MOEMA

MOEMA
PAPIRUS DO EGITO

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A VINGANÇA DO CAJU



Há dias tenho pesadelos inexplicáveis: ora sou perseguida por um batalhão de castanhas, ora sou agarrada por mãos fortes, tentando empurrar-me gargalo a baixo de uma garrafa com rótulo de suco de caju.
Como costumo dizer: pra tudo há um porque, uma explicação. Sede à noite faz com que tenhamos sonhos, em preto-e-branco e até coloridos; já os pesadelos resultam de metabolismo incompleto de alimentos indigestos, ingeridos no jantar ou na ceia. À noite eu tomo apenas uma xícara de café com leite, algumas torradas e petas. Nada que meu estômago velho, mas ainda ativo, me leve a tais situações.
Telefonei para o mano José Paulo e perguntei-lhe quais as fruteiras do seu sítio; ele mencionou aquelas que havia posto no meu texto, mas havia faltado uma ateira, pimentão da horta e um cajueiro, pequeno, da variedade anã, cujos frutos dão um ano após o plantio, em galhos baixos próximos ao solo; o seu período de frutificação é de 6 a 7 meses. Logo o cajueiro, do qual apanhei suculentos frutos, amarelinhos! Desgalhado, um dos ramos dava para a piscina, deliciando os banhistas; outro se desenvolveu em direção à  varanda onde a minha cunhada Concita tinha sempre uma rede armada. Adoro uma rede só levantava  na hora do almoço, geralmente churrasco. Enquanto isso, fatiava cajus saboreando-os, tendo o cuidado de evitar nódoas indeléveis em minha roupa e na rede.
Não entro em piscina, banheira e nunca aprendi a nadar para mergulhar em água de rio, lago, tanque e, principalmente enfrentar o mar. Sou adepta de um chuveiro bem grande com a água numa temperatura pra lá de morna.







Alimento-me quase que exclusivamente de frutas, fugindo dessa dieta  auto imposta somente aos sábados e domingos ou quando sou convidada para algum festim pantagruélico. Aí como tudo, exceto verduras e certos legumes.
Gosto praticamente de todas as frutas: não aprecio o caqui, pêssego nem o famoso abricó. No mais como tudo: peixes grandes e pequenos de água doce (exceto muçum) ou salgada, cozidos, fritos, assados, à escabeche, acompanhados por rodelas de caju. Das aves só dispenso as silvestres, protegidas por lei, marreca, jaçanãs e japiaçocas; como frango, galinha, galo, capão, capote, pato, paturi, peru e até chester que eu não sei o que é. Não aprecio codorna. Carnes de corte: boi, vaca, búfalo, porco, carneiro até cabra e bode. Não como lebres cujo aspecto lembra um gato. Caça? Nenhuma,  quase todos os animais silvestres  são reservatórios de parasitos. Também não como rãs nem jacaré.
É óbvio que gostando tanto de frutas eu tenha interesse em conhecer, o máximo possível sobre elas: valor alimentício, tipos de vitaminas, presença e teor de sais minerais e, como farmacêutica,  seus  princípios ativos e propriedades terapêuticas.
Aproveitando o gancho dos pesadelos, provavelmente vingança do caju  pelo esquecimento imperdoável, vou repassar-lhes o que pesquisei sobre o caju. Não gosto de todos os seus derivados, como cajuína, suco, cajuada e moqueca de maturí, composta pela baga e pela castanha em diversos estágios de desenvolvimento. Num dos livros de Jorge Amado, Tieta do Agreste, o autor dá a receita  desse prato, típico do Nordeste, considerado afrodisíaco. Antes de ser diagnosticada a minha diabetes saboreava os doces, principalmente aquelas bolinhas polvilhadas com açúcar cristalizado.
O caju, cujo nome deriva do tupi-guarani  cayu foi, referido pela primeira vez por André Thevel (1502-1590); também, foi uma das frutas descritas e desenhadas por Frei  Cristóvão de Lisboa que passou onze anos no Estado do Grão-Pará e Maranhão. Conhecido desde antes da descoberta do Brasil, os silvícolas usavam na alimentação, fermentando-a, também,  para obtenção do cauim.
O cajueiro pertence à família das Anacardiáceas, autóctone das regiões tropicais, sendo encontrado na faixa costeira, do Ceará ao Maranhão. A mangueira, a cajaraneira ou cajazeiro, o cajá-umbuzeiro e a aroeira pertencem à mesma família. Atualmente é cultivado para fins industriais. A principal espécie é Anacardium occidentalis, originária do Brasil, possivelmente da Amazônia, com dispersão no Nordeste, onde cresce espontaneamente no litoral. Espalhou-se depois para as regiões costeiras da América do Sul e das Antilhas. Mais tarde, navegadores portugueses introduziram o caju na África e nas Indias, hoje o maior produtor de castanhas. Também é cultivado  em Moçambique, Tanzânia, no Quênia, Vietnã, Indonésia e Tailândia.
No Brasil, o Piauí responde pela maior produção; também o Ceará e a região do litoral maranhense. Aqui em São Luis é vendido nas ruas, mercados e nas praias, colhidas em cajueiros do município de Ribamar, principalmente  à margem da estrada, plantado, provavelmente, pelos romeiros. Frequente, também em Paço do Lumiar e na Raposa. Em São Luis há um projeto para cultivo do cajueiro-anão, instalado nas proximidades do Setor Industrial.
 Há três variedades de cajus: o do longo mar, o caju-açu e o caju manso, nas cores vermelho, amarelo e verde rajado ou não de amarelo. Dois tipos de cajueiros são mais conhecidos, o cajueiro  comum e o cajueiro-anão; na Região de Cerrados há um caju pequeno, chamado cajuí, cajuzinho ou caju de árvore de cerrado.
O verdadeiro fruto do cajueiro é a castanha. O pseudofruto ou falso fruto, maçã, pera ou baga que tanto apreciamos, resulta do desenvolvimento anormal do pedúnculo (talo) da flor. Esse pedúnculo pode ser piriforme, cilíndrico, alongado. A castanha é o fruto seco, chamado aquênio, de aspecto reniforme, cor cinza ou verde-acinzentado, com a superfície lisa e composta pela casca, película e a amêndoa. Atualmente compram-se castanhas beneficiadas, em mercados, feiras e supermercados.  Há uma subespécie de cajueiro cujas castanhas secam ao sol, sem necessidade de assá-las. As queimadinhas, no entanto são mais gostosas e nos remetem à infância, quando usávamos métodos primitivos para assá-las. O caju é uma das frutas que acompanharam a nossa infância, embora não fosse tão comum como as mangas, encontradas em quase todos os quintais pinheirenses.  As castanhas foram nossas primeiras moedas; com elas aprendemos a contar em dúzias, a negociar. Por castanhas fizemos as primeiras parcerias e, também, tivemos as primeiras desavenças (tô de mal). Passávamos toda a safra de caju, recolhendo as castanhas dos frutos que comíamos, vasculhando debaixo dos cajueiros dos vizinhos ou encomendando-as, dos cajueiros do cemitério( não se comia os cajus). Na hora de assá-las, toda a garotada se reunia com uma vareta para virar as suas,  colocadas em tampa furada de lata, sobre um braseiro. A casca das castanhas é coriácea, mas com o calor expele um líquido escuro, cáustico, inflamável e se não tivéssemos cuidado poderíamos ter os braços e mãos queimados. Se espirrasse no rosto era uma tragédia. A queimadura é dolorosa, de difícil cicatrização. Totalmente torradas, pretinhas deixávamos esfriar e só depois fazíamos a partilha, de acordo com a participação de cada um. Na hora da quebra, tínhamos o maior cuidado para retirá-las inteiras.
Embora tivéssemos um quintal espaçoso, com várias fruteiras, nunca plantamos um cajueiro. Na casa de Dr. Hélio Costa, dentista casado com d. Nice, amiga de infância de mamãe, havia um cajueiro, cujos galhos, em sua maior parte, se esparramavam para nossa casa. Apanhávamos os cajus, ainda de vez, disputando pau a pau com seu Guta, à época um molecote criado pelo casal. Nunca soube a cor dos frutos, quando maduros. Em casa de minha avó materna e das nossas tias Cecé, Bibí e Babá havia um lindo cajueiro com frutos alongados,  verde-cana.
Apesar de nativo, o cajueiro tem uma aparência exótica: copado, seu tronco pode ser ereto ou tortuoso, devido às condições do solo, com 10 a 12m de altura, assim como suas galhas que chegam a atingir 12 a 14m de envergadura, caducifólia, com folhas glabras e coriáceas, flores milíferas,(tônicas porque contém anacardina), com cinco pétalas, masculinas e hermafroditas.
Sinonímia – devido à sua ampla distribuição geográfica, o caju é conhecido por vários nomes, em  vários idiomas: francês, inglês,italiano, alemão, holandês espanhol, variações do castelhano tanto no litoral da América do Sul como Antilhas. Também em vários dialetos da África, da India, antigas possessões portuguesas e na Ásia.
Não obstante a sua origem um tanto modesta, autores como Humberto de Campos deixaram registrados em suas obras, textos comoventes sobre essa fruteira. Também o poetinha Vinícius de Morais. Outro cajueiro importante, é o de de Pirangí, em Parnamirim, a 12 km ao sul de Natal (RN) e uma das atrações turísticas. É o maior cajueiro do mundo, cobrindo uma área de 8.500m2. A sua produção varia entre 70 e 80 mil cajus, por safra. Esse fenômeno resulta de uma anomalia genética: os galhos crescem para baixo e com o peso curvam-se até alcançar o solo; ao tocá-lo os galhos criam raízes que crescem novamente como se fossem troncos de uma nova árvore.
Estive duas vezes em Natal e nunca tive curiosidade de conhecer tal aberração botânica.
Em Pernambuco, à época da ocupação holandesa, o Conde de Nassau aplicava multas pesadas a quem derrubasse cajueiros. Aprendera com os índios a prevenção do escorbuto, pela ingestão de cajus.
                                                                 
                                 





                                    VALOR ALIMENTÍCIO DO CAJU

Suco refrescante dessedentando-nos e refrescando-nos, rico em Vitamina C, A e outras do Complexo B, como a niacina. Apenas 30 a 40g de caju fornecem, para o dia todo, a quota de vitaminas necessária ao homem.
Nutritiva, devido à presença de carboidratos e lipídios não saturados que ajudam a baixar a pressão arterial.
Rica em fibras que ajudam o trânsito intestinal.
Os cajus vermelhos têm o teor de Vit. C mais elevado, por volta de 275mg, enquanto o amarelo tem apenas 220mg.
Em 100 ml. do suco, encontramos 261mg de Vit C; 14,7 mg de cálcio; 32,5mg de fósforo; 0,34mg de ferro.
                                                         
                                                       DA CASTANHA

A amêndoa que representa 26 a 27% da castanha é fonte de proteínas e carboidratos, sendo altamente nutritiva. De requintado sabor é usada depois de torrada por processos artesanais ou processada industrialmente, como aperitivo; na culinária, toma parte na cocção e enriquecimento de vários pratos. Em barras de chocolate, ou trituradas, misturadas com granola, em cobertura de bolos, pudins, sorvetes. Também na alimentação escolar.
A indústria de beneficiamento da castanha e do caju, gera negócios que envolvem grandes redes de atividade econômica. De grande alcance sócio econômico é responsável por trezentos mil empregos.
O sumo das amêndoas frescas é usado sobre calos, verrugas, por causa de suas propriedades vesicantes e corrosivas. O decocto das folhas, pode ser aplicado sobre feridas, até em oftalmias.

                                         




                                           INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA

In natura é o  modo mais comum, também cozido, substituindo a carne. Na indústria caseira na produção de cajuína e doces, rapadura. Em escala industrial, na fabricação de sucos Na indústria, pode ser desidratado para a fbricação de pizzas, omeletes, patês.
O maior aproveitamento é da castanha que fornece, em 100g, 609 kcal; 26,4mg de carboidratos; 19,6mg de proteínas; 47,20mg de gorduras. Dos sais minerais os mais prevalentes são: fósforo -575mg; cálcio 165mg. Da castanha ainda se extrai 47,13mg de ácido linoleico.
Do caule extrai-se tanino, usado na indústria têxtil, principalmente para tingir redes. Nas plantas com mais de dez anos retira-se uma espécie de goma, substituta da goma arábica.
                                                                 
                                              INDUSTRIA QUÍMICA

O mesocarpo produz LCC (líquido da casca  da castanha) de aspecto alveolado, de valor industrial para uso como resinas e freios e que abre perspectivas para indústria de ponta.


 PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS E SEU USO EM MEDICINA DOMÉSTICA

Hipoglicêmico, antisséptico, cauterizante, principalmente o óleo  extraído das castanhas. De cheiro forte, cáustico e acre, conhecido como cardol ou resina, é muito utilizado na África para combater os caramujos, hospedeiros intermediários do Schistosoma mansoni, causador da esquistossomose. Também no tratamento de filaríases e Sectaria digitata.
Pode ser usado como anestésico para dores de dentes, aviva dartos, úlceras, feridas, verrugas, eczemas, sífilis, reumatismo, tosse, bronquite e escorbuto infantil, hanseníase para destruir os lepromas. Usado na higienização bucal e como anti-hemorrágico, nas infecções genitais. As suas propriedades hipoglicêmicas são devidas ao ácido anacárdico.
As folhas novas são usadas como cicatrizantes.
Por ser rico em tanino, o líquido da polpa provoca nódoas indeléveis, principalmente em roupas.
Recomenda-se passar imediatamente querosene sobre a área afetada, ou uma pasta de água e bicarbonato de sódio, expor ao sol, mantendo-a sempre úmida.

            FOLCLORE BRASILEIRO LIGADO AO CAJUEIRO E AOS CAJUS

Os índios contavam seus anos de vida pelas castanhas, guardadas na infância, por seus pais e mais tarde por eles.Também demarcavem territórios utilizando cajueiros.
O caju e o cajueiro são cantados, em verso e prosa, por nossos compositores como Vinícius de Moraes, escritores como Humberto de Campos, cantado pela sambista maranhense Alcione Nazaré, pelo Grupo Raimundos, comentada por grandes folcloristas como Câmara Cascudo e até nomeando banda de forró, no Nordeste: Noda de Caju.
Folclore, como sabemos, é o conjunto de todas as tradições, lendas, crenças de um País. O folclore pode ser percebido na linguagem, artesanato, religiosidade, vestimentas e alimentação. Para conhecer-se uma região há de conhecer o seu folclore, usos e costumes das gentes.
Eu sou da Baixada, onde o cajueiro não é muito frequente. A nossa produção mal dá para manter o mercado interno de castanhas e alimentar a população, na época da safra.
Já no Litoral Nordeste, abrangendo Barreirinha, Primeira Cruz, Humberto de Campos, Tutoia e outras áreas próximas ao Piauí, hoje o maior produtor brasileiro e exportador de castanhas, encontramos ditos ou expressões populares ligadas ao caju:
- chuvas de maturí – época da florescência dos cajueiros.
- chuvas de caju – corresponde à época das primeiras chuvas, que ajudam a maturação dos frutos, antes da chegada das grandes chuvas.
-  tempo de caju – época da safra. Nesse período havia verdadeiras guerras entre tupinambás e tupiniquins pela posse dos cajus.
- caju quente dá dor de barriga – para afastar a molecada dos tachos de doce de caju.
- “Sofrimento do pobre passa assim como se apaga a nódoa do caju,” refrão usado pelo nosso povo, desassistido de tudo e sem esperanças de tempos melhores.
No Nordeste onde a distribuição é maior, inclusive com campos de cultivo para a indústria de sucos, doces em massa, compotas, processamento das castanhas, extração da resina dos caules usada como substituta da goma arábica, em espécimes com mais de dez anos de plantio; também tanino para a indústria de tintas. Além desses sub-produtos existem muitos outros os quais decidimos não postá-los para não tornar o texto muito técnico, inclusive como alternativa viável e renovável, ao lado do etanol e o biodiesel, para substituir os derivados do petróleo. O óleo  da castanha, inflamável é usado na fabricação de fogos de artifício..
- caju quente dá dor de barriga – para espantar a molecada, impedindo-a de meter a mão no tacho onde se preparam doces.
O cajueiro tem sido cantado em verso e prosa, também pelos nossos cordelistas e compositores:
É conhecida a canção celebrizada pela cantora maranhense Alcione, a Marron, grande sambista brasileira, de autoria do seu pai Maestro João Carlos: “...Cajueiro velho, vergado e sem folhas, sem frutos, sem flores, sem vida, afinal. Eu que te vi florido e viçoso, com frutos mais doces que não tinha igual. Não posso deixar de sentir uma tristeza, pois vejo que o tempo tornou-te assim; infelizmente, também a certeza que um dia farás pra mim...
- Humberto de Campos, um dos maiores cronistas brasileiros, que tomou parte na Academia Brasileira de Letras, deixou comovente crônica – Um amigo de infância – quando morando em Parnaiba (PI), plantou, em 1899 um pé de caju de uma castanha achada por acaso em seu quintal. Toda vez que ia visitar seus parentes, passava horas meditando junto àquela fruteira que teve vida mais longa do que ele, falecido moço ainda. Hoje o cajueiro com 105 anos é protegido por lei e uma das atrações da cidade.
“...O meu cajueiro sobe, desenvolve-se. Eu cresço mas ele cresce mais rápido do que eu. Adeus meu cajueiro, até a volta....” Quando viajou a primeira vez ele tinha 13 anos e o cajueiro 3.
Também mencionado em composição de Vinícius de Moraes:..."por isso amo o caju, em que resumo esse materialismo elementar. Fruto de cica, fruto de manchar, sempre mordaz, constantemente a prumo. Amo, vejo-te agarrado ao cajueiro à beira-mar a copular com o galho; a castanha brutal, como que tesa. O único fruto -não fruta- brasileiro..."
- De autoria desconhecida: “Cada caju em meus lábios me lembra da tua doce languidez, até que o sal de minha lágrima,  se combine no agridoce de saudade”.
- “Eu subí num pé de cajueiro só pra ver o meu amor passar”- cantada pela Banda Raimundos.
- Cajueiro abaixe o galho que quero colher caju. Cajueiro quem te disse que meu nome é...”- quadrinha de autor desconhecido.
- Também de autor anônimo, mas conhecida em todo Brasil: “Cajueiro, pequenino, carregadinho de fulô. Eu também sô pequenina, carregada de amô”.
- ” Teu xodó é que nem noda de caju. Desde que abracei tu, nunca mais quis me largar. Teu xodó queima como fogo na fornalha. Vai queimando a minha alma na hora de xodozar...”- Banda Noda de Caju.
- Da cordelista cearense Dalinha: “Alcoviteiro da paixão o frondoso cajueiro, de frutos amarelos passaram a nascer-vermelhos. O sangue da virgem nativa foi o rubro feiticeiro”.
- “O caju do Juca e a jaca do cajá. O jacá da Juja e o caju de Cacá”- espécie de trava-lingua, muito comum e que consiste em falar bem depressa, dizer correndo ou repetir umas três vezes. O pesquisador Câmara Cascudo faz referência a diversas parlendas, que consiste na arrumação de palavras, sem acompanhamento de melodia, mas às vezes rimadas.
- Em Pernambuco é comum entre os garotos das populações pobres o Jogo da Castanha e, como o pião é só para meninos. Também pitelo ou castelo, buraco e encosto.
                                           
       UMA HISTORIETA SOBRE CAJUS, DA QUAL FUI UMA DAS PROTAGONISTAS

Corria o ano de 1977. A convite do amigo Paulo Zábulon de Figueiredo fui visiá-lo, em Teresina, hospedando-me em sua casa. Paulo e eu fomos colegas no Curso de Mestrado em Belo Horizonte e desde 1970, mantemos uma amizade fraterna. Ele trazia a família para São Luis hospedando-se comigo e eu ia visitá-los frequentemente, mas nunca na temporada do calor. Sem negacear aceitei visitá-lo nos feriados de outubro, em pleno calor. Como sempre ele, sua esposa Cecília e seus filhos, ainda adolescentes, me receberam muito bem e se desdobravam para aplacar o grande calor que me fazia sofrer. Sua casa confortável, aberta, ficava no Jockey, nessa época um dos melhores bairros de Teresina. Rede na  varanda dando para seu pomar, ventilador, leque, pedras de gelo na boca, e à tardinha passeios, terminando numa sorveteria.
Paulo, professor-titular, prestigiado na UFPI é veterinário de profissão e gosta da vida simples, frugal.  Numa das noites, levou-me para jantar numa churrascaria, quase na área rural que, segundo ele, fazia o melhor churrasco de Teresina. A nossa mesa ficou debaixo de um cajueiro. Muitos papos,
excelente comida e antes de chegar a sobremesa já dera por uns cajus com as maiores castanhas já vistas. “Eu quero, vou apanhar", “não pode”, ai dei uma  jogada de mestre: “ Paulo, Aymoré e Augusta estão formando um sítio na Estrada de Ribamar e eles só querem fruteiras que não sejam muito comuns”. Amigo do casal, Paulo chamou o dono do restaurante, justificou meu pedido e ao sairmos levava um pacotinho com algumas das castanhas especiais.
Realmente dei essas castanhas para Aymoré que as plantou na entrada da casinha que construiu. Ainda comi muitos cajus, nas minhas incursões nas tardes de 6@ feiras quando ia, com meus bolsistas capturar flebotomíneos. Fizemos, com a sua autorização, uma estação de captura para monitorar  a variação estacional desses mosquitos. As castanhas nunca ví uma sequer, pois o caseiro com uma família grande não nos dava oportunidade de colher o que o que Aymoré e Augusta plantaram com tanto desvelo.
Dentro de algum tempo, pretextando precisar de espaço para abrir um campo para as peladas dos filhos, sem autorização do mano, cortaram sem dó nem piedade o cajueiro tão especial.
Atualmente nesse sítio funciona a AMA (Associação Maria Augusta). Antes de falecer a minha cunhada fez a doação desse sítio para a Pastoral da Sobriedade da Paróquia São Francisco, ainda em construção, para servir de abrigo para jovens adictos já recuperados, vindos das Fazendas do interior, em processo de ressocialização.
                                    
                          AGRADECIMENTOS

Este texto foi feito a várias mãos e dedos. Além das pesquisas feitas no Google, Bing; livros como As frutas na Medicina Caseira; Caderno tecnológico sobre o caju, do Instituto Centro de Ensino Tecnológico, contei com inestimável colaboração de vários amigos do Face que me enviaram, pelo Facebook, informações, links, fotos, Citando-os por ordem alfabética:
Ana Sofia (Miami), Clésio Muniz, Cristina Neves (MG) ,Dony Moreira (RN)Helena Heluy, Kenia Regina, Lena Moraes Rego (Floripa), Luciano Brazil (TO), Malu Luz; Márcia Alonso (SP)





                                            

4 comentários:

  1. Tão doce, fácil e agradável como degustar uma rodela de um bom caju, é a leitura desse texto. Informativo, interessante, cheio de curiosidades, novidades e sem grandes pretensões, tudo o que Moema escreve tem o dom de nos deixar bem, relaxados, e principalmente mais sábios ou mais cultos, depois de cada leitura. Da Moema amiga, posso dizer que, às vezes, como um caju ácido, suas críticas e comentários são duros, mas sempre sinceros e autênticos, quer você goste ou não. E é justamente por aí que ela tem o dom de nos conquistar e de nos fazer amigos. Admirável essa Pinheirense!!!

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  2. Parabéns pela matéria tão saborosa!!! Você não é qualquer caju......nem qualquer goiaba.... Você é o POMAR INTEIRO.Beijos, amiga escritora Moema De Castro Alvim.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Que delícia de texto. É pra ler com água na boca! O cheiro da flor do cajueiro tomou conta da atmosfera aqui na minha casa e, enquanto lia, algumas pausas se faziam necessárias para eu relembrar minha relação com a fruta, que foi mais intensa na minha infância, em Pinheiro. Vovó Julia ganhava sempre muitas frutas de seus inúmeros afilhados. Eu tratava logo de tirar todas as castanhas dos cajus, deixava secar um pouco ao sol e no fundo do quintal assava-as num "flande" furado com prego em um forno improvisado com três tijolos e carvão.
    Aqui em Salvador, assim que cheguei pra morar, há quase 10 anos, tive o privilégio de conhecer a escritora Mabel Velloso em Santo Amaro, de quem logo fiquei muito amigo. Certa vez ela me convidou para almoçar em sua casa e serviu Xinxim de Galinha, Vatapá, Arroz Branco, Farofa de Mel e uma tal de Frigideira de Maturi, que me seduziu imediatamente o paladar. Parece aquelas nossas Fritadas de Camarão, aquelas tortas.. Quando perguntei se Maturi era da água doce ou salgada me veio a surpreendente resposta: Maturi é a castanha de caju verde. Aqui na Bahia se faz até Moqueca de Maturi. Mas, a Frigideira de Maturi feita por Mabel, com a receita que aprendeu com sua mãe Dona Canô é a coisa mais deliciosa que já experimentei da culinária baiana. Ela até já me ensinou como fazer, mas na hora do tempero, definitivamente, o sal é um dom.
    Jorge Thadeu

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