MOEMA

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PAPIRUS DO EGITO

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O ÉDEN PINHEIRENSE: AS FLORES DA NOSSA ADOLESCÊNCIA


Entre a adolescência e a juventude, deixamos as fruteiras sossegadas: frutas só em casa. Com os hormônios explodindo em cada poro, passamos a procurar outras diversões mais condizentes com o nosso novo  status: afinal éramos jovens às vésperas de concluir o curso ginasial.
Começamos a interessar-nos pelas flores, observando a sua beleza, a textura de suas pétalas, o perfume exalado de cada uma delas, O amor pairava no ar, o romantismo permeava cada gesto nosso, cada coisa que fazíamos: cuidar melhor da aparência, escolher modelos para vestidos e sapatos, pentear os cabelos com mais apuro, escolher uma colônia mais de acordo com a nossa nova fase.
Aprendemos, também, a simbologia de cada uma delas, principalmente das rosas, cuja variação de cor e tamanho dava lugar a interpretações diferentes – a linguagem das flores. Nessa época começamos a tecer nossos primeiros poemas, rimando flor com amor e às vezes com  a dor das nossas primeiras desilusões amorosas.





Quando ganhávamos algumas flores, dadas por um rapaz, na maioria das vezes, apanhadas displicentemente, para ter oportunidade de colocá-las em nossos cabelos ou atrás das nossas orelhas, procurávamos entender-lhes seu significado. As mais comuns eram rosa-menina, jasmin, bugarin, amor-perfeito, cravos, cravinas.. Os cravos de defunto, jamais, pois seria sinal de mau-agouro. A ingênua maria-cagona representava desinteresse, desprezo, levando-nos à humilhação, considerada mesmo um insulto.
 As flores presenteadas eram conservadas entre as folhas de algum romance que tínhamos, não escapando nem o nosso Missal
No coreto da Praça da República, debaixo das ramadas de dois pés de buganvílias, desfolhávamos bem-me-quer que cresciam, à-toa, nas beiras das alamedas da praça ou nos canteiros das nossas avenidas. Procurávamos, desesperadamente trevos de quatro folhas, considerado amuleto para dar sorte no amor, na profissão. Nossas avenidas eram arborizadas com Ficus benjamin, substituídas em 1956, quando uma poda mal feita matou-as, por castanheiras e flamboyants. Quando os campos enchiam, ficávamos extasiadas com as belas hastes lilases exibidas pelos mururus.e as flores, também violáceas, do algodão do campo. No verão cordão de frade, miosótis e outras flores que eram dessecadas.
Poucas pessoas se dedicavam ao cultivo das flores, colhidas apenas em duas ocasiões diferentes: para buquês levados em enterros ou para os jarros das Igrejas, aos sábados. As flores que eram colocadas dentro dos caixões dos defuntos eram, geralmente, saudades, perpétuas, maravilhas, cravos, cravinas e cravos de defunto. As colhidas para decorar os altares eram mais nobres: rosas, dálias, lírios, açucenas, alfinetes, palma de Santa Rita, estrela, cachos de rosa-menina, guarnecidas por palma fina e fim de verão. Ainda não  havíamos descoberto o grande efeito visual das samambaias e outras folhagens.


Do coreto contemplávamos as flores bem cuidadas do bonito bangalô da família de Ísis: alamandas, hibiscos de cores variadas, papoulas, rosas, lírios e açucenas.
Na nossa casa, papai mantinha um faz-tudo o qual dentro de suas inúmeras atribuições,  regava e cuidava de suas dálias e rosas. Não tínhamos permissão para apanhá-las: elas murchavam e despetalavam-se no pé. Na casa de d. Nhazinha havia uma bela acácia pingo de ouro, com seus cachos de flores amarelas que se debruçavam sobre a calçada.
Na casa de Gracinha Ferreira, ao lado da Usina, sua mãe cultivava flores e que estavam sempre à nossa disposição, desde que fossem para a Igreja.
Não tínhamos coragem para pedir  flores na casa de d. Julieta Abreu que cultivava espécies raras na cidade: petúnias, gerânios, crisântemos, begônias, hortênsias, gardênias, camélias, magnólias, verbenas, cujas mudas trazia de Fortaleza e do Rio quando visitava os filhos.
As demais flores encontradas em quase todos os quintais eram: onze horas, crista de galo, cauda de rato, dinheiro em penca, jiboia, tapete de rainha, pacovinha, anágua de noiva, tajás, madressilva, avenca, zínias, jacinto, nuvem, bugarin, amor-perfeito, amor agarradinho, laura-rosa, manacá, chuva de prata, estrela, espada de São Jorge, comigo-ninguém-pode, jardineira,girassol, margaridas de várias cores, maria-cagona eu e tu.
No Maracanã a prof. Rosa Mochel e seu marido, ambos agrônomos  em  seu sítio no Maracanã., cultivavam e vendiam  não só frutíferas mas plantas decorativas e para arborização: antúrios, avenca, glicínias, cactos, samambaias, árvore da felicidade, agave, heliconia, íris,  amarílis, goivo, margaridinhas , ipomeia, copo de leite, anêmonas e muitas folhagens.
A partir da segunda década de 1980, com a implantação da SEDEL (Secretária Estadual de Desporto e Lazer) comandada pelo sr. Elyr Gomes, que havia sido meu colega no Curso de Farmácia, chegaram em São Luis, flores e folhagens sofisticadas, expostas nas feiras de plantas realizadas na Praça Deodoro: samambaias diversas (chifre de veado, de metro, franzida); mussaendas de várias cores, orquídeas de várias espécies, schefflera, monsenhor, tulipas, crótons de belas folhagens, buganvílias de cores variadas, de brácteas dobradas, crisântemos, violeta, dracenas, cactos, ave do paraiso, gladíolos, glicínias, árvore da felicidade, pinheiros, bromélias, hera para recobrir muros, copo de leite, costela de Adão, e grande variedade de plantas ornamentais, principalmente exóticas palmeiras. Todos podiam comprá-las e cultivá-las em seus jardins.
Em Pinheiro apareceu uma quadrilha que roubava cestas de samambaias de metro, cultivadas com tantos cuidados, para serem vendidas na capital..
Por essa época as casas do Centro de São Luis foram abandonadas e as residências tinham novo endereço: Sítio Leal, Cutim, Sítio Campinas, São Francisco, Jardim Renascença, Mais tarde, Renascença I e II, Ponta do Farol, Calhau, Quintas do Calhau, Cohafuma, Cohama, Cohajap, Cohajolí, Parque Amazonas, Parque Timbira, Parque Pindorama, Parque Atenas, Parque Shalon, Parque Atlântico, Turu, Jardim Eldorado, Angelim, Vinhais, Bequimão, Maranhão Novo, Ipase, Alemanha, ocupando a cidade em áreas recém-descobertas após a inauguração da Ponte José Sarney, em 1970. Nos últimos decênios essas casas estão sendo adquiridas por empresas, clínicas médicas, odontológicas de estética, e as pessoas de maior poder aquisitivo, sacrificaram seus jardins, em troca da segurança de condomínios horizontais e, principalmente verticais, em bairros nobres como Ponta do Farol, Praia do IPEM, Ponta dÁreia.,
E nós? A época de sonhos e despreocupação fora  substituída pela dedicação aos estudos, pois eram poucas as vagas nos bons colégios (Liceu, Escola Normal e Escola Técnica) e a seleção muito rigorosa. Iríamos começar uma nova etapa das nossas vidas, o marco que separava a adolescência da idade adulta. (Atualmente os psicólogos adotam três fases da adolescência: o início entre 12 e 14 anos, a média entre 15 e 17 anos e a adolescência final de 18 a 25 anos).
 Destinada ao Colégio Santa Teresa, como interna, fiquei às voltas com compras e provas, costureiras e bordadeiras para o enxoval enorme, constando de uniforme comum, de ginástica, lençóis, fronhas, colchas, lenços, calcinhas, camisolas, combinações. Somente nas férias voltávamos a Pinheiro Nesse ínterim, muitas amizades deterioraram-se, os namoros acabaram, muitas colegas já estavam casadas, os folguedos mudaram, mantendo a antiga amizade apenas um  grupo restrito.

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