Há dias tenho pesadelos inexplicáveis: ora sou perseguida por um batalhão de castanhas, ora sou agarrada por mãos fortes, tentando empurrar-me gargalo a baixo de uma garrafa com rótulo de suco de caju.
Como costumo dizer: pra tudo há um porque, uma explicação. Sede à noite
faz com que tenhamos sonhos, em preto-e-branco e até coloridos; já os pesadelos
resultam de metabolismo incompleto de alimentos indigestos, ingeridos no jantar
ou na ceia. À noite eu tomo apenas uma xícara de café com leite, algumas
torradas e petas. Nada que meu estômago velho, mas ainda ativo, me leve a tais situações.
Telefonei para o mano José Paulo e perguntei-lhe quais as fruteiras do
seu sítio; ele mencionou aquelas que havia posto no meu texto, mas havia
faltado uma ateira, pimentão da horta e um cajueiro, pequeno, da variedade anã,
cujos frutos dão um ano após o plantio, em galhos baixos próximos ao solo; o
seu período de frutificação é de 6 a 7 meses. Logo o cajueiro, do qual apanhei
suculentos frutos, amarelinhos! Desgalhado, um dos ramos dava para a piscina,
deliciando os banhistas; outro se desenvolveu em direção à varanda onde a minha cunhada Concita tinha
sempre uma rede armada. Adoro uma rede só levantava na hora do almoço, geralmente churrasco. Enquanto
isso, fatiava cajus saboreando-os, tendo o cuidado de evitar nódoas indeléveis
em minha roupa e na rede.
Não entro em piscina, banheira e nunca aprendi a nadar para mergulhar em
água de rio, lago, tanque e, principalmente enfrentar o mar. Sou adepta de um
chuveiro bem grande com a água numa temperatura pra lá de morna.
Alimento-me quase que exclusivamente de frutas, fugindo dessa dieta auto imposta somente aos sábados e domingos ou quando sou convidada para algum festim pantagruélico. Aí como tudo, exceto verduras e certos legumes.
Gosto praticamente de todas as frutas: não aprecio o caqui, pêssego nem
o famoso abricó. No mais como tudo: peixes grandes e pequenos de água doce
(exceto muçum) ou salgada, cozidos, fritos, assados, à escabeche, acompanhados
por rodelas de caju. Das aves só dispenso as silvestres, protegidas por lei,
marreca, jaçanãs e japiaçocas; como frango, galinha, galo, capão, capote, pato,
paturi, peru e até chester que eu não sei o que é. Não aprecio codorna. Carnes
de corte: boi, vaca, búfalo, porco, carneiro até cabra e bode. Não como lebres cujo
aspecto lembra um gato. Caça? Nenhuma,
quase todos os animais silvestres são reservatórios de parasitos. Também não como
rãs nem jacaré.
É óbvio que gostando tanto de frutas eu tenha interesse em conhecer, o
máximo possível sobre elas: valor alimentício, tipos de vitaminas, presença e
teor de sais minerais e, como farmacêutica,
seus princípios ativos e
propriedades terapêuticas.
Aproveitando o gancho dos pesadelos, provavelmente vingança do caju pelo esquecimento imperdoável, vou
repassar-lhes o que pesquisei sobre o caju. Não gosto de todos os seus
derivados, como cajuína, suco, cajuada e moqueca de maturí, composta pela baga
e pela castanha em diversos estágios de desenvolvimento. Num dos livros de
Jorge Amado, Tieta do Agreste, o autor dá a receita desse prato, típico do Nordeste, considerado
afrodisíaco. Antes de ser diagnosticada a minha diabetes saboreava os doces,
principalmente aquelas bolinhas polvilhadas com açúcar cristalizado.
O caju, cujo nome deriva do tupi-guarani cayu foi, referido pela primeira vez por André
Thevel (1502-1590); também, foi uma das frutas descritas e desenhadas por
Frei Cristóvão de Lisboa que passou onze
anos no Estado do Grão-Pará e Maranhão. Conhecido desde antes da descoberta do
Brasil, os silvícolas usavam na alimentação, fermentando-a, também, para obtenção do cauim.
O cajueiro pertence à família das Anacardiáceas, autóctone das regiões
tropicais, sendo encontrado na faixa costeira, do Ceará ao Maranhão. A
mangueira, a cajaraneira ou cajazeiro, o cajá-umbuzeiro e a aroeira pertencem à mesma
família. Atualmente é cultivado para fins industriais. A principal espécie é
Anacardium occidentalis, originária do Brasil, possivelmente da Amazônia, com
dispersão no Nordeste, onde cresce espontaneamente no litoral. Espalhou-se
depois para as regiões costeiras da América do Sul e das Antilhas. Mais tarde,
navegadores portugueses introduziram o caju na África e nas Indias, hoje o
maior produtor de castanhas. Também é cultivado
em Moçambique, Tanzânia, no Quênia, Vietnã, Indonésia e Tailândia.
No Brasil, o Piauí responde pela maior produção; também o Ceará e a
região do litoral maranhense. Aqui em São Luis é vendido nas ruas, mercados e
nas praias, colhidas em cajueiros do município de Ribamar, principalmente à margem da estrada, plantado, provavelmente, pelos romeiros.
Frequente, também em Paço do Lumiar e na Raposa. Em São Luis há um projeto para
cultivo do cajueiro-anão, instalado nas proximidades do Setor Industrial.
Há três variedades de cajus: o do
longo mar, o caju-açu e o caju manso, nas cores vermelho, amarelo e verde rajado
ou não de amarelo. Dois tipos de cajueiros são mais conhecidos, o cajueiro comum e o cajueiro-anão; na Região de Cerrados
há um caju pequeno, chamado cajuí, cajuzinho ou caju de árvore de cerrado.
O verdadeiro fruto do
cajueiro é a castanha. O pseudofruto ou falso fruto, maçã, pera ou baga que
tanto apreciamos, resulta do desenvolvimento anormal do pedúnculo (talo) da
flor. Esse pedúnculo pode ser piriforme, cilíndrico, alongado. A castanha é o
fruto seco, chamado aquênio, de aspecto reniforme, cor cinza ou
verde-acinzentado, com a superfície lisa e composta pela casca, película e a
amêndoa. Atualmente compram-se castanhas beneficiadas, em mercados, feiras e
supermercados. Há uma subespécie de
cajueiro cujas castanhas secam ao sol, sem necessidade de assá-las. As queimadinhas,
no entanto são mais gostosas e nos remetem à infância, quando usávamos métodos
primitivos para assá-las. O caju é uma das frutas que acompanharam a nossa
infância, embora não fosse tão comum como as mangas, encontradas em quase todos
os quintais pinheirenses. As castanhas
foram nossas primeiras moedas; com elas aprendemos a contar em dúzias, a
negociar. Por castanhas fizemos as primeiras parcerias e, também, tivemos as
primeiras desavenças (tô de mal). Passávamos toda a safra de caju, recolhendo
as castanhas dos frutos que comíamos, vasculhando debaixo dos cajueiros dos
vizinhos ou encomendando-as, dos cajueiros do cemitério( não se comia os cajus). Na hora de assá-las,
toda a garotada se reunia com uma vareta para virar as suas, colocadas em tampa furada de lata, sobre um
braseiro. A casca das castanhas é coriácea, mas com o calor expele um líquido escuro,
cáustico, inflamável e se não tivéssemos cuidado poderíamos ter os braços e
mãos queimados. Se espirrasse no rosto era uma tragédia. A queimadura é
dolorosa, de difícil cicatrização. Totalmente torradas, pretinhas deixávamos
esfriar e só depois fazíamos a partilha, de acordo com a participação de cada
um. Na hora da quebra, tínhamos o maior cuidado para retirá-las inteiras.
Embora tivéssemos um quintal espaçoso, com várias fruteiras, nunca
plantamos um cajueiro. Na casa de Dr. Hélio Costa, dentista casado com d. Nice,
amiga de infância de mamãe, havia um cajueiro, cujos galhos, em sua maior
parte, se esparramavam para nossa casa. Apanhávamos os cajus, ainda de vez,
disputando pau a pau com seu Guta, à época um molecote criado pelo casal. Nunca
soube a cor dos frutos, quando maduros. Em casa de minha avó materna e das nossas
tias Cecé, Bibí e Babá havia um lindo cajueiro com frutos alongados, verde-cana.
Apesar de nativo, o cajueiro tem uma aparência exótica: copado, seu
tronco pode ser ereto ou tortuoso, devido às condições do solo, com 10 a 12m de
altura, assim como suas galhas que chegam a atingir 12 a 14m de envergadura,
caducifólia, com folhas glabras e coriáceas, flores milíferas,(tônicas porque
contém anacardina), com cinco pétalas, masculinas e hermafroditas.
Sinonímia – devido à sua ampla distribuição geográfica, o caju é
conhecido por vários nomes, em vários
idiomas: francês, inglês,italiano, alemão, holandês espanhol, variações do castelhano
tanto no litoral da América do Sul como Antilhas. Também em vários dialetos da
África, da India, antigas possessões portuguesas e na Ásia.
Não obstante a sua origem um tanto modesta, autores como Humberto de
Campos deixaram registrados em suas obras, textos comoventes sobre essa
fruteira. Também o poetinha Vinícius de Morais. Outro cajueiro importante, é o de de Pirangí, em Parnamirim, a 12 km
ao sul de Natal (RN) e uma das atrações turísticas. É o maior cajueiro do mundo,
cobrindo uma área de 8.500m2. A sua produção varia entre 70 e 80 mil cajus, por
safra. Esse fenômeno resulta de uma anomalia genética: os galhos crescem para
baixo e com o peso curvam-se até alcançar o solo; ao tocá-lo os galhos criam
raízes que crescem novamente como se fossem troncos de uma nova árvore.
Estive duas vezes em Natal e nunca tive curiosidade de conhecer tal aberração
botânica.
Em Pernambuco, à época da ocupação holandesa, o Conde de Nassau aplicava
multas pesadas a quem derrubasse cajueiros. Aprendera com os índios a prevenção
do escorbuto, pela ingestão de cajus.
Suco refrescante dessedentando-nos e refrescando-nos, rico em Vitamina
C, A e outras do Complexo B, como a niacina. Apenas 30 a 40g de caju fornecem, para o dia todo, a quota de vitaminas necessária ao homem.
Nutritiva, devido à presença de carboidratos e lipídios não saturados
que ajudam a baixar a pressão arterial.
Rica em fibras que ajudam o trânsito intestinal.
Os cajus vermelhos têm o teor de Vit. C mais elevado, por volta de
275mg, enquanto o amarelo tem apenas 220mg.
Em 100 ml. do suco, encontramos 261mg de Vit C; 14,7 mg de cálcio;
32,5mg de fósforo; 0,34mg de ferro.
DA CASTANHA
A amêndoa que representa 26 a 27% da castanha é fonte de proteínas e carboidratos, sendo altamente nutritiva. De requintado sabor é usada depois de torrada por processos artesanais ou processada industrialmente, como aperitivo; na culinária, toma parte na cocção e enriquecimento de vários pratos. Em barras de chocolate, ou trituradas, misturadas com granola, em cobertura de bolos, pudins, sorvetes. Também na alimentação escolar.
A indústria de beneficiamento da castanha e do caju, gera negócios que
envolvem grandes redes de atividade econômica. De grande alcance sócio econômico
é responsável por trezentos mil empregos.
O sumo das amêndoas frescas é usado sobre calos, verrugas, por causa de
suas propriedades vesicantes e corrosivas. O decocto das folhas, pode ser aplicado sobre feridas,
até em oftalmias.
In natura é o modo mais comum, também cozido, substituindo a carne. Na indústria caseira na produção de cajuína e doces, rapadura. Em escala industrial, na fabricação de sucos Na indústria, pode ser desidratado para a fbricação de pizzas, omeletes, patês.
O maior aproveitamento é da castanha que fornece, em 100g, 609 kcal;
26,4mg de carboidratos; 19,6mg de proteínas; 47,20mg de gorduras. Dos sais
minerais os mais prevalentes são: fósforo -575mg; cálcio 165mg. Da castanha
ainda se extrai 47,13mg de ácido linoleico.
Do caule extrai-se tanino, usado na indústria têxtil, principalmente
para tingir redes. Nas plantas com mais de dez anos retira-se uma espécie de
goma, substituta da goma arábica.
INDUSTRIA QUÍMICA
PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS E SEU USO EM MEDICINA DOMÉSTICA
Hipoglicêmico, antisséptico, cauterizante, principalmente o óleo extraído das castanhas. De cheiro forte, cáustico e acre, conhecido como cardol ou resina, é muito utilizado na África para combater os caramujos, hospedeiros intermediários do Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Também no tratamento de filaríases e Sectaria digitata.
Pode ser usado como anestésico para dores de dentes, aviva dartos,
úlceras, feridas, verrugas, eczemas, sífilis, reumatismo, tosse, bronquite e
escorbuto infantil, hanseníase para destruir os lepromas. Usado na higienização
bucal e como anti-hemorrágico, nas infecções genitais. As suas propriedades
hipoglicêmicas são devidas ao ácido anacárdico.
As folhas novas são usadas como cicatrizantes.
Por ser rico em tanino, o líquido da polpa provoca nódoas indeléveis,
principalmente em roupas.
Recomenda-se passar imediatamente querosene sobre a área afetada, ou uma
pasta de água e bicarbonato de sódio, expor ao sol, mantendo-a sempre úmida.
FOLCLORE BRASILEIRO
LIGADO AO CAJUEIRO E AOS CAJUS
Os índios contavam
seus anos de vida pelas castanhas, guardadas na infância, por seus pais e mais
tarde por eles.Também demarcavem territórios utilizando cajueiros.
O caju e o cajueiro
são cantados, em verso e prosa, por nossos compositores como Vinícius de Moraes, escritores como Humberto de Campos, cantado pela sambista maranhense
Alcione Nazaré, pelo Grupo Raimundos, comentada por grandes folcloristas como
Câmara Cascudo e até nomeando banda de forró, no Nordeste: Noda de Caju.
Folclore, como sabemos,
é o conjunto de todas as tradições, lendas, crenças de um País. O folclore pode
ser percebido na linguagem, artesanato, religiosidade, vestimentas e alimentação.
Para conhecer-se uma região há de conhecer o seu folclore, usos e costumes das gentes.
Eu sou da Baixada, onde o cajueiro não é muito frequente. A nossa
produção mal dá para manter o mercado interno de castanhas e alimentar a
população, na época da safra.
Já no Litoral Nordeste, abrangendo Barreirinha, Primeira Cruz, Humberto
de Campos, Tutoia e outras áreas próximas ao Piauí, hoje o maior produtor
brasileiro e exportador de castanhas, encontramos ditos ou expressões populares
ligadas ao caju:
- chuvas de maturí –
época da florescência dos cajueiros.
- chuvas de caju –
corresponde à época das primeiras chuvas, que ajudam a maturação dos frutos,
antes da chegada das grandes chuvas.
- tempo de caju – época da safra. Nesse período
havia verdadeiras guerras entre tupinambás e tupiniquins pela posse dos cajus.
- caju quente dá dor
de barriga – para afastar a molecada dos tachos de doce de caju.
- “Sofrimento do pobre
passa assim como se apaga a nódoa do caju,” refrão usado pelo nosso povo,
desassistido de tudo e sem esperanças de tempos melhores.
No Nordeste onde a distribuição é maior, inclusive com campos de cultivo
para a indústria de sucos, doces em massa, compotas, processamento das
castanhas, extração da resina dos caules usada como substituta da goma arábica,
em espécimes com mais de dez anos de plantio; também tanino para a indústria de
tintas. Além desses sub-produtos existem muitos outros os quais decidimos não
postá-los para não tornar o texto muito técnico, inclusive como alternativa
viável e renovável, ao lado do etanol e o biodiesel, para substituir os
derivados do petróleo. O óleo da
castanha, inflamável é usado na fabricação de fogos de artifício..
- caju quente dá dor
de barriga – para espantar a molecada, impedindo-a de meter a mão no tacho onde
se preparam doces.
O cajueiro tem sido
cantado em verso e prosa, também pelos nossos cordelistas e
compositores:
É conhecida a canção
celebrizada pela cantora maranhense Alcione, a Marron, grande sambista
brasileira, de autoria do seu pai Maestro João Carlos: “...Cajueiro velho,
vergado e sem folhas, sem frutos, sem flores, sem vida, afinal. Eu que te vi
florido e viçoso, com frutos mais doces que não tinha igual. Não posso deixar
de sentir uma tristeza, pois vejo que o tempo tornou-te assim; infelizmente,
também a certeza que um dia farás pra mim...
- Humberto de Campos,
um dos maiores cronistas brasileiros, que tomou parte na Academia Brasileira de
Letras, deixou comovente crônica – Um amigo de infância – quando morando em
Parnaiba (PI), plantou, em 1899 um pé de caju de uma castanha achada por acaso
em seu quintal. Toda vez que ia visitar seus parentes, passava horas meditando
junto àquela fruteira que teve vida mais longa do que ele, falecido moço ainda.
Hoje o cajueiro com 105 anos é protegido por lei e uma das atrações da cidade.
“...O meu cajueiro
sobe, desenvolve-se. Eu cresço mas ele cresce mais rápido do que eu. Adeus meu
cajueiro, até a volta....” Quando viajou a primeira vez ele tinha 13 anos e o
cajueiro 3.
Também mencionado em
composição de Vinícius de Moraes:..."por isso amo o caju, em que resumo esse materialismo elementar. Fruto de cica, fruto de manchar, sempre mordaz, constantemente a prumo. Amo, vejo-te agarrado ao cajueiro à beira-mar a copular com o galho; a castanha brutal, como que tesa. O único fruto -não fruta- brasileiro..."
- De autoria
desconhecida: “Cada caju em meus lábios me lembra da tua doce languidez, até
que o sal de minha lágrima, se combine
no agridoce de saudade”.
- “Eu subí num pé de
cajueiro só pra ver o meu amor passar”- cantada pela Banda Raimundos.
- Cajueiro abaixe o
galho que quero colher caju. Cajueiro quem te disse que meu nome é...”-
quadrinha de autor desconhecido.
- Também de autor anônimo,
mas conhecida em todo Brasil: “Cajueiro, pequenino, carregadinho de fulô. Eu
também sô pequenina, carregada de amô”.
- ” Teu xodó é que nem
noda de caju. Desde que abracei tu, nunca mais quis me largar. Teu xodó queima
como fogo na fornalha. Vai queimando a minha alma na hora de xodozar...”- Banda
Noda de Caju.
- Da cordelista
cearense Dalinha: “Alcoviteiro da paixão o frondoso cajueiro, de frutos
amarelos passaram a nascer-vermelhos. O sangue da virgem nativa foi o rubro
feiticeiro”.
- “O caju do Juca e a
jaca do cajá. O jacá da Juja e o caju de Cacá”- espécie de trava-lingua, muito
comum e que consiste em falar bem depressa, dizer correndo ou repetir umas três
vezes. O pesquisador Câmara Cascudo faz referência a diversas parlendas, que
consiste na arrumação de palavras, sem acompanhamento de melodia, mas às vezes
rimadas.
- Em Pernambuco é
comum entre os garotos das populações pobres o Jogo da Castanha e, como o pião
é só para meninos. Também pitelo ou castelo, buraco e encosto.
UMA
HISTORIETA SOBRE CAJUS, DA QUAL FUI UMA DAS PROTAGONISTAS
Corria o ano de 1977. A convite do amigo Paulo Zábulon de Figueiredo fui visiá-lo, em Teresina, hospedando-me em sua casa. Paulo e eu fomos colegas no Curso de Mestrado em Belo Horizonte e desde 1970, mantemos uma amizade fraterna. Ele trazia a família para São Luis hospedando-se comigo e eu ia visitá-los frequentemente, mas nunca na temporada do calor. Sem negacear aceitei visitá-lo nos feriados de outubro, em pleno calor. Como sempre ele, sua esposa Cecília e seus filhos, ainda adolescentes, me receberam muito bem e se desdobravam para aplacar o grande calor que me fazia sofrer. Sua casa confortável, aberta, ficava no Jockey, nessa época um dos melhores bairros de Teresina. Rede na varanda dando para seu pomar, ventilador, leque, pedras de gelo na boca, e à tardinha passeios, terminando numa sorveteria.
Paulo, professor-titular, prestigiado na UFPI é veterinário de profissão
e gosta da vida simples, frugal. Numa
das noites, levou-me para jantar numa churrascaria, quase na área rural que,
segundo ele, fazia o melhor churrasco de Teresina. A nossa mesa ficou debaixo
de um cajueiro. Muitos papos,
excelente comida e
antes de chegar a sobremesa já dera por uns cajus com as maiores castanhas já
vistas. “Eu quero, vou apanhar", “não pode”, ai dei uma jogada de mestre: “ Paulo, Aymoré e Augusta
estão formando um sítio na Estrada de Ribamar e eles só querem fruteiras que
não sejam muito comuns”. Amigo do casal, Paulo chamou o dono do restaurante,
justificou meu pedido e ao sairmos levava um pacotinho com algumas das castanhas
especiais.
Realmente dei essas castanhas para Aymoré que as plantou na entrada da
casinha que construiu. Ainda comi muitos cajus, nas minhas incursões nas tardes
de 6@ feiras quando ia, com meus bolsistas capturar flebotomíneos. Fizemos, com
a sua autorização, uma estação de captura para monitorar a variação estacional desses mosquitos. As
castanhas nunca ví uma sequer, pois o caseiro com uma família grande não nos
dava oportunidade de colher o que o que Aymoré e Augusta plantaram com tanto
desvelo.
Dentro de algum tempo, pretextando precisar de espaço para abrir um
campo para as peladas dos filhos, sem autorização do mano, cortaram sem dó nem
piedade o cajueiro tão especial.
Atualmente nesse sítio funciona a AMA (Associação Maria Augusta). Antes
de falecer a minha cunhada fez a doação desse sítio para a Pastoral da Sobriedade da
Paróquia São Francisco, ainda em construção, para servir de abrigo para jovens
adictos já recuperados, vindos das Fazendas do interior, em processo de
ressocialização.
AGRADECIMENTOS
Este texto foi feito a várias mãos e dedos. Além das pesquisas feitas no Google, Bing; livros como As frutas na Medicina Caseira; Caderno tecnológico sobre o caju, do Instituto Centro de Ensino Tecnológico, contei com inestimável colaboração de vários amigos do Face que me enviaram, pelo Facebook, informações, links, fotos, Citando-os por ordem alfabética:
Ana Sofia (Miami),
Clésio Muniz, Cristina Neves (MG) ,Dony Moreira (RN)Helena Heluy, Kenia Regina,
Lena Moraes Rego (Floripa), Luciano Brazil (TO), Malu Luz; Márcia Alonso (SP)
Tão doce, fácil e agradável como degustar uma rodela de um bom caju, é a leitura desse texto. Informativo, interessante, cheio de curiosidades, novidades e sem grandes pretensões, tudo o que Moema escreve tem o dom de nos deixar bem, relaxados, e principalmente mais sábios ou mais cultos, depois de cada leitura. Da Moema amiga, posso dizer que, às vezes, como um caju ácido, suas críticas e comentários são duros, mas sempre sinceros e autênticos, quer você goste ou não. E é justamente por aí que ela tem o dom de nos conquistar e de nos fazer amigos. Admirável essa Pinheirense!!!
ResponderExcluirParabéns pela matéria tão saborosa!!! Você não é qualquer caju......nem qualquer goiaba.... Você é o POMAR INTEIRO.Beijos, amiga escritora Moema De Castro Alvim.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQue delícia de texto. É pra ler com água na boca! O cheiro da flor do cajueiro tomou conta da atmosfera aqui na minha casa e, enquanto lia, algumas pausas se faziam necessárias para eu relembrar minha relação com a fruta, que foi mais intensa na minha infância, em Pinheiro. Vovó Julia ganhava sempre muitas frutas de seus inúmeros afilhados. Eu tratava logo de tirar todas as castanhas dos cajus, deixava secar um pouco ao sol e no fundo do quintal assava-as num "flande" furado com prego em um forno improvisado com três tijolos e carvão.
ResponderExcluirAqui em Salvador, assim que cheguei pra morar, há quase 10 anos, tive o privilégio de conhecer a escritora Mabel Velloso em Santo Amaro, de quem logo fiquei muito amigo. Certa vez ela me convidou para almoçar em sua casa e serviu Xinxim de Galinha, Vatapá, Arroz Branco, Farofa de Mel e uma tal de Frigideira de Maturi, que me seduziu imediatamente o paladar. Parece aquelas nossas Fritadas de Camarão, aquelas tortas.. Quando perguntei se Maturi era da água doce ou salgada me veio a surpreendente resposta: Maturi é a castanha de caju verde. Aqui na Bahia se faz até Moqueca de Maturi. Mas, a Frigideira de Maturi feita por Mabel, com a receita que aprendeu com sua mãe Dona Canô é a coisa mais deliciosa que já experimentei da culinária baiana. Ela até já me ensinou como fazer, mas na hora do tempero, definitivamente, o sal é um dom.
Jorge Thadeu