MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

De Marita para Inez

Querida Inez.

Que pena a vida ter nos separado fisicamente. Eu perdí, asseguro-te. Sabes por que? Lembro-me com imensas saudades das nossas conversas de fins de tarde, em Pinheiro, sentadas à porta da Farmácia da Paz, onde, de minuto em minuto, levantavas para atender um cliente que chegava.
Contavas para mim histórias muito engraçadas que sabia pela tua amizade com a madrinha Carmen, minha mãe. Tomei conhecimento maior sobre a cidade de Pinheiro da primeira metade do século XX através das tuas narrativas, Inez. Tu me falavas das ruas e das casas, das famílias e das autoridades; das festas religiosas e dos cantos no coro da Matriz; dos bailes especiais e dos teatros; das moças bonitas e elegantes e daquelas que se vestiam de maneira destacada; dos amores e dos casamentos. Contavas como a população viajava para a capital a bordo das embarcações de belos nomes, cujos nomes me enlevavam como: Cisne Negro, Hércules e Dunquerque, que bonito! Também discorrias sobre as tragédias como a explosão da Usina Providência, quando perdeste o noivo, uma das vítimas do incêndio. Falaste-me do naufrágio do Hércules (e eu imaginava um barco gigantesco e forte) que soçobrou (parece-me) à noite por ter-se chocado com a temida pedra do Itacolomy, o terror dos barqueiros que navegavam na Baia de Cumã.
Se alguma coisa aqui está errada desculpa a minha memória que nada representa perto da tua. Esta é uma pequenina prova de todos estes fatos, relatados a mim, por ti, amiga, com uma grande riqueza de detalhes.
...E assim eu me deleitava diante do formidável Livro de Histórias Pinheirenses, que eu tinha ao meu dispor.
Inez,
Que dizer de ti, para ti?
Uma mulher bonita, filha, irmã, esposa, mãe e amiga excepcional! Uma mulher onde a vaidade ganha uma característica diferenciada, porque nunca está ausente. É necessário enumerarmos teus impecáveis vestidos de seda, de linho ou de outros tecidos especiais; a maioria das vezes estampados em cores vibrantes; de muito bom gosto; de modelos que refletiam os últimos ditames da moda; bem ajustados ao corpo, outra característica digna de destaque.
Inez, sempre tiveste um corpo que valorizava tudo o que usavas. Um corpo sem excessos, pelo contrário, um corpo adequado para a tua estatura: quadris coerentes com todas as medidas, pernas bonitinhas, busto normal e cintura bem marcada.
Os cabelos estavam constantemente cortados (presume-se) porque nunca os vimos compridos ou curtos demais, e emolduravam o rosto sempre na mesma medida. Nunca eu te vi se penteando diferente, especial. O jeito simples como te penteias está em perfeito acordo com a tua personalidade. Hoje, alguns anos depois desse nosso convívio mais próximo, acho que continuas a
mesma. Escolhes as roupa que queres vestir. As cores que te agradam. E tens a sagacidade de dizeres não a qualquer modelo de butique afamada, que compram pra ti, mas que na realidade não achas que está de acordo com a tua maneira de ser.
Relembrando mais uma vez os tempos de Pinheiro, bem cedo, ao acordares, ias comprar, ao teu gosto, o tipo que conhecemos e aprendemos a gostar: a Inez bem vestida,(cores alegres), bem calçada, sempre de sapatos de saltinhos fechados e discretos. Compondo esse perfil, mas se destacando de quase todas as senhoras da cidade, haviam os acessórios: colares, brincos, anéis e pulseiras. Mas não eram acessórios do século XXI – bijuterias –Eram jóias valiosas, lindas e ...barulhentas.
Sim, as belas e barulhentas pulseiras que deram a Inez um ar especial. Não pensem que digo como crítica. Falo como admiradora e adepta inconteste das pulseiras que brilham, que falam, que emitem sons, que fazem barulho.
Também gosto de usá-las. Será que aprendi contigo essa particularidade? Mas devo esclarecer uma coisa, minhas pulseiras são jóias do século XXI.
Enfim, querida amiga, o sorriso sempre a iluminar o teu rosto porque a alegria de viver sempre foi uma característica marcante em tua vida...
E esses teus olhos marotos e inquietos nos dão, constantemente, a certeza de que estamos diante de uma pessoa inteligente; que estamos diante de uma pessoa de memória mais prodigiosa que conheço; que estamos diante de um monumento de mulher – Inez de Castro.

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