria causar ao velho Capitão por não haver pedido autorização governamental para fundá-la.
Em que pese a autoridade do ilustre historiador, é difícil compreender as razões que o motivaram a produzir essa inverossímil versão  da história de Pinheiro se, até o momento atual, as fontes documentais primárias continuam disponíveis, nos arquivos oficiais.
3. Desmitificando a antiga versão: As primeiras fontes
               Foi questionando esses fatos que iniciamos este trabalho em busca de documentos e informações que precisassem melhor o momento da ocorrência desse acontecimento.
As primeiras fontes foram bastante esclarecedoras para que se pudesse elaborar um juízo de valor sobre tais eventos.
O coronel engenheiro Pereira do Lago, na sua viagem de trabalho através do Estado, assinalou, ao passar em novembro de 1820 pela povoação que, à época, era também conhecida por Vila Nova do Pinheiro, ser ela um lugar muito pobre, estando a se reduzir a nada se providências não fossem tomadas. Compreendia apenas 5 fogos e 23 almas, tendo uma capela sem cobertura e 1 capitão do mato por comandante.
Quadro melhor não pintou César Marques. Relata, no seu Dicionário Histórico- Geográfico da Província do Maranhão, que o conselheiro Dr. Antônio Pedro da Costa Ferreira requereu ao Conselho da Província, em 28 de junho de 1826, um auxílio financeiro para que aquele infeliz povo de 300 a 400 almas, desprovido praticamente de tudo, pudesse concluir a construção da sua igreja.
Com estas informações, como é possível imaginar que aquele lugarejo, originado há menos de 3 anos, a partir da instalação de uma fazenda com cerca de 3 mil cabeças de gado do Capitão-mór de Alcântara além de todo o pessoal que o seguiu, estivesse, em tão pouco tempo, nesse deplorável estado de penúria quase absoluta? Concluiu-se que alguma coisa devesse ser melhor esclarecida.
4. Outras fontes:
Coelho, no seu trabalho sobre política indigenista neste Estado, faz referência a uma certidão onde consta que Inácio José Pinheiro, Capitão-mór e Comandante de Alcântara, estabelecera uma povoação entre as de Alcântara e Guimarães por ordem governamental para ali viverem e roçarem famílias de índios dispersos. E que essa povoação recebera o nome de Lugar do Pinheiro.
Em 15 de junho de 1864, o presidente da Câmara Municipal da Vila de Pinheiro, José Estanisláo Lobato, relata em ofício ao Presidente da Província, Dr. Miguel Joaquim Aires do Nascimento, que a citada vila, conforme certidão datada de outubro de 1817, se encontra em uma sesmaria de índios, de 3 léguas de comprido por uma de largura, que fora doada, em 1807,  a seus povoadores pelo Governador do Estado. Prosseguindo, solicita que essas terras pela inexistência dos primeiros donos sejam transferidas para o patrimônio da Câmara.
Ao que parece, o presidente José Estanisláo não fora atendido nas suas pretensões, de vez que, em 28 de outubro de 1872, volta a reiterar o mesmo pedido, desta vez ao Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior que se encontrava no exercício da presidência da Província.
Somente algum tempo depois, em 14 de abril de 1888, o Presidente da Câmara, Onofre Joaquim Maramaldo, comunicou ao Presidente da Província que as terras foram incorporadas ao patrimônio da Câmara.
5. A Fundação: A verdadeira versão dos fatos:
O Lugar do Pinheiro - este é o marco inicial da história de Pinheiro.
Nos primeiros meses do ano de 1807, o Capitão-mór e Comandante da Vila de Alcântara, Inácio José Pinheiro, procurou o Governador e Capitão General do Maranhão, D. Francisco de Mello Manuel da Câmara, a quem relatou que, na data de 23 de novembro do ano de 1806, cumprindo ordens do seu antecessor, Governador Antônio de Saldanha da Gama, estabeleceu uma povoação entre as de Alcântara e Guimarães com a denominação de Lugar do Pinheiro para ali viverem e roçarem algumas famílias de índios dispersos. Informou-lhe, também, que para a subsistência das mesmas havia demarcado 3 léguas de terra de comprido por uma de largura e, por já existirem nas ditas terras alguns povoadores cultivando-as, solicitou-lhe, se assim o julgasse conveniente, que fosse passada carta de doação das mesmas para patrimônio da povoação. Decidindo, então, o fazer, o Governador mandou expedir, em 13 de maio desse mesmo ano, a concessão das referidas terras por “Dacta” e Sesmaria às famílias dos índios ali estabelecidos para que as possuíssem como coisa sua e de seus descendentes. Tudo isto se acha registrado, às fls. 65 verso, do Livro de “Dacta” e Sesmaria do qual foi transcrita  uma certidão requerida pelos índios, em 21 de outubro de 1817.(Arq.Púb.MA.).
Cópia dessa certidão, como já referido, foi encaminhada pelo presidente da Câmara municipal da Vila de Pinheiro, José Estanisláo Lobato, em 1864, ao Presidente da Província solicitando-lhe que essas terras retornassem ao domínio público e fossem doadas à referida Câmara para com elas formar o seu patrimônio.
E, assim, nasceu Pinheiro. Uma sesmaria de índios com o nome de Lugar do Pinheiro que foi fundado, em 23 de novembro de 1806, pelo Capitão-mór Inácio José Pinheiro cumprindo ordens do Governo do Estado do Maranhão.
A história não é tão bonita quanto a que nos foi contada mas é a verdadeira história da origem do povo pinheirense, fruto do caldeamento de índios, negros e caboclos, ao sol ardente da Baixada, no cadinho verdejante dos campos do Pericumã.
*Fontes: Pinheiro em Foco, 2006, Arq.Pub.MA., IBGE e Portal da Prefeitura de Pinheiro.