MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


PRIMÓRDIOS  DA  ARTE  DE CURAR  NO  MARANHÃO


Até algumas décadas atrás a História era circunscrita a um campo bem homogêneo, único, indiviso. Atualmente o campo historiográfico se divide em várias modalidades, fazendo com que os historiadores se organizem em espaços do saber, dividindo-os em campos, estes em domínios que são áreas de concentração em torno de certas temáticas e objetivos possíveis, usando para isso as mais diversas técnicas de abordagem.
Para o historiador atual não existe a exigência de um curso formal de História, desde que ele seja capacitado para aprofundar-se em algum campo que ele domine, produzindo excelentes e autênticos textos historiográficos.
Atrelada durante muito tempo à História das Ciências, a Medicina de alguns anos para cá,  graças à dedicação de vários grupos de médicos, os quais, sem perder de vista o conhecimento mais geral da Medicina, desdobraram-na em vários domínios, entrelaçados, abrindo espaço para várias especialidades dentro do saber histórico. Inicialmente só a História das Doenças, da Clínica, hoje uma profusão de domínios, dimensões, criando uma rede de modalidades, possivelmente exigidos pela necessidade de elaborar teses e orientar monografias imprescindíveis para o bom desempenho de pesquisadores e mestres.
Assim surgiram grupos de médicos especializados, sequiosos em aprofundarem e organizarem seus conhecimentos nos domínios das epidemias que grassavam no Brasil Colonial, as portas de entrada dessas doenças, as primeiras campanhas de vacinação, abertura dos primeiros hospitais, médicos pioneiros nos mais diversos campos da Medicina, o estudo das chamadas doenças tropicais, as primeiras técnicas cirúrgicas empregadas, origem de certas doenças como a esquistossomose, as filarioses, a bouba, o calazar, a hanseníase, a febre amarela, a tuberculose, a sífilis, as micoses e uma gama grande de viroses.
Aqui no Maranhão essa iniciativa partiu do Prof. Aymoré de Castro Alvim, ao fundar a Sociedade Maranhense de História da Medicina, que aglutina médicos especializados em suas áreas de atuação, interessados em preencher essa lacuna, em relação ao nosso Estado. Pesquisando as poucas fontes a que teve acesso, o Prof. Aymoré procurou determinar a época em que a Medicina, como ciência, começou a ser exercida entre nós, concluindo sem sombra de dúvidas, que o primeiro médico a pisar o território maranhense fora o Dr. Thomas de Lastre, francês, que acompanhava a expedição comandada por Daniel de La Touche, em 1612. Filho de médico e formado pela Universidade de Paris, o Dr. De Lastre trocou correspondência com o seu pai, porém não deixou registros de doenças entre nossos aborígenes, provavelmente por ser médico-cirurgião, adestrado aos tratamentos de traumas de soldados nos campos de batalha – um cirurgião militar. Por essa época, a Medicina na França, embora exercida por médicos de campo, freiras católicas e cirurgiões barbeiros, dera um grande salto, graças às técnicas introduzidas por Ambroise Paré, cirurgião-barbeiro, considerado o Pai da Medicina Francesa. Na verdade não era formado em Medicina, porém introduziu técnicas que tiveram grande êxito, tanto na Cirurgia como na Clínica. Pelos seus conhecimentos e dedicação foi médico de três soberanos: Henrique II, Francisco II e Charles IX. A ele se atribui a primeira cirurgia de hérnia estrangulada.
Após a expulsão dos invasores franceses, em quase dois séculos de colonização e povoamento, os únicos físicos conhecidos pelos colonos e índios foram os jesuítas que utilizavam uma terapêutica empírica e profilaxia rudimentar, fugindo do curandeirismo, pela cultura humanística que possuíam, a mais alta nesse tempo. Os índios com a sua mentalidade primitiva exigiam curas milagrosas, como se os religiosos por eles chamados Poçangas, tivessem o verdadeiro poder sobre a vida e a morte. Em cada missionário podia dizer-se que existia um médico, pois as circunstâncias lhes impunham o dever humanitário de acudir as enfermidades do corpo, na medida que lhes era possível, valendo-se das ervas medicinais locais e da pequena botica do convento.
Nessa época, as doenças consideradas comuns entre os índios, portanto autóctones, eram as febres palúdicas, micoses, reumatismos, asma. As doenças que praticamente dizimaram os povos ameríndios foram trazidas pelos europeus, mais tarde pelos asiáticos e africanos: bouba, varíola, peste bubônica, febre amarela, tuberculose, cólera morbus, sarampo, caxumba, hanseníase, foram algumas das moléstias adquiridas pelos índios em contato com o branco civilizador, pois segundo alguns visitantes, os nossos índios eram considerados sadios, imunes mesmo às epidemias que se alastravam no litoral, do Pará ao Rio de Janeiro.
Alguns visitantes, deslumbrados pelas belezas luxuriantes de nossas florestas, alguns trazidos pelo gosto da aventura da viagem, exotismo de nossa fauna e flora, poucos vestígios deixaram. Entretanto os capuchinhos Yves dÈvreux e Claude dÀbeville no início do século XVII e mais tarde alguns naturalistas que fizeram parte de expedições científicas, no Império, como os pesquisadores Von Martius e Spix descreveram algumas das doenças que viriam a tornar-se endêmicas entre nós.
                                              São Luís – Maranhão
                             Moema de Castro Alvim

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