MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O MARACUJÁ E A PEDRADA

IO maracujá

O maracujá pertence à família dos Passifloriaceae, com 14 gêneros e cerca de 580 espécies já descritas. As espécies mais comunas entre nós são a Passiflora edulis (roxo) P. flavicarpa (amarelo) e o P. alata ou maracujazinho.
 Foi um dos frutos descritos e desenhados pelo Frei Cristóvão de Lisboa em sua História dos Animais e Árvores do Maranhão, elaborada entre 1624-35, época em que aqui viveu. No Brasil, a primeira referência ao maracujá  data de 1587, na obra Tratado Descritivo do Brasil. Entretanto, em 1569, Monardis descrevera as primeiras espécies do gênero Passiflora.  Planta nativa das regiões tropicais e subtropicais das Américas, tipo trepadeira, cresce espontaneamente. Já foram descritas mais de 150 espécies no Brasil, no Caribe e na Flórida. Conhecida pelos índios com o nome de mara kuya (comida dentro da cuia) é umas das quatro espécies de frutas nativas dentre as vinte preferidas pelos brasileiros.
Atualmente está sendo cultivada nos Estados Unidos, no Havaí, na Austrália, no Quênia, no Ceilão e na Europa. O seu tamanho, forma e cor  variam: arredondados, pequenos, médios, ovalados, cor arroxeado ou amarelo, grande, como a espécie Passiflora macrocarpa ou maracujá-melão, usado na preparação de compotas. A espécie P.alata ou maracujá doce  vem  sendo cultivada pela Embrapa, com grande aceitação no mercado mundial. Pode ser comido in natura. Seus frutos são alaranjados, folhas grandes em forma de coração e flores avermelhadas. As demais espécies, são usadas, no nosso dia-a-dia, em sucos, sorvetes, cremes, gelatinas, pudins, mousses, bolos, doces cristalizados, licores. Também, na indústria de cosméticos, em produtos para pele e cabelos e na fabricação de perfumes. As espécies de casca enrugada têm a polpa mais doce do que os frutos de casca lisa.
O Brasil destaca-se como primeiro produtor mundial do maracujá e um dos principais exportadores de suco, ao lado da Colômbia e do Equador.

                       



                                VALOR ALIMENTÍCIO

A sua polpa é rica em betacaroteno e possui grande teor de minerais.
Cem gramas de maracujá fornecem 54,60kcal. Água 85,50g); carbohidratos (9,60g); Lipídios 1,80g); Fósforo (71,00mg); Cálcio (53,00mg); Ferro (1,27mg), além de Vitaminas A (caroteno) C (ácido ascórbico) e do Complexo B (B1, B2 e B5).Também apresenta nas folhas Vit B2 (riboflavina) e Vit. PP (ácido nicotínico)

                            PROPRIEDADES MEDICINAIS

As cascas dessecadas e trituradas, são ricas em pectina,  que funciona como bloqueador de gorduras, reduzindo e baixando as taxas de glicose no sangue e eliminando as toxinas. Também apresenta Vit. B3 que melhora a ansiedade, ajuda o crescimento e protege as paredes do estômago. Combate o colesterol..
A polpa é usada na medicina popular como sedativo e tranquilizante. Essas propriedades foram, no entanto, encontradas somente em folhas dessecadas, em 1867, pelo Dr. Phares. Em 1904, Stapleton utilizou-as para tratamento clínico da insônia, tendo boa aceitação, até meados do século passado, em preparações à base de extrato aquoso ou alcoólico.
As vitaminas da polpa, principalmente a Vit.C  fortalecem o sistema imunológico, além de poderoso anti-oxidante que previne o aparecimento de radicais livres, retardando o envelhecimento.

As sementes, em grande número, podem ser utilizadas como vermífugas e misturadas com a farinha das cascas dessecadas e pulverizadas, podem ser processadas para fabricação de rações, adubos, óleo comestível.
A raiz apresenta propriedades emenagogas e adstringentes, também usadas como anti-inflamatório cutâneo.
As folhas dessecadas em temperatura ambiente, tem largo emprego na medicina popular, usadas nas diarreias e hemorroidas, com propriedades sudoríficas e  soníferas, sob a forma de decoctos.
Em banhos quentes é usada no tratamento da gota e erisipela, macerando-as para cataplasmas. Cicatrizantes.
A Farmacopeia Brasileira incluiu o maracujá, como planta medicinal, desde 1929, retirando-o na segunda edição (1959) e voltando a considera-lo a partir de 1977.
Em experimentos conduzidos por pesquisadores da Universidade do Rio Grande do Norte, em 1978, foi detectado, em extrato aquoso das folhas, um princípio ativo, de natureza proteica, com perfil semelhante a dos tranquilizantes. Age como depressor do sistema nervoso central (SNC), induzindo modificações como: prolongamento do sono barbitúrico, redução da temperatura do corpo, potencializando outros depressores como a morfina e bloqueando parcialmente o efeito estimulante das anfetaminas Em outras palavras, as folhas e raizes possuem maracujina, passiflorina e calmofilase, com propriedades sedativas e anti ansiolíticas, recomendadas como coadjuvante no tratamento de dependência química, na luta contra a compulsão das drogas. Também atuam como soníferas, anti-espasmódicas, anti-inflamatórias e depurativas. Combatem a fadiga, desacelera o coração e dilata os vasos sanguíneos, melhorando a circulação do cérebro, aliviando dores de cabeça e cólicas
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           CURIOSIDADES SOBRE O MARACUJÁ

As flores do maracujazeiro têm aspecto bonito, abrindo-se a partir do meio-dia e fechando-se à noite. São hermafroditas e possuem abundante néctar, ocorrendo a fecundação quando uma flor de uma planta é fecundada com o pólen de outra. A esse fenômeno biológico denomina-se autoincompatibilidade. Somente as mamangavas ou abelhonas silvestres  do gênero Xulocopa, são responsáveis pela polinização.
Conhecidas como flor da paixão Segundo o folclore durante a crucificação de Jesus, o sangue escorrido do seu corpo teria molhado uma planta que estava aos pés da cruz. Essa planta nunca dera flor, mas após essa rega soltou um botão que virou uma flor, significando a Paixão de Cristo: seus estigmas em número de três, assemelham-se aos cravos; as cinco antenas, simbolizam as chagas, as gavinhas, os açoites. O formato da flor, a imagem da coroa de espinhos; a cor roxa, o sangue derramado. O fruto, arredondado simboliza o pecado.
O Papa Paulo V, no século XVII ordenou o cultivo do maracujazeiro, em Roma, por acreditar que sua flor representava uma revelação divina.
Câmara Cascudo cita muitos viajantes que por aqui passaram e registraram a presença do maracujá, como o naturalista MacGrave e o frade Claude dAbbeville.
Cantada em verso e prosa, tornou-se famosa na voz de Gal Costa. Rolando Boldrin, declama uma poesia A flor do maracujá, associando-a à paixão de Jesus. Há, também um poema de Caramuru sobre essa planta.
Outro dado interessante que encontrei em minhas pesquisas é relacionado aos pajés que ao serem iniciados nas superstições abstinham-se dos frutos do maracujazeiro.No município de São José de Ribamar há uns 2 anos, começaram a crescer num maracujazeiro, frutos parecidos com pênis. Grande atração turística, com o tempo, murchou e morreu.






                            IIA PEDRADA

Uma das condições para a permanência de uma doméstica em nossa casa, dependia da sua criatividade em contar estórias, modificando-as a cada relato. As minhas preferidas eram as de Pedro Malasarte, do macaco e do coelho, de João e Maria perdidos na floresta e guiando-se pela trilha de pedrinhas. Não cansávamos de ouvir as mesmas estórias, entremeadas por casos de visagens e outros fenômenos extraordinários. Adorava ouvir contar sobre a Pedra de Itacolomy que crescia  de ano pra ano.
Nesse ítem, Dionísia, do município de Bequimão bateu o recorde, acrescentando cada dia mais detalhes. Foi ela quem me ensinou a dançar ao som dos baiões de Luiz Gonzaga: “Bate a enxada no chão, limpa o pé de algodão...”. Dois passos pra cá, dois pra lá.
A segunda condição era que soubesse bater ovos muito bem. Esse era um dos nossos lanches (merenda nesse tempo) preferidos: ovos batidos com um pouco de açúcar, farinha seca e  calda de maracujá, passada no crivo. Não era qualquer pessoa que sabia fazê-los. Havia uma ciência para ficar ao nosso gosto: as claras deviam ser batidas quase em ponto de neve, com uma casquinha de limão e só depois acrescentavam-se as gemas, batendo-as, à medida que eram colocados os outros ingredientes.
Outras merendas eram: queijo de São Bento com goiabada caseira, macaxeira cozida com mel de cana e banana  cacau assada, com um pouco de manteiga e pulverizada com açúcar e canela e frutas da época.
Certa tarde desejei comer uns ovos batidos, mas cadê os maracujás? Não havia nenhum em casa, o que me levou a obtê-los na fonte: o telhado da cozinha da Vila Moema. Como todos sabem o maracujazeiro é uma trepadeira, precisando de apoio para desenvolver-se. Esse a que me refiro nascera no quintal do tio Paulo e esparramou-se pelo telhado de nossa propriedade. O nosso tio morava num sobrado de esquina, pegado à nossa casa, ocupando com a sua grande família (dez filhos) o piso superior. No térreo funcionava o Bar Vitória, com seus bilhares que atraiam os rapazes, sorvetes (o imperial, inesquecível!), picolés, artigos de mercearia e os famosos gelados. Estes eram refrescos, geralmente de maracujá, cupuaçu e tamarindo colhido em seu próprio quintal, tomados com fatias de bolo feito por d. Naiza, sua esposa. Provavelmente o maracujazeiro nascera de sementes jogadas no quintal, após macerar as frutas com a ajuda de um crivo, em época anterior a liquidificador.
Quando tinha esses desejos nada conseguia freá-los e resolví subir no telhado para conseguir alguns frutos. Aos 9 anos trepava em todas as fruteiras do nosso quintal e ainda escalava telhados. Calmamente escolhia  os maracujás maduros quando percebí que alguém jogara uma pedra. Aymoré que não era hábil nem em escaladas nem bom de pontaria, não atingiu o alvo, a mando de papai, para espantar-me. A segunda me pegou em cheio, atingindo o espaço entre as sobrancelhas. Assustada e com o rosto coberto de sangue, descí do telhado, no maior berreiro. Enquanto mamãe limpava o ferimento e punha mercúrio cromo, papai dava uma surra no mano, com um rebenque, para uso exclusivo nessas situações. Papai zangado batia e lhe falava: “seu corão de merda eu não mandei ferir tua irmã”. Enquanto ele apanhava eu não sabia se chorava de dor ou se ria da sova que ele levava.
Continuo gostando de maracujás, cultivados por mim, em 3 sítios que possuí e agora em minha casa no Sítio Leal, para fazer chá das folhas nas minhas noites insones. No entanto eu gosto mais da espécie silvestre. Sim, ainda tenho a cicatriz, mas não guardo o menor resquício de rancor do mano Aymoré.



 



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