Querida Inez.
Que pena a vida ter nos separado fisicamente. Eu perdí, asseguro-te.
Sabes por que? Lembro-me com imensas saudades das nossas conversas de
fins de tarde, em Pinheiro, sentadas à porta da Farmácia da Paz, onde,
de minuto em minuto, levantavas para atender um cliente que chegava.
Contavas para mim histórias muito engraçadas que
sabia pela tua amizade com a madrinha Carmen, minha mãe. Tomei
conhecimento maior sobre a cidade de Pinheiro da primeira metade do
século XX através das tuas narrativas, Inez. Tu me falavas das ruas e
das casas, das famílias e das autoridades; das festas religiosas e dos
cantos no coro da Matriz; dos bailes especiais e dos teatros; das moças
bonitas e elegantes e daquelas que se vestiam de maneira destacada; dos
amores e dos casamentos. Contavas como a população viajava para a
capital a bordo das embarcações de belos nomes, cujos nomes me enlevavam
como: Cisne Negro, Hércules e Dunquerque, que bonito! Também
discorrias sobre as tragédias como a explosão da Usina Providência,
quando perdeste o noivo, uma das vítimas do incêndio. Falaste-me do
naufrágio do Hércules (e eu imaginava um barco gigantesco e forte) que
soçobrou (parece-me) à noite por ter-se chocado com a temida pedra do
Itacolomy, o terror dos barqueiros que navegavam na Baia de Cumã.
Se alguma coisa aqui está errada desculpa a minha
memória que nada representa perto da tua. Esta é uma pequenina prova de
todos estes fatos, relatados a mim, por ti, amiga, com uma grande
riqueza de detalhes.
...E assim eu me
deleitava diante do formidável Livro de Histórias Pinheirenses, que eu
tinha ao meu dispor.
Inez,
Que dizer de ti, para ti?
Uma mulher bonita, filha, irmã, esposa, mãe
e amiga excepcional! Uma mulher onde a vaidade ganha uma característica
diferenciada, porque nunca está ausente. É necessário enumerarmos teus
impecáveis vestidos de seda, de linho ou de outros tecidos especiais; a
maioria das vezes estampados em cores vibrantes; de muito bom gosto; de
modelos que refletiam os últimos ditames da moda; bem ajustados ao
corpo, outra característica digna de destaque.
Inez, sempre tiveste um corpo que valorizava tudo o que
usavas. Um corpo sem excessos, pelo contrário, um corpo adequado para a
tua estatura: quadris coerentes com todas as medidas, pernas bonitinhas,
busto normal e cintura bem marcada.
Os cabelos estavam constantemente cortados (presume-se) porque nunca
os vimos compridos ou curtos demais, e emolduravam o rosto sempre na
mesma medida. Nunca eu te vi se penteando diferente, especial. O jeito
simples como te penteias está em perfeito acordo com a tua
personalidade. Hoje, alguns anos depois desse nosso convívio mais
próximo, acho que continuas a
mesma. Escolhes as roupa que queres
vestir. As cores que te agradam. E tens a sagacidade de dizeres não a
qualquer modelo de butique afamada, que compram pra ti, mas que na
realidade não achas que está de acordo com a tua maneira de ser.
Relembrando mais uma vez os tempos de
Pinheiro, bem cedo, ao acordares, ias comprar, ao teu gosto, o tipo que
conhecemos e aprendemos a gostar: a Inez bem vestida,(cores alegres),
bem calçada, sempre de sapatos de saltinhos fechados e discretos.
Compondo esse perfil, mas se destacando de quase todas as senhoras da
cidade, haviam os acessórios: colares, brincos, anéis e pulseiras. Mas
não eram acessórios do século XXI – bijuterias –Eram jóias valiosas,
lindas e ...barulhentas.
Sim,
as belas e barulhentas pulseiras que deram a Inez um ar especial. Não
pensem que digo como crítica. Falo como admiradora e adepta inconteste
das pulseiras que brilham, que falam, que emitem sons, que fazem
barulho.
Também gosto de
usá-las. Será que aprendi contigo essa particularidade? Mas devo
esclarecer uma coisa, minhas pulseiras são jóias do século XXI.
Enfim, querida amiga, o sorriso
sempre a iluminar o teu rosto porque a alegria de viver sempre foi uma
característica marcante em tua vida...
E esses teus olhos marotos e inquietos nos dão,
constantemente, a certeza de que estamos diante de uma pessoa
inteligente; que estamos diante de uma pessoa de memória mais prodigiosa
que conheço; que estamos diante de um monumento de mulher – Inez de
Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário