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PAPIRUS DO EGITO

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

OITIZEIROS – RESISTÊNCIA À POLUIÇÃO

Quando o Dr. Luso Torres administrou São Luis, entre 1919-21, por entender  que as áreas verdes são essenciais em qualquer planejamento,  beneficiando seu equilíbrio físico-ambiental, contribuindo diretamente na qualidade de vida, providenciou a sua arborização. Prevendo o  rápido crescimento com a abertura de fábricas e expansão da indústria e  comércio, graças ao beneficiamento do babaçu,  com  consequente poluição da cidade, mandou plantar oitizeiros nas principais praças, por serem as mais urbanas das árvores, não necessitando de regas nem de podas e preservando o calçamento. Resumindo, não dando grandes trabalhos e nem despesas para sua manutenção. Mudas de  Ficus  foram plantadas na Avenida Pedro II,  mas na Praça João Lisboa, totalmente reformada, foram escolhidas mudas de oitis, sendo  ainda encontrados  belos exemplares. Os espécimes da Praça Deodoro constam serem mais antigos. Aliás, tanto essa praça como a contígua, a do Panteón ou da Biblioteca Pública, foram criadas a partir do Largo do Quartel, ladeado pelas avenidas Gomes de Castro e Silva Maia, divididas por um canteiro central, ajardinado à moda francesa e ornamentada  com oitizeiros, tendo no centro um belo chafariz, entre 1901-03, na administração do intendente Nuno Alves de Pinto.
 Na azáfama do dia a dia, além do nosso caótico trânsito e da proliferação de vendedores ambulantes e bancas de revistas, não os vemos, mas eles alí permanecem  como testemunhas da nossa história, acompanhando o impulso desenvolvimentista da cidade nos últimos noventa anos. Sob suas copas, principalmente dos oitizeiros da Praça João Lisboa muitas intrigas políticas foram tramadas, honras familiares enxovalhadas,  propostas discutidas, ouvidos os discursos na época da Revolução de 1930 e os mais inflamados na Greve de 51. Assistiram as mudanças nos trajes masculinos e femininos, a abolição dos chapéus, das bengalas. Também  ecoaram em suas copas  os cânticos das procissões de São Benedito, de Nossa Senhora do Carmo, de Ramos, do Encontro com o cântico de Verônica,  do Senhor Morto, assim como dos mexericos do sereno dos bailes e tertúlias do Lítero Recreativo Português. Certamente até hoje testemunham  comentários sobre as peça e shows do Teatro Artur Azevedo, posses de intelectuais na Academia Maranhense de Letras, amores proibidos nascidos e desfeitos  nos bancos da praça, e muitos, muitos boatos tão ao gosto das gentes que habitam esta cidade.
À época da arborização do Passeio Público, Campo de Santana e Quinta da Boa Vista, na cidade do Rio de Janeiro, o Imperador D. Pedro II nomeou  o agrônomo e paisagista Auguste François-Marie Glazier, para esse mister. Para desincumbir-se dessa tarefa foi ao Nordeste em busca de plantas nativas e exóticas. Na Bahia encantou-se com os oitizeiros, assim como ipês, pau-ferro , jacarandá quaresmeira,  paineira, dos quais levou mudas para replantá-las, sendo  por  isso considerado o pioneiro no uso de árvores nativas em projetos de arborização. Foram tão apreciadas que em 1869, foram plantadas mudas no Jardim Botânico.
Outrossim, o oitizeiro fora uma das árvores escolhidas pelo Major Manuel  Gomes Ardin para restauração da Floresta da Tijuca. Nos idos de 1950, o prof. Luiz Emydio de Melo, diretor do Departamento de Parques e Jardins mandou plantar na Avenida Getúlio Vargas.

                     CARACTERÍSTICAS  BOTÂNICAS

O oitizeiro – Licania tomentosa – pertence à família das Chrysobalanaceas, genuinamente regional , é o símbolo do Nordeste, principalmente do estado de Pernambuco, onde é conhecida como  oiti da praia. Nativa nas restingas  costeiras , ocupa áreas da Mata Atlântica, estendendo-se até a Guiana Francesa. Encontrada em floresta ombrófila, densa de Pernambuco  ao sul da Bahia e até em Minas Gerais.
O nome oiti deriva do tupi-guarani que significa massa branca. São conhecidas  sete gêneros e 25 espécies e podem atingir  15 até 30 m de comprimento; folhas simples, ovais, alongadas, bordas  e superfície lisas e brilhantes, cobertas por penugem, tipo lanosas ou tomentosas em ambas as faces, dando aspecto de lã. As folhas são aproveitadas pela fauna geral.  A inflorescência é em cachos, resultando grande produção de frutos. As flores são inexpressivas, porém formam uma copa esbranquiçada que lhe dá grande destaque ornamental. Floresce entre os meses de junho e agosto e frutifica entre janeiro e março. Seus frutos são comestíveis com amêndoa rica em óleo. São drupas elipsoides, fusiformes, com 6 a 8 cm de comprimento, indeiscentes e fixados em pedúnculos não articulados. Quando maduros sua casca adquire uma cor amarelo mesclado com verde. A polpa é  carnuda, pastosa, pegajosa, amarelada e com odor forte; o caroço é volumoso e oblongo. Apresentam uma a duas sementes quase sem albumina, elípticas com furúnculo aderido, tegumento liso e na cor marron.

                                VALOR  ALIMENTÍCIO


Apresenta alto teor de glicídios, principalmente  glicose e sacarose; também fibras e ferro . Sabor doce e adstringente, bem agradável e apreciada in natura. A polpa tem elevado teor de sólidos solúveis, baixa acidez e considerável percentual de pectina. Na casca há grande teor de nutrientes
Pouco explorada na indústria alimentícia, daí decorrendo um número reduzido de pesquisas.

                                   NA  INDÚSTRIA

A sua madeira avermelhada, de excelente qualidade é usada para fabricação de postes, estacas, dormentes e na construção civil. Por sua resistência à poluição o oitizeiro é usado em projetos de arborização de numerosas cidades brasileiras, tanto em parques como praças e avenidas. Goiânia é totalmente arborizada por oitizeiros.

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