Filha de farmacêutico idoso, com larga experiência no cuidado com a saúde dos pinheirenses, é óbvio que nosso pai decidisse que as frutas fariam parte do cardápio alimentar da nossa família, principalmente como sobremesa: banana, mamão, laranja, lima, manga, cajá, goiaba, jenipapo, milho verde, não faltavam em nossa casa, de acordo com a estação. Papai dizia, não só aos seus fregueses, mas à sua esposa, nossa mãe, que as frutas são alimento de primeira necessidade, indispensáveis para o desenvolvimento do organismo humano, pela riqueza em vitaminas e sais minerais. Também para facilitar o trânsito intestinal, dificultando a perniciosa prisão de ventre que intoxica nosso organismo. Estimulava-nos a comer até as frutas das quais não gostávamos, como abacate, carambola e lima. Apenas o açaí não entrava em nossa casa, pois em período passado na Amazônia, com alta prevalência de hanseníase, associara essa doença ao consumo de juçara. Sem liquidificador só tomávamos suco de maracujá, cujas sementes eram amassadas com um garfo e passadas num crivo, suco de laranjas espremidas e de cupu-açu cortados com uma tesoura bem limpa. Nosso pai adorava frutas secas: figos, passas, ameixas, tâmaras, nozes, castanhas portuguesas, não faltavam em nossos natais. Encomendava, com frequência, aqui em São Luis, maçãs. Às vezes só sobravam as cascas pra mim e Aymoré; felizmente ele as deixava bem grossas, e que eram disputadas pau a pau. Mamãe costumava fazer bananas secas: cortava cuidadosamente, no comprido, punha no sol, numa urupema coberta com filó e adivinhem quem tomava conta? Quantas sobravam? Sempre gostei de banana cacau assada na brasa, com um pouco de manteiga e polvilhada com açúcar e canela. Atualmente ainda gosto. Hoje mesmo comí algumas, assadas no forno, sem açúcar e com um fio de azeite extra-virgem, trazidas de Bequimão. Nos meus tempos de despreocupação com taxas de colesterol ruim, bom, triglicerídeos totais, gostava de fritar, na manteiga, bananas costelas-de-vaca, em rodelas ou em fatias cortadas no comprido.
Apesar de gostar de quase todas, as minhas preferências recaiam sobre as tanjas, vindas de Bequimão, goiabas brancas ou vermelhas, sapotis e abacaxis. As melancias iam de São João de Cortes, Litoral Noroeste: eram redondas, casca verde, com uma polpa entre rosa e vermelho e muitas sementes brancas. Não eram gostosas, mas comíamos até o casco (curel), raspado com colher e com um pouco de farinha seca. As laranjas eram cultivadas lá mesmo em Pinheiro, casca verde, ácidas. No quintal da nossa casa, apenas um pé de laranja da terra, um cajazeiro cujos frutos não deixávamos amadurecer, uma caramboleira com frutos franzinos, mamoeiros, coqueiros, abacateiro e uma mangueira, cujos frutos deliciosos eram desejados por todos: manga paris, pequena, casca avermelhada e dulcíssima. O tronco da mangueira era liso e sem galhos e além de Seu Guta eu era a única a galgá-lo. Também era exímia atiradora de pedras e paus e minha pontaria era certeira.
Muitas vezes íamos ao sítio de d. Pupu Campos, tia-mãe do Padre Walter, no bairro do Fomento, apanhar mangas de qualidade e outras frutas deliciosas, como sapotis e cajazinhos. Nesse tempo não havia siriguela em Pinheiro. Às vezes roubávamos as frutas do pomar de d. Sofia Castro, geralmente goiabas brancas, grandes, laranjas especiais, mantidas cuidadosamente para enviar para a sua filha Teresinha que morava em São Luis. Geralmente essas incursões eram feitas em noites de luar e pulávamos a cerca sem fazer barulho pra não acordar seu cão. Também íamos ao sítio de d. Rosa Gaia apanhar azeitonas silvestres, cem vezes mais gostosas do que as jabuticabas, ingás. Nossos lábios, língua e gengivas ficavam roxinhos. Ginjas da casa do sr. João Bertoldo onde tínhamos aulas particulares com a Prof. Neuza Berredo. Tamarindos secos ou arientos, apanhados na casa de d. Sinhá ou no quintal do sr. Carrinho Pimenta. Nunca gostei de camapu, encontrado em quase todos os quintais.
Em 1952, nosso pai faleceu e foi uma perda irreparável que nunca conseguimos superar. Por conta desse trauma e da falta que ele me fazia, mamãe resolveu que eu deveria ficar semi-interna, no convento das freiras, Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Chegadas no início de 1953 para implantar o Ginásio Pinheirense, criado por D.Afonso Maria Ungarelli, atendendo aos pedidos dos pais de família que não tinham recursos para enviar seus filhos para a capital, a fim de concluir seus estudos, chegaram 5 irmãs comandadas pela Madre Maria Dolores: Irmãs Suzana, Geralda, Vera Maria, Adélia e Felícia. Mais tarde chegaram as Irmãs Ana Maria, Rute e Paula. Seria o primeiro estabelecimento de ensino, no gênero, na Baixada e deveria atender, não só a sede e povoados satélites, mas todas as Paróquias da Prelazia.
O Ginásio, assim como as duas últimas séries do Primário, funcionavam na antiga residência do sr. Josias Abreu, a única da cidade com mirante, com vista para o campo, enquanto o Convento fora instalado na antiga casa do sr. Agostinho Ramalho Marques. Nessa casa, entre 1947-49, funcionou o Seminário São José destinado a ordenar padres para aquela região. À época importávamos, sem protestos, sacerdotes de vários países: Itália, Holanda, Alemanha, Espanha, Canadá.
Aproveitando as instalações já existentes, as religiosas tinham a sua clausura, a capela e o parlatório no prédio principal e os dormitórios, salas de estudo, banheiros das alunas, no anexo, construído para abrigar os seminaristas. Ligando as duas construções, a cozinha e o salão de refeições com bancos compridos e duas mesas grandes; também lavatórios e a despensa. O quintal era grande, mas sem fruteiras, talvez uns dois coqueiros e uma cueira. O pátio de entrada era bonito, cimentado com os canteiros plantados, com tajás de bonita folhagem, alguns pés de maria-sem-vergonha (maria-cagona), cravo-de-defunto e zínias, cultivadas para enfeitar o altar da capela.
Para o internato vieram muitas moças e até garotas. Eu era a única semi-interna. Essas moças provinham de vários povoados, fazendas, sítios da redondeza: Pacas, Pimenta, Ave Maria, Curralzinho, Entre-Rios, Gama, Bom-Viver; também, de outros municípios: Queimadas, Santa Helena, São Bento, Cururupu, Turiaçu, Carutapera, Cândido Mendes, Bequimão, Perimirim. Muitos pais ajudavam na manutenção do Convento, enviando gêneros por eles cultivados, além de leite, queijos, frutas, mel e doces em massa, geleia, compota, geralmente de goiaba, de coco com mamão, de leite. Após as refeições essas guloseimas eram servidas a todas, pela Irmã Adélia responsável pela cozinha e refeitório. O que comíamos? Peixes cozidos ou fritos, carne de boi, de porco ou de galinha (não se chamava frango), acompanhados por arroz, feijão, às vezes macaxeira ou batata doce e a infalível farinha seca ou dágua Não lembro se serviam massas e saladas de verduras. Comíamos os legumes e verduras da terra, cozidos: maxixe, quiabo, jongome, vinagreira; raramente tomate.
As aulas eram dadas em dois turnos: pela manhã estudavam as moças enquanto os rapazes ficavam com o turno vespertino. Depois das aulas, íamos, enfileiradas para o convento. Após trocar o uniforme, lavávamos as mãos e dirigíamos para o refeitório, onde após a oração de agradecimento, começávamos a comer. Depois do almoço tínhamos uma meia hora para botar as fofocas (fuxicos) em dia. Depois íamos para a sala de estudos, sob a supervisão de d. Juracy Correa; mais tarde um lanche frugal, geralmente suco com bolachas (atualmente biscoitos) e às 17:00h a reza do terço. Só, então, voltávamos para casa, enquanto as internas tomavam banho e esperavam o jantar.
Inesperadamente podia aparecer a Madre Superiora, à hora do almoço, para inspecionar o nosso comportamento à mesa: se colocávamos os cotovelos sobre a mesa, se usávamos corretamente os talheres, se mastigávamos fazendo barulhinho, se falávamos de boca cheia, falando alto ou dando risadinhas; o modo correto de segurar o copo, o uso do guardanapo, afinal estávamos ali para receber uma educação esmerada, começando com as boas maneiras às refeições.
Quando sofríamos alguma contusão, desmaios, febre, dores de cabeça, cólicas menstruais, diarreias, a Irmã Felícia, enfermeira profissional, era chamada, para fazer os curativos, aplicar injeções e o mais que fosse necessário.
Eu sempre me dei muito bem com as colegas e até com as ginasianas, por ser extrovertida e, também pela fama trazida das escolas anteriores, de estudiosa, aplicada, enfim de boa aluna. Resolvia, no quadro-negro, os problemas que as colegas tinham dificuldades para fazer, era boa em tabuada (até hoje), minhas composições eram lidas em voz alta pelas professoras.
De todas as colegas do internato, eu era mais ligada à Ana Rosa, uns dois anos mais velha do que eu. Sua irmã Perila, da minha idade, tinha outras amigas. Filhas de Santico e Senhora Guterres, amigos e fregueses dos meus pais, tinham uma boa fazenda, onde, além de criar gado, cavalos e outros animais cultivavam árvores frutíferas. De lá vinham: leite, mel, doces, cocadas, jerimuns, batatas doces, macaxeiras e muitas frutas, como jaca, que adoro. Até paneiros de arroz, feijão e farinha, fava, carne seca os pais traziam do interior.
Ana Rosa tentou ensinar-me a empinar papagaios, o que nunca consegui. Nas férias de junho, ajudava-me a enfeitar o couro do boi de Aymoré, com canutilhos, miçangas, orvalho; também a vara do vaqueiro e os chapéus dos balhantes, com fitas de papel crepom, de várias cores, coladas com goma arábica que tirávamos da farmácia do meu pai ou com limãozinho que apanhávamos na casa das Sodré, quando íamos comprar rebuçados. Aymoré, como amo do boi, era o cantador das toadas, com acompanhamento do seu maracá de cabaça, cheio de sementes de olho de boi; o seu chapéu tinha até espelhinho, distribuído como brinde por laboratórios farmacêuticos. O boi, encomendado com antecedência a Cafó, era feito da entrecasca do olmo de buritizeiro.
Certo dia, Ana Rosa segredou-me que a sobremesa desse dia seria uma fruta especial enviada pelo seu pai: MELÃO. Não conhecia e nunca o havia comido. Pensando ser uma fruta exótica, mais saborosa do que a melancia, fiquei aguardando na maior expectativa. Acho que nem almocei direito. Terminado o almoço, Irmã Adélia veio com uma bandeja com umas talhadas de uma fruta de casca esverdeada e polpa branca. Não me impressionou o aspecto do tal melão, mas caí matando, depois de cortar com uma faca a parte comestível, seguindo os gestos de Ana Rosa. Ai! quanta decepção: sem gosto, quase insosso não caiu no meu paladar. A colega, dona da fruta teve acesso a mais uma fatia e dividiu o seu quinhão, dando-me mais um pedaço. Decepcionada, comi sem fazer cara feia, aquela fruta Insípida, inodora.
Passei anos sem sequer tocar em melão; nem de casca amarela, verde, rajada. Vim aprender a comer (não gostar) com o meu marido.
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SOBRE O MELÃO
Apesar de gostar de quase todas, as minhas preferências recaiam sobre as tanjas, vindas de Bequimão, goiabas brancas ou vermelhas, sapotis e abacaxis. As melancias iam de São João de Cortes, Litoral Noroeste: eram redondas, casca verde, com uma polpa entre rosa e vermelho e muitas sementes brancas. Não eram gostosas, mas comíamos até o casco (curel), raspado com colher e com um pouco de farinha seca. As laranjas eram cultivadas lá mesmo em Pinheiro, casca verde, ácidas. No quintal da nossa casa, apenas um pé de laranja da terra, um cajazeiro cujos frutos não deixávamos amadurecer, uma caramboleira com frutos franzinos, mamoeiros, coqueiros, abacateiro e uma mangueira, cujos frutos deliciosos eram desejados por todos: manga paris, pequena, casca avermelhada e dulcíssima. O tronco da mangueira era liso e sem galhos e além de Seu Guta eu era a única a galgá-lo. Também era exímia atiradora de pedras e paus e minha pontaria era certeira.
Muitas vezes íamos ao sítio de d. Pupu Campos, tia-mãe do Padre Walter, no bairro do Fomento, apanhar mangas de qualidade e outras frutas deliciosas, como sapotis e cajazinhos. Nesse tempo não havia siriguela em Pinheiro. Às vezes roubávamos as frutas do pomar de d. Sofia Castro, geralmente goiabas brancas, grandes, laranjas especiais, mantidas cuidadosamente para enviar para a sua filha Teresinha que morava em São Luis. Geralmente essas incursões eram feitas em noites de luar e pulávamos a cerca sem fazer barulho pra não acordar seu cão. Também íamos ao sítio de d. Rosa Gaia apanhar azeitonas silvestres, cem vezes mais gostosas do que as jabuticabas, ingás. Nossos lábios, língua e gengivas ficavam roxinhos. Ginjas da casa do sr. João Bertoldo onde tínhamos aulas particulares com a Prof. Neuza Berredo. Tamarindos secos ou arientos, apanhados na casa de d. Sinhá ou no quintal do sr. Carrinho Pimenta. Nunca gostei de camapu, encontrado em quase todos os quintais.
Em 1952, nosso pai faleceu e foi uma perda irreparável que nunca conseguimos superar. Por conta desse trauma e da falta que ele me fazia, mamãe resolveu que eu deveria ficar semi-interna, no convento das freiras, Filhas de Nossa Senhora do Sagrado Coração. Chegadas no início de 1953 para implantar o Ginásio Pinheirense, criado por D.Afonso Maria Ungarelli, atendendo aos pedidos dos pais de família que não tinham recursos para enviar seus filhos para a capital, a fim de concluir seus estudos, chegaram 5 irmãs comandadas pela Madre Maria Dolores: Irmãs Suzana, Geralda, Vera Maria, Adélia e Felícia. Mais tarde chegaram as Irmãs Ana Maria, Rute e Paula. Seria o primeiro estabelecimento de ensino, no gênero, na Baixada e deveria atender, não só a sede e povoados satélites, mas todas as Paróquias da Prelazia.
O Ginásio, assim como as duas últimas séries do Primário, funcionavam na antiga residência do sr. Josias Abreu, a única da cidade com mirante, com vista para o campo, enquanto o Convento fora instalado na antiga casa do sr. Agostinho Ramalho Marques. Nessa casa, entre 1947-49, funcionou o Seminário São José destinado a ordenar padres para aquela região. À época importávamos, sem protestos, sacerdotes de vários países: Itália, Holanda, Alemanha, Espanha, Canadá.
Aproveitando as instalações já existentes, as religiosas tinham a sua clausura, a capela e o parlatório no prédio principal e os dormitórios, salas de estudo, banheiros das alunas, no anexo, construído para abrigar os seminaristas. Ligando as duas construções, a cozinha e o salão de refeições com bancos compridos e duas mesas grandes; também lavatórios e a despensa. O quintal era grande, mas sem fruteiras, talvez uns dois coqueiros e uma cueira. O pátio de entrada era bonito, cimentado com os canteiros plantados, com tajás de bonita folhagem, alguns pés de maria-sem-vergonha (maria-cagona), cravo-de-defunto e zínias, cultivadas para enfeitar o altar da capela.
Para o internato vieram muitas moças e até garotas. Eu era a única semi-interna. Essas moças provinham de vários povoados, fazendas, sítios da redondeza: Pacas, Pimenta, Ave Maria, Curralzinho, Entre-Rios, Gama, Bom-Viver; também, de outros municípios: Queimadas, Santa Helena, São Bento, Cururupu, Turiaçu, Carutapera, Cândido Mendes, Bequimão, Perimirim. Muitos pais ajudavam na manutenção do Convento, enviando gêneros por eles cultivados, além de leite, queijos, frutas, mel e doces em massa, geleia, compota, geralmente de goiaba, de coco com mamão, de leite. Após as refeições essas guloseimas eram servidas a todas, pela Irmã Adélia responsável pela cozinha e refeitório. O que comíamos? Peixes cozidos ou fritos, carne de boi, de porco ou de galinha (não se chamava frango), acompanhados por arroz, feijão, às vezes macaxeira ou batata doce e a infalível farinha seca ou dágua Não lembro se serviam massas e saladas de verduras. Comíamos os legumes e verduras da terra, cozidos: maxixe, quiabo, jongome, vinagreira; raramente tomate.
As aulas eram dadas em dois turnos: pela manhã estudavam as moças enquanto os rapazes ficavam com o turno vespertino. Depois das aulas, íamos, enfileiradas para o convento. Após trocar o uniforme, lavávamos as mãos e dirigíamos para o refeitório, onde após a oração de agradecimento, começávamos a comer. Depois do almoço tínhamos uma meia hora para botar as fofocas (fuxicos) em dia. Depois íamos para a sala de estudos, sob a supervisão de d. Juracy Correa; mais tarde um lanche frugal, geralmente suco com bolachas (atualmente biscoitos) e às 17:00h a reza do terço. Só, então, voltávamos para casa, enquanto as internas tomavam banho e esperavam o jantar.
Inesperadamente podia aparecer a Madre Superiora, à hora do almoço, para inspecionar o nosso comportamento à mesa: se colocávamos os cotovelos sobre a mesa, se usávamos corretamente os talheres, se mastigávamos fazendo barulhinho, se falávamos de boca cheia, falando alto ou dando risadinhas; o modo correto de segurar o copo, o uso do guardanapo, afinal estávamos ali para receber uma educação esmerada, começando com as boas maneiras às refeições.
Quando sofríamos alguma contusão, desmaios, febre, dores de cabeça, cólicas menstruais, diarreias, a Irmã Felícia, enfermeira profissional, era chamada, para fazer os curativos, aplicar injeções e o mais que fosse necessário.
Eu sempre me dei muito bem com as colegas e até com as ginasianas, por ser extrovertida e, também pela fama trazida das escolas anteriores, de estudiosa, aplicada, enfim de boa aluna. Resolvia, no quadro-negro, os problemas que as colegas tinham dificuldades para fazer, era boa em tabuada (até hoje), minhas composições eram lidas em voz alta pelas professoras.
De todas as colegas do internato, eu era mais ligada à Ana Rosa, uns dois anos mais velha do que eu. Sua irmã Perila, da minha idade, tinha outras amigas. Filhas de Santico e Senhora Guterres, amigos e fregueses dos meus pais, tinham uma boa fazenda, onde, além de criar gado, cavalos e outros animais cultivavam árvores frutíferas. De lá vinham: leite, mel, doces, cocadas, jerimuns, batatas doces, macaxeiras e muitas frutas, como jaca, que adoro. Até paneiros de arroz, feijão e farinha, fava, carne seca os pais traziam do interior.
Ana Rosa tentou ensinar-me a empinar papagaios, o que nunca consegui. Nas férias de junho, ajudava-me a enfeitar o couro do boi de Aymoré, com canutilhos, miçangas, orvalho; também a vara do vaqueiro e os chapéus dos balhantes, com fitas de papel crepom, de várias cores, coladas com goma arábica que tirávamos da farmácia do meu pai ou com limãozinho que apanhávamos na casa das Sodré, quando íamos comprar rebuçados. Aymoré, como amo do boi, era o cantador das toadas, com acompanhamento do seu maracá de cabaça, cheio de sementes de olho de boi; o seu chapéu tinha até espelhinho, distribuído como brinde por laboratórios farmacêuticos. O boi, encomendado com antecedência a Cafó, era feito da entrecasca do olmo de buritizeiro.
Certo dia, Ana Rosa segredou-me que a sobremesa desse dia seria uma fruta especial enviada pelo seu pai: MELÃO. Não conhecia e nunca o havia comido. Pensando ser uma fruta exótica, mais saborosa do que a melancia, fiquei aguardando na maior expectativa. Acho que nem almocei direito. Terminado o almoço, Irmã Adélia veio com uma bandeja com umas talhadas de uma fruta de casca esverdeada e polpa branca. Não me impressionou o aspecto do tal melão, mas caí matando, depois de cortar com uma faca a parte comestível, seguindo os gestos de Ana Rosa. Ai! quanta decepção: sem gosto, quase insosso não caiu no meu paladar. A colega, dona da fruta teve acesso a mais uma fatia e dividiu o seu quinhão, dando-me mais um pedaço. Decepcionada, comi sem fazer cara feia, aquela fruta Insípida, inodora.
Passei anos sem sequer tocar em melão; nem de casca amarela, verde, rajada. Vim aprender a comer (não gostar) com o meu marido.
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SOBRE O MELÃO
Cucumis melo, com algumas variedades ou subespécies, pertencem à família das Cucurbitáceas, como a melancia e a abóbora. Originária do Oriente Médio, aclimatou-se muito bem no Brasil, principalmente nas regiões semi-áridas.
Planta rasteira, seus frutos, redondos ou ovalados, quando maduros, possuem as cores amarelo ouro, amarelo citrino, verde ou rajado, sementes brancas achatadas, numa concavidade localizada no centro da fruta; seu sabor é levemente adocicado. Não é calórico; 100g responde apenas por 30kcal.
Pode ser comida “in natura”, antes do almoço e bem mastigado; não é recomendável o uso como sobremesa, por ser de digestão demorada. O suco feito no liquidificador ou processador é rico em vitaminas e sais minerais, principalmente potássio, além de fibras que ajudam a absorção de gorduras que originam o colesterol, diminuindo assim, a probabilidade de problemas cardíacos. A vitamina C desempenha papel importante, reforçando o sistema imunológico.
Cem gramas de melão fornecem 230mg de potássio, além de cálcio, sódio, fósforo e ferro. As vitaminas encontradas são: Vit A, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B5(niacina) e C ou ácido ascórbico. Também carboidratos, proteínas, gorduras e água (92,0gr).
Antioxidante e alcalinizante ajuda a limpar o organismo de substâncias tóxicas. Seu elevado teor de bioflavonóides aumenta a resistência dos vasos sanguíneos, daí ser indicada em casos de hemorragias internas.
Usada, também, como calmante, diurética, laxante e emoliente. O suco é prescrito na febre tifoide, contra acidoses. A polpa contém papaína, além de peptídeos e protease que ajudam a decomposição das proteínas. Também contém niacina que protege a pele.
Pelo seu alto teor em potássio, é recomendado para atletas ou pessoas que suam muito, em atividades físicas
As sementes torradas, ricas em lisina, são excelentes substitutos dos pistaches, além de tenífugas. As cascas, ricas em potássio podem ser usadas como adubo.
A fruta não é recomendável para pessoas que sofrem de dispepsia, cólicas, diarreias, estômago dilatado. As sementes quando trituradas e preparadas sob a forma de orchatos, podem ser empregadas para inflamação do estômago, fígado e baço, nas disenterias febris e inflamações das vias urinárias. Também para tratar a inapetência.
Segundo o Manual A Flora na Medicina Doméstica, o melão tem as seguintes indicações terapêuticas: cálculos biliares, hepatite, icterícia, insuficiência hepática, cirrose, gota, reumatismo, artrite, colite, disenteria, menstruação difícil, acidose e infecção das vias urinárias.
FOLCLORE LIGADO AO MELÃO
Talvez por não ser autóctone do nosso continente, poucas foram as referências culturais encontradas sobre essa fruta, ligadas ao nosso folclore. Na realidade apenas duas cantigas de roda que integram o conjunto de canções populares anônimas.Planta rasteira, seus frutos, redondos ou ovalados, quando maduros, possuem as cores amarelo ouro, amarelo citrino, verde ou rajado, sementes brancas achatadas, numa concavidade localizada no centro da fruta; seu sabor é levemente adocicado. Não é calórico; 100g responde apenas por 30kcal.
Pode ser comida “in natura”, antes do almoço e bem mastigado; não é recomendável o uso como sobremesa, por ser de digestão demorada. O suco feito no liquidificador ou processador é rico em vitaminas e sais minerais, principalmente potássio, além de fibras que ajudam a absorção de gorduras que originam o colesterol, diminuindo assim, a probabilidade de problemas cardíacos. A vitamina C desempenha papel importante, reforçando o sistema imunológico.
Cem gramas de melão fornecem 230mg de potássio, além de cálcio, sódio, fósforo e ferro. As vitaminas encontradas são: Vit A, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B5(niacina) e C ou ácido ascórbico. Também carboidratos, proteínas, gorduras e água (92,0gr).
Antioxidante e alcalinizante ajuda a limpar o organismo de substâncias tóxicas. Seu elevado teor de bioflavonóides aumenta a resistência dos vasos sanguíneos, daí ser indicada em casos de hemorragias internas.
Usada, também, como calmante, diurética, laxante e emoliente. O suco é prescrito na febre tifoide, contra acidoses. A polpa contém papaína, além de peptídeos e protease que ajudam a decomposição das proteínas. Também contém niacina que protege a pele.
Pelo seu alto teor em potássio, é recomendado para atletas ou pessoas que suam muito, em atividades físicas
As sementes torradas, ricas em lisina, são excelentes substitutos dos pistaches, além de tenífugas. As cascas, ricas em potássio podem ser usadas como adubo.
A fruta não é recomendável para pessoas que sofrem de dispepsia, cólicas, diarreias, estômago dilatado. As sementes quando trituradas e preparadas sob a forma de orchatos, podem ser empregadas para inflamação do estômago, fígado e baço, nas disenterias febris e inflamações das vias urinárias. Também para tratar a inapetência.
Segundo o Manual A Flora na Medicina Doméstica, o melão tem as seguintes indicações terapêuticas: cálculos biliares, hepatite, icterícia, insuficiência hepática, cirrose, gota, reumatismo, artrite, colite, disenteria, menstruação difícil, acidose e infecção das vias urinárias.
FOLCLORE LIGADO AO MELÃO
A mais conhecida é Capelinha de melão bastante divulgada por Carequinha: “Capelinha de melão é São João/ é de cravo, é de rosa/é de manjericão. São João está dormindo/ não acorde, não...”.
Também encontrei esta: “De abóbora se faz melão/ de melão faz melancia/faz doce, Sinhá/faz doce/ faz doce, Sinhá Maria”. Autor desconhecido, mas com conhecimentos de Sistemática em Botânica, pois agrupou três espécies diferentes da família das Cucurbitáceas.
CURIOSIDADES SOBRE DIETA À BASE DE FRUTAS
Lineu (Carl von Linné), famoso naturalista sueco, autor da nomenclatura binária, ainda hoje adotada (gênero e espécie), dizia que os frutos e legumes constituem os alimentos mais apropriados ao homem. Há uma teoria de que o homem primitivo não era onívoro e sim frugívoro, dada a forma da dentição, conformação das unhas, a mão escorregadiça e até a estrutura do aparelho digestivo. Além das frutas e legumes, deve alimentar-se de raízes, tubérculos, folhas e cereais. Segundo esses mesmos pesquisadores “a Lei da Natureza decreta que o homem deve alimentar-se de vegetais e estes, dos minerais”. Uma das consequências dessa agressão é o câncer, a hipertensão e várias outras doenças. A ingestão de carnes é responsável, também, pelo baixo desenvolvimento do intelecto.
Dentre os vegetarianos, destacam-se, na Antiguidade: Platão, Epicuro, Sêneca, Epédocles, Plutarco, Buda, Pitágoras. Nos tempos atuais: Gassendi, Rousseau, Fulton, Morse, Berda, Pasteur, Gandhi, Milton, Voltaire, Newton, Einstein, Franklin, Lamartine, Tolstoi, Thomas Edison, Bernard Shaw, Napoleão, Hitler, Stalin, Chamberlain, Chiang-Kai-Chek e muitos outros, dentre o próprio Lineu, e que se tornaram famosos em suas atividades.
COMO UM GOVERNANTE MESQUINHO PREJUDICA TODA UMA POPULAÇÃO
Durante o Governo Sarney (1985-90) foi instalado, no Município de Pinheiro, um Projeto Experimental de Irrigação, bem sucedido em Cotia (SP) e no Vale do São Francisco, no Nordeste e que era a “menina-dos-olhos” do presidente-poeta. Ficara sediado no Oiteiro de São Carlos, em frente à cidade, antiga residência do sr. Carlos Pereira e mais tarde do sr. Alfredinho Duailibe.
Numa das minhas viagens a Pinheiro, para visitar minha mãe e meu padrasto, levei no porta-mala do carro muitas frutas: melões, maçãs, peras, uvas, laranjas, até bananas. Sabedor da minha presença na cidade, o sr. Henock Moraes, irmão do sr. Cloves Morais, antigos amigos do meu pai, foi visitar-me. No meio da conversa oferecí-lhe uma fatia de melão. Quando ele viu a fruta, perguntou-me se havia comprado em Pinheiro; dei uma risadinha e disse-lhe:” aqui não se cultiva nada, só as fruteiras que nascem ao acaso”. Ele contestou, dizendo que esses melões foram certamente comprados no Pão de Açúcar (não mais existente em São Luis,) e importadas de Pinheiro, que estava exportando melões até para a Inglaterra. Surpresa por nunca ter ouvido essa notícia, pegamos o meu carro e fomos visitar o Projeto. Que maravilha! De longe víamos os campos pontilhados de amarelo; melões cultivados por um casal de agrônomos: uma senhora nissei e o marido paranaense, descendente de alemães e responsáveis pela administração. Além de melões amarelos, outros quase brancos, verdes, rajados, cultivavam melancias (uma pesada em nossa frente chegou a 18kg), cítricos, mangas, bananas e maracujás. Deste contei dez subespécies: do silvestre ou maracujazinho até os enormes chamados maracujá-família ou melão, nas cores amarelo e vermelho.
Como demonstrei interesse e grande surpresa, o casal levou-me a conhecer as instalações da fazenda: sementeira, galpão de mudas, outro galpão com as frutas já apanhadas para distribuir entre os visitantes e alunos, em visitas monitoradas por professores. Para grande decepção deles, apesar do aviso que as frutas eram borrifadas com diferentes tipos de pesticidas, afinal era um projeto experimental, as próprias professoras, apanhavam-nas das fruteiras e escondiam em suas bolsas e sacolas. Despedindo-me, prontifiquei-me a arranjar um bolsista do CNPq (nessa época eu era Coordenadora do Programa de Iniciação Científica da UFMA) para pesquisar a baixa polinização das flores dos maracujazeiros.
Voltei no ano seguinte e já encontrei um parreiral extenso, ainda sem frutificação.
O sr. Enoque também nos levou a um grande galpão onde eram criados frangos para abate e, no dia seguinte, fomos conhecer o Projeto de psicultura e de criação de marrecos de Pequim, para distribuir entre os moradores da beira do campo, no controle biológico da esquistossomose, pois essas aves são predadores de caramujos.
Por que ninguém, da cidade comentava nada? Para repetir a velha ladainha entoada por políticos contrários e até por cidadãos esclarecidos: “O Sarney nunca fez coisa alguma por Pinheiro”. Ora, os ferryboats foram levados por Sarney, a estrada construída por ele, a barragem e a ponte que ligam a estrada à cidade construídas por ele, assim como as que ligam Pinheiro a Santa Helena e Pinheiro a Cururupu, a energia da Boa Esperança, até os canos que levavam água para boa parte da população, além dos destinados ao esgoto, sem falar na Barragem do Rio Pericumã, construída no governo militar, por intercessão do então Sen.Sarney.
Os técnicos de agricultura que poderiam aprender a manejar melhor a terra, esnobavam; houve até um candidato a prefeito que levou uns caboclos tolos para dividir as áreas cultivadas, dando início a uma “reforma agrária”!
Apesar do descaso por parte da nossa população, o Presidente Collor de Mello, foi o único a entender o alcance sócio-econômico daquele Projeto, implantado pelo ex-Presidente Sarney e que poderia tornar-se a redenção das gentes daquela região, concorrendo para minimizar a fome de grande parte dos baixadeiros carentes, até dos mal informados, ignorantes, de má-fé, ingratos e invejosos.
Um dos primeiros atos, do presidente recém-eleito, o primeiro pelo voto direto, após a extinção do governo militar e restabelecimento da Democracia foi, após a posse, numa simples canetada, extinguir o Órgão que mantinha importante projeto. Lamentável! Até hoje não compreendo a atitude dos pinheirenses, conterrâneos do Dr. José Sarney. E queremos ser respeitados pelos sulistas, nós que não valorizamos o que é nosso!
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